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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Kathie DeNosky

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O momento do amor, n.º 638 - setembro 2019

Título original: Baby at His Convenience

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-527-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

 

Enquanto saía da clínica de Dixie Ridge num ensolarado dia de junho, Katie Andrews continuava a ouvir na sua cabeça a amável advertência que lhe acabava de fazer o doutor Braden.

«Com os precedentes de menopausa prematura que há na tua família, temo que o tempo esteja a acabar, Katie. Se pensavas ter filhos, chegou o momento de estudar as tuas opções».

Com trinta e quatro anos, a maioria das mulheres não tem de pensar nessas coisas até pelo menos dez ou quinze anos depois. Infelizmente, Katie era diferente. Todas as mulheres da sua família tinham começado com as alterações da menopausa por volta dos trinta e seis anos. Quando atingiam os quarenta, os seus anos férteis tinham ficado para trás.

Katie mordeu o lábio inferior para que não tremesse. Talvez já fosse demasiado tarde para ter um filho. A sua irmã Carol Ann tinha esperado até aos trinta e tantos para tê-los e tinha tido de recorrer à fertilização in vitro para ficar grávida. O resultado: quadrigémeos.

Katie emitiu um profundo e trémulo suspiro. Mesmo que ela quisesse ter mais de um filho, preferia ter um de cada vez, não tantos de repente. A pobre Carol Ann tinha-se sentido tão aflita pelas dificuldades de criar quatro bebés que os seus pais tinham tido que deixar Katie à frente do seu restaurante, o Blue Bird, e mudar-se para a Califórnia para ajudar a sua angustiada filha mais velha e o seu marido.

Katie olhou para o relógio e guardou o folheto que lhe tinha dado o doutor Braden na mala. Tinha de deixar de lado a sua crise pessoal até à tarde, quando fechasse o restaurante.

Nesse momento precisavam dela no Blue Bird. Se não chegasse antes da hora do almoço, a hora de mais trabalho, Helen McKinney poderia indispor-se e ir-se embora. Os seus pais nunca a perdoariam se perdesse a melhor e mais rápida cozinheira do leste de Tennessee.

Nesse momento, um rugido distante foi-se aproximando e precisamente quando ia a atravessar a rua, uma enorme e reluzente Harley Davidson vermelha e preta estacionou com estrondo em frente do Blue Bird. O condutor de tão formidável máquina cumprimentou Katie com uma inclinação de cabeça enquanto desligava o motor e tirava os óculos de sol. Ela dirigia-se apressada para a entrada do restaurante e duvidou que aquele homem a tivesse olhado na cara.

Isso não era nada estranho. Desde a sua chegada à terra há dois meses, Jeremiah Gunn não tinha feito amigos, excepto Harv Jenkins. De facto, tudo o que se sabia dele, era que se tinha mudado para a antiga casa da avó Applegate em Piney Knob e que todos os dias almoçava e falava de pesca com Harv. Quanto ao resto, estava sempre só. E pela sua forma de cumprimentar e de comportar-se com os demais, não parecia querer que isso mudasse.

Mas, para surpresa de Katie, quando esta se dispunha a abrir a porta do café, um braço musculoso rodeou-a e apoderou-se do trinco. Olhou por cima do ombro e engoliu em seco. Era a primeira vez que estava tão perto do misterioso senhor Gunn e surpreendeu-se ao ter de levantar a vista para conseguir ver os seus olhos castanhos. Ela media quase um metro oitenta, portanto isso quase nunca lhe acontecia.

O peito dele roçou levemente o seu ombro direito ao abrir a porta e Katie ficou com pele de galinha.

– Obrigada, senhor Gunn – balbuciou sem saber porque estava tão alterada de repente.

– Chamo-me Jeremiah.

Não havia nem rasto de emoção na sua profunda voz de barítono, mas só de ouvi-la o seu coração quase se deteve.

Katie afastou-se dele correndo pelo restaurante. Os joelhos tremiam-lhe pela proximidade com aquele homem. Perguntou-se se não estaria a enlouquecer.

