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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Caitlin Crews

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Algo mais do que seu chefe, n.º 1542 - Junho 2014

Título original: Not Just the Boss’s Plaything

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5158-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

A tortura era preferível àquilo. Nikolai Korovin abriu caminho entre a multidão sem disfarçar o seu desagrado. A discoteca era uma das mais elegantes de Londres e estava na moda, por isso, encontrava-se atestada de famosos e celebridades de todo o tipo.

Isso implicava que Veronika, com as suas aspirações de grandeza, não podia estar longe.

– Apetece-te beber alguma coisa? – perguntou-lhe uma criatura de olhos escuros, cabelo preto e lábios carnudos, enquanto se apoiava nele para, pensou ele, o seduzir. – Ou apetece-te outra coisa?

Nikolai esperou que deixasse de soltar risinhos estúpidos e o olhasse na cara, e, quando o fez, a mulher empalideceu, tal como ele esperava.

Parecia ter visto o diabo em pessoa.

E vira.

Não precisou de dizer nada. Ela largou-o e Nikolai esqueceu-a assim que a perdeu de vista.

Depois de dar algumas voltas pela discoteca, escrutinando cada um dos presentes, apoiou-se numa das colunas enormes e limitou-se a esperar. Sentiu que a música lhe reverberava pela coluna vertebral como se estivessem a atacá-lo com granadas. E quase desejou que assim fosse.

Odiava aquele lugar e todos os sítios similares em que estivera desde que tinha iniciado a busca. Odiava o espetáculo e o esbanjamento. Veronika, certamente, adoraria que a vissem num lugar assim e naquela companhia.

«Veronika.» O nome da sua ex-mulher deslizou-lhe pelo cérebro como a serpente que era e recordou-lhe porque estava ali.

Queria saber a verdade. Ela constituía a única ponta solta que deixara e queria cortá-la de uma vez por todas. Depois, ser-lhe-ia indiferente o que acontecesse a Veronika.

«Nunca te amei», dissera-lhe ela, com a mala já feita. «Só te fui fiel acidentalmente.» E depois tinha-lhe sorrido. «Nem preciso de dizer que Stefan não é teu. Que mulher no seu juízo perfeito quereria um filho teu?»

Naquele momento, os gostos da sua ex-mulher concentravam-se em grandes festas, em qualquer lugar que se celebrassem no mundo, e nos homens ricos que as frequentavam. Mas ele sabia que estava em Londres. O tempo que estivera nas Forças Especiais russas tinha-lhe ensinado muitas coisas que estavam gravadas na pedra dura e fria que ocupava o lugar do seu coração, por isso, era fácil encontrar uma mulher ambiciosa e de baixa moral.

Demorara pouco tempo a descobrir que estava a viver com o filho de um xeque rico, rodeado de medidas de segurança. Seria fácil atravessá-las, mas, infelizmente, produziria um incidente internacional.

Nikolai deixara de ser soldado sete anos antes e não podia fazer o que fosse preciso para atingir o seu propósito com a exatidão mortífera que lhe tinha proporcionado um respeito que roçava o medo entre os seus colegas e inimigos.

E, ironia da vida, convertera-se num filantropo de fama internacional, num lobo com pele de cordeiro. Dirigia a Fundação Korovin juntamente com o seu irmão, Ivan, que tinham criado quando ele deixara de fazer filmes de ação em Hollywood. Nikolai encarregara-se da fortuna do seu irmão e fizera a sua própria graças à sua capacidade inata para investir. E consideravam-no um homem compassivo e solidário, apesar da sua crueldade, que não fazia nada para esconder.

As pessoas acreditavam no que queriam acreditar. Sabia-o muito bem.

Crescera na Rússia pós-soviética, entre oligarcas brutais e caudilhos que lutavam pelo território como cães famintos, o que lhe tinha conferido a capacidade de detetar os homens muito ricos, os quais convencia a darem-lhe dinheiro. Conhecia-os e compreendia-os. Considerava-se mágica a sua habilidade em conseguir enormes doações dos homens de negócios mais difíceis. Ele via-o como mais uma forma de fazer a guerra.

E era muito bom a fazê-lo. Era um artista.

Mas o facto de ser tão famoso implicava que não podia entrar na fortaleza do filho do xeque sem razão. Os filantropos multimilionários com irmãos famosos tinham de seguir regras diferentes dos soldados. Esperava-se que recorressem à diplomacia e ao seu encanto pessoal.

Nikolai conteve um suspiro de impaciência e, da sua posição estratégica, observou a multidão na pista de dança. Tinha de se limitar a esperar que Veronika aparecesse.

Então, descobriria quanto do que dissera sete anos antes fora produto do despeito e quanto era verdade. Havia sempre a possibilidade de que Stefan fosse seu filho, como Veronika o fizera acreditar durante os primeiros cinco anos de vida do menino, de que realmente tivesse um filho, de que tivesse feito algo bom, embora por acaso.

