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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Sara Orwig

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Paixão incontrolável, n.º 2248 - fevereiro 2017

Título original: Standing Outside the Fire

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9426-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Como pôde acontecer isto? – perguntou-se Boone Devlin pela milésima vez enquanto saía do seu carro alugado. Era uma da madrugada do dia sete de Julho e o parque de estacionamento do hotel de San Antonio estava deserto. Boone cruzou-o, tentando evitar as poças de água, enquanto os relâmpagos iluminavam o céu durante um segundo para logo desaparecerem, deixando a noite do Texas envolta na escuridão.

Caminhava a passo largo, ainda estupefacto com o facto de ter herdado uma imensa fazenda e um milhão de dólares. Estava na cidade para conhecer a gerente do rancho Doble T e para informá-la de que pensava vendê-lo. O seu único interesse era investir o dinheiro na sua empresa de helicópteros. Com o dinheiro da venda do rancho, antecipava grandes possibilidades para o seu negócio…

O ressoar de uns saltos altos no asfalto chamou-lhe então a atenção e, ao levantar a cabeça, viu uma mulher a correr para o hotel. Enquanto admirava a sua figura esbelta, um homem apareceu das sombras e aproximou-se dela.

Boone não conseguia ouvir o que diziam, mas viu que ela abanava a cabeça e que lhe gritava um «não» enfático, antes de continuar a andar. O intruso, sem demoras, colocou-se ao seu lado e continuou a falar em voz baixa. A rapariga tentou afastar-se, mas o tipo agarrou-a pelo braço.

Boone dirigiu-se até eles, mas ela já tinha reagido dando-lhe uma pisadela e uma sonora bofetada.

– Eu disse que não! – gritou, empurrando-o. E enquanto o homem cambaleava, ela correu até ao hotel.

Boone deu uma gargalhada.

– Do que é que te estás a rir? – vociferou o tipo, que parecia disposto a descarregar em alguém.

– Queres mais? – desafiou Boone, fechando os punhos.

Um relâmpago voltou a iluminar o parque de estacionamento e ambos se olharam, olhos nos olhos. O homem encheu o peito de ar por uns instantes e depois virou-se a toda a pressa, desaparecendo entre as sombras.

Sem parar de sorrir, Boone entrou no solitário átrio do hotel e pediu a chave da sua suite na recepção. A rapariga do parque de estacionamento estava à espera de elevador e subiram no mesmo.

Tinha-lhe parecido atraente no parque de estacionamento mas agora, sob a luz do elevador, ficou sem respiração. Tinha uma figura normalmente reservada apenas aos sonhos masculinos. O vestido verde-esmeralda revelava umas curvas generosas, uma cintura estreita e uns braços bem definidos. Boone tinha a certeza de que ela faria exercício regularmente… Especialmente depois de ter presenciado a cena no parque de estacionamento.

Os seus lábios vermelhos despertaram-lhe a curiosidade. Gostava de saber como seriam sob os seus. Ela estava a olhar para baixo enquanto ajustava a alça da mala e uma madeixa de cabelo ruivo caía-lhe sobre a cara. Mas quando levantou a cabeça, Boone deparou-se com os olhos mais verdes que alguma vez tinha visto.

Rodeados por largas pestanas, aqueles olhos de gato hipnotizavam-no. Eram frios, cheios de mistério.

– Ia salvar-te no parque de estacionamento – disse, – mas depois percebi que não precisavas de mim para nada.

– Obrigada de qualquer forma – respondeu-lhe ela.

– Queres beber alguma coisa?

– Ainda não jantei, por isso pretendo é comer, não beber.

– Eu acabo de chegar à cidade. Deixa-me convidar-te para jantar para celebrar.

Ela franziu o sobrolho.

– Para celebrar o quê? Que tenhas chegado à cidade?

– Não, que te tenhas desenvencilhado tão facilmente do tipo. Foi impressionante.

