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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Um compromisso exclusivo, n.º 41 - Maio 2015

Título original: A Very Exclusive Engagement

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6924-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Capítulo Um

 

Figlio di un allevatore di maiali.

Liam Crowe não falava italiano. O novo dono do canal de televisão American News Service quase não era capaz de pedir num restaurante italiano, e estava certo de que a sua nova vice-presidente executiva de promoção comunitária o sabia.

Francesca Orr tinha murmurado aquelas palavras durante a assembleia extraordinária dessa manhã. Ele tinha-as escrito, ou algo parecido, no seu caderno para poder depois procurar o respetivo significado. Francesca tinha-as dito de maneira muito sedutora. O italiano era uma língua poderosa, sobretudo quando quem o falava era uma mulher morena, de lábios pintados de vermelho e dona de uma beleza exótica.

Não obstante, tinha a impressão de que não ia gostar do que lhe tinha dito.

Não esperara que a aquisição da empresa de Graham Boyle fosse tão simples. Tanto o anterior dono como vários dos seus empregados estavam na prisão por um crime de escutas telefónicas que tinha tido como objetivo o presidente dos Estados Unidos. O primeiro ponto da ordem do dia da assembleia tinha sido suspender Angelica Pierce, jornalista do canal, porque se suspeitava que tinha cometido uma falta grave. Hayden Black continuava a investigar o caso para o Congresso e, mais concretamente, o papel de Angelica em todo o assunto. Nesse momento, tinham motivos suficientes para suspendê-la. Quando Black terminasse a investigação, e com um pouco de sorte encontrasse provas conclusivas, Liam e a sua comissão diretiva determinariam as seguintes medidas.

Aquilo era uma voragem corporativa e política, mas esse era o único motivo pelo qual Liam tinha podido ficar com a maior parte das ações do canal. O ANS era a joia da coroa dos meios noticiosos. Sempre o tinha querido conseguir. O escândalo das escutas telefónicas e a pirataria informática tinham feito cair Graham Boyle, o anterior dono, e o canal. Inclusive com este atrás das grades e a queda vertiginosa das audiências, Liam sabia que era uma oportunidade que não podia desperdiçar.

De modo que tinha de superar o escândalo e voltar a conseguir uma boa reputação. Nada na vida era fácil e Liam gostava de desafios, mas esperava que os empregados do ANS e, mais concretamente, a sua comissão diretiva, o apoiassem. Do porteiro noturno ao diretor executivo, todos os cargos corriam perigo. Quase todas as pessoas com quem falava se congratulavam por ter comprado o canal, desejosos de esquecerem o escândalo e esperançados de poderem voltar a erguer o canal.

Mas Francesca não. Aquilo não fazia sentido. Claro que tinha um pai que era produtor cinematográfico, rico e famoso, que a apoiaria se perdesse o seu trabalho no ANS. Não obstante, o seu trabalho consistia em conseguir fundos para organizações de beneficência. De certeza que a empresa a preocupava tanto como os órfãos que morriam à fome ou os pacientes de cancro.

Mas, em qualquer caso, não parecia. Francesca tinha chegado à sala de reuniões enfiada num fato vermelho, justo, e tinha arremetido contra ele qual encarnação do demónio. Liam já fora avisado do seu caráter apaixonado e obstinado, que não levasse a mal se chocassem. Mas não estava preparado para aquilo. Tinha bastado mencionar a possibilidade de reestruturar o orçamento para ajudar a absorver os prejuízos para que ficasse furiosa. Não obstante, não podiam gastar milhões de dólares em organizações de beneficência estando numa situação económica tão complicada.

Mas, logicamente, ela não estava de acordo.

Liam suspirou, fechou a pasta e saiu da sala de reuniões para ir almoçar. Tinha planeado convidar vários membros da assembleia, mas cada qual tinha ido por sua conta ao terminar a reunião. E ele não estranhava. Tinha conseguido manter o controlo e tinha-se assegurado de tratar todos os pontos da ordem do dia, mas era um processo doloroso.

Por mais estranho que parecesse, o único que tinha feito que para ele fosse remotamente tolerável tinha sido a imagem de Francesca. Numa sala cheia de mulheres de negócios mais velhas e homens vestidos de cinzento, preto e azul-escuro, Francesca tinha sido um toque de cor. E Liam não pudera evitar olhá-la, inclusive quando esta permanecia em silêncio.

