desj1254.jpg

5521.png

 

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Anne Marie Rodgers

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sedução total, n.º 1254 - Julho 2015

Título original: The Soldier’s Seduction

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7096-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Não estava à espera daquilo.

Wade estacionou o carro alugado e observou a moradia de dois andares, modesta mas acolhedora. A casa de Phoebe.

Desligou o carro e saiu. À porta, uma coroa com flores de outono, e no segundo degrau das escadas do alpendre, uma abóbora vazia com flores altas em tons dourados, castanhos e cor de vinho, a típica decoração do Dia das Bruxas.

Wade pensava que Phoebe vivia num apartamento e não numa casa familiar, embora não houvesse qualquer motivo para isso. Quando, meses antes, finalmente regressara para a Califórnia, imaginara como seria voltar a vê-la, mas soube que Phoebe saíra da Califórnia pouco antes. Não quis lembrar-se da terrível tristeza que o invadiu na altura. Uma deceção tão confrangedora que o fizera sentir uma vontade incontrolável de se sentar e chorar.

Mas, obviamente, não o fez. Os militares não choram. E os militares condecorados tantas vezes como ele, menos ainda.

O regresso a casa fora difícil. Apenas dois meses antes de ter sido ferido em combate, tinha estado lá para o funeral da sua mãe. Durante o tempo que demorara a sua recuperação, o pai fizera um grande esforço para tentar manter as coisas como sempre, embora aquilo fosse uma tarefa inglória sem a sua mãe.

Wade inquirira várias pessoas acerca do paradeiro de Phoebe, mas ninguém parecia saber. Depois de um mês em casa, sentia-se tão desesperado que começara a investigar. A secretária do liceu não sabia a nova morada. Numa pesquisa rápida na Internet, também não conseguira obter qualquer resultado. Finalmente, ligara para Berkeley, a universidade onde Phoebe tinha estudado, mas também lá não quiseram, ou não souberam, dar-lhe mais informação.

Pensou contratar um detetive privado, mas lembrou-se de telefonar para June, a única amiga de Phoebe que ele recordava, além da sua irmã gémea, Melanie.

Entrar em contacto com a velha amiga de Phoebe fora a solução. Phoebe tinha enviado um cartão de boas festas quatro meses depois da mudança e, graças a Deus, June tinha guardado a morada.

O paradeiro de Phoebe também acabou por ser uma surpresa. Tinha-se mudado para a Costa Leste, para uma pequena cidade a Norte do estado de Nova Iorque.

Por acaso, ele conhecia bem a zona. O novo lar de Phoebe estava a menos de uma hora de West Point, a academia militar onde ele passara quatro longos anos à espera, impaciente, pela chegada do dia da sua graduação, para se transformar num autêntico militar.

Se soubesse o que o esperava no campo de batalha, não teria estado tão impaciente.

Subiu as escadas do alpendre com cuidado. Os médicos garantiram que ele estava completamente recuperado, pelo menos para a vida civil, mas o longo voo de San Diego até ao aeroporto JFK, em Nova Iorque, tinha sido bem mais duro do que esperava e tinha deixado a sua marca. Provavelmente, o mais razoável era procurar um hotel onde passar a noite e ir procurar Phoebe no dia seguinte, mais descansado.

Mas não era capaz de esperar nem mais um segundo.

Deteve-se frente à entrada principal da casa e bateu à porta com os nós dos dedos sem obter resposta. Phoebe não estava em casa.

Exausto, apoiou a cabeça na porta. Estava impaciente por vê-la. Mas… deu uma vista de olhos ao relógio. Nem tinha pensado nas horas. Eram só quatro da tarde.

Da última vez que a vira, Phoebe era professora do primeiro ano. Se continuasse a fazer a mesma coisa, não demoraria a chegar a casa, pensou, aliviado.

Isso se não fosse casada, imaginou. O normal seria que precisasse de trabalhar para se sustentar e June não ouvira nada sobre Phoebe ter casado. Além do mais, Wade sabia que usava o seu nome de solteira porque o confirmara na lista telefónica local: P. Merriman.

Bom, pensou. O melhor era esperar.