– Já era hora de que aparecesses – disse Helen McKinney pela janela da cozinha que dava para o balcão. – Estou cheia de trabalho.

– Desculpa – desculpou-se Katie, deixando a mala atrás do balcão e colocando um avental que estava pendurado num cabide. – O médico estava atrasado com as consultas.

O gesto de enfado de Helen transformou-se num gesto de preocupação.

– Estás bem?

Katie assentiu.

– Era só uma revisão anual. Aparte pesar mais vinte quilos do que devia, estou sã como um pêro.

Helen abanou a cabeça enquanto servia o molho por cima do puré de batata num prato de costeletas.

– Eu não acredito nessas tabelas de alturas e pesos. Não sei quem as inventa, nem onde vivem, mas sem dúvida, não são deste mundo. Eu pareceria um espantalho se pesasse o que essas tábuas dizem que deveria pesar de acordo com a minha estatura.

Helen pôs o prato na janela para que Katie o servisse.

– Isso é para o Harv. Não te preocupes pelos demais – acrescentou Helen. – Já anotei o pedido de todos, excepto do Mister Silencioso, que está ali a conversar de pesca com o Harv.

Katie pôs o prato de Harv na bandeja e agarrou o bloco e o lápis.

– Normalmente, o Jeremiah pede o prato do dia.

– Jeremiah? – perguntou Helen, levantando uma sobrancelha enquanto servia umas ervilhas num prato. – Perdi alguma coisa? Desde quando vocês são tão amigos?

– Não somos amigos – respondeu Katie com cuidado para não levantar a voz. – Mas há dois meses que vem cá almoçar quase diariamente. Não me parece bem continuar a chamá-lo Mister Silencioso.

– Vá lá, Katie Andrews! Se não te conhecesse, diria que ficaste com os olhos moles – brincou Helen com um brilho no olhar.

– Pelo amor de Deus, Helen! – replicou Katie com impaciência.

Porque se sentia tão perturbada? Não era próprio dela.

– Sou muito velha para me enrabichar por alguém.

– És uma mulher, e ainda respiras, não? – sussurrou Helen sorridente. – Vamos! Se não fosse casada com Jim, eu mesma lhe teria deitado o olho. Como dizem a minha filha e as suas amigas «está bom como o milho».

Katie olhou-a sorridente.

– Não temos tempo para estas coisas, Helen. O café está cheio de gente à espera da comida.

– Acertei em cheio, Katie?

– Nada disso – Katie virou-se para ir servir as costeletas a Harv. – E agora ao trabalho, Helen.

Katie ficou irritada ao ouvir o sorrisinho de Helen nas suas costas. Não acreditava nada na sua falta de interesse por Jeremiah. Mas o pior era que a ela também lhe estava a custar muito acreditar.

 

 

Harv Jenkins falava e falava sobre as vantagens de pescar com isco em pequenos riachos em vez de fazê-lo em afluentes maiores como o rio Piney, mas Jeremiah não estava a ouvir nem uma palavra. Estava muito ocupado a perguntar-se que demónios lhe tinha acontecido.

Desde há dois meses, todos os dias da semana acudia com a sua Harley ao Blue Bird, ao meio-dia, para almoçar. E todos os dias, a empregada à qual chamavam Katie lhe anotava o pedido.

Mas naquele dia, quando lhe tinha segurado na porta, sentiu que era a primeira vez que a via. Vendo-a mover-se pelo balcão enquanto falava com a cozinheira e se preparava para servir comida a alguém, teve de reconhecer que era uma mulher muito atractiva.

Como não se tinha apercebido antes? Como lhe podia ter escapado a beleza dos seus olhos água-marinha ou do seu cabelo castanho escuro brilhante como seda?

– Estás a ouvir, rapaz? – perguntou Harv num tom impaciente. – O rio Piney é bom para pescar siluros, mas eu estou a falar de pescar a sério. Eu gosto dos rios com mais corrente, como o que há atrás da tua cabana.

– Não é a minha cabana – respondeu Jeremiah, dirigindo de novo a sua atenção para o senhor mais velho que se sentava em frente a ele na desgastada mesa de fórmica. – Só a aluguei por uns meses.