Tinha o cabelo negro como o ébano, encaracolado, caído sobre os ombros; os olhos amendoados, castanhos-escuros, com longas pestanas. Eram uns olhos enigmáticos, mesmo quando o olhavam mal. Quando discutia com ele, o rosto corava, dando à sua pele perfeita e bronzeada um tom rosado cujo tom vermelho dos lábios e do vestido realçava.

Liam sempre tivera um fraquinho pelas mulheres apaixonadas e exóticas. No liceu tinha tido a sua bela dose de miúdas loiras e de olhos azuis e, ao chegar à universidade, tinha percebido que gostava mais de mulheres um pouco picantes. Francesca, se não tivesse tentado estragar-lhe o dia e, provavelmente, o ano inteiro, teria sido o tipo de mulher que teria convidado para sair.

Não obstante, o último de que precisava era complicar a sua situação com uma aventura.

Nesse momento, o que lhe fazia falta era um copo e um bom bife no seu restaurante favorito. Congratulava-se pelo facto de a sede corporativa do ANS ser em Nova Iorque. Apesar de gostar de viver em Washington, era sempre um prazer voltar à sua cidade natal. Ali estavam os melhores restaurantes do mundo, podia ver a sua equipa de basebol num camarote de luxo e o ambiente de Manhattan era incomparável.

Teria de ir a Nova Iorque com certa frequência. Na realidade, teria gostado de viver lá, mas se queria meter-se em cheio na política tinha de estar em Washington. De modo que estabelecera o seu escritório na redação do ANS em Washington, tal como tinha feito Boyle, e conservara o apartamento de Nova Iorque e a casa que tinha em Georgetown. Assim tinha o melhor de ambos os mundos.

Passou pelo seu gabinete antes de ir comer. Deixou a pasta na mesa e copiou as palavras de Francesca num post-it que depois entregou à secretária.

– Jessica, já acabou. A senhora Banks trar-te-á os documentos necessários para proceder à suspensão da senhora Pierce. Quero que os Recursos Humanos tratem imediatamente da questão. E agora, vou almoçar.

Estendeu-lhe a nota com a frase italiana.

– Podes conseguir-me uma tradução? É italiano.

Jessica sorriu e assentiu, como se não fosse a primeira vez que lhe pediam aquilo. Aparentemente, também o tinha feito para Graham Boyle em alguma ocasião.

– Naturalmente, senhor – respondeu, olhando para o papel. – Vejo que a senhora Orr lhe deu as boas-vindas à empresa. Isto nunca o tinha visto antes.

– Devo sentir-me lisonjeado?

– Ainda não sei. Dir-lho-ei assim que o descobrir.

Liam desatou a rir e deu meia volta, mas deteve-se antes de sair.

– Só por curiosidade – disse. – Como chamava a Graham?

– O seu favorito era stronzo.

– E o que significa?

– Tem várias traduções, mas não acho que deva dizer nenhuma em voz alta.

Em vez disso, escreveu uma palavra no verso da nota que ele lhe tinha dado.

– Ena! – comentou Liam. – Vejo que não é precisamente um piropo. Terei de falar com a senhora Orr antes que as coisas saiam dos eixos.

Viu uma mancha vermelha passar fugazmente perante ele e viu que era Francesca, que ia para os elevadores.

– Aí está a minha oportunidade.

– Boa sorte – desejou-lhe Jessica.

Quando Liam chegou aos elevadores uma das portas tinha-se aberto e Francesca tinha entrado e estava virada para ele. Viu-o chegar. Os seus olhares cruzaram-se um instante e então Francesca tocou num botão. Para fechar as portas mais rapidamente.

Muito agradável.

Ele meteu o braço entre as folhas de metal para fazer com que se voltassem a abrir. Francesca não pareceu gostar daquela invasão. Fulminou-o com o olhar e depois enrugou o seu pequeno nariz como se cheirasse mal. Quando as portas começaram a fechar-se outra vez, retrocedeu até um canto do elevador apesar de estarem os dois sozinhos.

– Temos de falar – disse-lhe Liam assim que começaram a descer.

Francesca abriu muito os olhos e apertou os lábios.

– De quê? – perguntou em tom inocente.

– Da tua atitude. Sei que te apaixona o teu trabalho, mas quer gostes quer não, sou eu quem manda nesta empresa e vou fazer o que for necessário para a salvar. Não vou permitir que me ridiculizes diante de...

Liam calou-se ao ver que o elevador parava de repente e as luzes se apagavam no interior.