Virou-se para voltar para o carro, mas uma cadeira de baloiço com almofadas confortáveis chamou-lhe a atenção. Decidiu sentar-se e esperar ali.

Se Phoebe fosse casada, ele não estaria ali, pensou. Se fosse casada, deixá-la-ia em paz e nunca mais tentaria entrar em contacto com ela.

Mas tinha a certeza de que não era.

E apesar de todos os motivos que tinha para se manter afastado dela, apesar de ser ter comportado como um cretino da última vez que tinham estado juntos, não tinha conseguido esquecê-la. E também não tinha conseguido convencer-se de que a sua relação fora um erro. Durante os longos meses da recuperação e terapia que se seguiram à lesão, mal tinha conseguido pensar noutra coisa.

Mas preferiu não lhe telefonar nem escrever. Queria vê-la pessoalmente para lhe perguntar se ainda havia alguma hipótese de o deixar entrar na sua vida de novo.

Suspirando, Wade pegou numa das almofadas e apoiou a cabeça. Se as coisas não se tivessem complicado tanto para o fim…

Já era bastante mau que a irmã gémea de Phoebe, Melanie, estivesse morta por sua culpa. Talvez indiretamente, mas por sua culpa.

E ainda piorara mais a situação quando fizera amor com Phoebe depois do enterro da irmã. Para depois fugir.

 

 

Phoebe Merriman deu um salto quando o telemóvel do seu carro começou a tocar com o som de uma música de jazz que tinha escolhido. Era um telemóvel que quase não tocava e só o tinha para que a jovem que tomava conta de Bridget pudesse localizá-la em caso de emergência.

Assustada, olhou para o número de telefone. Era da sua casa.

– Sim?

– Phoebe? – Angie, a empregada, falou angustiada, quase sem fôlego.

– Angie, o que se passa?

– Está um homem sentado no alpendre, na cadeira de baloiço.

– Na cadeira de baloiço? O que é que está lá a fazer?

– Nada – Phoebe percebeu que Angie não estava com falta de ar, mas a sussurrar. – Bateu à porta, mas eu não abri, e ele sentou-se na cadeira de baloiço. Por isso lhe estou a ligar.

Phoebe lembrou-se de que a sua empregada era muito jovem. Tinha acabado o liceu, vivia com os pais não muito longe dela e andava a estudar à noite na universidade.

– Fizeste bem – afirmou. – Se está só sentado, fica aí dentro e não abras a porta. Estou a uns quarteirões de casa.

Phoebe estacionou minutos depois no lugar de estacionamento da sua casa sem desligar o telemóvel e viu um carro cinzento de aluguer estacionado à frente.

– Pronto, Angie, já cheguei – disse. – Fica dentro de casa até eu entrar.

Phoebe respirou fundo. Devia ligar para a polícia? Por lógica, o homem no alpendre não era um criminoso porque não teria ficado à espera em plena luz do dia e à vista de todos os vizinhos. Porém, como precaução, colocou o porta-chaves na mão com uma chave virada para fora entre os dedos, conforme tinha aprendido nas aulas de defesa pessoal no primeiro ano da universidade.

A seguir, virou-se e dirigiu-se ao alpendre.

Ao chegar, viu um homem alto e forte que começava a levantar-se da cadeira de baloiço. Ela preparou-se para se enfrentar a ele.

– O que está aí a…? Wade!

Não podia ser verdade!

Wade estava morto.

Os seus joelhos fraquejaram e teve de se segurar ao corrimão. As chaves escorregaram-lhe da mão e caíram ao chão.

– És… és o Wade.

Claro que era Wade.

Ele sorria, mas observava-a desconfiado, enquanto dava um passo para a frente.

– Sou. Olá, Phoebe.

– M… m… mas…

O sorriso desapareceu quando ela retrocedeu um passo.

– Mas o quê?

– Pensei que estavas morto! – exclamou ela.

Sem forças, Phoebe sentou-se no primeiro degrau, colocou a cabeça nos joelhos e teve de conter um forte desejo de chorar histericamente.