– Já sabes que Ray Applegate está a tentar vender a casa da avó – disse Harv com um sorriso.

Jeremiah sabia o que Harv lhe ia dizer.

– Isso foi o que Ray me disse quando lha aluguei.

– Já decidiste quanto tempo vais ficar em Piney Knob? – perguntou Harv.

Harv fazia-lhe esta mesma pergunta há um mês. E como sempre, Jeremiah respondeu o mesmo.

– Não. Estou a ir com calma, enquanto me acostumo ao meu novo estado como civil.

– Quanto tempo estiveste nos Marines?

– Dezanove anos.

Jeremiah lamentava profundamente que a sua carreira militar tivesse terminado de forma prematura. Tinha uma lesão de joelho, consequência das feridas recebidas numa missão. Se não fosse por isso, teria continuado a dar ordens aos seus homens e não teria de estar a pensar no que fazer com o resto da sua vida.

– Aqui tem, Harv – disse Katie.

Pôs sobre a mesa as costeletas fritas e o puré de batata banhado com suficiente molho para obstruir todas as artérias de Harv. A seguir, olhou para Jeremiah sorrindo.

– Que te apetece comer hoje... Jeremiah?

Jeremiah engoliu em seco. Sentia-se como se lhe tivessem dado um certeiro murro no estômago. Katie tinha um dos sorrisos mais bonitos que alguma vez vira e o som dessa voz tão clara fê-lo sentir em todo o seu corpo uma cálida sensação.

Teve que pigarrear para poder por fim emitir alguma palavra. Os seus lábios pareciam paralisados.

– Tomarei o prato do dia.

– Frango com dumplings, ervilhas, e rodelas de tomate. A sair – disse tomando nota no bloco. – E para beber?

– Chá com gelo.

Não se incomodou em dizer que o queria com muito açúcar. Em Dixie Ridge não o serviam de outra maneira.

– Estará pronto em poucos minutos – disse, guardando o bloco no bolso do avental. – Trago já o teu chá.

Quando Katie se virou, Jeremiah apercebeu-se que os dois homens da mesa ao lado se iam levantar. Mas antes que pudesse avisá-la, o homem que estava mais perto dela jogou a sua cadeira para trás e chocou com ela. Ela cambaleou e Jeremiah, instintivamente, agarrou-a para que não caísse. Antes que pudesse dar-se conta do que lhe tinha acontecido, tinha Katie sentada nos seus joelhos.

Olharam-se fixamente durante aproximadamente uns segundos que pareceram intermináveis. O aturdido cérebro de Jeremiah começou a perceber algumas coisas. Katie cheirava a pêssegos e a um dia de sol, e os seus lábios de forma perfeita estavam ligeiramente entreabertos como a suplicar um beijo. Mas isso não foi o único que percebeu. O seu corpo era mole como só um corpo de mulher pode sê-lo, e as suas exuberantes curvas apertadas contra o seu corpo fizeram com que certa parte da sua anatomia respondesse de forma muito masculina.

– Lamento, Katie – desculpou-se o homem com quem tinha tropeçado quebrando assim a magia do momento. – Estava a gabar a minha filhinha recém-nascida e não me dei conta do que fazia.

– Não faz mal, Jeff – disse Katie sem fôlego. – Que tal estão Freddy e o bebé?

– Muito bem – respondeu o homem, estendendo uma mão a Katie para ajudá-la a levantar-se. – Mas o Nick não sabe se lhe vai agradar ser o irmão mais velho.

Sem saber porquê, quando Katie ia aceitar a mão do tal Jeff para se colocar de pé, Jeremiah manteve os braços firmes em redor da cintura da mulher e conseguiu que ficasse onde estava. O perplexo olhar de Katie confirmou que ela estava tão surpreendida como ele em relação ao que acabava de ocorrer.

Jeremiah olhou desafiante para o homem a quem Katie chamava Jeff. Este levantou uma sobrancelha e dirigiu-se prudentemente ao balcão para pagar.

