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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Mary J. Forbes

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O fim dos sonhos, n.º 4 - abril 2018

Título original: Twice Her Husband

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-461-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

 

 

 

 

West Virginia

Final de Abril

 

Ginny enterrou as cinzas do seu marido nas suas amadas montanhas Allegheny. «Somos pó e em pó nos transformamos. Adeus para sempre, amado Boone», pensou ela. Queria atirar-se ao chão e chorar. Tinha muitas saudades daquele médico tão extraordinário que a salvara quando ela pensava que a sua vida não fazia sentido.

Embora tivessem vivido os últimos onze anos em Charleston, ele organizara tudo para que ela regressasse à vila do Oregon onde ambos tinham sido criados com vinte e três anos de diferença: Misty River. Ele mandara reconstruir a casa que fora da sua família.

– Leva os nossos filhos para longe deste lugar a que já não pertenço, Ginny. Estarei convosco onde quer que estejam – dissera-lhe ele na cama do hospital, fazendo-a chorar.

Ela ia cumprir o seu desejo. Mas antes tinham querido despedir-se da melhor forma.

Alexei, o seu filho de dez anos, caminhava ao lado de Ginny enquanto ela levava Joselyn, de dezasseis meses, apoiada na anca e carregava com uma mochila no outro ombro. Caminharam até chegarem ao lugar preferido de Boone nas montanhas, um riacho onde paravam sempre que passeavam pelas montanhas. Adorava a natureza e, naquele momento tão difícil, as crianças precisavam de partilhar a paz daquele lugar com o seu pai pela última vez antes da confusão da mudança.

Tinham planeado aquela cerimónia privada em casa. Alexei cavara um buraco na terra para enterrar as cinzas do seu pai, puseram lá dentro umas cartas que cada um lhe escrevera e, juntos e com muita ternura, verteram sobre elas as cinzas e taparam-nas com a terra. Depois plantaram lírios dos vales por cima e rodearam o lugar com pedras.

Ginny soube que nunca regressaria àquele lugar. «Descansa em paz, querido Boone. Trago-te sempre no meu coração», pensou.

E com Joselyn ao colo e de mão dada com Alexei, Ginny regressou para o caminho e para o seu carro.

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Misty River, Oregon

Dez dias depois

 

No supermercado, Luke reparou na mulher que escolhia umas bananas. Era Ginny, a sua ex-mulher! Há mais de onze anos que não a via. Continuava como sempre: Era bela, de nariz recto, maçãs do rosto marcadas e tinha uma covinha na face.

Luke sentiu que o seu coração acelerava. Deu um passo para ela, disposto a chamá-la.

Então, um menino loiro aproximou-se dela.

– Mamã, podemos fazer hambúrgueres no churrasco do jardim esta noite?

Luke sentiu uma onda de adrenalina ao ver que ela acariciava o cabelo do rapaz.

– Dissemos que íamos jantar esparguete à bolonhesa, lembras-te?

– É verdade – concordou o menino e dirigiu-se ao bebé sentado no carro junto deles. – Quem vou comer agora mesmo, Josie?

A pequena riu-se ao ver que o rapaz se precipitava sobre ela.

– Alsei, não – balbuciou entre gargalhadas, agarrando-o pelo cabelo e puxando-o.

– Vamos, deixa-a em paz – avisou Ginny, enquanto punha as bananas no carrinho.

Luke recuou, era apenas um estranho a observar a família de Ginny, a observar um tipo de vida que ele rejeitara. Afastou-se dali a toda a velocidade.

O que estava a fazer em Misty River? Certamente, estaria de férias com a sua família e tinham parado para fazer algumas compras.

Portanto, ela tinha uma família, um marido. Porque se incomodava tanto com isso?, perguntou-se Luke. Há mais de dez anos que Virginia Ellen Keegan não era sua mulher.

«Mas podia tê-lo sido». Aquele pensamento penetrou na sua mente, como uma punhalada.