Mas essas fantasias debilitavam-no e sabia-o. Queria um teste de ADN para demonstrar que Stefan não era seu filho. E assunto encerrado.

Dois anos antes, o seu irmão dissera-lhe que tinha de resolver a sua vida. Ivan era a única pessoa que lhe importava, o único que sabia o que ambos tinham sofrido às mãos do seu tio, depois da morte dos seus pais no incêndio de uma fábrica. Depois, olhara-o como se fosse um desconhecido e fora-se embora. Essa fora a última vez que tinham falado de algo que não fosse a fundação.

Nikolai não recriminava o seu irmão pela traição. Sabia que o amor e a emoção o cegavam, que estava desesperado por acreditar em coisas inexistentes porque era muito melhor do que aceitar a crua realidade. Como poderia recriminar o seu irmão por querer enganar-se? A maioria das pessoas fazia-o.

Ele não podia permitir-se esse luxo.

As emoções eram um lastro, uma mentira. Nikolai acreditava no sexo e no dinheiro. Não queria vínculos, nem tentações, nem a possibilidade de que uma mulher que levasse para a cama o afetasse.

Para se ser traído era preciso confiar primeiro.

E a única pessoa em quem tinha confiado na vida fora Ivan. E só até ter caído nas garras daquela mulher.

Mas isso fora uma dádiva, já que o tinha libertado da sua última prisão emocional.

Nikolai agia como um homem, mas não o era. Para isso necessitaria de carne, de sangue e de um coração, coisas de que se desprendera anos antes para se converter num monstro, numa máquina de matar.

Sabia perfeitamente o que era, um bloco de gelo tão sólido que nenhum raio de sol conseguia penetrá-lo, uma arma mortífera polida primeiro pelas mãos do seu tio depois pelas Forças Especiais.

Estava vazio e era por isso que fazia tão bem o que fazia.

E era mais seguro, pensou, enquanto olhava para a multidão, pois tinha muito a perder se deixasse de exercer aquele controlo férreo. Horrorizava-o pensar nos seus anos de bebedeira, nas noites imprecisas e na emoção frustrada que se convertia em violência e fazia com que se parecesse com o seu tio brutal que tanto desprezava.

Nunca mais.

Era melhor estar vazio e gelado por dentro.

Sempre estivera sozinho e preferia-o. E, quando averiguasse a verdade sobre a paternidade de Stefan, nunca mais deixaria de o estar.

 

 

Alicia Teller, irritada e exausta, perdeu a paciência no meio da multidão.

«Já não tenho idade para isto», pensou, afastando-se de um grupo de jovens que dançavam. Sentia-se decrépita aos vinte e nove anos.

Não recordava a última vez que tinha passado a noite de sábado num sítio que não fosse um restaurante tranquilo com amigos, absolutamente comparável à discoteca pretensiosa onde se encontrava. Mas a cavalo dado... E o presente procedera de Rosie, a sua melhor amiga e companheira de casa, que lhe tinha mostrado os convites durante o jantar.

– É o sítio mais fixe de Londres, cheio de famosos e dos homens mais atraentes de Londres.

– Mas eu não sou fixe. Dizes-mo há anos. Se não me engano, dizes-mo cada vez que me arrastas para uma dessas discotecas que afirmas que me mudarão a vida. Talvez esteja na altura de aceitares que sou o que vês.

– Nunca! Lembro-me de que eras uma pessoa divertida, Alicia. Fiz o voto solene de te corromper, por muito que me custe.

– Sou incorruptível – também ela recordava quando era divertida e não tinha desejo algum de repetir os mesmos erros. – Além disso, é possível que te ponha numa situação embaraçosa.

– É-me indiferente. Estou disposta a fazer o que for preciso para que recordes que tens vinte e tal anos, não sessenta. Considero-o um serviço público. Confia em mim, Alicia. Vamos passar a melhor noite da nossa vida – dissera-lhe Rosie.

Naquele momento, Alicia via a sua amiga a mexer as ancas diante do bancário com que passara toda a noite a namoriscar. A sua amiga considerava uma obrigação sagrada que passassem a noite como o faziam quando eram mais jovens e imensamente mais selvagens. Mas Alicia teria de pagar sozinha o preço exorbitante do táxi que a levaria de volta ao apartamento que partilhavam.

– Sabes do que precisas desesperadamente? – perguntara-lhe Rosie ao saírem do metro.

– Sim, já sei o que achas que preciso. Mas a ideia de fazer sexo insatisfatório com um desconhecido não tem comparação com a de dormir sozinha e na minha cama. Talvez consideres que estou louca, embora eu lhe chame ser matura.

– Sabes que assim não vais encontrar ninguém. Se continuares assim, o que virá a seguir? Um convento?

