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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Sharon Kendrick

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A amante do xeque, n.º 2122 - novembro 2016

Título original: Exposed: The Sheikh’s Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9181-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Se pelo menos tivesse havido algum aviso… nuvens de tempestade no horizonte ou um vento frio repentino, daqueles que gelam a pele. Como um presságio. Mas o dia estava quente e ensolarado, sem presságios à vista e «se pelo menos» eram as três palavras mais inúteis que existiam. Sienna sabia disso melhor que ninguém.

E mesmo que soubesse de antemão, o que teria podido fazer para mudar as coisas? Nada. Estava muito indefesa.

No entanto, sentia-se alegre ao atravessar o jardim para entrar pela porta traseira do Hotel Brooke. O caminho coberto de hera era o seu preferido para entrar no edifício, porque ao chegar ao pátio oculto era difícil acreditar que ainda estava no centro de Londres, que o barulho e o bulício das ruas concorridas estavam tão perto.

No pátio, os ramos das árvores altas, que serviam de refúgio a todo o tipo de pássaros, atenuavam os sons da cidade. As abelhas zumbiam sonolentas em redor das flores e as joaninhas pousavam na pele e, às vezes, mordiscavam-na quando não olhava para elas. Naquela época, Sienna era uma mulher urbana, contudo, aquele lugar fazia-a lembrar-se da sua infância no campo, que agora lhe parecia outro mundo.

Adorava Brooke. Fora para lá que fugira, onde fora promovida e tomara a decisão, um pouco temerária, de trabalhar por conta própria, ainda que o hotel continuasse a proporcionar-lhe a maior parte dos seus trabalhos. Dedicava-se a organizar casamentos, festas de aniversário, lançamentos de livros e bar mitzvahs. O seu nome começava a ser muito conhecido nos concorridos círculos sociais de Londres. Para alguém de origem humilde e sem formação académica, até correra muito bem.

Se alguma vez parasse para pensar em como chegara àquele ponto… Bom, era exactamente disso que se tratava: nunca pensava. Pensar não servia para nada nem mudava nada. Na vida tem de se aprender com os seus próprios erros e ultrapassar as ocasiões más com a esperança de que as boas acontecerão em breve. E aconteciam, claro que sim.

Nesse dia, o balcão da recepção estava cheio de estrelícias deslumbrantes, misturadas com íris e açucenas. Era uma vista espectacular onde só destoavam as pessoas tímidas que tentavam passar despercebidas, mas esse tipo de gente não costumava alojar-se lá.

O dinheiro, o poder e um desejo ávido de algo «diferente» eram as forças que guiavam a clientela influente de Brooke: estrelas de cinema, empresários, a realeza… todas as pessoas importantes.

Todos iam à mansão do século XVIII transformada em hotel. Nunca havia quartos livres e os clientes pagavam bem pelo seu luxo e discrição.

Sienna subiu no elevador que levava às águas-furtadas. Ia ver o senhor Altair e, antes de conhecer um cliente, fantasiava sempre um pouco sobre o tipo de festa que ele quereria. Talvez uma festa temática, como daquela vez que Sienna montara uma tenda para recrear um circo francês e conseguira convencer o trapezista a não se ir embora indignado por não ser a estrela da festa.

Ou aquela ocasião em que enchera uma sala com mil rosas vermelhas, para uma das festas de noivado mais extravagante que alguma vez organizara.

Sienna sorriu. O seu trabalho requeria a capacidade organizativa de um general e a discrição verbal de um diplomático.

Quando as portas do elevador se abriram, um homem alto e de pele de cor de azeitona abriu a porta das águas-furtadas. Um sexto sentido devia tê-la prevenido, mas porquê? Com os seus olhos pretos e o fato caro, escondia com muita dificuldade a pistola no bolso superior do casaco. O homem parecia-se com qualquer outro guarda-costas estrangeiro, pessoas que via com frequência devido ao seu trabalho.

– Olá! – sorriu. – O meu nome é Sienna Baker e tenho uma marcação com o senhor Altair.

Uma expressão que não conseguiu identificar percorreu os traços impassíveis do homem, porém, ele limitou-se a assentir e empurrou a porta do apartamento para ela entrar. Afastou-se para a deixar entrar, contudo não a seguiu e, ao ouvir a porta fechar-se, Sienna sentiu-se inexplicavelmente inquieta, como se a tivessem prendido, apesar de ser impossível sentir agorafobia numa divisão tão grande como aquela.

