desj576.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Kathie DeNosky

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma herdeira em apuros, n.º 576 - maio 2019

Título original: Lonetree Ranchers: Brant

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-033-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Com os sapatos na mão, Anastasia Deveraux comprimiu o seu corpo contra a parede de tijolo e esperou que a neblina desaparecesse das lentes dos seus óculos.

– Não posso olhar para baixo – sussurrou quando as lentes se desembaciaram totalmente. – Conseguirás se não olhares para baixo.

Fechou os olhos e tratou de encher-se de coragem. Como é que ela, uma bibliotecária inteligente e nada aventureira, podia estar no beiral de uma janela, a quatro andares de altura, na fachada do hotel Regal Suites de São Luís? E ainda para mais, à meia noite.

Olhou para a esquerda e comprovou que, ainda por cima, não havia volta atrás. Se regressasse, estava perdida. A sua única opção era continuar até à varanda seguinte.

Respirou profundo e concentrou-se em alcançar a plataforma que tinha à sua direita. Mas as pontas aguçadas dos tijolos que estavam atrás enlearam-se numa madeixa de cabelo e rasgaram-lhe a blusa de seda e as meias.

O vento frio de Fevereiro fê-la tremer… Maldisse a sua falta de previsão. Devia ter agarrado no casaco e na mala antes de fugir do quarto. Mas não o tinha feito e era inútil lamentá-lo agora.

Quando, por fim, sentiu o metal frio do parapeito na sua anca, esticou a mão e agarrou-se a ele com desespero. A sua avó jamais lhe perdoaria se o seu corpo fosse encontrado na vala lá em baixo. Seria tremendamente indigno. As mulheres Whittmeyer, mesmo quando se passaram a apelidar Deveraux, jamais podiam perder a dignidade.

– Perdoa-me, avó – sussurrou Anastasia. – Mas não há um modo digno de fazer isto.

Saltou sobre o parapeito, caindo desastradamente no chão da varanda. Ignorou a dor no joelho e nas palmas das mãos e pôs-se de pé.

Havia luz no quarto e rezou por ter chegado a uma suite ocupada. Só esperava que o inquilino não estivesse a dormir.

Respirou fundo e bateu no vidro da porta, ansiosa por entrar.

Se o Patrick voltasse, sentisse a sua falta e lhe ocorresse ir à varanda, vê-la-ia.

Voltou a bater, ainda com mais energia.

Uma voz praguejou no interior do quarto, mas a imprecação foi seguida por um profundo silêncio.

– Por favor, deixe-me entrar! – disse Anastasia com um pânico crescente.

– Onde raio está? – perguntou uma voz masculina.

– Na varanda. Apresse-se, por favor – acrescentou Anastasia, olhando com nervosismo para a varanda do quarto contíguo.

Os cortinados foram corridos impetuosamente e Anastasia viu um espectacular cavalheiro de olhos azuis e tronco musculoso, que tinha apenas uma toalha enrolada à volta da cintura. Uma suave madeixa de cabelo preto caía-lhe sobre a testa, suavizando a dureza do seu rosto formoso e anguloso.

– Que raio está você a fazer aí? – disse ele ao abrir-lhe a porta.

Ela pousou os sapatos no chão e deu um passo atrás. Mas tropeçou ligeiramente, cambaleando. Ele apressou-se a segurá-la.

– Cuidado, princesa! – disse ele com uma voz profunda e sensual. – A menos que sejas um anjo e tenhas asas, acho que a queda livre daqui não será muito agradável.

– Não – disse Anastasia, negando com a cabeça. – Não tenho asas – olhou por cima do parapeito, – e não acredito que fosse uma aterragem fácil.

O homem empurrou-a suavemente para o interior do quarto.

– Já estás a salvo – disse-lhe, com um tom de voz muito mais delicado do que ao princípio.

Ela estremeceu. Mas não sabia se era pelo frio ou pelo insinuante som do timbre de barítono. Também não podia ignorar a impressionante exibição de músculos de que fazia gala o seu anfitrião. Parecia retirado de um daqueles calendários que a Tiffany, a sua ajudante na biblioteca, tinha colocado na sala de pessoal. A ideia de que aquele homem não tinha nada por debaixo da toalha provocou-lhe outro arrepio.

– Estás completamente gelada – disse-lhe, interpretando mal a sua reacção.

Envolveu-a com os braços.

– Obrigada… obrigada por me deixar entrar.

– Há quanto tempo estavas aí fora?

– Não tenho a certeza – disse. – Perdi a noção do tempo. Cinco ou dez minutos.

Enquanto pensava no tempo que tinha permanecido lá fora, de repente notou que ainda estava abraçada àquele desconhecido.

Pousou as mãos sobre o seu peito corpulento e afastou-se. Mas uma marca de sangue fez com que se detivesse.

