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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Harlequin Books S.A.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Rumores de desonra, n.º 2109- octubre 2016

Título original: A Whisper of Disgrace

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9241-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

A garrafa de champanhe estava gelada, mas não tanto como o seu coração. Rosa bebeu outro gole enquanto tentava acalmar a dor que sentia. Queria acordar e que tudo tivesse sido um pesadelo, que os últimos dias não tivessem acontecido. Queria voltar a ser a pessoa que sempre pensara que era. E, mais do que tudo, queria que aquele homem parasse de a observar do outro lado da discoteca com o seu olhar escuro e inquietante.

As luzes e a música estavam a conseguir enjoá-la. Embora pensasse que talvez a culpa fosse do champanhe que bebera desde que entrara no local. Não estava habituada ao seu sabor e não gostava muito. Crescera na Sicília, onde as pessoas bebiam os vinhos locais, que eram quentes e doces. Também não bebera muito lá, só meio copo de vez em quando e misturado com água, enquanto os dois irmãos a observavam de maneira protetora.

Ainda que, na verdade, não fossem os irmãos. Suspirou ao pensar nisso. Teria de se habituar à ideia de serem apenas meios-irmãos.

Rosa agarrou na garrafa com força e sentiu um calafrio. Ainda lhe custava enfrentar uma verdade que continuava a parecer-lhe incrível. Afinal de contas, nada era o que parecia e a vida mudara para sempre. A revelação da realidade fora brutal. Descobrira da pior maneira possível que estivera a viver uma mentira durante toda a vida. E ela própria não era quem pensava que era.

Mademoiselle? Está pronta?

Sem dizer uma palavra, Rosa assentiu enquanto o encarregado do clube noturno fazia um gesto para o palco em que várias mulheres tinham estado a tentar dançar durante toda a noite. Pensava que a maioria parecera ridícula, apesar de ser magra, loira e estar em muito boa forma. Dava-lhe a impressão de que as mulheres eram todas iguais naquela parte da Riviera Francesa. Ela destacava-se, como se estivesse completamente deslocada com o cabelo cor de mogno, pele bronzeada e curvas generosas que, naquele momento, quase transbordavam do vestido vermelho.

Subiu para o palco com insegurança. Não sabia se seria capaz de dançar com aqueles sapatos de salto. Eram muito mais altos do que os que costumava usar na Sicília. Mas pensou que não haveria problema se tropeçasse e que também não havia lá ninguém para a criticar por usar um vestido muito mais curto e justo do que os que costumava usar.

Naquela noite, despedir-se-ia da Rosa que fora, uma mulher muito preocupada com as aparências. Estava decidida a dar as boas-vindas à nova Rosa, uma mulher decidida a ser mais forte, para que ninguém pudesse magoá-la. Estava numa zona privilegiada da costa francesa, na conhecida Côte d’Azur, o lugar onde tencionava livrar-se da sua carapaça e mostrar a criatura reluzente e irreconhecível em que queria transformar-se. Desse modo, a transformação seria completa.

Bebeu outro gole de champanhe e deixou a garrafa no chão. Assim que subiu ao palco, o seu olhar voltou a encontrar-se com aquele homem do outro lado da discoteca, o mesmo de cabelo escuro e corpo imponente. Viu que continuava a observá-la e havia algo nos olhos dele que fez com que sentisse um nó no estômago. Segundo parecia, ninguém lhe ensinara que era de má educação olhar fixamente para outra pessoa. E parecia ainda mais indelicado que estivesse a ignorar por completo a pobre mulher que tinha ao lado e que estava praticamente a precipitar-se para os seus braços.

A música começou assim que Rosa se agarrou ao varão. Empurrou a pélvis para ela, tal como vira as outras jovens a fazer antes dela. Até àquela noite, nunca vira ninguém a dançar no varão e, mesmo que o tivesse feito, nunca se teria atrevido a participar num concurso como aquele. Mas começava a perceber que receber uma notícia inesperada podia fazer com que uma pessoa se comportasse de uma maneira completamente diferente do que era habitual nela.

Enroscou uma perna à volta do varão escorregadio e começou a mexer-se. Conseguia sentir o metal suave e frio a deslizar contra a coxa nua. O álcool conseguira relaxá-la e deixou-se levar pelo ritmo hipnótico da música. Estava a ser muito mais fácil do que esperava. Não lhe custava nada perder-se na música sensual e esquecer a própria dor. Os seus movimentos eram quase instintivos, como se tivesse nascido para dançar daquela maneira. Como se tivesse passado toda a vida a esfregar o corpo contra um varão de metal.

