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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Catherine George

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A mulher perfeita, n.º 1261 - abril 2018

Título original: The Mistress of His Manor

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-278-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

O sol da tarde era tão ofuscante que teve de pôr os óculos de sol enquanto passava à frente dos barracões e das estufas para ladear um engarrafamento virtual de carrinhos carregados de artigos. Excelente! O negócio estava a correr bem. Ainda melhor, pois um dos carrinhos era empurrado por uma mulher muito atraente. Suspirou ao ver que dois homens se aproximavam dela, um deles com uma menina pequena. Bolas! De modo que não era solteira. E era anos mais jovem do que o seu marido. Que sortudo. Quando se aproximou, a rapariga lançou-lhe um sorriso que o fez parar.

– Poderia dar-me indicações, por favor? Precisamos de amores-perfeitos que floresçam no Inverno.

– É claro. Levá-la-ei lá – respondeu ele. Lá ou a qualquer lugar que ela desejasse.

– Obrigada – a mulher baixou-se e deu um beijo na face da menina. – Vai com o pai e o avô, querida.

– Quero ir contigo – respondeu a menina.

– Querida, está muito calor e estará mais calor ainda onde guardam os amores-perfeitos, portanto pede ao pai para te comprar um gelado.

Aquelas palavras mágicas fizeram com que a menina fosse a correr para o seu pai com um sorriso.

– Encontrar-me-ei convosco na entrada principal – disse a mãe e virou-se para o seu guia. – Muito bem. Peço desculpa por o fazer esperar.

– Não há problema – garantiu ele e seguiu pelo caminho maior. O seu marido poderia prescindir dela durante um minuto ou dois, disse à sua consciência. Quando finalmente chegaram perto dos amores-perfeitos, agarrou num carro vazio e fez uma visita guiada à sua cliente.

– Que bonitos! Tem aqui as flores mais bonitas.

– Vem cá com frequência? – bolas! Não conseguia ter pensado em algo melhor?

– Não. É a minha primeira visita. A minha mãe confiou-me a escolha dos amores-perfeitos. Quer todas as tonalidades de cor-de-rosa que houver, para além de amarelos e brancos.

– Violetas não? – perguntou ele, surpreendido.

– Aparentemente, não. Obrigada pela sua ajuda, mas deve estar ocupado. Posso continuar sozinha.

– Posso ficar mais alguns minutos – ou horas. – Pode escolher, eu pô-las-ei no carro.

Observou-a dissimuladamente enquanto ela fazia a sua escolha, de certeza de que a vira em qualquer lado antes. Mas não conseguia recordar onde nem quando.

– Já está – disse ela, com satisfação. – Hora de parar, antes de me arruinar.

– O nossos preços são muito razoáveis – garantiu ele. – Competitivos, pelo menos.

– Tenho a certeza. Mas já abusámos hoje antes de começarmos com os amores-perfeitos. E agora tenho de regressar à tribo. Muito obrigada pela sua ajuda.

– Foi um prazer – disse ele e chamou um empregado que passava perto deles. – Mostra à menina onde pagar e leva-a de volta à entrada principal, por favor.

 

 

– Demoraste muito – disse o seu pai, Jack Logan, quando Jo se encontrou com eles. – A menina estava a começar a impacientar-se.

– Lamento. Os amores-perfeitos estavam longe – respondeu ela, com um sorriso. – Embora seja curioso, porque o caminho de regresso foi realmente curto.

– Foste pelo caminho mais longo? – perguntou Jack.

– Literalmente. O que é lisonjeador. O meu guia parecia muito apetitoso por baixo de toda aquela terra.

– Estou cansada – queixou-se a pequena.

– Está bem, Kitty, linda, vamos para casa ver a mamã. Já poremos o resto das flores no carro, Jo. Vais ficar para dar uma olhadela à casa?

– Depois de ter insistido tanto em vir fazê-lo, acho que devo. Deixarei o meu carro aqui e irei a pé ver como vive a outra metade.

– Eu poderia ficar contigo – ofereceu-se o seu avô, mas ela abanou a cabeça e deu-lhe um beijo.

– Pareces cansado. Vai para casa com Jack e com Kitty e diz a Kate que fiz tudo o que pude com a selecção de amores-perfeitos. Telefonar-lhe-ei mais tarde para ver como está.