Olhou à sua volta e sentiu-se ansiosa devido à acumulação repentina de sensações diferentes que invadiu a sua mente.

O impacto da luz que entrava pelas janelas enormes deslumbrou-a durante uns segundos e semicerrou os olhos, confusa, quando começou a sentir um cheiro familiar. O cheiro exótico atraía-a e, ao mesmo tempo, dava-lhe a volta estômago. Ela não sabia porquê.

Então, viu um homem de pé, completamente imóvel, que lhe virava as costas e cuja silhueta se recortava contra o horizonte de Londres. Era alto e moreno, magro e orgulhoso e parecia ter sido esculpido em pedra. Sienna sentiu que empalidecia quando o homem se mexeu, pois foi como se uma estátua ganhasse vida.

Respirou fundo, incrédula, quando o percorreu com o olhar, enquanto a sua mente protestava ao começar a registar cada pormenor: o cabelo preto e ligeiramente ondulado, os ombros largos, as pernas, a postura arrogante e autocrática. Não, por favor, não. Mas, então, o cheiro que invadia a suíte tornou-se mais atraente: não se costuma dizer que o olfacto é o sentido mais atraente?

Gemera ou emitira algum som? Fora por isso que o homem se virara? Sentiu falta de ar, enquanto murmurava uma oração sincera. Rezou como já não fazia há muito tempo, desde que rezara a um espírito misterioso, pedindo-lhe que a dor desaparecesse. Se ninguém a ouvira nessa altura, talvez a ouvissem agora.

«Que não seja ele, por favor, que não seja ele». Porém, o seu coração apertou-se quando o homem se virou para olhar para ela.

Hashim examinou-a com os seus olhos pretos, brilhantes e frios, enquanto sentia, com prazer apesar de tudo, a pontada intensa do desejo e se lembrava da entrega dela da última vez que a vira, o que fez com que o seu desejo aumentasse.

Durante muito tempo, privara-se daquele momento porque pensava que era capaz de o fazer, porém, no final, o desejo fora irresistível. Hashim desprezava a fraqueza que o fazia desejar Sienna, contudo ao mesmo tempo, aceitava-a. E tencionava saborear cada instante. Aquela mulher que o enganara ia pagar por isso e fá-lo-ia com o seu corpo.

O seu olhar de ébano brilhante parou na silhueta feminina para verificar se o tempo estragara a sua perfeição, no entanto, continuava tão firme e esbelta como um saluki jovem e prezado, o cão de caça de pêlo sedoso que as tribos da sua terra natal tinham em tanta estima.

Era difícil dizer o que a tornava tão desejável, porque o seu aspecto não era dos que estavam na moda. Era demasiado bela e curvilínea para o gosto da sociedade, mas tinha um corpo de sonho. E se se acrescentasse a sua inocência e sensualidade…

A sua inocência!

Hashim fez uma careta ao pensar até que ponto as aparências podiam enganar. Levantou o olhar para a cara dela. Tinha uma pele tão branca, observou com imparcialidade, com a qual contrastava o batom cor-de-rosa escuro. Ah, aqueles lábios! Uma das primeiras coisas que notou foi a careta que formavam de modo natural, que muitas mulheres tentavam conseguir, gastando milhares de dólares em cirurgia plástica.

Naquele momento, aqueles lábios tremiam sob o seu escrutínio e Hashim sentiu o desejo de esmagar a sua suavidade de pétala com os dele, duros e ansiosos de calor. Contudo, isso teria de esperar… a espera aumentaria ainda mais o prazer final.

– Sienna – murmurou, enquanto sentia um formigueiro entre as suas pernas.

A sua forma de dizer o nome dela transportou-a para um lugar sem limites e sentiu o seu coração partir-se ao olhar para o homem por quem pensava ter estado apaixonada.

Era bonito e ao mesmo tempo feio. Tinha um rosto único, definido por um contorno duro e os estragos da guerra. Um rosto exótico e estrangeiro. O nariz aquilino e a dureza da boca aumentavam a sua beleza e os olhos pretos e inteligentes pareciam despi-la lentamente.

