Editado por Harlequin Ibérica.
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© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Paixão incontrolável, n.º 2248 - fevereiro 2017
Título original: Standing Outside the Fire
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em português em 2009
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.
Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.
Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-9426-6
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Epílogo
Se gostou deste livro…
– Como pôde acontecer isto? – perguntou-se Boone Devlin pela milésima vez enquanto saía do seu carro alugado. Era uma da madrugada do dia sete de Julho e o parque de estacionamento do hotel de San Antonio estava deserto. Boone cruzou-o, tentando evitar as poças de água, enquanto os relâmpagos iluminavam o céu durante um segundo para logo desaparecerem, deixando a noite do Texas envolta na escuridão.
Caminhava a passo largo, ainda estupefacto com o facto de ter herdado uma imensa fazenda e um milhão de dólares. Estava na cidade para conhecer a gerente do rancho Doble T e para informá-la de que pensava vendê-lo. O seu único interesse era investir o dinheiro na sua empresa de helicópteros. Com o dinheiro da venda do rancho, antecipava grandes possibilidades para o seu negócio…
O ressoar de uns saltos altos no asfalto chamou-lhe então a atenção e, ao levantar a cabeça, viu uma mulher a correr para o hotel. Enquanto admirava a sua figura esbelta, um homem apareceu das sombras e aproximou-se dela.
Boone não conseguia ouvir o que diziam, mas viu que ela abanava a cabeça e que lhe gritava um «não» enfático, antes de continuar a andar. O intruso, sem demoras, colocou-se ao seu lado e continuou a falar em voz baixa. A rapariga tentou afastar-se, mas o tipo agarrou-a pelo braço.
Boone dirigiu-se até eles, mas ela já tinha reagido dando-lhe uma pisadela e uma sonora bofetada.
– Eu disse que não! – gritou, empurrando-o. E enquanto o homem cambaleava, ela correu até ao hotel.
Boone deu uma gargalhada.
– Do que é que te estás a rir? – vociferou o tipo, que parecia disposto a descarregar em alguém.
– Queres mais? – desafiou Boone, fechando os punhos.
Um relâmpago voltou a iluminar o parque de estacionamento e ambos se olharam, olhos nos olhos. O homem encheu o peito de ar por uns instantes e depois virou-se a toda a pressa, desaparecendo entre as sombras.
Sem parar de sorrir, Boone entrou no solitário átrio do hotel e pediu a chave da sua suite na recepção. A rapariga do parque de estacionamento estava à espera de elevador e subiram no mesmo.
Tinha-lhe parecido atraente no parque de estacionamento mas agora, sob a luz do elevador, ficou sem respiração. Tinha uma figura normalmente reservada apenas aos sonhos masculinos. O vestido verde-esmeralda revelava umas curvas generosas, uma cintura estreita e uns braços bem definidos. Boone tinha a certeza de que ela faria exercício regularmente… Especialmente depois de ter presenciado a cena no parque de estacionamento.
Os seus lábios vermelhos despertaram-lhe a curiosidade. Gostava de saber como seriam sob os seus. Ela estava a olhar para baixo enquanto ajustava a alça da mala e uma madeixa de cabelo ruivo caía-lhe sobre a cara. Mas quando levantou a cabeça, Boone deparou-se com os olhos mais verdes que alguma vez tinha visto.
Rodeados por largas pestanas, aqueles olhos de gato hipnotizavam-no. Eram frios, cheios de mistério.
– Ia salvar-te no parque de estacionamento – disse, – mas depois percebi que não precisavas de mim para nada.
– Obrigada de qualquer forma – respondeu-lhe ela.
– Queres beber alguma coisa?
– Ainda não jantei, por isso pretendo é comer, não beber.
– Eu acabo de chegar à cidade. Deixa-me convidar-te para jantar para celebrar.
Ela franziu o sobrolho.
– Para celebrar o quê? Que tenhas chegado à cidade?