Fechou os olhos, levantou ainda mais a perna e deitou a cabeça para trás. Conseguia sentir o cabelo comprido a tocar no chão. Começou a mexer as ancas em círculos lentos e sensuais contra o varão. Conseguia sentir o calor e a excitação que despertava todo o seu corpo.

Mal se apercebia do que a rodeava, pois estava numa espécie de transe. Porém, pouco a pouco, começou a ouvir outros sons. Como alguns gritos de ânimo enquanto ela deslizava ao ritmo da música. Contudo, não se importava com o que estavam a dizer. Continuava com os olhos fechados e entregue àquela dança sensual. Estava a ser a experiência mais catártica que tivera e não abriu os olhos até a música parar. Encontrou imensos homens a aproximar-se do palco para a observar.

Durante uns segundos, ficou com falta de ar, sentindo-se como se fosse uma atração de circo. Quase a surpreendeu não ver as caras furiosas dos irmãos. Recordou-se mais uma vez que não eram os irmãos, apenas meios-irmãos, e que estavam a centenas de quilómetros de distância. Endireitou-se e observou-os enquanto pensava em como ia sair dali sem ter de se aproximar deles. Alguns tinham as camisas desabotoadas até à cintura e estavam suados. Não queria tocar neles. Tremeu, pois não queria ter nada a ver com eles.

A única coisa que desejava era beber mais, porque já voltava a sentir a dor que tinha no coração e pensava que só conseguiria adormecê-la com mais álcool. Inclinou-se para pegar na garrafa de champanhe e foi então que sentiu uns dedos no braço. Endireitou-se e encontrou os olhos mais pretos que alguma vez vira. Era o homem que estivera a observá-la fixamente do lado oposto do clube. O mesmo que recebera os cuidados de uma bela jovem. Tentou focar o olhar, pois tudo parecia impreciso.

Quando conseguiu concentrar-se no rosto dele, pensou que nunca vira um homem assim. Tinha um corpo esbelto e poderoso e não conseguia parar de admirar os olhos, o rosto, o nariz aquilino… Entendeu porque aquela mulher o cobrira de cuidados.

A sua presença impunha-se, era como se enchesse todo o espaço com uma força escura e poderosa. Os olhos pretos brilhavam como se ardesse um fogo no seu interior. Tinha pestanas compridas e escuras e uns lábios carnudos e sensuais. Viu que o homem franzia o sobrolho ao ver o grupo de homens que a observava.

– Dá-me a impressão de que precisas urgentemente que alguém te salve – comentou o homem, com um sotaque exótico que não reconheceu.

A jovem que fora no passado ter-se-ia sentido intimidada por um homem como ele e a família protetora nunca o teria deixado aproximar-se. Mas aquela nova Rosa não se sentia intimidada. Olhou para ele nos olhos e sentiu uma emoção inegável, como se acabasse de encontrar algo inesperado, algo que, até àquele momento, não sabia que procurava.

– E achas que és a pessoa mais indicada para me salvar, não é?

– Sou o candidato perfeito para qualquer missão de resgate, linda. Asseguro-te.

Tentou não pensar nas emoções que aquelas palavras estavam a causar-lhe por todo o corpo e olhou à volta com o sobrolho franzido.

– De certeza? Não vejo o teu cavalo branco.

– Não sou o típico príncipe encantado que chega montado num corcel branco. Costumo montar um cavalo preto, embora nunca o tenha trazido para França. É grande e muito forte, mas não gosta de discotecas. Não tem nada a ver com a mulher que acabei de ver a dançar de maneira incrivelmente sensual. Uma mulher que não parece perceber o caos que criou na discoteca enquanto dançava. Rosa não conseguia parar de sorrir. Sabia que tentava seduzi-la e sentia-se emocionada. Não estava habituada àquele tipo de situações. Não tinha muita experiência nesse terreno. Mesmo durante os seus anos na universidade de Palermo, os rapazes afastavam-se quando descobriam quem era. Aprendera que nenhum homem quereria ter nada a ver com uma mulher da família Corretti. Ninguém se atrevia a ir muito longe com ela por medo de que um dos irmãos ou primos fossem atrás dele. Nunca conhecera ninguém que não se sentisse intimidado com a reputação da poderosa família e também não teriam permitido que se aproximasse de um homem assim. Um homem que emanava sensualidade. Quase temia queimar os dedos se estendesse a mão para ele. Sabia que o mais sensato era afastar-se, regressar ao hotel em que reservara um quarto e dormir até os efeitos do champanhe passarem. No dia seguinte, acordaria com uma dor de cabeça terrível e poderia decidir o que ia fazer com o resto da vida. Mas não tinha vontade de ser sensata, antes pelo contrário.