Ele meteu-se no seu carro e ficou ali sentado, a olhar pela janela. Ginny… Fechou os olhos e voltou a vê-la, voltou a ouvir a sua voz. Era uma estranha e ao mesmo tempo alguém totalmente familiar.

Ele não conseguira esquecê-la.

 

 

Na sexta-feira de manhã, Ginny, acompanhada por Joselyn, foi falar com a professora de Alexei, a senhora Choll. Ginny queria certificar-se de que o seu filho não ia ser isolado dos outros mais uma vez por causa da sua disgrafia. Poucos professores conheciam a palavra e menos ainda o problema que identificava, um processo complicado que acontecia no cérebro das crianças afectadas. Até então, os professores que ela encontrara reconheciam o problema, mas mandavam-no trabalhar com um colega especializado em dificuldades de aprendizagem e, como consequência, Alexei ficava afastado dos seus colegas de turma.

A senhora Choll estava à espera na sala de aula do quinto ano. Ginny gostou dos seus olhos e do seu sorriso amigáveis. Depois dos cumprimentos, Ginny sentou-se com Joselyn no seu colo e a professora deu papel e lápis de cores à pequena.

– Alexei esteve muito bem esta semana – comentou a senhora Choll. – Já tem alguns amigos, coisa que facilita a transição. Adora Matemática e é muito hábil em expressão oral. Mas, tal como falámos ao telefone, precisa de trabalhar muito mais nas suas habilidades de escrita. Temos um computador portátil que talvez ele queira usar…

Ginny esboçou um sorriso forçado.

– Ele não quer ser diferente dos outros – interrompeu-a. – Prefere escrever à mão sempre que for possível… Desde que não se importe de decifrar o que ele escreveu, claro.

A senhora Choll sorriu.

– Se for preciso, pedir-lhe-ei que me leia o que escreveu. E ficarei um pouco com ele depois da aula todos os dias para lhe ensinar truques que tornem a sua escrita mais legível. Acha que ele quererá fazê-lo?

– Fá-lo-á – respondeu Ginny e levantou-se com Joselyn ao colo. – Obrigada por nos dar uma oportunidade, tanto a Alexei como a mim. Ele odeia que o isolem dos outros.

A senhora Choll também se levantou.

– Compreendo. A menos que seja absolutamente necessário, tento não separar os meus alunos. O que lhe parece se começarmos na próxima segunda-feira depois da aula? Venha buscá-lo às três – replicou a professora, apertando a mão de Ginny. – Prometo que farei tudo o que estiver ao meu alcance, senhora Franklin.

– Obrigada – agradeceu Ginny, aliviada e sorriu timidamente. – Na verdade, conhece alguma ama de confiança?

– Claro, Hallie Tucker. É maravilhosa com as crianças. E é a sobrinha do chefe de polícia. Quer que lhe dê o número dela?

 

 

A ideia de telefonar para casa do seu antigo cunhado e falar com a rapariga que uma vez fora a sua sobrinha deixava Ginny um pouco nervosa. Mas precisava de uma boa ama e Hallie tinha muito boas referências.

A alegria com que a rapariga cumprimentou Ginny quando a reconheceu acalmou um pouco a sua apreensão. E, além disso, Ginny percebeu que as crianças adoravam Hallie quando ela apareceu na sua casa depois do almoço.

– Porta-te bem – avisou Ginny a Alexei.

Beijou Joselyn e depois apressou-se para o seu carro em segunda mão, o único veículo que encontrara e que podia dar-se ao luxo de pagar.

– Estarei de regresso por volta das quatro e meia, cinco no máximo – acrescentou.

A sua tarefa principal era passar pelo supermercado, o resto podia esperar até ao fim-de-semana.

Quarenta e cinco minutos depois, com o porta-bagagem do carro cheio de mantimentos, Ginny passou com o carro pela rua principal para ver que lojas havia. Uma loja de papel de parede chamou-lhe a atenção e parou à frente dela. Lembrou-se de Boone, que preferia as paredes pintadas.