– Tens a certeza que estás bem? – perguntou Jeremiah.

Ela ruborizou-se graciosamente.

– A questão é se tu estás bem.

– Certamente que estou – respondeu franzindo a testa. – Porque não ia estar?

– Sentei-me em cima de ti com muita força. E não sou precisamente uma pena.

O rubor transformou-se num profundo rubor. Antes que ele pudesse responder, Katie safou-se de entre os seus braços, pôs-se de pé e olhou à sua volta como se planeasse uma fuga.

– Tenho de cobrar ao Jeff.

Jeremiah viu-a afastar-se para o balcão e sentar-se atrás da máquina registadora. A cadência dos seus quadris arredondados ao caminhar pôs o seu corpo em tensão. Teve de obrigar-se a desviar o olhar.

– A Katie é uma rapariga muito bonita, não é? – perguntou Harv com um sorriso de cumplicidade.

– Não me tinha apercebido – mentiu Jeremiah, tratando de mostrar indiferença. Saiu-se terrivelmente.

De repente, Jeremiah sentiu necessidade de sair a correr. Pôs-se de pé e tirou a carteira do bolso.

– Não tenho muita fome hoje, Harv. Acho que em vez de comer agora vou tentar a sorte no rio atrás da minha casa. Talvez pesque um par de trutas arco-íris para o jantar.

Tirou umas notas e colocou-as sobre a mesa.

– Isto é para o incómodo causado à empregada. Quando venha trazer-me o chá, diz-lhe que cancele o que pedi.

– Chama-se Katie Andrews – disse Harv, com o rosto muito enrugado pelo sorriso. – E, para o caso de te interessar, é solteira.

Sem fazer nenhum comentário, Jeremiah tirou os óculos de sol do bolso da sua camisa e pô-los.

– Até amanhã, Harv.

Evitou olhar para Katie enquanto se dirigia à porta evitando as mesas. Uma vez lá fora, sentou-se no banco de couro da sua mota e deixou escapar um profundo suspiro.

Que raio lhe tinha acontecido? Porque de repente tinha essa ânsia em observar cada movimento de Katie Andrews?

Uma coisa era certa: não era o tipo de mulher que ele normalmente preferia. Agradavam-lhe as mulheres descaradamente sexy, totalmente desinibidas na cama e tão temerosas de compromissos como ele. Isso tornava a vida mais simples.

Mas Katie não era o tipo de mulher que se pode amar e depois deixar sem olhar para trás. Tudo nela era estabilidade e quietude. As mesmas coisas que ele tinha tratado de evitar durante toda a sua vida adulta. Então, porque a achava tão fascinante?

Não estava certo, mas o que necessitava nesse momento era distância.

Arrancou a Harley, tirou-a do estacionamento e dirigiu-se à rua principal em direcção à montanha de Piney Knob. Necessitava da solidão da sua cabana, onde a vida era simples e nada lhe lembraria as coisas de que ele não queria lembrar-se porque sabia que nunca as ia ter.

 

 

Katie introduziu os vinte dólares que Jeremiah deixara na mesa para ela no bolso com a testa franzida. Já trataria de lhe devolver o dinheiro na próxima vez que fosse almoçar.

Foi ao guichê do balcão para retirar e rasgar o papel com o pedido.

– Helen, não te incomodes em fazer o frango com dumplings para o Jeremiah. Mudou de ideias e hoje não come aqui.

– Não? – disse Helen perplexa. – É a primeira vez que o Mister Silencioso não come aqui desde que chegou à terra.

– Chama-se Jeremiah – replicou Katie ocupada nos seus afazeres.

Helen lançou-lhe um sorriso que lhe pôs os pêlos em pé.

– Já me disseste isso.

Katie tratou de ignorar o tom jocoso da sua amiga, pôs outra cafeteira e limpou a bancada do balcão. Até esse dia, não tinha reparado naquele homem que chegara à terra com a sua radiante mota há pouco mais de dois meses. No entanto, na última meia hora era o único que ocupava os seus pensamentos.