– Não, que te tenhas desenvencilhado tão facilmente do tipo. Foi impressionante.
– Obrigada – sorriu a ruiva. As portas do elevador abriram-se mas ela voltou-se antes de sair. – Na melhor das hipóteses, vemo-nos daqui a pouco no restaurante.
– Espero que sim.
Já na suite, Boone deixou o saco de viagem no chão para arranjar-se um pouco antes de descer ao restaurante, onde esperava encontrar a rapariga.
Cinco minutos depois de se ter sentado à frente de uma grande janela com vista para uma piscina deserta, a sua pulsação acelerou-se ao ver entrar a ruiva. Quando ela deu por ele a fazer-lhe sinais, hesitou um segundo mas depois aproximou-se com um sorriso nos lábios.
Boone observou-lhe o movimento de ancas e a sua temperatura, já elevada, aumentou um pouco mais.
– Não te dás por vencido, pois não?
– Não posso fazê-lo, mas não quero insistir para que jantes comigo. Porém, seria mais divertido do que jantares sozinha… – sorriu ele.
– E não te falta confiança em ti próprio – acrescentou, divertida.
– Não, mas sei que também eu ficaria melhor se jantasse contigo.
– Normalmente não janto com pessoas que não conheço. Podes ser casado.
– Não estou a tentar seduzir-te, garanto-te. E nunca fui casado, nem penso ser.
– Um espírito livre? – sorriu ela, enquanto se sentava.
– Exactamente. Para além disso, agora não somos estranhos. Sou Bo…
– Não, não me digas o teu nome. Prefiro que seja impessoal.
– Não queres saber o meu nome?
– Não voltaremos a ver-nos depois desta noite. Quando o jantar acabar, vai cada um para seu lado, pelo que é melhor assim.
– Queres apostar uma coisa? – sorriu Boone. – De certeza que, antes de nos separarmos, me vais dizer o teu nome. Enquanto isso, chamo-te Ruiva.
Sorrindo, ela anuiu.
– Muito bem, aceito a aposta. O que ganha o vencedor?
– O que gostavas de ganhar? – desafiou-a Boone, sabendo o que gostaria, mas sabendo também que não podia dizê-lo.
A ruiva franziu os lábios e ele teve que controlar a tentação de inclinar-se sobre a mesa para beijá-los.
– Adoro chocolate. Se ganhar, convidas-me para uma sobremesa de chocolate.
– Muito bem.
– O que queres tu se ganhares? Aviso-te que o prémio deve ser simples e impessoal – advertiu ela.
– Quero que me contes alguma coisa sobre ti … para além do que já imagino.
– Não sei o que imaginas, mas sou uma pessoa normal com uma vida normal.
– Não acredito – sorriu Boone. – Quatro factos, de acordo?
– Muito bem. Aceito a aposta e… apreciarei muito a sobremesa de chocolate.
– Esta noite podíamos ter uma celebração dupla.
– Ah, sim? O que mais vamos celebrar?
Lá fora, um novo relâmpago voltou a iluminar o céu.
– Que eu vá jantar com a mulher mais bonita do Texas. E isso é dizer muito, porque as mulheres no Texas costumam ser lindíssimas.
Ela riu-se, abanando a cabeça.
– Agora estás a gozar comigo.
– Não, claro que não. O teu sorriso diz tudo. Tens uma covinha na bochecha, os dentes brancos, um sorriso que aceleraria a pulsação a qualquer homem e esses olhos verdes…– teve que calar-se quando chegou o empregado para apontar o pedido.
Boone pediu uma garrafa de vinho e, enquanto o fazia, observava a rapariga. Falava mesmo a sério. Para além de ser capaz de manter a cabeça fria numa situação difícil, era incrivelmente bonita e sexy… uma combinação que lhe fazia ferver o sangue. Embora tivesse a impressão de que ela se limitava a tolerá-lo.
E quando o empregado se foi embora, Boone inclinou-se para a frente.