Boone… Naquele dia teria feito sessenta e três anos. Ginny e ele tinham mais de vinte anos de diferença, mas isso nunca fora um problema. Ela apaixonara-se pela sua ternura. Boone era um homem desportista, doce e carinhoso, com um grande instinto paternal. Sofrera quando o bebé dela, onze dias depois de nascer, perdera a batalha contra os seus pulmões pouco desenvolvidos.

Aquele bebé fora fruto da relação com o seu primeiro marido, Luke Tucker. E ele nunca conhecera a sua existência.

Na noite em que Robby fora concebido, Luke e ela estavam em pleno processo de divórcio. Ele fora ao apartamento dela para lhe suplicar e ela chorara devido aos sonhos que não se tinham tornado realidade. O problema fora que Luke temera falhar: No seu trabalho, na vida e, a maior das ironias, no seu casamento.

Naquela noite, ele tornara-se pai. Ginny só soube que estava grávida quando se mudara para West Virginia, o mais longe possível de Luke e da vida que tinham tido juntos. Durante sete meses, ela debateu-se sobre contar-lhe ou não. Depois de oito anos de casamento, Ginny compreendia e perdoava as ambições e receios dele, os seus remorsos e desculpas, mas não queria voltar a sofrê-los. E também não queria que o seu filho tivesse de suportar um pai ausente que vivia para a sua carreira.

Portanto, ela mantivera o segredo e dera à luz sozinha.

Durante duas semanas de agonia e de preocupação, o médico de Robby fora Boone Franklin, o chefe de pediatria do hospital. Ele fora o seu descanso, a sua alma redentora.

Num dia como aquele, no aniversário de Boone, ela teria acordado com um beijo e talvez, se fosse suficientemente cedo, fizessem amor sem pressa. Ginny respirou fundo. Há muito tempo que não fazia sexo. Não estava desesperada, mas algum dia, quando as crianças fossem um pouco mais velhas, quando ela tivesse um salário estável e economias no banco, talvez essa intimidade voltasse a existir na sua vida.

Comprou um papel de margaridas para a cozinha. Queria que fosse um lugar acolhedor, como fora a cozinha da casa com Boone. Ele dizia que a cor curava. Embora não o tivesse curado.

Ginny saiu da loja com o rolo de papel sob o braço e pestanejou devido ao sol poente. Era hora de regressar a casa, para os seus dois filhos e para a sua solidão. Sentia tanta falta de Boone…

Ginny saiu de entre dois carros estacionados ao atravessar a rua. Um som de travões sobre o asfalto fê-la virar-se. Um carro precipitava-se sobre ela!

O rolo de papel saltou dos seus braços como se estivesse vivo. O seu corpo caiu sobre o asfalto. Doíam-lhe as costas e a cabeça.

A última coisa que viu foi um pneu.

 

 

«Ginny, meu Deus!».

Luke saiu a correr do seu carro e aproximou-se rapidamente da mulher que estava estendida no chão a meros centímetros do seu pneu. A perna direita dela tinha um ângulo antinatural. Ela tinha os olhos abertos e o olhar perdido. Luke aproximou a mão do pescoço dela para verificar se tinha pulsação. Estava lá, fraca, mas a bom ritmo por baixo daquela pele tão suave. «Por favor, espero que esteja bem», suplicou, enquanto lhe afastava o cabelo do rosto.

Se ele não estivesse a percorrer a vila, procurando ansiosamente o carro dela, ela não estaria deitada sobre o asfalto. Se ele tivesse deixado que o passado ficasse no passado…

Uma pequena multidão começou a congregar-se.

– Está bem? – perguntou alguém. – Quem é?

«A minha esposa», quis gritar Luke. «Chamem uma ambulância, precisa de um médico!».

– É Ginny Franklin, acabou de estar na minha loja para comprar papel para a cozinha – respondeu a proprietária da loja.

– Franklin? Tem alguma coisa a ver com Deke? – inquiriu um homem.

– Não sei. Mas está há algumas semanas a viver na velha casa dos Franklin.

– Será melhor ter cuidado – comentou outro homem. – Esse lugar está assombrado.