– Só espero que tenha passado a tarde na cama, como prometeu – disse Jack.

– Se tivesses ficado lá com ela, talvez o tivesse feito – declarou Jo. – O avô e eu podíamos ter trazido Kitty para comprar as flores.

– A ideia era fazer com que Kate descansasse.

– Então, deita Kitty e depois faz um jantar para dois.

– Esse era o meu plano, menina mandona. Vais jantar connosco?

– Não. Depois da visita irei directamente para casa e deitar-me-ei cedo – Jo esticou-se para dar um beijo à menina, depois despediu-se dos seus homens e começou a andar por um caminho que serpenteava entre os parques até chegar à entrada de Arnborough Hall.

– Receio que esteja atrasada para a última visita do dia – disse uma empregada quando Jo entrou no hall. – Mas, se quiser dar uma olhadela sozinha, faça-o, por favor. No guia aparece o caminho.

– Obrigada. Farei o possível para não entrar onde não devo – Jo observou com prazer o tecto alto e as armaduras encostadas contra as paredes de pedra. – É um lugar impressionante e mesmo assim os móveis fazem com que pareça uma agradável sala de recepções.

– É exactamente o que é – respondeu a mulher, com um sorriso. – Em ocasiões especiais, a família usa-a para isso. Por favor, leve o seu tempo. Ainda tem quarenta minutos até fechar e há empregados por todo o lado para responderem às suas perguntas.

– Obrigada – Jo estava contente por poder explorar sozinha. Começou pela biblioteca, mas Jo parou e franziu o sobrolho, tinha a certeza de ter visto uma divisão assim antes. Quando chegou à sala de baile, estava convencida de ter visitado Arnborough Hall noutra vida e desfrutou daquela pequena fantasia, imaginando-se a dançar a valsa sob os lustres.

Dado que não tinha tempo para seguir a rota normal dos visitantes, foi a uma longa galeria cheia de quadros valiosos, que incluíam, segundo o guia, um retrato de Constable. Os retratos familiares datavam do período Tudor e Jo estudou cada um com atenção. Parou em frente dos retratos vitorianos. A semelhança entre os homens da família no século XIX não só era marcado, como também havia algo familiar neles. Vira os traços distintivos do lorde Arnborough vitoriano e dos seus filhos em algum lado. Talvez nessa outra vida? Olhou para o relógio. Acabara o tempo.

– Espero não a ter feito esperar – desculpou-se ao ver a empregada que esperava para fechar o hall. – Devia ter começado mais cedo. Não consegui ver tudo.

– Então, volte novamente – disse a mulher. – Temos muitas coisas para oferecer até ao Natal, tanto aqui como no nosso centro de jardinagem.

– Obrigada. Fá-lo-ei. Adeus!

Enquanto Jo abandonava a casa, sentiu um aperto no coração ao avistar uma figura alta. O seu jardineiro atraente parecia diferente, com calças de ganga e uma t-shirt branca que se ajustava aos seus ombros largos e à sua cintura estreita.

– Olá outra vez! – cumprimentou ele. – Esteve a visitar a casa?

– Sim. Os outros foram directos para casa do centro de jardinagem. Eu vim pelos meus próprios meios para poder visitar a casa depois.

– E o seu marido já terá deitado a menina quando chegar a casa?

– Na verdade, aquele era o meu pai, que parece demasiado jovem para o papel, portanto chamo-lhe Jack. E Kitty é a minha irmã mais nova. Se quiser a imagem completa, o cavalheiro mais velho da família era o meu avô – para seu deleite, observou como o jardineiro corava ligeiramente.

– Peço-lhe desculpa – disse ele e desarmou-a com um sorriso. – Por outro lado, descobrir que não tem marido é uma boa notícia. Ou será que há alguém à sua espera em algum lado?

– Não. Sou solteira.

– Excelente! Eu também! Celebremos o nosso bendito celibato com um copo antes de ir para casa.

– Certamente, os jardineiros não andam com rodeios – disse ela.

– A vida é demasiado curta para isso. Então, quer vir? O Arnborough Arms fica ao fundo da rua. Sou March, na verdade – disse ele, oferecendo-lhe a mão.

– Eu sou Joanna e estou cheia de sede, portanto a resposta é sim.