– Obrigada – sorriu a ruiva. As portas do elevador abriram-se mas ela voltou-se antes de sair. – Na melhor das hipóteses, vemo-nos daqui a pouco no restaurante.

– Espero que sim.

Já na suite, Boone deixou o saco de viagem no chão para arranjar-se um pouco antes de descer ao restaurante, onde esperava encontrar a rapariga.

Cinco minutos depois de se ter sentado à frente de uma grande janela com vista para uma piscina deserta, a sua pulsação acelerou-se ao ver entrar a ruiva. Quando ela deu por ele a fazer-lhe sinais, hesitou um segundo mas depois aproximou-se com um sorriso nos lábios.

Boone observou-lhe o movimento de ancas e a sua temperatura, já elevada, aumentou um pouco mais.

– Não te dás por vencido, pois não?

– Não posso fazê-lo, mas não quero insistir para que jantes comigo. Porém, seria mais divertido do que jantares sozinha… – sorriu ele.

– E não te falta confiança em ti próprio – acrescentou, divertida.

– Não, mas sei que também eu ficaria melhor se jantasse contigo.

– Normalmente não janto com pessoas que não conheço. Podes ser casado.

– Não estou a tentar seduzir-te, garanto-te. E nunca fui casado, nem penso ser.

– Um espírito livre? – sorriu ela, enquanto se sentava.

– Exactamente. Para além disso, agora não somos estranhos. Sou Bo…

– Não, não me digas o teu nome. Prefiro que seja impessoal.

– Não queres saber o meu nome?

– Não voltaremos a ver-nos depois desta noite. Quando o jantar acabar, vai cada um para seu lado, pelo que é melhor assim.

– Queres apostar uma coisa? – sorriu Boone. – De certeza que, antes de nos separarmos, me vais dizer o teu nome. Enquanto isso, chamo-te Ruiva.

Sorrindo, ela anuiu.

– Muito bem, aceito a aposta. O que ganha o vencedor?

– O que gostavas de ganhar? – desafiou-a Boone, sabendo o que gostaria, mas sabendo também que não podia dizê-lo.

A ruiva franziu os lábios e ele teve que controlar a tentação de inclinar-se sobre a mesa para beijá-los.

– Adoro chocolate. Se ganhar, convidas-me para uma sobremesa de chocolate.

– Muito bem.

– O que queres tu se ganhares? Aviso-te que o prémio deve ser simples e impessoal – advertiu ela.

– Quero que me contes alguma coisa sobre ti … para além do que já imagino.

– Não sei o que imaginas, mas sou uma pessoa normal com uma vida normal.

– Não acredito – sorriu Boone. – Quatro factos, de acordo?

– Muito bem. Aceito a aposta e… apreciarei muito a sobremesa de chocolate.

– Esta noite podíamos ter uma celebração dupla.

– Ah, sim? O que mais vamos celebrar?

Lá fora, um novo relâmpago voltou a iluminar o céu.

– Que eu vá jantar com a mulher mais bonita do Texas. E isso é dizer muito, porque as mulheres no Texas costumam ser lindíssimas.

Ela riu-se, abanando a cabeça.

– Agora estás a gozar comigo.

– Não, claro que não. O teu sorriso diz tudo. Tens uma covinha na bochecha, os dentes brancos, um sorriso que aceleraria a pulsação a qualquer homem e esses olhos verdes…– teve que calar-se quando chegou o empregado para apontar o pedido.

Boone pediu uma garrafa de vinho e, enquanto o fazia, observava a rapariga. Falava mesmo a sério. Para além de ser capaz de manter a cabeça fria numa situação difícil, era incrivelmente bonita e sexy… uma combinação que lhe fazia ferver o sangue. Embora tivesse a impressão de que ela se limitava a tolerá-lo.

E quando o empregado se foi embora, Boone inclinou-se para a frente.