– Esta Primavera quando estiveram a restaurar a casa, o meu marido arranjou o telhado – interveio uma mulher. – Disse que ninguém quis arrendar o lugar devido ao que aconteceu naquelas terras. Certamente, é por isso que o lugar está abandonado há quarenta anos.

– Alguém chamou uma ambulância? – perguntou Luke, irritado.

– Está a caminho, Luke – respondeu Kat, a cozinheira e proprietária do Cozinha de Kat. – Telefonei assim que vi o que aconteceu através da janela. Não foi culpa tua, querido. Ela apareceu na calçada de entre duas camionetas, sem olhar. Pobrezinha! Devia estar muito preocupada com alguma coisa para não ter prestado atenção.

A ambulância parou junto deles. Dentro de poucos minutos, Ginny estava a caminho do hospital.

Uma mão pousou no ombro de Luke. Era Jon, o seu irmão e o chefe de polícia de Misty River.

– Ela saiu… Saiu… Jon, é Ginny – indicou Luke, passando uma mão trémula pelo cabelo.

Os dois irmãos entreolharam-se durante alguns instantes. Depois, Jon assentiu.

– Queres que te leve ao hospital?

– Não – respondeu Luke e suspirou. – Estou bem. Se precisares de uma declaração…

– Mais tarde – retorquiu Jon, despedindo-se dele com a mão.

Mais tarde, quando ela estivesse recuperada. Se recuperasse.

 

 

O médico queria que ela ficasse até à noite e talvez que dormisse no hospital para se certificar de que a pancada na cabeça não tinha consequências. Ela não podia dar-se ao luxo de passar a noite no hospital, não tinha dinheiro para o pagar. Boone gastara quase todas as suas economias com a doença da sua primeira esposa. Depois o cancro dele pusera o seu seguro médico em perigo e tinham gastado quase todas as economias de Ginny. Nos últimos meses, quando ele soube que não regressaria a casa, ela vendera-a para pagar as dívidas e mudara-se para um duplex de aluguer. Ironicamente, Boone restaurara a casa dele em Oregon, sem que ela soubesse, com o dinheiro que tinham poupado para pagar os estudos de Alexei.

Aquela fora a sua pior discussão e também a última.

– Quero que estejas a salvo – dissera ele.

– De quê?

– Do que possa acontecer.

Fora um pressentimento? Mas ele não pensara que ela atravessaria a estrada sem olhar. «És uma estúpida», disse para si.

Naquela noite, talvez os seus filhos passassem a primeira noite sem o seu pai nem a sua mãe. Estavam com Hallie, mas tinham acabado de a conhecer e ela não era a mãe deles. Ginny imaginou o choro de Joselyn. Será que Alexei se fecharia no seu quarto com a sua música, como fizera enquanto o cancro consumia o cérebro de Boone?

Ginny observou o gesso na sua perna direita, estava elevada para que o sangue circulasse bem. O médico dissera que era uma linda fractura limpa. Como podia dizer-se que uma fractura era linda e limpa? Era tal como um tumor cerebral lindo e limpo? Aquelas palavras não acalmavam a dor nem o medo.

Abriu-se a porta do seu quarto e a única coisa que Ginny viu foi um enorme ramo de flores. Então, viu um rosto. Ginny sentiu um aperto no coração.

– Luke! – exclamou como se tivesse visto um fantasma em vez do seu ex-marido.

– Olá, Ginny! Como estás?

«Perplexa», pensou ela, sem conseguir falar.

– O que estás a fazer aqui? – perguntou ela, por fim.

– Vim fazer-te uma visita – respondeu ele e pousou o ramo numa mesa junto da cama.

Ginny observou-o sem dissimulação. Ele tinha os ombros ainda mais largos do que antes, continuava a vestir fatos caros à medida e começava a ter as têmporas cobertos de cabelos grisalhos.

Ele pôs as mãos nos bolsos e olhou para ela com os mesmos olhos cinzentos pelos quais ela se apaixonara aos dezassete anos.

Ginny tentou pôr de parte a sua confusão.

