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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Sara Orwig

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Paixão no limite, n.º 1293 - Agosto 2016

Título original: Pregnant at the Wedding

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8566-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Que estava ele ali a fazer? O momento que Ashley Smith temera, com que sonhara durante meses até convencer-se de que nunca chegaria, tinha, afinal, acabado por chegar.

Enquanto os noivos cruzavam a pista para a sua primeira dança naquele exclusivo clube de campo de Dallas, a satisfação de Ashley por a festa estar a correr tão bem desvaneceu-se. Além dos recém-casados, de pé, entre a multidão de convidados, encontrava-se o alto e moreno Ryan Warner. Precisamente o Ryan Warner milionário, proprietário da cadeia de hotéis Warner. O homem com quem passara um fim de semana de paixão selvagem quatro meses antes.

Ashley sentia o passado a abalroá-la e a cabeça a andar à roda. O seu primeiro instinto foi fugir mas, como organizadora do casamento, teria de permanecer ali para controlar o perfeito desenrolar do evento.

Apesar de possuída pelo medo, conseguia pensar em como Ryan era o homem mais bonito que alguma vez conhecera. Sentiu a cabeça a zumbir ao recordar a boca dele sobre a sua.

Nunca compreenderia o que lhe ocorrera naquele fim de semana, por que razão o encanto e atração dele a haviam levado a perder o controlo pela primeira vez na sua vida. Beijos quentes, mãos mágicas, sedução irresistível... as recordações de Ryan surgiram como clarões na sua mente. Recordou a sua forma de controlar tudo e o seu carisma fascinante. Depois de fazerem amor, ela sentira-se surpreendida e envergonhada com as suas próprias ações.

E ali estava ele, a uns metros dela na outra ponta do salão de baile, com um copo na mão. As mulheres sorriam-lhe enquanto ele observava os recém-casados a dançarem. De repente, Ashley teve consciência de si própria, do seu fato de linho amarelo pálido, da blusa de seda amarela e dos sapatos a condizer. Endireitou a saia e ajeitou o cabelo.

Não tinha visto o nome de Ryan na lista de convidados. Se soubesse que ele vinha, não estaria ali, teria passado o trabalho à sua assistente. Ryan era a última pessoa no mundo que queria encontrar. Felizmente, parecia que ele não a tinha visto. E Ashley esperava que continuasse sem dar por ela.

Faria o possível para tentar evitá-lo. Não queria retomar a sua relação com ele. Pelo menos, não antes de se sentir preparada. Embora ele não o soubesse, estava implicado no grande segredo que ela escondia à sua família.

Percorreu os convidados com o olhar outra vez. Com mais de um metro e noventa de altura, Ryan era fácil de localizar. Naquele momento dançava com uma bela morena, e, para alívio de Ashley, parecia completamente focado no seu par. Ashley esperava que tivesse vindo com aquela mulher e que em breve se fosse embora com ela.

Misturou-se com os outros convidados, olhando de vez em quando para Ryan enquanto percorria o salão assegurando-se de que tudo corria como o previsto: comprovou que os empregados apanhavam os copos vazios, que mantinham os pratos cheios e que os convidados se divertiam.

Enquanto se aproximava dos recém-casados sentiu-se mais calma ao ver que tudo parecia correr na perfeição e que o copo-de-água terminaria sem qualquer problema. Emily e Jake Thorne estavam radiantes e sorridentes. Pensou em como pareciam o casal perfeito: uma bonita noiva de cabelo castanho com um alto e bonito noivo de cabelo preto. Durante as primeiras fases de organização do evento, Emily confessara a Ashley que o seu casamento com Jake era apenas de conveniência. Ashley conseguira aplacar as dúvidas da sua cliente e, naquele momento, sentia-se orgulhosa de ter conseguido que aquele dia fosse algo sublime que recordariam para o resto das suas vidas.

Chegara o momento de cortar o bolo e, assim que acabou a dança, Ashley aproximou-se da noiva.

– É altura de cortar o bolo – indicou. – O fotógrafo está preparado e à espera.

– Obrigada, Ashley. Isto é maravilhoso! – disse, efusiva, Emily.

– Fico contente. A propósito, não me lembro de ter visto o nome de Ryan Warner na lista de convidados – acrescentou, num tom despreocupado.

– Ryan, Jake e o padrinho, Nick Colton, são amigos íntimos. Cresceram juntos. Ryan estava na Europa em negócios e disse que não poderia vir mas depois surpreendeu-nos esta manhã. E cá está ele. Conhece-lo?

– Cá está o fotógrafo – interrompeu-a Ashley sentindo-se novamente apreensiva. – Vai já para que te tire umas fotos maravilhosas! – afastou-se aliviada por todos os olhares estarem postos no casal.

