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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2005 Harlequin Books S.A.

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma doce sensação, n.º 728 - Agosto 2015

Título original: A Rare Sensation

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-7133-5

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Wine Country Courier

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Wine Country Courier

Crónica Social

Mais dois Ashton entram em cena no vale de Napa

Como se já não tivéssemos bastante com as duas facções da família que rivalizam com os seus vinhedos no vale! No entanto, estes dois novos Ashton, Grant Ashton e a sua sobrinha Abigail, não trazem precisamente cheiro a vinho, mas sim a feno e a cavalo.

Passamos a explicar-nos: a doutora Abigail Ashton, vinda do Nebraska com o seu título de veterinária na mão, está no nosso formoso vale… e desde que chegou tem passado a maioria do tempo nas cavalariças de As Vinhas!

Claro que, tendo em conta que Russ Gannon, o charmoso capataz da herdade que nos seus momentos livres compete em rodeos, também as costuma frequentar, talvez tenha os seus motivos. E é que… que razão melhor para passar o dia num estábulo que dar umas voltinhas no feno com um espécime como este?

Prólogo

1963

Enquanto se afastavam do cemitério de Crawley, Spencer Ashton, que ia ao volante, olhou de esguelha para a sua esposa, Sally, e os dois bebés que levava sobre o regaço, um dos quais berrava a plenos pulmões. Que vontade tinha de perdê-los de vista, de não ter de suportar mais os patéticos olhares de adoração de Sally, nem escutar o incessante choramingar dos gémeos! Grant, o rapaz, pelo menos calava-se de quando em quando, mas os berros de Grace, a menina, estavam a fazer da sua vida um inferno, um inferno no qual não tinha intenção de permanecer muito tempo.

Observou pelo espelho retrovisor os coveiros recheando com terra a tumba do seu pai. O velho controlador tinha morrido de um ataque cardíaco e por fim seria livre… livre para se desfazer de Sally e dos gémeos, livre para sacudir o pó dos sapatos e ir atrás dos seus sonhos, livre para deixar para trás a pequena cidade de Crawley, no Nebraska, e ir tão longe quanto o levassem o seu velho Ford e os cem dólares que tinha no bolso.

– Não podes calar essa menina? – rugiu a Sally ao ver que o choro de Grace aumentava.

– É que lhe estão a nascer os dentes – respondeu ela nessa voz melodiosa que o enervava, beijando a cabecinha da pequena. – Não chores mais, Gracie, querida, não chores mais… O papá sente-se mal quando te vê chorar.

As entranhas de Spencer revolviam-se de cada vez que a ouvia referir-se a ele como «papá». Talvez tivesse engendrado com ela essas duas crianças choronas, mas nunca seria o seu «papá».

Enquanto se dirigiam com a camioneta pelo arrevesado caminho que conduzia à fazenda Barnett, Spencer pensou que era uma sorte que os parentes de Sally tivessem decidido ficar na cidade depois do enterro, porque assim ir-se embora ser-lhe-ia muito mais fácil. Pelo menos não teria de suportar os olhares de reprovação que os pais de Sally lhe tinham dirigido desde que o seu velho o obrigara a casar com ela e tiveram de ir viver com eles.

Quando chegaram, desceu da camioneta sem parar para ajudar Sally com os gémeos, e dirigiu-se com passo decidido para a casa de dois andares que tinha acabado por ver como uma prisão. Nem sequer voltou a cabeça para ver se Sally tinha saído também da camioneta e ia atrás dele. Entrou em casa, subiu os degraus de dois em dois, foi direito ao quarto que partilhavam desde a noite do casamento e retirou um saco de couro gasto da parte de cima do armário.

– Spencer, que estás a fazer? – perguntou Sally, entrando no quarto.

A sua voz soava ofegante por ter tido que subir a escada carregando ela sozinha com as duas crianças. Pois que se fosse acostumando, pensou Spencer encolhendo os ombros mentalmente enquanto guardava de qualquer maneira a sua roupa no saco; era uma das muitas coisas que teria de se acostumar a fazer sem ajuda.

– Vou-me embora.

Mal expressou em voz alta a sua intenção, uma onda de alívio invadiu-o, fazendo-o sentir-se quase enjoado. Esperava este dia desde que o seu pai o tinha obrigado a casar com Sally ao saber que a tinha engravidado.

– Embora? Para onde?

O tom trémulo da voz de Sally fez com que um calafrio lhe percorresse as costas, como quando alguém arranha uma louça com as unhas.

– Tão longe quarto puder dessas crianças insuportáveis e de ti.

Aquelas palavras doeram-lhe mais do que se lhe tivesse cravado uma faca, mas era indiferente. Esses ranhosos e ela eram a razão pela que tinha tido de suspender durante quinze intermináveis meses os seus planos de uma vida melhor.