 

 

Não era possível. Não podia estar fechada num elevador avariado com Liam Crowe. Era um homem teimoso e demasiado bonito. Mas devia ter imaginado que algo de errado ia ocorrer. Estavam treze pessoas sentadas ao redor da mesa da sala de reuniões. O número treze dava azar.

Nervosa, tocou no corno de ouro italiano que trazia ao pescoço e suplicou em silêncio que aquilo acabasse bem.

– O que se passou? – perguntou num fio de voz.

– Não sei – respondeu Liam.

Estiveram às escuras mais uns segundos e depois acendeu-se a luz vermelha de emergência. Liam chegou-se ao painel de botões e pegou no telefone. Sem dizer palavra, voltou a pousá-lo. Depois premiu o botão de emergência, mas nada ocorreu. Todo o painel estava apagado, não parecia funcionar.

– Então? – perguntou Francesca.

– Acho que não há eletricidade. O telefone não funciona – disse, puxando o seu telemóvel e olhando para o ecrã. – Não tenho rede, e tu?

Francesca rebuscou na mala e pegou no telefone, olhou para o ecrã e negou com a cabeça. Também não tinha rede. De qualquer forma, quase nunca tinha no elevador.

– Nada.

– Caramba! – disse Liam, guardando o aparelho. – Não posso acreditar.

– Que vamos fazer?

Liam apoiou-se na parede.

– Esperar. Se o corte de eletricidade for em todo o edifício, não podemos fazer nada.

– Então, sentamo-nos à espera?

– Ocorre-te algo melhor? Esta manhã tinhas um monte de ideias.

Francesca ignorou a indireta, cruzou os braços e virou-lhe as costas. Depois olhou para a grelha que havia no teto. Podia tentar chegar a ela, mas não sabia em que andar estavam.

Tinham apanhado o elevador no quinquagésimo segundo e não lhes tinha dado tempo a descer muito. Deviam estar entre dois andares. Além do mais, podia voltar a luz quando estivesse lá em cima e podia sofrer um acidente. Talvez fosse melhor esperar ali.

Com um pouco de sorte, a luz voltaria a qualquer momento.

– É melhor esperar – admitiu a contragosto.

– Jamais pensei que estaríamos de acordo em algo, após o nervosismo da reunião.

Francesca virou-se para ele.

– Eu não tinha nervosismo nenhum. O que ocorre é que não sou tão dócil como os demais e não ia ficar sentada a ver como tomavas decisões erradas para a empresa. Os demais estão demasiado assustados para criarem problemas.

– Têm medo que a empresa não supere o escândalo das escutas. E não dizem nada porque sabem que tenho razão. Temos de ser fiscalmente responsáveis se vamos...

– Fiscalmente responsáveis? E a responsabilidade social? O ANS apoia a ONG Youth in Crisis há sete anos. Não podemos retirar o nosso apoio este ano, a só duas semanas da gala. Contam com o dinheiro para os seus programas com jovens. Essas atividades conseguem tirar muitas crianças da rua e dar-lhes oportunidades que não teriam sem o nosso dinheiro.

Liam franziu a testa e apertou o maxilar.

– Pensas que não me importo com as crianças desfavorecidas?

Francesca encolheu os ombros.

– Não saberia o que dizer.

– Pois claro que me importo com elas – assegurou ele. – Assisti à gala nos dois últimos anos e em ambas as ocasiões dei-lhes um belo cheque, mas não se trata disso. Temos de cortar despesas para manter a empresa operativa até que consigamos limpar a nossa imagem.

– Não, estás enganado – insistiu ela. – Precisas das galas de beneficência para limpar a imagem da empresa e que esta se mantenha operativa. Que melhor maneira de conseguir uma boa imagem que através de boas obras? Assim toda a gente saberá que houve quem tenha agido mal no canal, mas que o resto está comprometido a fazer as coisas bem. Vais ver como recuperamos anunciantes.

Liam olhou-a fixamente e depois disse:

– O teu argumento teria resultado bem mais convincente se não te tivesses dedicado a gritar e a insultar-me em italiano.

Francesca franziu a testa. Não tinha pretendido perder o controlo, mas não o tinha conseguido evitar.

– Tenho muito mau feitio – admitiu. – Herdei-o do meu pai.

Qualquer pessoa que tivesse trabalhado na indústria conhecia o caráter de Victor Orr, que era capaz de explodir sem prévio aviso e muito difícil de acalmar. E ela era igual.

– Também insulta em italiano?