Voltar a vê-lo fora uma situação que Sienna imaginara de forma repetida, ainda que já não o fizesse há muito tempo. Mas será que não era humano perguntar-se como reagiria se voltasse a vê-lo? À medida que passara o tempo começara a convencer-se de que a mulher destruída e chorosa dos primeiros dias fora substituída por outra segura de si própria que sorriria friamente e diria: «Hashim, já não nos víamos há tanto tempo!».

Estivera tão errada e fora tão estúpida. Como se uma mulher conseguisse olhar para um homem assim sem sentir uma onda de desejo. Mas outra emoção eclipsou o desejo: a cautela… ou seria medo? O que raios fazia aquele homem ali?

– Hashim – sussurrou, como se acordasse de um longo sono. – És mesmo tu?

– Sim, sou eu – o seu olhar duro gozava com ela e desfrutava da sua confusão como já não fazia há muito tempo. – Pareces surpreendida, Sienna.

– A surpresa é algo agradável – contradisse, num tom de voz hesitante.

Hashim arqueou as suas espessas sobrancelhas pretas em jeito de interrogação sardónica.

– E esta não é?

– Claro que não – passou a língua nervosamente pelos lábios para os humedecer e desejou não o ter feito, já que esse movimento atraiu o olhar escuro de Hashim como um íman. – Estou horrorizada, como qualquer um estaria.

– Não concordo. Muitas mulheres adorariam voltar a ver um homem que foi importante nas suas vidas, mas suponho que não é o teu caso.

Sienna pediu-lhe com o olhar que se calasse, mas ele não o fez e a sua boca dura imitou cruelmente um sorriso.

– Imagino que o passado volta constantemente para te incomodar de todas as formas possíveis, contudo, tu és a única culpada, querida. Se não escondesses tantos segredos desagradáveis, dormirias melhor – afirmou, enquanto fixava o olhar nos seus seios deliciosos, no entanto, a recordação da traição dela fez diminuir a intensidade do seu desejo. Fez uma careta. – Ainda que seja incapaz de imaginar que um homem te deixe dormir descansada à noite.

Talvez ele fosse a excepção. O idiota que a protegera e respeitara, que a apreciara como se fosse um objecto de porcelana delicado e de valor incalculável, que depois se desfez diante dos seus olhos.

Mas deixara de ser idiota… esses dias tinham passado e não iam voltar.

Sienna queria dizer-lhe que não olhasse para ela assim, mas sabia que, se o fizesse, ele intensificaria o olhar. Não era um homem que se pudesse contrariar ou dar ordens e nos seus olhos duros e escuros brilhou o perigo… Sienna engoliu em seco. Aterrorizava-a ter de lhe perguntar porque tinha medo da resposta que pudesse dar-lhe. Até que disse para si que se tratava de uma coincidência horrível e desgraçada, tinha de ser.

Seria? De repente, não tinha a certeza. Será que alguma coisa acontecia totalmente por acaso?

– O que fazes aqui, Hashim?

Este observou a facilidade com que ela pronunciara o seu nome. Ela estava tão pouco consciente da honra que lhe concedia ao deixá-la dizê-lo com tanta liberdade, quando a maioria das mulheres baixaria o olhar em sinal de respeito. Até as mulheres sofisticadas que conhecera na sua vida, e conhecera muitas, se sentiram sempre ligeiramente intimidadas com o seu poder e posição. Olhou para ela fixamente e, ao antecipar o que estava prestes a fazer, sentiu uma onda de prazer.

– Sabes perfeitamente porque estou aqui – repreendeu-a, com suavidade.

Durante uns instantes, a incredulidade deixou Sienna paralisada. A intenção sensual do olhar dele deixou-a gelada. Foi como se aquele olhar abrasador tivesse dado azo a algo que o seu corpo indefeso era incapaz de deter. Abanou a cabeça e tentou parar um calafrio de desejo furtivo e odioso.

– Não, não sei.

– Que vergonha, Sienna! Reages sempre assim quando tens uma reunião de negócios? Lembras-te que pago para que me organizes uma festa?

As suas palavras suaves e trocistas causaram-lhe um medo intenso e engoliu em seco para se livrar dele. Não queria ter uma reunião com ele, nem de negócios nem de nenhum outro tipo. Ele devia sabê-lo.