Os soluços entrecortados de Sally enervaram-no mais e, sem pensar duas vezes, correu o fecho do saco. Ao diabo com o resto das coisas; compraria roupa nova quando chegasse à Califórnia.

Ansioso por fugir de Sally e dos gémeos chorões, agarrou o saco e saiu do quarto. Escutou os passos dela atrás dele, mas não se voltou. Nunca voltaria a vista atrás.

No entanto, tentaria manter-se em contacto com o seu irmão mais novo, pensou enquanto descia as escadas. Tinha-se afeiçoado a ele apesar do seu absurdo sentimentalismo.

Apesar do banco ir embargar a fazenda do seu pai, e do velho ter morrido, o grande parvo tinha rejeitado a oferta que lhe fizera no cemitério de o levar consigo. Disse-lhe que não podia imaginar-se a viver noutro lugar que não fosse o Nebraska e que, mesmo que pretendesse começar do zero noutro lugar, como ele, não queria ir para outro estado. Bom, esse era um problema seu, não dele. Sem dúvida acabaria numa cidade tão perdida da mão de Deus como Crawley.

Chegou à porta, mas então a voz de Sally irrompeu nos seus pensamentos, fazendo-o deter-se.

– Mas estes… são os teus filhos… Spencer. Não significam… nada para ti?

Virou-se e dirigiu-lhe um sorriso cheio de desprezo enquanto a observava, ali agarrada ao poste do patamar da escada como se as pernas não a sustentassem.

– Absolutamente nada. Pelo que me diz respeito, essas duas crianças choronas e tu jamais existiram.

Spencer viu-a cair de joelhos, soluçando de modo patético e, repugnado, abanou a cabeça antes de sair batendo com a porta.

Foi até à camioneta a assobiar, arrojou o saco para o banco do passageiro e sentou-se ao volante. Por fim era um homem livre e nada o ia impedir de viver a vida que queria e que, sem dúvida, merecia.

Capítulo Um

Fevereiro 2005

Abigail Ashton saiu da antiga cocheira e jogou a cabeça para trás para que os cálidos raios de sol banhassem o seu rosto. Para Fevereiro, o tempo não podia ser mais diferente ali, na Califórnia, do que o que tinha deixado para trás, na zona oeste do Nebraska. De facto, quando tinha ido ao aeroporto na manhã do dia anterior, a temperatura era de nove graus negativos e havia quase meio metro de neve, enquanto ali, no vale de Napa, estavam a doze graus.

Não estranhava que o seu tio Grant tivesse decidido ficar ali mais um pouco. Mesmo que até então as suas tentativas de falar com o pai tivessem sido inúteis, o bom tempo da Califórnia era suficiente para tentar qualquer um.

Olhou em volta com um sorriso, admirando os cuidados terrenos de As Vinhas, a herdade de Lucas e Caroline Sheppard. Tinha sido muito amável por parte de Caroline tê-los convidado, ao seu tio e a ela, para que ficassem o tempo que quisessem para conhecerem melhor o vale… sobretudo quando não havia razão alguma que a obrigasse a isso, nem motivo para simpatizar com eles. Enfim, deviam ser para ela uma dolorosa lembrança do seu primeiro casamento, da época na qual tinha sido casada com o seu avô, Spencer Ashton.

Abigail abanou a cabeça. Ao casar com ela ocultara-lhe que já tinha uma esposa e filhos no Nebraska, a quem abandonara, e que nem sequer se divorciara da primeira mulher, a sua defunta avó Sally.

A pobre Caroline não soube que o seu casamento não tinha sido legal até que, há um mês atrás, o seu tio Grant se apresentou ali na esperança de poder enfrentar cara a cara o seu pai, que durante quarenta anos considerara morto.

Embora naturalmente aquilo tivesse sido um golpe para ela, Caroline não perdera a dignidade que a caracterizava, e quando soube que o seu tio Grant era filho de Spencer, pediu-lhe que ficasse um tempo para poder conhecer melhor os seus filhos, que enfim eram seus meios-irmãos.

Abby mordeu o lábio inferior para fazer com que deixasse de tremer. O seu tio Grant preocupava-a. Tinha saído do Nebraska obcecado com a ideia de ver o seu pai e perguntar-lhe por que os tinha abandonado, mas o grande canalha negara-se a recebê-lo, do mesmo modo que se negava a manter trato algum com os filhos de Caroline.

Desatando a andar para o pequeno lago que havia atrás da antiga cocheira, Abigail pensou que a ela pessoalmente era-lhe indiferente nunca chegar a conhecer o seu avô. Nunca poderia sentir o mais mínimo respeito por uma pessoa capaz de abandonar a sua jovem esposa e os seus filhos de oito meses, casar-se com outra mulher sem se ter divorciado, e depois abandoná-la também a ela e aos filhos para se casar com a secretária e formar outra família. De facto, nem sequer merecia que perdesse o seu tempo a pensar nele.