– Muito bem, Joanna. Se atravessarmos os jardins neste ponto, podemos ir por um atalho.

– Obviamente, conheces bem o lugar – declarou, tratando-o por tu.

– Sempre. A tua família espera por ti para jantar?

– Não. Fiz a comida antes de vir, enquanto Jack cuidava da minha mãe, conhecida por mim como Kate. Estava a enlouquecê-la a perguntar-lhe como estava de cinco em cinco minutos.

– Está doente?

– Grávida – respondeu Jo. – Deus sabe como o meu pai sobreviverá desta vez. Já sofreu quando nasceu Kitty… – de repente, parou. – Lamento! Demasiada informação.

– Claro que não. O teu pai e tu têm a minha compaixão.

– Obrigada – respondeu ela, com um sorriso. – Na verdade, espero que o pub tenha uma casa de banho em condições. Sinto-me um pouco suja. E obviamente tu passaste por casa para tomar um banho desde a última vez que te vi.

– Precisava dele – respondeu ele. – Tinha estado a trabalhar durante horas – agarrou-a pela cintura para a guiar pelos degraus situados ao fundo do caminho. – Aqui estamos, a alguns metros da porta traseira do pub. Espera um momento, falarei com o dono.

Jo observou enquanto o seu novo amigo batia à porta, a abria e entrava.

– Ainda não está aberto? – perguntou ela, quando March saiu novamente para ir buscá-la.

– Está aberto todo o dia. Só perguntei a Dan se podíamos ocupar a sala traseira para conversar calmamente. Caso contrário, serias pisada por pessoas que estão a jogar aos dardos e essas coisas.

O pub era bonito e também estava vazio. Jo arqueou as sobrancelhas enquanto o seu acompanhante a guiava até uma pequena sala atrás do balcão.

– Pisada?

– Mais tarde estará cheio – respondeu ele, firmemente. – O que queres, Joanna?

– Sumo de toranja com limonada e muito gelo, por favor.

As bebidas aguardavam sobre uma mesa junto da janela quando saiu da casa de banho.

– Estive a trabalhar o dia todo e não vou conduzir, portanto posso beber uma cerveja – disse ele, enquanto levantava o copo. – À tua saúde, Joanna.

– Vives perto?

– A pouca distância a pé, sim. E tu?

– A uma hora de carro – disse, antes de beber um gole do seu sumo. – Precisava disto. Obrigada.

– O que achaste da mansão?

– É um lugar maravilhoso. O dono não estará solteiro, por acaso? – brincou. – Se for assim, casar-me-ei com ele e mudar-me-ei amanhã mesmo.

– Gostaste assim tanto? – perguntou ele, rindo-se.

– É a atmosfera. Embora seja antiga, parecia um lar.

– Provavelmente, porque a mesma família viveu lá desde o século XV.

– A sério? É incrível.

– A sucessão foi mudando de ramo em ramo na árvore familiar, já que o noivo adoptou o apelido da noiva para que pudesse continuar a ser assim. Viste os retratos da galeria?

– Não consegui ver todos. Fiquei sem tempo a meio da época vitoriana.

– Oh, que azar – disse ele. – Diz-me, Joanna, o que fazes?

– De certeza que vais rir-te.

– Porquê?

– Porque os outros homens riem-se.

– Eu não sou como os outros homens – garantiu. – Dedicas-te ao entretenimento de algum tipo?

– Não é assim tão excitante. Pouco depois de acabar os meus estudos, a assistente do meu pai deixou-o para ser mãe a tempo inteiro. Sugeriu-me que ocupasse o seu lugar até decidir o que queria fazer com a minha vida. Eu gostei do trabalho desde o começo e ainda gosto. Portanto, é o que faço, trabalho para o meu pai.

– E o que é que ele faz?

– É construtor – o que era verdade. Até certo ponto.

– E obviamente dão-se bem.

– Profissionalmente, formamos uma boa equipa – ele sorriu amargamente. – Mas Jack preocupa-se com a minha vida privada. Às vezes, é um pouco enfadonho e insiste que viva em casa com eles.

– Porquê? – perguntou March. – És viciada nas festas selvagens?

– Gostaria! – exclamou ela. – Não, de facto, não gostaria. Já fiz essas coisas quando era estudante. Agora tenho uma vida muito normal na minha pequena casinha junto do parque da vila.