Tinha a certeza de que não haveria nenhum problema com o fotógrafo e que o cortar do bolo decorreria sem incidentes, por isso dirigiu-se para a casa de banho para se recompor. Jake ainda tinha que lançar a liga de Emily e ela o ramo de noiva, mas pouco a pouco, a festa ia-se desenrolando. Terminaria em breve, mas não o suficiente para ela.

Quando Ashley se juntou aos convidados, a banda ainda tocava e os casais dançavam. Não viu Ryan e, esperançosa de que ele se tivesse ido embora, correu a investigar as mesas. Estava a olhar para a escultura de gelo em forma de cisne na mesa central quando reparou que uma mão lhe rodeava o pulso.

– Ora viva – disse uma voz profunda. E ela sentiu o coração parar.

Voltou-se e deparou-se com uns olhos verdes cheios de curiosidade e umas enormes pestanas pretas sob uma cabeça de cabelo ondulado da mesma cor. Uns olhos verdes suficientemente sensuais para lhe acelerarem a pulsação. Eram esses inesquecíveis olhos que podiam fazer estragos dentro dela.

– Que fazes aqui? – perguntou ele. – Conheces Emily e Jake?

– Sim. Fico contente por te ver – disse, procurando escapar-se, embora ele continuasse a agarrar-lhe o pulso, o que lhe permitiria reparar na sua pulsação acelerada.

– Dancemos – disse Ryan arrastando-a para a pista.

Estava vestido com um fato azul-marinho e uma camisa branca. Destacava-se logo entre os outros homens igualmente bem vestidos. Ashley suspeitou que se devia à aura de segurança em si mesmo e às suas impositivas maneiras.

– Hoje não posso dançar. Sou a organizadora do casamento e estou a trabalhar.

– Sabia que eras organizadora de casamentos, mas não que te tinham contratado para este.

– Quando trabalho, não danço – disse, puxando ligeiramente para trás enquanto caminhavam em direção à pista.

Não queria fazer uma cena, mas sabia que tinha que livrar-se dele.

– Tolices – disse Ryan sorrindo e rodeando-a com os braços.

Embora mantivesse a esperança de conseguir escapar-lhe, Ashley não pôde deixar de reparar na firmeza do seu queixo, nos proeminentes ossos das faces, no nariz rectilíneo e nos largos ombros. Recordava estes últimos com precisão: uns ombros musculados e um peito duro como uma rocha. Recordava com detalhe tudo o que se relacionava com ele enquanto corava e diferentes emoções se debatiam dentro dela.

Tinha que tirá-lo da sua vida e quanto mais depressa, melhor. As recordações dos seus beijos assaltavam-na enquanto percorria os traços do seu rosto com o olhar. Quando chegou à boca, ficou sem respiração.

– Fugiste de mim – disse ele, olhando-a nos olhos.

– Sim, bem, esse fim de semana foi um erro do qual me arrependi terrivelmente.

– Oh! Não parecias tão arrependida naquela altura – disse, perscrutando-a.

– Foi algo completamente anormal para mim. Nunca... nunca me perdi daquela maneira. A sério, estou a trabalhar e não me apetece nada falar sobre isso agora – replicou, esperando que a sua voz parecesse firme enquanto sentia a excitação a percorrê-la de cada vez que as pernas de ambos se roçavam.

– Estás tão bonita como eu me recordava – disse com voz profunda.

– A quantas mulheres disseste o mesmo recentemente? – perguntou ela. – Olha, tenho...

– Não. A receção corre sobre rodas e os noivos estão a adorar. Relaxa-te e vem dançar comigo. Anormal ou não, porque fugiste daquele modo?

– Já te disse.

– Então foi uma grande mudança de opinião, porque durante quarenta e oito horas divertimo-nos à grande – disse com voz ainda mais profunda. Ashley soube que estava a lembrar-se de quando tinham feito amor.

– Isso acabou-se – cortou.

Ashley perguntou-se para onde teria desaparecido a firmeza da sua voz e por que Ryan teria aquele potente efeito sobre ela.

– Não digas isso – murmurou ele. – Procurei-te, mas não há nenhuma Smith organizadora de casamentos na lista telefónica.

– Não tenho telefone fixo – disse ela, pensando em como estavam a comportar-se ambos tão civilizadamente.

Mas, ao mesmo tempo, debatia-se entre o desejo de beijá-lo e o de sair a correr.

– E, subitamente, o meu colega Jake contrata-te.

– Na verdade, trabalho para Emily.