O único que lhe importava nesse momento era que finalmente era livre. Depois de muito esforço, tinha conseguido licenciar-se na universidade e estava decidida a desfrutar de cada minuto das primeiras férias de verdade que tinha há anos. Assim, quando voltasse a Crawley, estaria descontraída e pronta para a descolagem da sua carreira profissional.

Uma mistura de satisfação e esperança inundou-a. No final da Primavera tornaria realidade o que tinha sido o seu sonho desde os doze anos: iniciar a sua própria clínica veterinária. Enquanto caminhava pelo atalho que se afastava da antiga cocheira, os seus lábios curvaram-se num sorriso ao avistar as cavalariças um pouco além do pequeno lago. Sem pensar duas vezes, dirigiu-se para lá. O edifício, pintado de branco e com portadas verdes escuras, dava a impressão de ser um paraíso para os amantes dos cavalos. Morria por vê-lo interiormente.

As portas duplas estavam abertas de par em par para deixar que corresse o ar e Abigail não pensou duas vezes antes de entrar na penumbra. Quando a sua visão se adaptou à mudança de luz, ficou sem fôlego. Interiormente, as cavalariças eram tal e qual ela esperara e ainda melhores.

A parte inferior dos estábulos era de pinho, enquanto na superior havia grades de metal para permitir uma boa ventilação. Além disso, tinham portas de dupla folha que facilitavam o acesso, e cada folha estava dividida em duas metades, uma superior e outra inferior, para permitir aos cavalos enfiar a cabeça e bisbilhotar.

Um formoso ruano azul assomou a cabeça quando Abigail passava e esta deteve-se a acariciar o suave focinho do animal. Enquanto o fazia, reparou que as paredes de dentro do estábulo estavam recobertas com malha de aço inoxidável que podia limpar-se e desinfectar-se facilmente com uma mangueira. Como amante de cavalos e veterinária, só podia sentir-se impressionada com o facto dos Sheppard terem tido em conta cada pequeno detalhe pelo bem-estar dos animais.

Estando ali de pé, desejando que a fazenda que a sua família tinha no Nebraska contasse com umas instalações similares, um repentino movimento no final do corredor chamou a sua atenção. Ao girar a cabeça, viu um homem com um chapéu de cowboy, t-shirt e jeans abrir um dos estábulos e entrar nele. Abigail não pôde reprimir um sorriso malicioso. Pelo seu aspecto aquele homem encaixaria mais num estábulo do Nebraska que ali, nas modernas cavalariças daquela propriedade vinícola da Califórnia.

No entanto, o sorriso apagou-se dos seus lábios ao ver que voltava a sair conduzindo para fora uma bonita égua cinzenta malhada à qual devia ter ocorrido algo na pata traseira esquerda, porque coxeava.

– Que se passou? – perguntou o homem dirigindo-se para onde estavam o animal e ele.

O homem agachou-se para examinar a pata da égua.

– Não sei como o fez – respondeu sem sequer olhá-la, – mas tem um corte no calcanhar.

– Deixe-me dar uma vista de olhos. Talvez possa fazer algo.

O tipo abanou a cabeça e ergueu-se.

– É melhor deixar que o veterinário se ocupe disto.

Quando se voltou para ela, a respiração de Abigail entrecortou-se e o pulso acelerou-se. Aquele homem não era bonito, mas sim incrivelmente bonito. Com o cabelo loiro escuro assomando-se por baixo do chapéu preto, a barba de dois ou três dias, e aqueles olhos tão azuis que a olhavam, era sem dúvida um dos vaqueiros mais atractivos que tinha visto na sua vida. Não, era o mais atractivo, sem excepção.

Ao aperceber-se que o olhava embevecida como uma adolescente, afastou da sua mente aqueles pensamentos tão pouco maduros e rodeou o animal para lhe examinar a ferida.

– Traga o estojo de primeiros socorros – disse ao homem, agachando-se junto dos quartos traseiros da égua e examinando-lhe a pata. – O corte não é tão profundo como parece. Não atingiu os ligamentos nem os tendões, portanto não lhe fará falta coser – pôs-se de pé e olhou para o chão. Havia um bom sistema de escoamento, portanto não seria necessário levar o animal para fora para o curar. – Poderia trazer a mangueira? Temos que enxaguar a ferida com água fria para reduzir o inchaço antes de a vendar.

– Ouça, ouça, espere um momento. Não vai fazer nada a este animal – afirmou o homem. Visivelmente irado, agarrou-a pelos ombros e desviou-a da égua. – Vou chamar o veterinário e a senhora voltará para casa, ou para o lugar de onde quer que tenha saído.