Mas Alicia sabia muito bem que tipo de pessoas se conhecia nas discotecas preferidas de Rosie. Conhecera muitas e fora uma delas durante os seus anos de universidade. E jurara que não voltaria a descontrolar-se daquele modo. O preço não valia a pena e era preciso pagá-lo mais cedo ou mais tarde. No seu caso, os anos que o seu pai levava sem lhe falar.

Fora a menina do papá até àquela noite terrível de verão quando tinha vinte e um anos. O seu pai tinha-a mimado e adorado sem medida, mas tinha perdido tudo numa só noite que mal conseguia recordar, embora conhecesse os detalhes porque o seu pai lhos tinha contado na manhã seguinte, enquanto a cabeça estava prestes a rebentar-lhe e sentia náuseas. Na noite anterior, tinha chegado totalmente bêbada a casa e dirigira-se para o jardim traseiro, onde o seu pai a tinha encontrado a ter relações sexuais com o senhor Reddick, o vizinho.

O senhor Reddick era casado e tinha três filhos dos quais Alicia tinha cuidado durante anos. Ainda se envergonhava daquilo. Como pudera fazer algo tão desprezível? Continuava sem o saber.

A partir de então, decidira que já tivera diversão suficiente na vida.

– Referes-te ao amor? – perguntara Alicia à sua amiga. – Pensava que estávamos a falar do desespero de um sábado à noite de conseguirmos deitar-nos com alguém.

– Tenho uma ideia. Porque não tiras o halo de santa esta noite? Prometo que não vais morrer por isso. E talvez até gostes de um pouco de desenfreio, como dantes.

Rosie não sabia. Ninguém sabia. Alicia sentia-se tão envergonhada, que não explicara a ninguém porque de repente deixara de sair aos fins de semana e se concentrara no seu trabalho, que então não levava a sério, mas do qual posteriormente tinha chegado a orgulhar-se. Nem sequer a sua mãe e as suas irmãs sabiam porque se distanciara do seu pai.

– Esta noite não tenho o halo. Não combinava com os sapatos que me obrigaste a calçar.

– Parva... – dissera-lhe Rosie com tom afetuoso, enquanto entravam na discoteca mais badalada de Londres.

E Alicia divertiu-se mais do que esperava. Sentia a falta de dançar. Mas tinha-se cansado, sobretudo porque voltara de avião para Londres no dia anterior e o seu organismo ainda funcionava noutro fuso horário.

Além disso, não confiava em si mesma. Não sabia o que a tinha induzido a fazer o que fizera naquela noite oito anos antes e fora por isso que tinha optado por evitar tudo o que pudesse levá-la naquela direção. Porque não era uma santa, como tinha demonstrado com o seu comportamento libertino. Oxalá fosse...

«Já sabias como seria», pensou, enquanto decidia ir-se embora sem se despedir de Rosie e mandar-lhe uma mensagem quando estivesse no táxi. «Podias ter ido diretamente para casa depois do jantar.»

Tentou abrir caminho entre a multidão e teve de se afastar bruscamente de um casal que dançava aos saltos. Perdeu o equilíbrio, escorregou numa bebida entornada e chocou com um homem que pensara, antes de cair em cima dele, que era uma extensão da coluna que havia atrás.

Mas não era assim. Era um homem duro e masculino, musculoso, elegante e muito bonito. Ao princípio, pareceu-lhe, quando tinha a cara a um centímetro do peito masculino mais sensacional que vira na sua vida e as mãos sobre ele, que aquele homem cheirava a inverno, fresco e limpo.

Apercebeu-se de que ele a agarrava pelos braços com força e só então compreendeu que tinha conseguido evitar que caísse.

Levantou a cabeça, sorrindo para lhe agradecer por ter tão bons reflexos...

E tudo parou.

Simplesmente, desapareceu.

Alicia notou que lhe disparava o coração e que ficava boquiaberta.

Mas só via os olhos dele. Azuis como nunca vira outros na vida, como o céu transparente de um dia de inverno, de um azul tão intenso que pareciam enchê-la por completo e expandir-se no seu interior.

Era muito bonito, o homem mais bonito que já vira. Ao olharem-se, produziu-se entre eles uma corrente elétrica que lhe provocou um formigueiro na pele.

Assustou-se ao descobrir que havia um lugar profundo no seu interior que desconhecia, mas não se afastou do homem.

Ele pestanejou como se também notasse aquela coisa terrível, impossível e bonita que tinha surgido entre os dois. Alicia estava certa de que, se conseguisse desviar os olhos dos dele, a veria no ar, a ligar os seus corpos, a rodeá-los. Ele franziu levemente o sobrolho e mexeu-se como se quisesse afastá-la, mas parou.