– Onde estávamos? Ah, sim, enormes olhos verdes, lábios vermelhos, bonito cabelo ruivo…

– A quantas pessoas já disseste isso esta noite? – interrompeu-o ela.

Mesmo que tentasse mostrar-se distante, não podia negar que havia química entre eles.

– Poderia dizer que a ninguém, mas não ias acreditar – gozou Boone. – Claro que a forma como te livraste do tipo do parque de estacionamento diz muito sobre a tua personalidade.

– Devo perguntar qual é a tua ideia da minha personalidade? – perguntou ela, com um brilho divertido nos olhos.

– Acredito que és prática, inteligente, reservada. Ris-te dos meus galanteios e isso significa que tens autoconfiança. Não te achas uma das mulheres mais bonitas do Texas, apesar de o seres.

– Não, isso não é verdade – riu-se a ruiva. E Boone perguntou-se quantos homens já teriam sucumbido àquele sorriso irresistível. – Não ganhei nenhum concurso de beleza.

– Em quantos participaste?

– Em nenhum – admitiu ela.

– Vês? Posso ter razão. Acertei no resto?

A jovem pareceu reflectir um momento.

– Sim. Eu diria que sou uma pessoa prática, reservada e razoavelmente inteligente… embora talvez não o demonstre a jantar com um desconhecido. Mas quando acabarmos de jantar eu irei para o meu quarto e tu para o teu. E não me vais acompanhar ao meu nem sequer saberás qual é.

– Mas…

– Deixemos ficar tudo pelo jantar, é melhor assim. Tenho um telemóvel e posso telefonar a pedir ajuda a qualquer momento – advertiu-o ela, meio a brincar, meio a sério. – Quanto a estar segura de mim mesma… sim, na maior parte do tempo. Mas nem sempre. Mas é uma afirmação mais ou menos acertada.

– Como a de seres a mulher mais bonita do Texas – Boone endireitou-se na cadeira quando o empregado voltou com a garrafa de vinho. Quando o homem se foi embora, levantou o copo. – À tua, por solucionares una situação complicada com tanto aprumo.

Ela assentiu com a cabeça e, enquanto bebia, outro relâmpago iluminou brevemente o céu.

– Parece que nos livrámos da chuva por muito pouco.

– Hoje caíram quase sessenta litros por metro quadrado.

– E como sabes isso?

– Disse-me o porteiro – respondeu ela.

Enquanto falava, Boone agarrou-lhe na mão.

– Não vejo aliança nem anel de noivado.

– Não, é verdade.

– E suspeito que também não haja namorado à vista.

– Tens razão outra vez. Na melhor das hipóteses, devias ganhar a vida como vidente.

– Saio-me bem a adivinhar – riu-se Boone, levantando o copo. – Brindo a uma ruiva lindíssima que recordarei para sempre.

Ela afastou a mão para pegar no copo.

– Até que outra ruiva se cruze no teu caminho.

– Não me parece. Não vou esquecer-te e… espero fazer com que tu também não me esqueças.

A rapariga negou com a cabeça.

– Não me parece. Quando nos separarmos, este jantar não passará de um breve intervalo na minha vida.

– Estou disposto a impedir que isso aconteça – insistiu ele, cada vez mais intrigado. – Bem, já tentei adivinhar como és. Agora é a tua vez. Tenho curiosidade em saber o que pensas de mim.

– És… egocêntrico.

– Eh lá! Mas se só falámos de ti … como chegas à conclusão de que sou egocêntrico?

– A tua confiança, a tua segurança em ti mesmo… És decidido, de certo modo arrogante, embora encantador.

– Ainda bem que disseste isso senão tinha ido para outra mesa. Pelo menos sou encantador…

– Sabes como tratar as mulheres. Mas não precisas que eu te elogie. Não conseguiste essa segurança a ser rejeitado pelas raparigas.

Enquanto ela lia o menu, Boone estudou-a, sedutoramente.