– Não – declarou, com toda a calma que conseguiu reunir. Ao abanar a cabeça, o seu cabelo abundante, que usava preso, esteve prestes a soltar-se. – Não me referia a isso e tu sabes.

Olhou em seu redor com desespero como se fosse acordar a qualquer momento e descobrir que todo o incidente fora um pesadelo assustador.

– Vim encontrar-me com o senhor Altair, não contigo.

Sorriu com frieza.

– Eu sou o senhor Altair, Sienna. Ainda não tinhas percebido?

O seu sorriso tornou-se ainda mais frio, apesar de o movimento dos seus cabelos lhe provocar um desejo irrefreável de lhe tirar os ganchos e soltar o seu cabelo para que caísse livremente sobre a nudez quente do peito masculino. E da sua barriga…

– Altair é um dos meus numerosos nomes falsos – continuou a explicar. – Certamente já o usava quando te conheci.

– Não – sussurrou Sienna, – não o usavas.

– Ah! Mudam tantas coisas com o passar do tempo, não é, Sienna? Pergunto-me o que mais mudou.

Sienna sentiu-se como se tivesse acordado num lugar desconhecido onde todas as regras de sobrevivência se modificaram. Sabia que tinha de recuperar o controlo não só de si própria, como também da situação. Já não era uma jovenzinha apaixonada por um homem e totalmente obcecada por ele que, quanto a experiência, estava a anos-luz dela. O homem errado, recordou com dor.

Fazendo um esforço, sorriu. Foi um sorriso compungido, de pessoa adulta.

– Olha, Hashim, suponho que agora que me viste terás mudado de ideias. Não vamos poder fazê-lo.

Os olhos do homem brilharam provocantemente.

– Ao que te referes exactamente? O que é que não vamos poder fazer, Sienna?

Não respondeu à provocação sexual. Se se mantivesse no plano profissional, talvez estivesse a salvo. Se deixasse que a conversa entrasse no terreno pessoal ou, pior ainda, no passado, correria perigo.

– O que fazes aqui? – perguntou-lhe, ainda com a vaga esperança de que as coisas não fossem o que pareciam. – Ficas sempre no Granchester.

– Talvez lá as lembranças sejam demasiado desagradáveis – respondeu, num tom de voz brincalhão. – Talvez o que este hotel oferece seja irresistível…

Voltou a pousar um olhar insolente de desejo nos seus seios magníficos.

– A tua fama cresceu na capital, Sienna – acrescentou, com suavidade.

Pensou que não se referia aos seus clientes satisfeitos. Não se tratava de um elogio, mas de um insulto velado que implicava… Sabia perfeitamente o que implicava. Sentiu falta de ar e inspirou para se acalmar.

– Suponho que não esperas que trabalhe para ti – declarou, em voz baixa.

– Para uma empregada, supões demasiadas coisas. Podes meter-te num boa confusão se não tiveres cuidado.

Sienna esquecera-se da mistura curiosa de antigo e moderno, pensamento progressista e ridiculamente antiquado que Hashim representava. Era um dos homens mais inteligentes que conhecera, portanto porque interpretava mal as suas reservas?

– Não sejas tão… burro, Hashim.

– Burro? – ergueu o queixo e semicerrou os olhos até serem apenas fragmentos de ébano. – Atreves-te a dirigir-te a mim, um xeque, desse modo?

No passado, nunca dera ênfase aos seus privilégios, mas também não precisara. Ela não se importara com a posição social dele, pois ao princípio nem sabia qual era. E quando soube, não se importara. Ou pelo menos era o que pensava, contudo, era apenas outra indicação de como estivera perdida. Porque é claro que se importara. E muito.

Capítulo 2

 

Não devia tê-lo conhecido, claro está, porque os seus caminhos eram muito diferentes e não estavam destinados a cruzar-se. Mas, às vezes, uma rapariga do campo ia viver para uma grande cidade e conseguia trabalhar como recepcionista num hotel muito elegante, que era um lugar onde podia conhecer um xeque quando ia a caminho do seu trabalho. Como acontecia nos contos de fadas. Às vezes, o conto de fadas tornava-se realidade, mas o que se esquecia com facilidade era que tais histórias tinham sempre um lado mau.

