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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Elizabeth Power

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Escapada na ilha, n.º 1572 - Outubro 2014

Título original: A Greek Escape

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5514-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

– Ali está ela! O que esperas? Tira a fotografia!

A máquina fotográfica disparou um segundo antes de a ave se elevar, voar para as rochas e começar a sobrevoar as águas cristalinas.

Kayla Young passou a mão pelo cabelo loiro e olhou à sua volta, temerosa de que alguém pudesse estar a espiá-la naquela colina rochosa, junto da praia, e a visse a falar sozinha.

Estava um dia maravilhoso e o céu estava limpo, azul.

Fora para aquela ilha grega, paradisíaca, com a intenção de recuperar do seu desgosto amoroso. O noivo abandonara-a. Agora, estaria a casar com outra mulher, em Inglaterra.

«As feridas da traição podem sarar, mas as cicatrizes ficarão para sempre», pensou, voltando a olhar pelo visor da máquina fotográfica para a bonita paisagem à sua volta. Montanhas azuis, água transparente...

Baixou a máquina fotográfica por um instante, para observar a linha costeira com os seus próprios olhos e viu-o.

Tinha cabelo preto, ondulado. Usava uma t-shirt preta e calças de ganga azuis. Estava a tirar uma cana de pesca do barco, que uma equipa de trabalhadores acabara de deixar na areia. Conseguiu ver os braços atléticos e o peito largo e musculado, bem marcado, sob a t-shirt.

Havia uma carrinha estacionada na estrada e viu-o a dirigir-se para lá, aproximando-se, mas não era capaz de desviar o olhar.

Movida por um impulso estranho, levantou a máquina fotográfica e captou-o com a objetiva, para ver melhor. Era alto e tinha feições fortes, viris, próprias de um homem curtido pela vida. Não devia ter muito mais de trinta anos de idade, mas parecia ser muito seguro de si. A julgar pela forma como se mexia, aparentava ser um homem arrogante e orgulhoso.

Usou o zoom para ver o rosto dele com mais detalhe. Tinha a testa bronzeada e sobrancelhas espessas em forma de asa de corvo. E tinha o sobrolho franzido, num ar de...

Meu Deus! Estava a olhar para ela! Vira-a a fixar nele a máquina fotográfica!

Ficou tão nervosa que, acidentalmente, tirou uma fotografia.

O homem apercebeu-se de que lhe tirara uma fotografia e dirigiu-se para ela com passo decidido, e cara de poucos amigos.

Kayla começou a correr pela costa de maneira inconsciente, sentindo um misto de medo e de atração por aquele desconhecido.

Acelerou o passo ao ver que ele ganhava terreno, mas tropeçou numa pedra e caiu. Ao erguer o olhar, viu o homem junto dela, a falar na língua dele, ininteligível para ela mas que, pelo tom, não devia ser algo muito amável.

– Não entendo – replicou, recorrendo ao seu reduzido vocabulário grego.

O homem colocou a mão no ombro nu dela.

Kayla olhou para ele fixamente. De perto, era ainda mais atraente do que imaginara. Tinha maçãs do rosto salientes e bem definidas, pele morena e umas pestanas pretas como o ébano, que emolduravam uns olhos cor de azeviche.

– Magoou-se? – perguntou ele, falando em inglês.

– Não, mas podia ter-me magoado – acusou, levantando-se do chão e sacudindo o pó dos calções.

– O que estava a fazer?

– A tirar fotografias.

– A mim?

Kayla engoliu em seco e olhou para ele cautelosamente com os seus olhos azuis.

– Não. A uma ave. Mas tirei-lhe uma fotografia, sem querer...

– Sem querer? – repetiu, num um tom de incredulidade e com olhar hostil. – Quantas fotografias me tirou?

– Só uma – admitiu, ainda a ofegar por causa da corrida. – Já lhe disse, foi sem querer.

– Está bem, menina, acredito. Mas diga-me. Quem é? O que está a fazer aqui?

– Nada... Quer dizer, estou de férias.

– E costuma usar as suas férias para meter o nariz na vida dos outros?

Kayla observou, atemorizada, a forma como aquele homem olhava para ela com aqueles inquietantes olhos negros como o ébano. Talvez se tratasse de um fugitivo, procurado pela polícia. Isso explicaria o seu aborrecimento, por lhe ter tirado uma fotografia.