– O que achas de uns simples bifes com batatas?

– A verdade é que não almocei, por isso caía-me mesmo bem um bife.

Uns minutos depois, o empregado regressava para tomar nota. Quando se afastou, Boone voltou a pegar no copo de vinho.

– Não, obrigada. Não quero mais. Acho que é a primeira vez que bebo álcool desde o Natal.

– Desde o Natal! Nunca sais de casa?

– Sim, claro que saio de casa.

– Se não tocas em álcool desde o Natal, acho que tens direito a mais um copo.

– Sim, enfim… hoje foi um dia horrível.

– Porquê?

– Devia ter-me reunido com uma pessoa por uma questão de trabalho, mas teve um acidente e agora está no hospital.

– Lamento. Alguém que conhecesses?

– Sim, embora não muito bem. E depois cancelaram o meu voo por causa da tempestade … para além do tipo do parque de estacionamento.

– Sim, tiveste um dia mau – concordou Boone. – Enfim, o pior já passou e farei todo o possível para te animar.

– Estás a fazê-lo muito bem.

– Alegra-me ouvir isso.

– Mas agora tenho que alojar-me neste hotel por causa da tempestade – suspirou ela, bebendo um gole de vinho.

– Não tens sotaque do norte. Deixa ver… onde viverá esta bela menina?

– Essa é outra das coisas que não tens que saber – sorriu a ruiva.

– Bom, está bem – concordou ele, fazendo sinal para a pulseira de ouro que usava no pulso. – Um presente de algum namorado?

– Não, de um amigo.

Boone franziu o sobrolho, olhando para a cruz de ouro com esmeraldas que ela usava ao peito.

– E isso? Também foi um presente de um amigo?

– Não, é uma herança de família. Já ouviste falar de Stallion Pass, no Texas?

– Sim – respondeu Boone, tentando dissimular a surpresa. O rancho que tinha herdado era muito perto dali. Ainda iria conseguir que aquela mulher misteriosa lhe revelasse a sua morada. – É uma terra pequena – murmurou logo, roçando o crucifixo com os dedos.

O contacto era eléctrico, mas percebeu que ela não se chegava para trás. De uma forma primitiva, sexual, estava a responder ao seu toque.

– Conheces a lenda de Stallion Pass?

– Algo sobre um cavalo… não me lembro bem.

Tinham oferecido um garanhão branco ao seu amigo Jonah Whitewolf, quando se casou, porque o gesto tinha um significado… mas ele nunca tinha prestado muita atenção ao assunto.

– O nome vem de uma antiga lenda – explicou-lhe ela. – Dizem que um guerreiro Apache se apaixonou pela filha de um coronel de cavalaria e convenceu-a a fugir com ele. Mas nessa noite, quando ia buscá-la, foi assassinado por membros do destacamento. Dizem que o seu fantasma é um cavalo branco que vagueia por essa zona à procura do seu amor perdido. E, segundo a lenda, se alguém agarrar esse cavalo e tentar domá-lo, encontrará o amor verdadeiro.

– E tu acreditas nessas coisas? – sorriu Boone, fixando-lhe os olhos.

A rapariga encolheu os ombros.

– Sempre houve cavalos brancos nessa zona e a sua presença alimentou a lenda.

Boone passou os dedos pela cruz.

– E este crucifixo tem alguma coisa a ver com isso?

– A jovem ficou desolada por causa da morte do guerreiro e, em vez de casar-se com o homem que o seu pai tinha escolhido, entrou para um convento. Segundo a história que me contaram, este crucifixo era seu. Supõe-se que somos descendentes da sua família. Ela nunca se casou, mas o seu irmão teve vários filhos.

Boone deu a volta ao crucifixo e viu que tinha uma inscrição na parte de trás: Bryony.

– Chamas-te Bryony?

– Não, esse era o nome da jovem.

O empregado apareceu então com as saladas e Boone endireitou-se na cadeira.