Sienna fora para Londres pelos motivos habituais… e por mais alguns. No meio de uma crise, precisara de dinheiro e de uma solução. Depois… precisara de esquecer. E a grande cidade, para além do anonimato, oferecera-lhe a oportunidade de ir mais além no seu trabalho e de viver sem pagar aluguer numa das zonas mais caras de Londres, um extra que compensara as horas longas que passara sem se relacionar socialmente.

A primeira vez que vira Hashim foi quando chegou ao hotel para fazer o turno de noite. Estava muito bom tempo e Sienna desfrutava do sol.

Vestia a roupa habitual, um vestido de Verão, o cabelo solto e caminhava com a energia inconsciente da juventude. Ia a fantasiar e não se apercebeu das pessoas que se agrupavam em torno da limusina de vidros opacos do Hotel Granchester, de fama mundial.

Então, viu um homem que saía do carro. Era alto, possuía elegância natural e vestia um fato de cor clara que fazia realçar a sua pele sedosa, que brilhava com reflexos dourados e contrastava com o preto dos seus olhos.

Entreolharam-se durante uma fracção de segundo e aconteceu o que tanto gostava de ver nos filmes antigos. Foi como se tivesse passado toda a vida à espera que aquele homem olhasse para ela com tanto interesse e intenção. Semicerrara os olhos quando um dos guarda-costas pôs um braço em frente dela para a obrigar a parar.

– O que está a fazer?! – protestou Sienna e o homem sorrira com dureza e dissera algo numa língua que ela desconhecia.

– Deixa-a passar – ordenou em inglês, como se estivesse a traduzir a ordem para ela.

E o guarda-costas resmungou e deixou-a passar. Sienna inclinou a cabeça.

– Obrigada – agradeceu e continuou a caminhar rua abaixo consciente de que aqueles olhos pretos a observavam. Sentia-os a queimar as suas costas, marcando-a com o seu poder estranho e exótico.

Umas semanas depois, o homem entrou no hotel e Sienna ficou paralisada.

Engoliu em seco. Tinha um aspecto tão radiante… tão diferente, como uma flor exótica numa jarra de flores brancas. Sienna observou que algumas das pessoas que estavam no hall olhavam para ele discretamente, enquanto as mulheres o faziam com menos discrição. E ali estavam os seus dois guarda-costas, sempre presentes, firmes como uma parede de tijolo, como se enviassem mensagens silenciosas para que ninguém se aproximasse dele.

A experiência fizera Sienna recear os homens, fora por isso que se surpreendera com a sua forma inesperada de reagir. Como nunca desejara alguém a sério, o desejo deixou-a emocionada. Não sabia o que dizer. Que falta de profissionalismo!

– Bom dia, senhor!

Hashim semicerrou os olhos. Era a jovem dos olhos verdes. Tinha um corpo excelente!

Estalou os dedos para indicar aos guarda-costas que permanecessem onde estavam e aproximou-se do balcão. Percebeu perfeitamente a impressão que causava nela quando olhou para ela na cara.

– Voltamos a encontrar-nos – replicou, num tom de voz suave. Tinha um tom de voz profundo. As faces de Sienna ardiam devido ao rubor, cada vez mais acentuado. O seu coração estava acelerado. Indicou o livro de reservas.

– O que deseja, senhor?

A parte mimada de Hashim queria sussurrar-lhe que desejava passar a tarde na cama com ela, contudo, o seu rubor inocente conseguira fazer com que, inconscientemente, a pusesse na categoria das mulheres que não seduzia descaradamente.

– Combinei um almoço com um dos hóspedes – esclareceu.

– Como se chama? – perguntou-lhe, enquanto olhava para a lista de reservas e se esforçava para parar de corar.

Disse-lhe o nome e observou o seu espanto, já que o político que ia ver era muito conhecido. Hashim sabia perfeitamente o que significava ter poder e contactos adequados.

– Espera por si na mesa, senhor. Acompanhá-lo-ei.

Levantou-se para lhe mostrar o caminho. Ela seguiu para o restaurante e pôde observá-la sem que percebesse.

Não era alta, mas ele gostava disso, porque achava que a mulher devia levantar o olhar para observar um homem e, embora tivesse as ancas estreitas, as suas nádegas eram tão curvilíneas como os seus seios, perfeitos para que umas mãos masculinas lhes segurassem.