Os passos de Wade ecoaram no alpendre ao aproximar-se dela para se sentar ao seu lado. Pôs uma mão nas costas dela.

– Meu Deus! – sussurrou ela. – Estás mesmo aqui, não estás?

– Sim, estou aqui.

Não havia qualquer dúvida: era Wade. Phoebe teria reconhecido aquela voz masculina em qualquer lugar, e sentiu o impulso de se atirar nos seus braços e se aconchegar nele.

«Mas ele nunca me pertenceu», lembrou.

– Desculpa por te ter assustado – disse ele com voz grave e cheia de sinceridade. – Durante uns dias pensaram que estava morto, até eu ter conseguido regressar à minha unidade. Mas isso já foi há meses.

– Há quanto tempo é que voltaste?

Tinha sido enviado para a frente de combate imediatamente depois do enterro de Melanie. A lembrança fez despertar outras que ela tinha tentado esquecer desesperadamente, por isso tentou concentrar-se na sua resposta para não relembrar o passado.

– Há pouco mais de um mês. Andei à tua procura – Wade hesitou por uns segundos. – A June deu-me a tua morada e ela sabia que eu tinha sobrevivido. Pensei que ela, ou outra pessoa, te tinham informado.

– Não.

Phoebe deixara de procurar informação sobre a sua cidade natal no dia em que lera a necrologia dele. E embora tivesse enviado um cartão de Boas Festas para June, quase não tinha contacto com ela.

Fez-se silêncio. Phoebe teve a sensação de que ele também não sabia o que dizer e…

Bridget! Por momentos tinha-se esquecido da sua própria filha! Phoebe levantou-se rapidamente, virando as costas ao homem que amara toda a sua adolescência e juventude.

– Vou… vou deixar as minhas coisas lá dentro – disse. – Depois podemos falar.

As mãos tremiam-lhe, suadas, e as chaves voltaram a cair ao chão. Antes de conseguir reagir, Wade aproximou-se e apanhou-as.

– Toma.

– Obrigada.

Phoebe pegou nas chaves com cuidado, sem lhe tocar na mão, e finalmente conseguiu pôr a chave na fechadura na posição certa e abrir a porta principal.

A realidade impôs-se inexoravelmente. Wade Donnelly estava vivo e queria falar com ela. E ela tinha de lhe dizer que tinha uma filha dele.

Ao ouvi-la entrar, Angie correu para ela, mas Phoebe levou o dedo à boca para lhe indicar que não falasse. Atravessou a casa até à cozinha, na parte traseira da vivenda.

– Ouve – disse à empregada em voz baixa, – não há motivos para preocupações. É um velho amigo que não vejo há muito tempo. Podes ficar mais um pouco para o caso de a Bridget acordar?

– Claro – respondeu a jovem com os olhos muito abertos.

– Vou lá fora falar com ele. Não… não vou convidá-lo para entrar e não quero que ele saiba que tenho a Bridget. Por isso, peço-te para não saíres.

Angie concordou, com um sorriso nos lábios.

– Não te preocupes. Não te vou causar nenhum problema.

Phoebe começou a dirigir-se para a sala, mas deteve-se.

– Causar-me problemas?

– Com as pessoas do teu passado – respondeu Angie, fazendo um gesto de cumplicidade. – Sei que nos dias que correm, imensa gente tem filhos sem ser casada, mas se não queres que as pessoas que pertencem ao teu passado saibam, é um assunto teu.

Phoebe abriu a boca, mas fechou-a rapidamente antes que lhe fugisse uma gargalhada histérica. Angie pensava que estava a esconder Bridget porque tinha vergonha de ter uma filha ilegítima. Tomara que fosse assim tão simples!

Engoliu em seco e voltou a sair para o alpendre, fechando a porta atrás de si. Wade estava de pé, apoiado num dos pilares do alpendre. Raios! Tinha-se esquecido de como era alto e forte.