– Pode ser, mas Jake sabia de ti. Nunca me tinha ocorrido perguntar-lhe pela organizadora do seu casamento. Não estou muito dentro do mundo dos casamentos.

– Deixaste isso bem claro no momento certo.

– Pelo menos tu não te esqueceste disso – sorriu.

– Isso é impossível – brincou ela e Ryan arqueou uma das suas sobrancelhas numa expressão indagadora.

– Por que tenho a sensação de que algo não está bem? – perguntou, olhando para ela de um modo tão intenso que Ashley ficou apreensiva.

– Porque é assim. Disse-te que estou a trabalhar e que não deveria estar a dançar.

– Não acho que seja por isso – disse, e Ashley afastou o olhar dele, considerando-o demasiado perspicaz.

Rodeou-a com mais força com o braço e puxou-a para ele.

Ela estava completamente ciente do contacto físico, do calor da sua mão, da outra mão no ombro enquanto se moviam juntos. Levantou os olhos, sentindo que cada vez que o olhava nos olhos, sentia o coração a bater mais depressa.

– Olha, a história desse fim de semana acabou – ele fê-la girar e levou-a a dançar até um canto. – Segui em frente com a minha vida – disse ela.

– Não costumo fazer as coisas desse modo – afirmou ele sem deixar de olhá-la fixamente. – Quero falar contigo – baixou a voz e aproximou-se mais dela.

– Tenho que...

– Pensava que ambos nos tínhamos divertido. Tinha a impressão de que te tinhas sentido tão bem e tão confortável quanto eu.

– Já te disse: nesse fim de semana perdi o juízo – repetiu, enquanto dava um passo atrás e aumentava a distância entre eles.

Mas, ainda assim, estava demasiado perto. As suas bocas estavam a poucos centímetros. Parte dela queria pôr-se em bicos de pés e beijá-lo e a outra sair a correr. A outra parte dela, a parte inteligente, queria afastar-se e, por isso, Ashley tentou concentrar-se em fazê-lo o mais rapidamente possível. Que tinha ele que conseguia destruir a sua fria lógica tão eficientemente?

– Acho que o tempo que passámos juntos foi fantástico. Pelo menos eu tive saudades tuas e procurei-te – insistiu ele.

– Lamento – replicou ela, recordando a razão pela qual queria evitá-lo e decidida a pôr um ponto final à conversa. – Lamento contradizer-te, mas vi fotos tuas... muito recentemente, com uma ruiva entre os teus braços. Não deves ter sofrido muito sem mim. Acabou-se. Talvez não estejas acostumado a ouvir estas coisas, mas enfia-o na cabeça de uma vez por todas.

– Dizes-me que acabou – respondeu, – mas que há de mal em retomar a relação? – voltou a agarrá-la pelo pulso e, mais uma vez, ela soube que ele sentiria a sua pulsação.

– Se isso te faz feliz, admitirei que, fisicamente, me sinto atraída por ti, mas agora tenho trabalho para fazer.

– Isto é desconcertante – disse ele, aproximando-se de novo. Ashley baixou os olhos e os seus sensuais lábios recordaram-lhe novamente os seus fantásticos beijos. – Consigo ver nos teus grandes olhos azuis que não te esqueceste daquele fim de semana. Não me parece que te arrependas tanto como dizes – acrescentou com suavidade.

– Oh, sim, arrependo-me – sussurrou sabendo que deveria ir-se embora dali.

Mas permaneceu, hipnotizada pelo seu intenso olhar. Ryan olhava para ela como se ela fosse a única mulher no mundo.

– Ok, agora estás a trabalhar. Quando isto acabar, vem jantar comigo e falaremos. Decerto poderás dedicar-me um pouco do teu tempo – disse com um sorriso.

Ashley ficou em silêncio, incapaz de mentir embora desejasse fazê-lo.

– Muito bem – disse ele interpretando o silêncio como um «sim». – Se pensasse que estou a ser um chato e que não me suportas, não insistiria, mas vejo que te falta tanto o ar a ti quanto a mim – a sua voz era como uma carícia. – Se não há mais nada, vamos jantar e logo veremos o que acontecerá.

– Não acontecerá nada.

– Não podes saber isso com toda a certeza. Deixa a minha imaginação dar-me prazer. Quando termina o teu trabalho nesta festa?

– Quando os noivos se forem embora. O meu ajudante está aqui e a equipa de limpeza sabe o que é preciso fazer.

– Fantástico! Portanto poderás vir comigo.

– Não vejo nenhum sentido nisso...

– Definitivamente, faz sentido – disse ele. – Faz-me incrivelmente feliz. Não podes fazer o meu ego em fanicos... – dirigiu-lhe um largo sorriso.