– Onde estávamos? Ah, sim, enormes olhos verdes, lábios vermelhos, bonito cabelo ruivo…
– A quantas pessoas já disseste isso esta noite? – interrompeu-o ela.
Mesmo que tentasse mostrar-se distante, não podia negar que havia química entre eles.
– Poderia dizer que a ninguém, mas não ias acreditar – gozou Boone. – Claro que a forma como te livraste do tipo do parque de estacionamento diz muito sobre a tua personalidade.
– Devo perguntar qual é a tua ideia da minha personalidade? – perguntou ela, com um brilho divertido nos olhos.
– Acredito que és prática, inteligente, reservada. Ris-te dos meus galanteios e isso significa que tens autoconfiança. Não te achas uma das mulheres mais bonitas do Texas, apesar de o seres.
– Não, isso não é verdade – riu-se a ruiva. E Boone perguntou-se quantos homens já teriam sucumbido àquele sorriso irresistível. – Não ganhei nenhum concurso de beleza.
– Em quantos participaste?
– Em nenhum – admitiu ela.
– Vês? Posso ter razão. Acertei no resto?
A jovem pareceu reflectir um momento.
– Sim. Eu diria que sou uma pessoa prática, reservada e razoavelmente inteligente… embora talvez não o demonstre a jantar com um desconhecido. Mas quando acabarmos de jantar eu irei para o meu quarto e tu para o teu. E não me vais acompanhar ao meu nem sequer saberás qual é.
– Mas…
– Deixemos ficar tudo pelo jantar, é melhor assim. Tenho um telemóvel e posso telefonar a pedir ajuda a qualquer momento – advertiu-o ela, meio a brincar, meio a sério. – Quanto a estar segura de mim mesma… sim, na maior parte do tempo. Mas nem sempre. Mas é uma afirmação mais ou menos acertada.
– Como a de seres a mulher mais bonita do Texas – Boone endireitou-se na cadeira quando o empregado voltou com a garrafa de vinho. Quando o homem se foi embora, levantou o copo. – À tua, por solucionares una situação complicada com tanto aprumo.
Ela assentiu com a cabeça e, enquanto bebia, outro relâmpago iluminou brevemente o céu.
– Parece que nos livrámos da chuva por muito pouco.
– Hoje caíram quase sessenta litros por metro quadrado.
– E como sabes isso?
– Disse-me o porteiro – respondeu ela.
Enquanto falava, Boone agarrou-lhe na mão.
– Não vejo aliança nem anel de noivado.
– Não, é verdade.
– E suspeito que também não haja namorado à vista.
– Tens razão outra vez. Na melhor das hipóteses, devias ganhar a vida como vidente.
– Saio-me bem a adivinhar – riu-se Boone, levantando o copo. – Brindo a uma ruiva lindíssima que recordarei para sempre.
Ela afastou a mão para pegar no copo.
– Até que outra ruiva se cruze no teu caminho.
– Não me parece. Não vou esquecer-te e… espero fazer com que tu também não me esqueças.
A rapariga negou com a cabeça.
– Não me parece. Quando nos separarmos, este jantar não passará de um breve intervalo na minha vida.
– Estou disposto a impedir que isso aconteça – insistiu ele, cada vez mais intrigado. – Bem, já tentei adivinhar como és. Agora é a tua vez. Tenho curiosidade em saber o que pensas de mim.
– És… egocêntrico.
– Eh lá! Mas se só falámos de ti … como chegas à conclusão de que sou egocêntrico?
– A tua confiança, a tua segurança em ti mesmo… És decidido, de certo modo arrogante, embora encantador.
– Ainda bem que disseste isso senão tinha ido para outra mesa. Pelo menos sou encantador…
– Sabes como tratar as mulheres. Mas não precisas que eu te elogie. Não conseguiste essa segurança a ser rejeitado pelas raparigas.
Enquanto ela lia o menu, Boone estudou-a, sedutoramente.