Atraía-a o desafio de fazer algo inesperado e diferente. Pensava que, assim, seria mais fácil esquecer a angústia e a solidão que sentia. Precisava de fazer alguma coisa que a fizesse sentir-se viva e ignorar o vazio que tinha no coração.

– Não quero que me salvem – declarou, bebendo outro gole de champanhe. – O que quero é dançar.

O homem tirou-lhe a garrafa da mão e entregou-a a um empregado.

– Também posso encarregar-me disso – declarou, dando-lhe a mão e levando-a para a pista de dança.

Apercebeu-se de uma sensação repentina de perigo quando aquele homem a abraçou e a música começou a tocar com um ritmo muito sensual. Era tão alto… Nunca conhecera um homem tão alto. E o seu corpo parecia muito forte e musculado. Passou a língua pelos lábios. Pensava que não haveria mulher no mundo que pudesse resistir aos seus encantos e foi esse pensamento que fez com que tremesse de excitação.

– Nem sequer sei como te chamas – indicou ela.

– Porque não to disse.

– E não vais fazê-lo?

– Bom, suponho que podia fazê-lo… Se te portares bem.

– E se não me portar bem?

– Nesse caso, certamente, dir-to-ia – troçou, com atrevimento. – Não há nada de que goste mais do que de uma mulher que se porta mal. O meu nome é Kulal.

Franziu o sobrolho ao ouvi-lo e tentou pronunciá-lo com cuidado.

– Ku… lal – murmurou ela.

– Gosto de como o dizes. Parece muito sensual nos teus lábios.

Rosa riu-se.

Kulal tremeu ao ouvir a gargalhada e, deixando-se levar pelo desejo, puxou-a. Sentiu que se derretia contra ele, como se tivesse estado toda a noite à espera que a abraçasse. E a verdade era que lhe acontecera o mesmo. Os seus sentidos tinham-se aguçado assim que a vira. Não parara de observar os lábios suaves nem o olhar inocente, detalhes que contrastavam com o esplendor pecaminoso do corpo voluptuoso. Conseguia sentir os seios contra o peito e sentiu que estava a suster a respiração. Aproximou-se do ouvido dela para que pudesse ouvi-lo, apesar da música.

– Agora, vamos ver se consegues dançar tão bem na pista como no palco. Pode ser, linda?

Rosa sabia que tinha de ter cuidado com alguém que a elogiava tão facilmente. Era algo que sempre soubera. Vira-o imensas vezes na maneira de agir dos membros masculinos da própria família. Bastava-lhes dizer às mulheres que eram lindas para se derreterem entre os braços deles.

Crescera a ver os homens Corretti a agir dessa maneira para seduzir as suas conquistas. Sabia que os homens como Kulal só queriam uma coisa e fora criada para proteger a sua honra e a sua integridade. Fora sempre assim, pelo menos, até tudo mudar de repente. Os valores que sempre a tinham guiado tinham desaparecido e já não acreditava nas mesmas coisas que sempre tinham sido o fundamento da sua existência. Esqueceu as dúvidas e observou-o.

– Vais dar-me um dez, não é? – perguntou ela.

– Se quiseres… Mas aviso-te de que posso ser um juiz muito difícil.

– Penso que vou arriscar-me.

– Fantástico! – exclamou Kulal, com os lábios contra o seu pescoço. – Gosto das mulheres que arriscam.

Rosa sentiu o sussurro da boca dele no pescoço e fechou os olhos com prazer. Estava numa nuvem. Não demorou a perceber que dançar com ele era diferente de dançar com qualquer outro homem.

– Gostas assim? – perguntou Kulal, em voz baixa, enquanto se agarrava possessivamente ao seu traseiro.

Adorava sentir a força embriagadora da sua nova liberdade e a sensação de ouvir os desejos do seu corpo. Por isso, deixou-se levar e não tentou afastar-se quando Kulal a apertou contra o peito.

– Sim.