A sensação dessas mãos grandes e fortes sobre os seus ombros fizeram-na estremecer, mas mesmo que fosse o homem mais bonito que tinha visto nos seus vinte e quatro anos de vida, ela não era o tipo de mulher que se impressionava por uma mera atracção física.

– Perdão, como disse que se chamava? – disse esforçando-se por ocultar a sua irritação.

O tipo soltou-a e deixou cair as mãos.

– Russ Gannon.

Ao ver que dava a volta, Abigail pôs-lhe uma mão no braço para o deter. Ao fazê-lo, notou como se retesavam os músculos sob a manga e aquilo voltou a deixá-la sem fôlego, mas engoliu em seco e lembrou-se que se tinha aproximado dele só pela égua.

– Um prazer, Russ. Eu sou Abigail Ashton, mas podes chamar-me Abby, e sou licenciada em veterinária.

– És veterinária? – repetiu ele com uma expressão céptica.

– Pois sim, e não de cachorros, gatos, nem periquitos, mas de animais grandes, como cavalos, vacas, ovelhas… – concluiu ela. – E agora, se não é pedir muito, poderias ir buscar o estojo de primeiros socorros, e pôr uma mangueira para que possa curar a égua?

Russ olhou fixamente para aquela beleza ruiva enquanto lhe dava ordens como um sargento. O último que teria imaginado era que fosse veterinária. Tinha uns olhos verdes lindos e as suas feições eram tão perfeitas que bem poderia ser a capa de uma revista de moda.

Depois, quando se agachou para olhar de novo a ferida de Marsanne, a visão do seu lindo traseiro fez que o inundasse uma rajada de calor. Nenhum dos veterinários que tinha conhecido tinham um físico de enfarte como aquela jovem, nem lhe lembraram quanto tempo passara desde a última vez que tinha feito amor com uma mulher.

– Não fiques aí parado – disse Abigail impaciente, – é preciso curar-lhe a ferida. Ah, e quando trouxeres a mangueira, traz também um pouco de vaselina para lhe esfregar o calcanhar. Assim aliviar-lhe-emos um pouco a dor.

Enquanto se afastava em busca da mangueira e do estojo de primeiros socorros, Russ não podia crer que estivesse a permitir que uma mulher lhe desse ordens. Estava acostumado a ser ele quem as dava, não a obedecê-las. Devia ser pelo aturdido que o tinha deixado; não lhe ocorria outra explicação.

Além disso, de onde diabos tinha saído? Conhecia todos os Ashton de As Vinhas, tinha ouvido falar da maioria dos seus parentes, mas não se lembrava de ter ouvido mencionar nenhuma Abigail.

Enfim, pensou abanando a cabeça enquanto reunia as coisas que lhe tinha pedido, uma coisa estava clara: se a tivesse visto antes, sem dúvida lembrar-se-ia, porque tinha um fraquinho por ruivas. E aquela doutora Ashton não só tinha um esplêndido longo cabelo vermelho, mas além disso tinha um corpo impressionante.

– Por que demoraste tanto? – perguntou Abigail quando regressou.

– Nunca te disseram que és um pouco mandona? – grunhiu ele.

– O meu irmão Ford diz-mo constantemente – respondeu ela tirando o casaco. Arregaçou a camisola até aos cotovelos e colocou atrás da orelha uma madeixa que se escapara do seu rabo-de-cavalo. – A ti nunca te disseram que és mais lento que o cavalo do mau nos filmes do Oeste?

Russ olhou-a um momento antes de irromper em sonoras gargalhadas. Parecia que a menina sabia defender-se sem ajuda de ninguém.

– Assinamos uma trégua até que tenhamos curado a nossa amiga? – perguntou ela sorrindo.

O coração de Russ parou por um instante e teve de inspirar fundo para que se pusesse em andamento de novo. Se dando ordens era do mais sexy, quando sorria deixava-o sem fôlego.

– Bem – disse Abigail, – espalha um pouco de vaselina sobre o calcanhar, e depois deita-lhe um jorro de água fria com a mangueira sobre a ferida, mas devagar – indicou. Ficou pensativa um momento. – Têm sais de Epsom?

– Claro – respondeu Russ agachando-se para untar uma boa capa de vaselina no calcanhar da égua. – Para que os queres?

– O sulfato de magnésio actua como desinfectante. Depois de lhe molhares a ferida com água fria, aplicarei os sais numa compressa – explicou ela, – embora tenha de ser uma compressa embebida em água quente. Não terão uma torneira de água quente aqui dentro, não?

Russ assentiu com a cabeça e estendeu-lhe o frasco de vaselina.