– Não, é irlandês e não fala nem uma palavra de italiano, e a minha mãe prefere assim. Não obstante, a minha mãe tem muito orgulho nas suas origens e eu sempre passei os verões na Itália, com a minha nonna.

Nonna?

– A minha avó materna. Lá aprendi a língua, incluídas algumas frases que não deveria saber. Em adolescente, percebi que, se insultasse em italiano, o meu pai não me entendia. Daí é que me vem esse mau costume. Lamento ter gritado – acrescentou. – É que a empresa me importa demasiado.

Francesca podia parecer a sua mãe em muitas coisas, mas também se parecia com o seu pai. Victor Orr procedia de uma família pobre e tinha educado as suas filhas para que valorizassem o que tinham, e para que o partilhassem com outras pessoas menos felizardas. Francesca tinha sido voluntária em organizações de beneficência desde o liceu. Depois, o seu pai, que era sócio minoritário do ANS, tinha-a ajudado a entrar na empresa, e ela em seguida tinha sabido que cargo queria ocupar. Aliás, saía-se muito bem no trabalho. Graham nunca tinha tido queixas dela.

Mas tudo girava em redor do dinheiro. Quando as coisas ficavam feias, o primeiro orçamento que se cortava era o seu. Porque não eliminavam benesses corporativas? Porque não cortavam em viagens e obrigavam os funcionários a ter mais videoconferências? Ou nas doses industriais de gel de cabelo do apresentador da noite?

– Não quero arrasar o teu departamento – disse-lhe Liam. – O que fazes é importante para o ANS e para a comunidade, mas todos têm de apertar o cinto. Não apenas tu. É difícil estar à frente de uma empresa que funciona bem, imagina como é assumir as rédeas do ANS. Vou fazer tudo o que estiver na minha mão para que o canal volte ao topo, mas preciso da ajuda de todos.

Francesca deu conta de que era sincero. Importava-se com a empresa e com os seus empregados. Mais tarde ou mais cedo convencê-lo-ia para que visse as coisas como ela. Só tinha de utilizar as táticas da sua mãe.

Levar-lhe-ia mais tempo e paciência do que com Graham, mas Liam parecia razoável. Acabava de ganhar uns pontos.

– De acordo.

Liam olhou-a como se não acreditasse no que acabava de ouvir. Depois, assentiu. Ambos ficaram em silêncio uns segundos, até que Liam despiu o caro casaco do fato e atirou-o ao chão, depois fez o mesmo com a gravata. Afrouxou o colarinho da camisa e respirou fundo, como se não tivesse sido capaz de o fazer até então.

– Ainda bem que podemos declarar uma trégua, porque está demasiado calor aqui para continuar a discutir. Logo por azar tivemos de ficar aqui encerrados num dos dias mais quentes do ano.

Tinha razão. O ar condicionado não estava a funcionar e estava muito calor para ser princípio de maio. E quanto mais tempo ali estivessem, mais subiria a temperatura.

Francesca seguiu o seu exemplo e tirou o casaco, ficando com uma camisa preta de seda e renda e uma saia travada. Ainda bem que não tinha calçado meias.

Deixou o casaco no chão e sentou-se em cima. Não podia continuar de pé com aqueles saltos, e já não tinha esperanças de que os tirassem dali em breve. Se iam ter de esperar mais, preferia estar à vontade.

– Oxalá tivesse sucedido após o almoço. Já nem me lembro do que comemos na sala de conferências.

Francesca estava de acordo. Não comia nada desde essa manhã, que tinha tomado um cappuccino e um croissant antes de sair do hotel, mas como costumava almoçar tarde, levava sempre algo para petiscar na mala.

Utilizou a luz do telefone para procurar e encontrou uma barra de cereais, um pacote de bolachas italianas e uma garrafa de água.

– Eu tenho umas coisas para comer. A questão é se as comemos agora, na esperança de que nos tirem daqui rápido, ou esperamos para o caso de demorarem várias horas.

Liam sentou-se ao seu lado no chão.

– Agora, sem dúvida.

– Não durarias nem dez minutos num desses programas televisivos de sobrevivência.

– É por isso que os produzo em vez de participar neles. Para mim, sobreviver é ter de comer em Times Square com os turistas. Que tens aí?

– Uma barra de cereais e umas bolachas italianas. E podemos partilhar a água.

– Que preferes tu?

– Gosto das bolachas. São parecidas às que a minha avó me dava para o pequeno-almoço quando estava com ela. Na Itália não se comem ovos e bacon, como aqui. E uma das coisas de que mais gostava quando estava lá era comer bolos e bolachas ao pequeno-almoço.