– Já imaginava. Eu também gosto. Gosto muito…

Kulal fechou os olhos ao sentir os dedos dela a acariciar-lhe os ombros. Também sentia o toque do cabelo sedoso contra a face e uma onda de desejo apoderou-se dele com tanta força que mal conseguia controlar a necessidade de lhe tocar intimamente. Mas, embora fosse conhecido como um príncipe rebelde, Kulal respeitava demasiado o seu papel para destruir tudo numa só noite. Uma coisa era dançar com uma mulher tão exibicionista e sedutora como aquela e outra era provocar um escândalo que podia sair-lhe muito caro se se deixasse levar pela paixão num lugar público. Portanto, apesar de estarem protegidos pela multidão que os rodeava, não fez o que queria fazer. Contudo, não conseguia parar de pensar nisso. Teria adorado tocar-lhe intimamente. Sabia que estaria excitada. Engoliu em seco. Cada vez lhe custava mais controlar o desejo e interrogou-se se ela conseguiria sentir a reação imediata do seu corpo. Reparara nela quando entrara na discoteca. Pensava que acontecera o mesmo a todos os homens presentes. Era difícil não reparar nela com aquele vestido vermelho que deixava tão pouco à imaginação. Tinha o tipo de corpo que já não estava na moda. Sobretudo, ali, no sul de França, onde todas as mulheres pareciam muito magras e musculadas. Não parecia passar horas no ginásio nem estar permanentemente a dieta. O tipo de dieta que deixava sempre as mulheres zangadas e ansiosas. Aquela mulher tinha um aspeto suculento e sensual, como um fruto maduro, antes de cair da árvore.

Ao vê-la a entrar, observara o cabelo dela, escuro, comprido e com um aspeto muito suave. Tinham-se entreolhado e ela arregalara os olhos ao ver que a observava, quase como se estivesse surpreendida. Apercebera-se de que o desejava. Poderia tê-la e tencionava aproveitar essa circunstância assim que pudesse. Sabia que aquele tipo de vida tinha prazo de validade e, um dia, acabaria. Suspirou ao pensar nisso. Teria de aceitar um casamento por conveniência e os seus dias de playboy despreocupado estavam contados. Mesmo que tivesse a sorte de chegar a um acordo com a esposa para ter um casamento aberto, pelo menos, aberto para ele, sabia que teria de esconder as conquistas e ser muito mais discreto. Procedia de uma sociedade e de uma cultura em que as esposas faziam vista grossa às indiscrições dos maridos, mas o casamento trazia certas responsabilidades. Não poderia continuar a ir sozinho a uma discoteca para sair pouco depois com uma bela mulher. Apertou os lábios contra a orelha dela enquanto se mexiam ao ritmo da música.

– Como te chamas? – perguntou.

– Rosa.

Decidiu não lhe dizer o apelido. Rosa pensou que talvez tivesse ouvido falar da família Corretti e não queria arriscar. Naquela noite, decidira esquecer tudo e comportar-se de maneira imprudente, mas não tencionava cometer a estupidez de dizer às pessoas quem era.

– Rosa – repetiu, acariciando-lhe o cabelo. – Também gosto do teu nome. És italiana?

– Sim.

Era difícil falar quando o cheiro masculino daquele homem embriagava os seus sentidos. Sabia que estava a ser enigmática e que não estava a contar-lhe toda a verdade, mas pensava que não precisava de saber mais. A verdade era que Rosa Corretti era siciliana até à medula e a família teria explodido se a ouvisse a dizer que era italiana. Contudo, pensava que era mais fácil assim. Além disso, pensou que não devia nada à família.

– Sou, sim – insistiu ela.

– E costumas ir a discotecas e dançar no varão como esta noite, Rosa?

– Não. A verdade é nunca o fiz. Foi a primeira vez.

– Que interessante! E porque decidiste fazê-lo esta noite?

Rosa fez uma careta ao ouvir a pergunta, não queria dar-lhe explicações.

– Porque não falamos de ti? – sugeriu ela.

Porém, Kulal não queria ter de gritar para se fazer ouvir na discoteca barulhenta e não se atrevia a continuar na pista de dança com ela. Pensava que, se Rosa continuasse a mexer-se daquela forma, seria incapaz de resistir. Decidiu que era melhor continuar aquela conversa nalgum lugar mais privado, como a sua própria villa, onde tinham a possibilidade de usar uma cama confortável.

– Porque não vamos para um sítio um pouco mais tranquilo? – sugeriu ele.

Rosa cambaleou. Adoraria que lhe tivesse dado algum tipo de aviso antes de a soltar.

– Como por exemplo?

Kulal franziu o sobrolho sem conseguir esconder a irritação. Não entendia porque as mulheres faziam sempre o mesmo, porque fingiam total inocência quando ambos sabiam exatamente como a noite acabaria. Pensava que não servia de nada fazer-se inocente depois do que vira no palco. Mas não lhe disse e encolheu os ombros.

– Conheço um sítio com uma vista incrível onde poderíamos sentar-nos e ver as estrelas.