– Como sabias que estava aqui?

Ele observou a perna engessada.

– Vivo em Misty River. Tenho um escritório ao fundo da rua onde tu… Onde eu… Ginny, era o meu carro.

O choque embargou Ginny. Ninguém lhe dissera quem fora o condutor do acidente e ela também não perguntara. Fechou os olhos.

– Lamento – desculpou-se ela.

– Não – redarguiu ele, cobrindo a mão dela com a sua. – A culpa foi minha. Devia ter prestado mais atenção.

Ginny deu uma gargalhada amarga. Afastou a sua mão da dele.

– Está bem, portanto concordamos que não estamos de acordo. Como sempre.

– Ginny…

Ela abriu os olhos e observou-o enquanto ele observava a perna engessada. Viu que ele engolia em seco e punhas as mãos novamente nos bolsos.

– Lamento – repetiu ela. – Não devia ter falado nisso. Foi ignóbil da minha parte.

– Tens todo o direito – declarou ele e sorriu levemente antes de voltar a ficar sério.

– O médico diz que certamente estarei curada dentro de seis semanas – informou ela. – É apenas uma fractura limpa na tíbia, mesmo por cima do tornozelo.

– «Apenas», está bem.

– Não é tão grave como parece, Luke – indicou ela, forçando um sorriso. – Não estou a morrer. Dar-me-ão alta esta noite.

Ou pelo menos era o que ela esperava.

– Quem está com os teus filhos?

Como é que ele sabia que tinha filhos?

– Estão com uma ama. Na verdade, estão com a tua sobrinha, Hallie.

– É uma boa rapariga. Não encontrarás ninguém mais responsável do que ela. Telefonar-lhe-ei. Ou se não… Onde está o teu marido? Não devia estar aqui?

Ginny olhou para as flores, coloridas e alegres.

– O meu marido está morto.

Luke passou a mão pelo cabelo.

– Lamento muito. Quero dizer… Meu Deus, não sei o que quero dizer.

– Aconteceu há três meses.

– Foi repentino?

– Suponho que seis meses de cancro pode ser repentino. Depende do ponto de vista.

Ficou a olhar para ele e não soube durante quanto tempo.

– Não vou dizer que entendo porque não é assim, mas posso dar-vos os meus pêsames, a ti e à tua família. Se houver alguma coisa que possa fazer…

– Obrigada, mas não.

Ficaram em silêncio. O carrinho da comida passou à frente da sua porta.

– Ouvi dizer que estás a viver na propriedade do velho Franklin – comentou Luke.

– É verdade.

– Porquê?

«Porque Boone queria que fosse assim».

– Porque são as terras do meu marido… Eram.

– Pergunto-me porque regressaste a Misty River.

– Boone queria que as crianças conhecessem as suas raízes. Ambos nascemos aqui. E tu? Porque estás aqui e não em Seattle?

Lá, tivera mais sucesso na sua profissão do que no seu casamento.

Luke acariciou uma flor.

– Saí de Seattle depois de nos divorciarmos. As coisas… não correram bem – respondeu ele e largou a flor. – Deram-te de comer?

– Só soro e analgésicos.

Ele virou-se para a porta.

– Trar-te-ei alguma coisa do Cozinha de Kat. Continua a fazer a melhor comida da vila. Apetece-te alguma coisa em particular?

Ginny não conseguiu evitar rir-se. Luke continuava a ser o mesmo, sempre disposto a transformar o incómodo em algo alegre. Era um excelente advogado devido à forma como tratava as pessoas.

– Continua a ter salada de espinafres e pão focaccia?

– Ainda é a tua refeição favorita, eh? – perguntou ele, com um sorriso e saiu.

Ginny recostou-se na cama e observou novamente o ramo de flores. Não agradecera a Luke por as ter trazido. Tinham passado doze anos e ele ainda recordava as suas flores e a sua refeição preferidas.

«O que mais não esqueceste, Luke?». Ao recordar a expressão do rosto dele ao entrar no quarto, Ginny receou pensar na resposta.