A primeira vez que entrou no restaurante, apercebera-se da sua beleza de rasgos duros e da sua voz sexy, capaz de transformar um bloco de pedra em gelatina. Qualquer mulher que não estivesse em coma se teria apercebido.

Mas não tinha reparado no seu corpo perfeito, ou nos seus bíceps marcados pelas t-shirts de algodão que usava. Quando a agarrara para que não caísse, ficara muda ao sentir as suas coxas, duras como uma pedra a agarrá-la com firmeza.

Sentiu calor nas faces só de pensar em como tinha caído no seu colo como uma parva. Mas o que a deixara enfeitiçada era o que tinha visto nos seus olhos castanhos. Jeremiah Gunn era inteligente, compassivo, e, a julgar pelo que pagara por um almoço que não tinha chegado a comer, muito honrado.

– Exactamente as coisas que eu gostaria que os meus filhos herdassem – murmurou pensativa.

Katie conteve o fôlego e olhou em volta para ver se alguém a escutara ou se alguém se dera conta do calor que sentia nas bochechas. Como demónios lhe tinha ocorrido semelhante ideia? Estava tão desesperada por ter um bebé que tinha começado a considerar qualquer desconhecido como possível pai?

Já teria tempo depois de fechar o café para estudar as suas opções. E Jeremiah Gunn não era, nem ia ser, uma delas.

No entanto, mais duas horas mais tarde, quando saía do Blue Bird, continuava sem poder tirar aquele homem da cabeça. Tinha tudo o que podia desejar para o seu filho: inteligência, um corpo bem proporcionado, era bonito...

– Esquece-o – murmurou entre dentes.

Tirou o folheto que lhe dera o doutor Braden da mala. Certamente que no banco de esperma Lancaster, em Chattanooga, poderia encontrar alguém com as mesmas características. Franziu a testa. Não estava certa de querer escolher o pai do seu filho de entre uma lista de doadores tirados de um banco de dados. Dava-lhe a impressão que seria como comprar por catálogo, escolhendo o doador por rasgos da sua personalidade e características físicas.

Perdida nos seus pensamentos, voltou a guardar o folheto na mala e começou a caminhar pela arborizada avenida em direcção à casa na que vivera toda a sua vida. Mal se dava conta de como a luz do sol do incipiente verão se filtrava pelas folhas, ou de como as azáleas, os rododendros e os loureiros acrescentavam clarões alaranjados, rosados ou brancos ao frondoso verdor da montanha de Piney Knob. Também não prestava atenção às ocasionais buzinadelas dos carros que cumprimentavam alguém conhecido. Não tinha nenhum medo de ser atropelada.

Era habitual poder passear pelo meio da calçada de uma ponta à outra da terra sem se deparar com nenhum veículo. Isso era uma prova contundente que Dixie Ridge, Tennessee, era muito pequeno para considerar a ideia de pedir a um dos seus habitantes masculinos que a ajudassem com o seu problema.

Katie suspirou. A maioria dos homens que conhecia já eram casados e os poucos solteiros que restavam tinham namorada. Não podia pedir a ninguém que a ajudasse a ter um filho. As mulheres não achariam graça.

Um sentimento de resignação apoderou-se dela. Por um momento, pensou que o banco de esperma era a sua única possibilidade. A verdade era que candidatos que cumprissem os requisitos não cresciam nas árvores em Dixie Ridge. Excepto Jeremiah. Homer Parsons era o único solteiro da terra. Tinha noventa anos e a senhorita Millie Rogers esperava-o há sessenta anos.

Além disso, mesmo que Jeremiah Gunn reunisse todas as condições, nem num milhão de anos ela ia ter coragem de lho pedir. Que lhe ia dizer?

«Senhor Gunn, aqui tem a sua comida. Ah! A propósito, importar-lhe-ia passar pela clínica de Dixie Ridge esta tarde, olhar para uma revista ou ver algum filme e fazer uma doação num copinho de plástico com o objectivo de que eu possa ter um bebé?»

Ao abrir a porta traseira da sua casa, sentia que a cara lhe ardia. Ele pensaria que estaria completamente louca.