– Então, o teu pai deve pagar-te bem. Lamento. Que indelicado. Esquece que disse isso.

– Na verdade, a casa foi um legado. Onde vives? – perguntou ela.

– Numa espécie de apartamento.

– Trabalhas todos os domingos?

– Quando precisam de mim, sim. Mas a partir de agora não muito. Depois, em Dezembro, volta a agitação – levantou-se para pegar no seu copo. – O mesmo?

– Sim, mas desta vez pago eu.

– Trar-te-ei a conta – mas, quando regressou com os copos, entregou-lhe um menu. – Apetece-te jantar antes de ires para casa? Ou tinhas alguma coisa planeada para esta noite?

– Não, nada – respondeu ela. – Obrigada. Eu adoraria. O que há?

– Sobretudo saladas aos domingos à noite. Recomendo-te a de presunto. Trish, a mulher do dono, trata do presunto pessoalmente.

– Então, salada de presunto, por favor. Mas só se pagarmos a meias – acrescentou, com firmeza.

Esperou que March fosse fazer o pedido e telefonou a Kate.

– Dois Trish especiais a caminho – declarou March, quando ela guardou o telefone.

– Acabei de falar com a minha mãe, que já se sente melhor, o que significa que posso desfrutar do jantar – disse Joanna. – Estava tão preocupada com ela durante o almoço que mal comi.

– És boa cozinheira?

– Sim.

– Nada de falsa modéstia, então.

– Nada disso – respondeu ela, com um sorriso. – Eu gosto de cozinhar. Tenho jeito. E tu?

– Não morro de fome, mas não é o meu passatempo favorito.

– Obviamente, isso é a jardinagem.

– Não. Simplesmente, sigo as ordens do tirano que fiscaliza os jardins da mansão.

– É velho e teimoso?

– Não. É jovem e muito qualificado, assim como o cérebro por trás do centro de jardinagem.

– Portanto, quando ele diz salta, tu saltas?

– Mais ou menos. Aprendi muito com ele. Sobretudo em relação às rosas.

– Disseram-me que as daqui são únicas.

– E não só as dos jardins da mansão. Hoje vendemos muitas rosas no centro, prontas para florescer no ano que vem. Tens de voltar no Verão, quando as rosas estiverem no seu maior esplendor. Embora Ed as intercale com todo o tipo de coisas para dar cor e forma aos jardins. É um artista com as cores. Viste os desenhos?

– Não tive tempo.

– Volta amanhã e tirarei uma hora para fazer um percurso contigo.

– É um truque para me mostrares os teus desenhos?

– Não. Embora tenha alguns desenho que poderia mostrar-te. Mas só quando te conhecer melhor.

– Tem muito bom aspecto! – exclamou Jo, quando o dono pôs os pratos na mesa.

– Bom apetite – disse o homem e trocou um olhar com March. – O lugar está a encher, portanto faz-me um gesto se precisares de alguma coisa.

As saladas vinham acompanhadas de pão rústico que parecia tão apetitoso que Joanna sentiu o seu estômago a queixar-se.

– Oh, perdão!

– Não te preocupes. Ataca. Eu estou cheio de fome.

– Isto está delicioso – disse Jo depois de saborear o presunto. – Comes muito aqui?

– Não tanto como eu gostaria. Mas, às vezes, permito-me um jantar de domingo como este.

– Deve ser agradável não ter de cozinhar depois de teres estado a trabalhar.

– Cozinhas para ti todas as noites? Ou tens uma sucessão de pretendentes esperançados dispostos a convidar-te para jantar?

– Receio que não – disse ela. – Tenho amigos com que saio para almoçar de vez em quando, mas na maioria das noites faço qualquer coisa rápida em minha casa ou cedo à persuasão e janto com Kate e com Jack. Às vezes, também com o meu avô.

– Ele vive com os teus pais?

– Não. Não quer sair de casa. E, apesar da insistência do meu pai, eu não quero sair da minha.

– Gostaria que estivesses em casa sob a sua vigilância?

– Felizmente, Kate recusa-se a apoiar Jack nisto. Ela percebe que eu preciso de um lugar próprio.