E ali continuaram. Como se o que os rodeava, a música alta, a gente a dançar loucamente, se tivesse evaporado assim que se tinham tocado.

«Finalmente...», pensou ela, assolada por sensações e emoções caóticas que não entendia.

– Meu Deus... – disse. – Pareces um lobo.

Tinha sorrido? A sua boca era exuberante e séria ao mesmo tempo, fascinante. Sorriu-lhe como se ele o tivesse feito.

– É por isso que estás vestida de vermelho como a Capuchinho? – perguntou ele. Tinha um ligeiro sotaque que ela não reconheceu. – Olha que, no fim, o lobo a come...

– E também haverá lágrimas – escrutinou-lhe o rosto, procurando um sorriso.

– Também – afirmou ele.

– Dececionar-me-ia se não tivesse garras – afirmou ela, ao mesmo tempo que se dava conta de que a forma como a agarrava era como se a acariciasse.

Sentiu um aperto no ventre que deveria tê-la aterrorizado, tendo em conta o que sabia de si mesma e do sexo. E fê-lo, mas continuou sem se afastar dele.

– A minha meta na vida é, óbvio, evitar que as desconhecidas inglesas que chocam comigo em discotecas a abarrotar caiam nas garras da deceção – afirmou ele, com uma nova luz nos olhos e uma leve inclinação da cabeça.

Como se quisesse aproximar-se mais dela para a devorar.

Isso era justamente o que Alicia queria que fizesse.

Deveria ir-se embora a correr, mas nunca se tinha sentido tão excitada, nem tinha experimentado aquele calor delicioso nos membros. Aquele homem deixara-a sem fôlego.

– Mesmo que as garras sejam as tuas?

– Sobretudo se forem as minhas.

«Garras», pensou ela. «Está a dizer-me que é um lobo grande e mau.»

Deveria ter-se sentido mais alarmada do que estava.

– Deves saber que não as há mais perigosas.

– Em Londres inteira? – perguntou ela, sem conseguir deixar de sorrir e com uma sensação de por fim estar viva. – Mediste-as? Há um concurso para as maiores e mais perigosas?

Alicia estava fora de si. Uma parte dela queria deleitar-se com aquela sensação, com ele. Queria desfrutar daquele momento como da primeira neve do inverno.

Conteve a respiração perante a ideia. Ele apercebeu-se e levantou o olhar para a olhar nos olhos.

– Não tenho de as medir. Sei-o.

Era um lobo transformado num homem, num predador. Estava vestido de preto: t-shirt preta sob um casaco preto, calças e botas pretas. Tinha o cabelo preto e curto. Todo ele era duro e masculino, e tão perigoso que uma parte dela estava desesperada por fugir. Aquele homem não parecia civilizado, mas selvagem.

No entanto, Alicia não tinha medo enquanto ele a olhava daquela maneira. Seguindo o seu instinto, aproximou-se mais dele e pôs-lhe as palmas no peito magnífico enquanto ele a abraçava como um amante. Ela levantou ainda mais a cabeça e viu que lhe acendiam os olhos.

Sentiu que ardia.

«Isto não está bem», disse-lhe uma voz interior. «Tu não és assim.»

Mas ele era tão bonito que Alicia perdeu a noção de como era e o coração começou a doer-lhe pela força com que batia. E não encontrou um bom motivo para se afastar dele.

«Daqui a pouco», disse a si mesma. «Afasto-me daqui a pouco.»

– Devias fugir – disse-lhe ele em voz baixa e Alicia apercebeu-se de que falava a sério. Mas o homem acariciou-lhe a face enquanto o dizia e ela estremeceu. – Devias afastar-te o mais rapidamente possível de mim.

Parecia tão sério e seguro de si mesmo... Queria vê-lo a sorrir com a sua boca perigosa. E nem sequer sabia o seu nome.

Aquilo carecia de sentido.

Andava a portar-se bem há demasiado tempo. Já tinha pago por aquela noite oito anos antes. Deixara de ser espontânea e atrevida. No entanto, aquele homem tinha os olhos mais azuis e a boca mais triste que já vira na vida e a sua forma de lhe tocar desconcertava-a.

E pensou que não aconteceria nada se baixasse a guarda por uma vez. Só um pouco. Não tinha de significar nada.

Portanto, não prestou atenção à vozinha interior, apoiou a cara na palma da mão masculina e sorriu ao ver que ele também continha a respiração.

Endireitou-se. Estavam entre as sombras de uma discoteca, onde ninguém a via, nem saberia o que fazia na escuridão.

Depois, voltaria à sua vida ordenada e tranquila.

Seria apenas um momento em que quebraria as regras que governavam a sua vida há muito tempo e depois voltaria para casa e para a sua vida virtuosa.

Fá-lo-ia. Mas, antes disso, obedeceu a uma exigência urgente: aproximou-se mais do homem e colou a boca à dele.