– Oh, adoro as estrelas! – exclamou Rosa, com uma expressão sonhadora.

– Eu também. Então, o que achas de sairmos daqui e de procurarmos um pedacinho de céu?

As palavras dele pareceram-lhe muito poéticas, mas Rosa estava cada vez mais enjoada. Tentou lembrar-se de quando comera pela última vez e teve a sensação de que passara muito tempo.

– Fantástico!

Kulal sorriu. Estava a ser tão fácil como esperara. Conseguia sempre o que desejava. Pelo menos, era o que lhe diziam. E também diziam que nunca tivera de lutar por nada nem por ninguém. Mas havia uma exceção. Não conseguira ficar com a única pessoa que realmente quisera. De facto, nem sequer fora possível lutar por ela.

Rosa observava-o com uma expressão que o deixou com falta de ar, como se confiasse plenamente nele. Não gostava disso e preferia ver a mulher sensual de antes.

– Vamos buscar o meu carro – declarou, observando-a. – Trouxeste um casaco ou algo parecido?

Rosa franziu o sobrolho. Não sabia, não se lembrava. Baixou o olhar e observou o vestido que mal lhe cobria as coxas. Recordou-se que o comprara naquela tarde numa loja de Antibes. Também comprara lá os sapatos. Não se lembrava de ter comprado um casaco.

– Penso que não.

Kulal olhou para ela com um pouco de temor enquanto a puxava e atravessavam a pista. Começou a arrepender-se de a ter convidado para ir com ele. Ao princípio, parecera-lhe a fantasia de qualquer homem, mas viu que andava com dificuldade e temeu que estivesse mais bêbada do que pensara. Gostava de mulheres travessas, mas preferia que estivessem sóbrias.

Acompanhou-a até à rua com uma mão nas suas costas e sentiu que tropeçava ao sair do clube. Teve de ser muito rápido para a agarrar. Pensou que era uma sorte que não houvesse paparazzi por perto e acompanhou-a até à limusina. Ajudou-a a sentar-se na parte de trás e ela não demorou a estender as pernas compridas e a fechar os olhos.

Pela primeira vez na vida, Kulal puxou ligeiramente a bainha de um vestido para lhe tapar as pernas.

– Quanto bebeste? – quis saber.

A voz profunda daquele homem conseguiu entrar na sua consciência e Rosa abriu os olhos. O ar fresco fizera com que se sentisse estranha, mas ali, dentro daquele carro luxuoso e ao lado daquele homem, sentia-se segura. Olhou para ele, era o seu salvador…

O que não entendia era porque já não a abraçava. Desejava voltar a estar entre os braços dele e esquecer tudo o resto.

– Anda cá e beija-me – murmurou ela, quase sem conseguir manter os olhos abertos. – Por favor, só um beijo…

Kulal agarrou-a pelos braços e abanou-a um pouco para tentar acordá-la. Não conseguia esconder um certo sentimento de desprezo. Não conseguia acreditar que pensava que quereria beijá-la naquele estado.

– Rosa, estás bêbada! – acusou-a Kulal.

– Sim, eu sei e adoro!

– Se pudesses ver-te neste momento, não pensarias o mesmo. Uma mulher bêbada nunca é uma visão agradável.

– E um homem bêbado é? – murmurou ela.

Fora assim que crescera, a ouvir que as regras eram diferentes para os homens e para as mulheres. Não entendia porque o mundo era tão injusto.

– Não, na verdade, não gosto de ver ninguém a perder o controlo desta maneira. Por isso, vou levar-te a casa.

Não pôde evitar sorrir ao ouvir essa palavra.

– A casa? – repetiu Rosa, com amargura. – Será um pouco difícil porque não tenho casa. Já não…

Kulal inclinou-se para ela, tentando evitar os braços de Rosa. Continuava a tentar abraçá-lo. Não queria ouvir a história triste. A única coisa que queria era livrar-se dela o quanto antes.

– Onde estás alojada? – perguntou.

Ao ouvi-lo, observou-o. Tentou endireitar-se, mas mal conseguia mexer-se. Kulal acabara de lhe recordar que tinha um problema muito maior do que a bebedeira.

Não recordava onde estava alojada.

– Não sei… – murmurou.

Estava muito confortável ali e não queria ir-se embora. Queria ficar com aquele homem de tez escura e olhos brilhantes. Fazia com que se sentisse segura e excitada. Bocejou enquanto se aninhava no banco.

– Portanto, suponho que será melhor ficar contigo… – sussurrou Rosa.