Liam sorriu e ela deu conta de que era a primeira vez que o via sorrir. Era uma pena. Tinha um sorriso bonito, que lhe iluminava todo o rosto. E parecia mais natural que a expressão séria que tinha todo o dia, era como se fosse um homem despreocupado e relaxado. A tensão da compra do ANS devia tê-lo afetado muito. Nessa manhã tinha sido muito profissional e ela, com o seu comportamento, não o tinha ajudado.

Nesse momento estava stressado, faminto e aborrecido por ter ficado encerrado no elevador. Francesca alegrou-se de ter conseguido que sorrisse, ainda que tivesse sido só por um momento.

Isso compensava um pouco a sua atuação dessa manhã. Pensou que tinha de ser mais cordial de futuro. Liam estava a ser sensato e não fazia sentido dificultar-lhe ainda mais as coisas.

– Comer bolos ao pequeno-almoço parece genial. O mesmo que passar os verões na Itália. Quando terminei o liceu, estive uma semana em Roma, mas foi tudo. Só me deu tempo para visitar os monumentos mais importantes, como o Coliseu e o Panteão.

Olhou para os dois pacotes que Francesca tinha nas mãos.

– Eu como a barra de cereais, dado que tu preferes as bolachas. Obrigado por dividires comigo.

Francesca encolheu os ombros.

– É melhor que ouvir como te ronca o estômago – comentou, dando-lhe os cereais e abrindo a garrafa de água para dar um golo.

Liam rasgou o embrulho e comeu a barrita antes que Francesca tivesse tido tempo de enfiar a primeira bolacha na boca. Desatou a rir enquanto começava a comer, e deu-se conta de que Liam a olhava como um tigre faminto.

– Toma – disse-lhe, estendendo-lhe o pacote. – Não posso suportar que me olhes assim.

– Tens a certeza? – perguntou ele, olhando o pacote de bolachas, que lhe tinha ido parar às mãos.

– Sim, mas quando sairmos deste elevador, terás de me recompensar.

– Combinado – disse-lhe ele, enfiando a primeira bolacha na boca.

Francesca pensou que tinha de fazer falta muita comida para manter um homem como aquele. Era tão grande como tinha sido o seu nonno. O seu avô tinha falecido quando ela era apenas uma menina, mas a sua nonna falava-lhe muito dele e de quanto tinha tido de lhe cozinhar. Como o seu nonno, Liam era alto e forte. Tinha físico de atleta. Em Washington, muitas pessoas corriam ao redor do National Mall, era o que lhe tinham dito.

Imaginou Liam a correr, com calções e sem t-shirt. E pensou que tinha de ir alguma vez ela também, ainda que fosse só pelas vistas.

Francesca não gostava de suar. E correr com a humidade que havia no verão em Virginia parecia-lhe impensável. O mesmo que fazê-lo durante os frios invernos. De modo que não corria. Tinha cuidado com o que comia, permitia-se algum capricho e caminhava tudo o que os seus saltos permitiam. Isso fazia com que estivesse magra, mas com curvas.

E por falar em suar... Estava a começar a fazê-lo. Sentia-se pegajosa mas não podia tirar mais roupa, a não ser que quisesse chegar-se a Liam bem mais do que o previsto.

Pensou que isso não seria assim tão mau.

Há muito tempo que não andava com ninguém. Tinha-se dedicado ao trabalho, ainda que sempre se tivesse mantido aberta a qualquer possibilidade. Não obstante, não conhecera ninguém interessante. Quase todas as suas amigas tinham namorado e ela preocupava-se por ser a última a encontrá-lo.

Ainda que Liam Crowe não fosse dos que tinham relações sérias. Era o típico homem com quem manter uma aventura. E ela não costumava tê-las se pensasse que não iam ter futuro, mas viu como a camisa se cingia aos seus ombros largos e pensou que talvez precisasse mesmo disso. Algo para libertar tensão e juntar forças para continuar à espera que chegasse o seu homem a sério.

Meteu a mão na mala e tirou um gancho. Apanhou a melena escura, o que a aliviou apenas um instante.

Se não saíam depressa daquele elevador, ia suceder alguma coisa.

Bebeu outro golo de água e apoiou a cabeça na parede. Depois alegrou-se por ter vestido uma roupa interior a condizer nessa manhã. Tinha a sensação de que Liam ia gostar.