– O que achas de uns simples bifes com batatas?
– A verdade é que não almocei, por isso caía-me mesmo bem um bife.
Uns minutos depois, o empregado regressava para tomar nota. Quando se afastou, Boone voltou a pegar no copo de vinho.
– Não, obrigada. Não quero mais. Acho que é a primeira vez que bebo álcool desde o Natal.
– Desde o Natal! Nunca sais de casa?
– Sim, claro que saio de casa.
– Se não tocas em álcool desde o Natal, acho que tens direito a mais um copo.
– Sim, enfim… hoje foi um dia horrível.
– Porquê?
– Devia ter-me reunido com uma pessoa por uma questão de trabalho, mas teve um acidente e agora está no hospital.
– Lamento. Alguém que conhecesses?
– Sim, embora não muito bem. E depois cancelaram o meu voo por causa da tempestade … para além do tipo do parque de estacionamento.
– Sim, tiveste um dia mau – concordou Boone. – Enfim, o pior já passou e farei todo o possível para te animar.
– Estás a fazê-lo muito bem.
– Alegra-me ouvir isso.
– Mas agora tenho que alojar-me neste hotel por causa da tempestade – suspirou ela, bebendo um gole de vinho.
– Não tens sotaque do norte. Deixa ver… onde viverá esta bela menina?
– Essa é outra das coisas que não tens que saber – sorriu a ruiva.
– Bom, está bem – concordou ele, fazendo sinal para a pulseira de ouro que usava no pulso. – Um presente de algum namorado?
– Não, de um amigo.
Boone franziu o sobrolho, olhando para a cruz de ouro com esmeraldas que ela usava ao peito.
– E isso? Também foi um presente de um amigo?
– Não, é uma herança de família. Já ouviste falar de Stallion Pass, no Texas?
– Sim – respondeu Boone, tentando dissimular a surpresa. O rancho que tinha herdado era muito perto dali. Ainda iria conseguir que aquela mulher misteriosa lhe revelasse a sua morada. – É uma terra pequena – murmurou logo, roçando o crucifixo com os dedos.
O contacto era eléctrico, mas percebeu que ela não se chegava para trás. De uma forma primitiva, sexual, estava a responder ao seu toque.
– Conheces a lenda de Stallion Pass?
– Algo sobre um cavalo… não me lembro bem.
Tinham oferecido um garanhão branco ao seu amigo Jonah Whitewolf, quando se casou, porque o gesto tinha um significado… mas ele nunca tinha prestado muita atenção ao assunto.
– O nome vem de uma antiga lenda – explicou-lhe ela. – Dizem que um guerreiro Apache se apaixonou pela filha de um coronel de cavalaria e convenceu-a a fugir com ele. Mas nessa noite, quando ia buscá-la, foi assassinado por membros do destacamento. Dizem que o seu fantasma é um cavalo branco que vagueia por essa zona à procura do seu amor perdido. E, segundo a lenda, se alguém agarrar esse cavalo e tentar domá-lo, encontrará o amor verdadeiro.
– E tu acreditas nessas coisas? – sorriu Boone, fixando-lhe os olhos.
A rapariga encolheu os ombros.
– Sempre houve cavalos brancos nessa zona e a sua presença alimentou a lenda.
Boone passou os dedos pela cruz.
– E este crucifixo tem alguma coisa a ver com isso?
– A jovem ficou desolada por causa da morte do guerreiro e, em vez de casar-se com o homem que o seu pai tinha escolhido, entrou para um convento. Segundo a história que me contaram, este crucifixo era seu. Supõe-se que somos descendentes da sua família. Ela nunca se casou, mas o seu irmão teve vários filhos.
Boone deu a volta ao crucifixo e viu que tinha uma inscrição na parte de trás: Bryony.
– Chamas-te Bryony?
– Não, esse era o nome da jovem.
O empregado apareceu então com as saladas e Boone endireitou-se na cadeira.