– E, entretanto, o teu pai alberga pensamentos estranhos sobre o que fazes na tua pequena casa!

– Nada digno de aparecer nos jornais – garantiu ela. – Eu gosto de convidar os meus amigos e amigas sem que ninguém esteja a vigiar. Gostarias que observassem tudo o que fazes?

– Não – respondeu ele e olhou para o seu prato vazio. – Gostaste-te?

– Certamente. Estava deliciosa. Apetece-me um café, por favor, e depois irei para casa. Amanhã é segunda-feira e Jack exige pontualidade aos seus empregados, sejam parentes ou não.

Para surpresa de Jo, March pegou nos pratos e levou-os para o balcão, onde pediu os cafés. Ao voltar a sentar-se em frente dela, recostou-se na cadeira e olhou para a sua cara.

– Gostei muito do jantar, Joanna. Voltemos a fazê-lo noutro lugar. Em breve.

– Quando?

– Suponho que amanhã é demasiado precipitado. E se for na terça-feira à noite?

– Tão cedo?

– Depois do meu encontro contigo, invejei o homem que presumi que era o teu marido – disse ele. – Portanto, quando os nossos caminhos voltaram a encontrar-se, aproveitei a oportunidade ao descobrir que eras solteira. Como faria qualquer homem no seu juízo perfeito. Então, Joanna, ver-te-ei na terça-feira.

– Bom… Sim, está bem – disse ela.

– Excelente! Dá-me o teu número de telefone e diz-me como chegar a tua casa. Irei buscar-te às sete – levantou a cabeça. – Dan está a chamar-me. Irei buscar o café. Como podes ouvir, lá fora há muita gente.

– Mais ninguém usa esta sala? – perguntou, quando March regressou com os cafés.

– Aos domingos, não.

– Está bem – respondeu ela, antes de beber um gole do seu café. – Quanto foi?

– Pagas na terça-feira.

– Nesse caso, não esperes um restaurante de cinco estrelas!

– A comida é irrelevante – respondeu ele. – É a companhia que importa.

– Pensarei nisso – disse ela, suspirou e olhou para o relógio. – Tenho mesmo de ir.

– Acompanhar-te-ei ao carro.

– Receio que esteja estacionado no centro de jardinagem.

– Melhor. Assim daremos um passeio mais longo.

– Embora não seja mais longo do que o passeio que fizemos para irmos buscar os amores-perfeitos!

– Juro que não tenho por costume raptar mulheres casadas. Convenci-me de que alguns minutos na tua companhia não contavam como adultério.

– O adultério tem de ser consensual – respondeu ela, com um sorriso.

– Não sei. É um pecado que nunca cometi.

– Fala-me dos outros pecados!

– Na terça-feira – prometeu ele.

Joanna elogiou a cozinheira quando se despediu do dono. Uma vez na rua, tremeu ligeiramente e March ajudou-a a vestir a camisola. Depois, deu-lhe a mão enquanto caminhavam pelo caminho que levava ao centro de jardinagem.

– No caso de tropeçares – disse ele.

– Agora que deixámos o pub para trás, isto está muito tranquilo – comentou ela.

– Demasiado tranquilo. Às vezes, preciso das luzes da cidade.

– Vives sozinho?

– Sim, Joanna. Como te disse, sou solteiro.

– Podias viver com a tua mãe – sugeriu ela.

– Morreu há alguns anos e o meu pai faleceu recentemente.

– Lamento – Joanna apertou-lhe a mão. – Obrigada pelo jantar, March. Gostei muito da noite.

– Eu também. Uma pena que tenhas de ir para casa tão cedo – inclinou-se e beijou-a na face. – Irei buscar-te às sete na terça-feira.

Pelo espelho do carro, Jo viu March sob o candeeiro, observando-a enquanto se afastava. Conduziu até casa, pensativa. Era inútil fingir que não ficara contente com tudo o que se passara durante a noite, incluindo a sugestão de March de repetir em breve. Fora tão fácil falar com ele que Jo se mostrou mais aberta do que de costume. Em qualquer caso, tinha a sensação de que por trás daquela fachada encantadora jazia uma personalidade muito forte. Sentia que havia mais nele do que se via à primeira vista. Como um apelido, pensou de repente. Ou talvez March fosse o seu apelido. Tinha-se esquecido de perguntar.