– Não estava a espiar! Estava apenas a... A minha máquina fotográfica! Deve ter caído. Onde está?

Angustiada, Kayla olhou à sua volta e viu a máquina fotográfica entre a vegetação. Correu para lá, como se a sua vida dependesse disso, mas o desconhecido chegou antes dela.

– Não estrague a minha máquina fotográfica!

Era como um tesouro. Era um presente que oferecera a si mesma, para tentar esquecer Craig, depois de descobrir que andava a enganá-la com outra. Algumas mulheres optavam por comer chocolate para se consolar. Ela usara a máquina fotográfica como terapia e tirara fotografias em todos os lugares por onde passara, nos três últimos meses.

– Talvez devesse ficar com ela – sugeriu, olhando para os seios dela com bastante descaramento.

– Se isso o fizer feliz...

Kayla sentiu um calor estranho por todo o corpo, ao ver a forma como a observava. Afinal de contas, não sabia quem era, nem se a polícia andaria realmente à procura dele.

Estava num lugar solitário. Para além de algumas casas de pescadores, não havia o menor sinal de civilização. A vila mais próxima ficava a mais de cinco quilómetros de distância.

O homem ofereceu-lhe a mão, para a ajudar a subir a encosta.

Esse gesto galante surpreendeu-a, depois da hostilidade que demonstrara. Era uma mão forte e ligeiramente calosa. Pensou que devia ter um trabalho manual.

Sentiu o poder da masculinidade e do magnetismo que parecia irradiar dele.

Engoliu em seco e ergueu o queixo. Mal lhe chegava ao ombro, mas não estava disposta a deixar-se intimidar.

– Não tenho medo.

– Não se incomodará, se lhe disser que não gosto que se metam na minha vida privada. Se quer continuar a desfrutar das suas «férias» – acrescentou ele, num tom irónico, devolvendo-lhe a máquina fotográfica, – aconselho-a a afastar-se do meu caminho. Ficou bem claro?

– Prometo que não voltarei a incomodá-lo, nem a aproximar-me de si.

– Muito bem.

Contendo a sua indignação, Kayla virou-se e continuou a andar sem olhar para trás.

Ao fim de alguns minutos, avistou a villa branca e moderna em que estava alojada. Depois, ouviu o som longínquo do motor de um veículo e supôs que se trataria da carrinha que vira junto da praia.

 

 

A villa era magnífica. Pertencia a Lorna e Josh, uns amigos que lha tinham emprestado para que pudesse descansar durante algumas semanas.

Era diáfana e obedecia ao conceito de espaço aberto. As vigas do teto estavam a descoberto, sobre uma galeria de onde se divisava uma vista esplêndida da ilha.

Enquanto aquecia o jantar no micro-ondas, Kayla pensou no encontro desagradável que tivera nessa manhã. Quase não vira ninguém desde que o taxista a deixara lá, no dia anterior. Fora um azar que a primeira pessoa que encontrasse fosse um tipo tão desagradável.

Tentou esquecer o incidente e pensou em Craig Lymington. Deixara-se levar facilmente pelas promessas dele, quando se comprometera a partilhar a vida com ela.

«Vai partir-te o coração. Lembra-te daquilo que te digo», dissera a mãe, quando Kayla, radiante de felicidade, lhe contara que o executivo mais brilhante da empresa, a Cartwright Consolidated, a pedira em casamento.

Contudo, certa noite, dois meses depois de ficar noiva, vira aquelas mensagens no telemóvel e apercebera-se de que não era a única mulher a quem sussurrava palavras de amor...

«Todos os homens são iguais. E os executivos são os piores de todos», avisara a mãe, em mais de uma ocasião.

Porém, Kayla não a ouvira. Pensara que dizia aquelas coisas porque estava amargurada com as suas próprias experiências do passado. O marido, pai de Kayla, também fora um executivo e abandonara-a há quinze anos, quando Kayla tinha apenas oito.

Tentara esquecer e refazer a sua vida, deixara a empresa, mas a mãe descobrira que Craig ia casar com outra mulher e martirizava-a todos os dias com a sua frase odiosa: «Eu bem te disse».