– Deixa-me ver – rogou ele. Pegou-lhe nas mãos e observou-as preocupado. – O que aconteceu?

– Caí ao saltar o parapeito.

– Como chegaste à minha varanda?

– Vim… pelo beiral.

Ele instou-a a sentar-se e reparou nas feridas dos seus joelhos.

– Meu Deus! Tens as pernas cheias de cortes!

Antes que ele pudesse sugerir-lhe que tirasse as meias, bateram à porta.

Ela levantou-se assustada.

– Está à espera de alguém? – perguntou Anastasia.

Ele olhou para a porta.

– Não – disse e encolheu os ombros. – Mas também não te esperava a ti.

– É o Patrick – disse com terror. – Não pode encontrar-me aqui. Tenho de me ir embora.

Brant Wakefield observou como aquela mulher procurava desesperadamente um sítio por onde fugir. Estava tão aterrorizada que, sem dúvida, voltaria ao peitoril se não tivesse outra alternativa.

– Acalma-te. Não sei quem é esse tal Patrick nem porque foges dele, mas não te vou delatar. Senta-te tranquilamente que eu ocupo-me dele – encaminhou-se para a porta. – Quando voltar, curarei essas feridas.

Saiu do quarto em direcção à pequena sala da suite e fechou a porta. Assim que se livrasse do intruso, faria algumas perguntas à sua inesperada visitante.

Bateram outra vez, desta feita com mais força.

Ao abrir, deparou com um desses tipos de fato que tão pouca confiança lhe inspiravam.

– Que raio quer? – perguntou-lhe com maus modos.

O intruso recuou.

– Lamento incomodá-lo, mas procuro a minha noiva – mostrou-lhe uma fotografia. – Talvez a tenha visto.

Pensou numa boa desculpa e aproveitou a sua meia nudez para livrar-se daquele chato.

– A única mulher que vi ultimamente é a que está no quarto à minha espera para tirar as meias – disse ele, insinuando a interrupção de um jogo amoroso. – Estava prestes a tirar-lhas quando você me interrompeu.

O intruso sorriu.

– Deixo-o voltar para o seu entretenimento – disse-lhe. Logo depois, retirou um cartão de visita do casaco e escreveu um número na parte de trás. – Tem aqui o meu número de quarto e o meu nome. Se vir uma mulher de aspecto normal, vestida com uma saia caqui e uma camisa branca, diga-me.

Talvez a sua noiva não fosse uma rainha da beleza, mas, sem dúvida, merecia melhor epíteto da parte do noivo do que «normal».

Fechou a porta e regressou ao quarto.

Quando entrou não viu ninguém.

– Está aí alguém? – perguntou desconcertado.

Teria regressado ao peitoril?

A dúvida inquietou-o. Embora não conhecesse aquela mulher, não lhe agradava a possibilidade de que algo lhe acontecesse.

A porta da casa de banho entreabriu-se levemente naquele momento.

– Já se foi? – sussurrou.

– Sim, foi-se e, se não me engano, não voltará a incomodar-nos durante toda a noite.

Ela abriu a porta de todo e ficou no vão com um olhar indeciso. Com aqueles óculos de armação preta e aqueles olhos verdes assustados, lembrava-lhe a sua professora da primária, a menina Andrews. A professora olhou para Brant com idêntica perplexidade quando, com seis anos, a tentara convencer que não tinha sido ele a meter o grilo no vestido de Susie Parker, mas que o malandro animal tinha chegado até ali por si só.

– Como sabes que não voltará?

– Porque deixei bem claro que não queria ser incomodado – encolheu os ombros e sorriu. – Não é culpa minha se ele quis acreditar que eu me estava a divertir com uma «coelhinha».

– O que é uma coelhinha? – perguntou enquanto sacudia a cabeça e se encaminhava para a porta. – Não me digas. Acho que já sei.

Brant seguiu-a até à sala de estar.

Tinha desfeito o monho que lhe constringia o bonito cabelo louro, deixando-o solto. Parecia mais jovem.

Também reparou que tinha tirado as meias. Engoliu em seco e tratou de desviar a atenção das suas pernas bem feitas e suaves. Surpreendeu-se ao ver que tinha as unhas dos pés pintadas de um vermelho vivo. Parecia-lhe fora de tom, dado que o resto da vestimenta era tão conservadora.

Finalmente, decidiu que não era assunto seu a cor das unhas daquela rapariga, nem que tivesse umas pernas de sonho debaixo daquela saia demasiado grande.

– Senta-te um minuto enquanto me visto e, depois, darei uma olhadela a esse joelho ferido.

Ela concordou e sentou-se no sofá. Depois olhou-o fixamente por uns segundos.