Observou-o em silêncio durante uns segundos e tentou reconciliar a dor, sua companhia permanente nos últimos seis meses, com a realidade de voltar a vê-lo e, aparentemente, saudável. Wade estava com o cabelo preto e ondulado, muito curto em comparação com a cabeleira que o fazia destacar no liceu, embora estivesse um pouco mais comprido que da última vez que o vira, quando utilizava um corte militar com apenas uns milímetros. Continuava com os ombros largos e musculados, as ancas estreitas e o ventre plano; as pernas eram tão fortes como quando jogava na equipa de futebol americano do liceu. Tinham passado quase doze anos desde que ela era uma adolescente completamente apaixonada pelo seu vizinho alguns anos mais velho do que ela.

Phoebe percebeu que Wade a observava, com os olhos cinzentos tão transparentes e penetrantes sob as carregadas sobrancelhas como ela se lembrava. Corou e cruzou os braços à altura do peito, numa tentativa de ficar mais calma. Respirou fundo antes de começar a falar.

– Porque informaram da tua morte se não tinham a certeza? – perguntou ela com voz trémula, ao lembrar-se da angústia que sentira quando soubera que Wade estava morto. – Li sobre o teu enterro…

Interrompeu a frase ao lembrar-se de que, na verdade, tinha lido sobre os planos para o seu enterro. Na necrologia.

Wade pestanejou, e nos seus olhos Phoebe viu um brilho de mágoa.

– Foi um erro – explicou ele. – Encontraram a minha placa de identificação, mas não o meu corpo. Quando corrigiram o erro já tinham dado parte da minha morte em combate.

Phoebe levou uma mão à boca, lutando contra as lágrimas que queriam sair.

– Fui ferido – continuou ele. – No caos que se seguiu à explosão, um afegão escondeu-me. Demorei três dias a estabelecer contacto com a minha unidade e foi então que se aperceberam do erro que tinham cometido. Claro que, nessa altura, já tinham informado imensa gente. E, já agora – acrescentou, – não houve enterro. Os meus pais pensaram nisso, mas acabaram por cancelar os planos. Vejo que não foste, senão saberias.

Phoebe abriu a boca, mas fechou-a de seguida e limitou-se a abanar a cabeça. Tinha vontade de chorar. Desesperadamente. Porque não podia dizer-lhe que, naquela altura, estava a dar à luz uma filha sua.

– Não pude – disse, virando-lhe as costas. Aproximou-se da cadeira de baloiço e sentou-se. – Usei todo o dinheiro que tinha para me mudar e instalar-me aqui.

Não era completamente mentira. Fora uma sorte encontrar aquela casa.

– Porque é que te foste embora? – perguntou ele, de súbito. – Porque escolheste instalar-te no extremo oposto do país? Sei que quase não tens família na Califórnia, mas as tuas raízes estão lá. Foi lá que cresceste. Não tens saudades?

Phoebe engoliu em seco.

– Claro que tenho saudades.

«Morro de saudades. Tenho saudades das praias de areia e da água gelada do Pacífico, dos dias quentes e das noites húmidas, das subtis variações do tempo. Tenho saudades de ir até Point Loma, ou a Cardiff, para ver a migração das baleias no outono. Até tenho saudades da loucura de guiar nas autoestradas e do perigo dos incêndios. Mas, mais que tudo, tenho saudades tuas.»

– Mas agora a minha vida está aqui.

– Porquê?

Phoebe levantou o sobrolho.

– Porquê o quê?

– O que tem o Norte do estado de Nova Iorque de tão especial para teres de viver aqui?

Phoebe encolheu os ombros.

– Sou professora. Daqui a dois anos sou efetiva e não quero voltar a começar do zero noutro lugar. O salário é bom e o custo de vida é bastante mais baixo do que no Sul da Califórnia.

Wade concordou.

– Pois.

Sentou-se ao lado dela na cadeira de baloiço, perto, mas sem a tocar. Estendeu o braço nas costas da cadeira e virou-se ligeiramente para ela.

– Fico contente por te voltar a ver – a sua voz era amorosa, os seus olhos mais ainda.

Phoebe tinha dificuldade em respirar. Wade olhava para ela como sempre tinha sonhado. Quando ele era demasiado velho para ela, quando ele era o namorado da sua irmã e, ultimamente, quando o julgava morto e criava a filha dele, sozinha. A filha deles.