Portanto, quando Lorna lhe ligara, para lhe oferecer a possibilidade de se refugiar naquela ilha grega, paradisíaca, durante algumas semanas, não hesitara. Podia ser o lugar ideal para recuperar a autoestima perdida.

No entanto, agora, enquanto tirava a lasanha do micro-ondas, não era Craig Lymington que ocupava os seus pensamentos, mas aquele homem estranho e rude com quem tivera a infelicidade de se encontrar naquela manhã.

 

 

Leonidas Vassalio estava a arranjar a persiana de uma das janelas do andar de baixo.

As feições pareciam tão duras como as pedras com que tinham construído a casa e tão sombrias como as nuvens que circundavam a montanha, pressagiando uma tempestade.

Tinha de cuidar das reparações importantes lá em casa, se não quisesse que caísse aos bocados. O telhado de terracota estava em muito mau estado e as paredes da fachada estavam quase sem tinta, especialmente, à volta das portas e janelas, onde quase não se via a tinta verde.

Era difícil acreditar que aquela quinta modesta, isolada do mundo, a que só podia aceder-se através de uma estrada cheia de curvas, podia ter sido o seu lar. Contudo, aquela ilha, com a sua costa rochosa, as suas águas azuis e as montanhas agrestes, fazia parte do seu ser.

Começara a chover. Umas gotas grossas salpicavam-lhe a cara e o pescoço, enquanto trabalhava e pensava na pessoa em que se transformara.

Tinha uma vida que poderia parecer invejável, vista de fora, mas estava cansado dos aduladores, das mulheres frívolas e da perseguição dos paparazzi. Aquela jovem que lhe tirara uma fotografia na praia, pela manhã, poderia ser um deles. Certamente, estaria disposta a vendê-la por um bom preço.

Sempre tentara preservar a sua vida privada. Qualquer pessoa conseguiria reconhecê-lo facilmente, desde que o seu nome se tornara público, depois do breve romance com Esmeralda Leigh.

De nada lhe servira ir para Londres, para gerir uma das delegações da sua empresa. Um advogado sem escrúpulos infringira o seu compromisso de confidencialidade, revelando à imprensa a sua identidade como presidente do Grupo Vassalio.

Com amargura, pensou nas pessoas que tinham sido vítimas das especulações imobiliárias da sua empresa, a fim de sair beneficiada e ficar com os terrenos e casas para criar complexos residenciais de luxo, e conseguir negócios de vários milhões de libras para aumentar os ativos cada vez maiores do Grupo Vassalio. Todos os lesados tinham recebido uma generosa compensação económica, mas a imprensa sensacionalista só publicara essa notícia nas últimas páginas.

Tivera de fugir e esquecer a sua identidade durante algum tempo. Leonidas Vassalio, o empresário audaz e multimilionário. Tentara refazer a sua vida, regressando às suas raízes, escondendo-se e vivendo no anonimato. Poucas pessoas conheciam o seu paradeiro mas, agora, aquela loira intrometida poderia divulgá-lo, deitando tudo a perder.

Sem dúvida, enganara-o, quando lhe dissera que estava de férias e que estava a tirar fotografias às aves marinhas. Que outra razão haveria para lhe tirar uma fotografia? Pensaria que era um camponês que estava a trabalhar na quinta e quisera tirar uma fotografia aos habitantes da ilha? Também se poderia ter sentido atraída por ele. Noutras circunstâncias, teria pensado nisso. Reparara que não usava um anel no dedo.

Porém, ir para a cama com uma jovem atraente não estava nos seus planos.

Sabia muito bem o êxito que tinha com o sexo feminino. Nunca conhecera uma mulher que não estivesse disposta a ir para a cama com ele, mas não queria complicar mais a sua vida, na situação em que se encontrava.

Devia estar alojada numa daquelas villas modernas, que tinham construído na ladeira da colina. Fora para lá que se dirigira, quando tentara fugir dele.

Questionou-se se haveria alguém com ela ou se estaria sozinha. Em qualquer caso, tinha de estar ali por alguma razão. Talvez para perturbar a sua paz, a sua solidão...

Incomodado com essa ideia, acabou o trabalho e entrou em casa para se abrigar da chuva.

Estava disposto a dar uma lição àquela jovem, para que não ousasse intrometer-se na sua vida.