– Não quero ser curiosa, mas vi umas latas de tinta na casa de banho e perguntei-me se serias actor ou alguma coisa assim.

– Não propriamente. Trabalho em rodeos. Estou na cidade este fim de semana por causa do PBR.

– O que é isso?

– O encontro de profissionais de rodeo.

– Parece muito interessante… o teu nome…

– Brant Wakefield.

– Eu sou Anastasia Deveraux – disse ela num tom extremamente educado.

– É um prazer conhecer-te – deu-lhe um aperto de mão e, no instante em que se tocaram, produziu-se uma forte descarga eléctrica entre ambos.

Incapaz de falar, ele afastou-se dela, deu meia volta e entrou no quarto.

Mecanicamente, vestiu-se e logo após, retirou do estojo de primeiros socorros o essencial para o curativo.

Mas, ao regressar, deteve-se de golpe ao deparar com ela encolhida no sofá a tremer descontroladamente.

Ficou com um nó no estômago e amaldiçoou-se por não lhe ter oferecido uma manta.

Aproximou uma mesa onde colocou o estojo de primeiros socorros. Em seguida, começou a friccionar-lhe os braços de alto a baixo.

Suspeitava que aquela reacção tinha mais a ver com o que se tinha passado do que com a temperatura ambiente.

– Trarei algo para te tapar.

– Obrigada – disse ela.

Em questão de segundos, já um grosso casaco a tapava.

– Isto vai ajudar-te a aquecer.

Ajoelhou-se diante dela, levantou-lhe a saia e tratou de ignorar o cinto de ligas a poucos centímetros da sua mão.

– Importas-te de me contar o que te aconteceu ao certo?

– Acho que não é boa ideia.

Brant deixou o curativo e olhou-a fixamente.

– Podes confiar em mim – disse-lhe, com os olhos cravados nos dela. – Só quero ajudar-te.

– Porque pensas que tenho problemas?

– Arriscaste a vida caminhando por um beiral até ao quarto de um desconhecido. Não me parece que o tenhas feito só para apanhar ar – fechou a garrafa do anti-séptico e apanhou um unguento antibacteriano. – Porque não começas por me explicar porque foges do teu noivo?

– Senhor Wakefield… – disse, tratando-o repentinamente por você, como se quisesse distanciar-se.

– Estávamos a tratar-nos por tu – lembrou-lhe ele.

o hesitante.

– Patrick Elsworth, que se intitula meu noivo, ameaçou-me.

Ele procurou concentrar-se na história em vez de prestar atenção aos inexplicáveis sentimentos que aquela desconhecida despertava nele.

Ao fim e ao cabo, Anastasia Deveraux não era o seu género. Era refinada, via-se nos seus modos, forma de falar e roupa. Inclusivamente no seu nome.

Por seu lado, ele podia considerar-se um triunfador, com uma excelente conta bancária e um rancho imponente. Mas não era, de todo, refinado.

Além de que ela estava comprometida com aquela doninha esquálida vestida de fato. Brant não era do tipo que invadia o terreno de outro homem, embora o tipo em questão não merecesse o mais mínimo respeito.

– O melhor seria encontrar uma maneira de fugir do hotel sem envolver-te nisto – continuou ela.

– Sei cuidar de mim mesmo – disse-lhe ele enquanto desenrolava a gaze e a colocava em redor do joelho. – Dou-te a minha palavra que esse teu noivo terá que se ver comigo se te puser a mão em cima, Annie.

Anastasia respirou profundamente. Era a primeira vez desde a morte prematura dos seus pais, quando ela tinha apenas cinco anos, que alguém a chamava assim: Annie.

Sentiu uma profunda tristeza. Apesar de terem passado dezanove anos, ainda sentia saudades.

Respirou fundo para desterrar aquela sensação de pena e vazio. Não tinha sentido perder tempo pensando no que poderia ter sido a sua vida em circunstâncias diferentes. Pelo menos, era isso que lhe dizia a sua avó, e o que a sua avó, Carlotta Whittmeyer, considerava correcto, era-o. Ninguém se atrevia a contradizê-la.

Voltou a prestar atenção ao homem que lhe curava as feridas. Observou-o por uns segundos. Parecia de fiar, e, na realidade, precisava desesperadamente de alguém em quem confiar.

– Não sei por onde começar.

– Pelo princípio? – sugeriu Brant.

O seu sorriso animou-a a narrar a sua história.

– Patrick é o contabilista da minha avó – começou por dizer Anastasia.

– Foi assim que o conheceste?

Ela negou com a cabeça.

– Não. Ele ia regularmente à biblioteca onde trabalho. Foi assim que me convidou para jantar há aproximadamente um ano.

– E tens saído com ele desde então?

– Sim – disse ela. – Mas antes de mais, quero esclarecer que Patrick Elsworth não foi nem nunca será meu noivo.