– Isso é impossível.

– Ah, acho que vi um laivo de sorriso – disse inclinando-se para olhá-la mais de perto.

– Já conseguiste o que querias – replicou ela.

– Só no que se refere ao jantar, há muitas mais coisas que quero.

Ashley respirou fundo. O efeito que ele tinha sobre os seus sentidos era, definitivamente, magnético. Não tinha nenhum controlo sobre a reação do seu corpo. Não compreendia as suas próprias reações. Ele era ao mesmo tempo tão autocrático e tão carismático...

– Tenho que voltar ao trabalho.

– Lembras-te do fim de semana que passámos juntos? – perguntou com suavidade. – Foi um dos melhores da minha vida.

– Foi há muito tempo – disse, bruta. – Volto ao trabalho – deu meia volta em direção à pista de dança. Ryan foi atrás dela e agarrou-a por um braço quando chegaram ao pé dos outros convidados.

– Tenho que ir ver como está a noiva – disse Ashley.

– Procuro-te quando se forem embora.

– Muito bem. Estarei por aí.

– Até parece que te vou levar para a prisão e não para um jantar – disse ele num tom leve embora olhando para ela intensamente e com uma expressão de curiosidade.

Ashley percebeu então que quanto mais tentava livrar-se dele, mais interesse ele lhe despertava.

– Acho que não estás habituado a que te digam que não.

– Tenho que reconhecer que sinto curiosidade em saber o porquê dessa recusa. Poderemos falar sobre isso depois. Vai fazer o que tens que fazer.

– Já vejo que se conhecem – disse Nick Colton juntando-se a eles e dirigindo-se a Ashley. – Já te vi a dançar com Ryan. Agora, gostaria de dançar eu contigo – ocupou o espaço que havia entre eles.

No momento em que Ashley estava prestes a declinar o convite, Ryan aproximou-se e passou-lhe um braço pelo ombro.

– Somos velhos amigos. Ashley, na verdade, não pode mesmo dançar quando está em trabalho. Não tiveste sorte desta vez.

Ashley tinha na ponta da língua uma objeção quando Emily lhe tocou o braço.

– Por favor, perdoem-me – disse, voltando-se para a noiva e desejando ter conseguido evitar que Ryan a tivesse convencido a irem jantar juntos.

– O fotógrafo perguntou-me se lanço já o bouquet – disse Emily.

– É o momento certo, portanto tira-me daqui que tenho outras coisas para fazer. Ryan não aceita bem as recusas.

Uma hora depois, Emily disse-lhe que ela e Jake se iriam embora em breve. Ashley pediu a Jenna Fremont, a sua assistente, que tomasse conta do resto e depois foi-se embora, perguntando-se se não estaria a cometer um grande erro.

Uma vez mais, fora provocada por Ryan. Nunca tinha fugido de ninguém antes e sentia-se mal num minuto e aliviada no minuto seguinte. Se ele realmente quisesse vê-la, sabia onde encontrá-la. Embora suspeitasse que outra fuga rápida conseguiria fazer com que ele perdesse o interesse. Os homens como Ryan não corriam atrás de mulheres que não queriam vê-los. Estavam habituados a que as mulheres corressem atrás deles.

Ashley passou a tarde, no seu exclusivo duplex, a pensar em Ryan. Não conseguia tirá-lo da cabeça e, em certo sentido, estava desapontada por não estar com ele.

Recordava claramente a excitação que sentira ao seu lado, tal como as razões pelas quais queria mantê-lo afastado.

Naquele domingo de manhã em que tinham estado juntos, Ashley tinha descoberto ao acordar que ele não estava ali. Enrolara-se numa toalha e fora procurá-lo, parando subitamente ao ouvir vozes. Estava a discutir com uma mulher.

Ashley sabia que ele era um milionário playboy, portanto a presença de uma mulher não deveria tê-la surpreendido. Mas, de repente, percebera quão estúpida tinha sido ao entregar-se a ele completamente nesse selvagem fim de semana. Vestira-se e recolhera as suas coisas. Enquanto ele continuava a falar, escapulira-se pela porta das traseiras, saíra do complexo de apartamentos e metera-se num táxi que tinha chamado pelo telemóvel. Não tinham voltado a ter contacto até... àquele dia.

Custou muito a adormecer e deu muitas voltas na cama. Quando por fim pegou no sono, sonhou que voltava a estar nos braços de Ryan. No dia seguinte, enquanto se ocupava das tarefas de última hora do casamento Carlisle-Thorne, não conseguia tirá-lo da cabeça.

O que quer que fizesse, Ryan estava sempre no seu cérebro.

Não tinham nada em comum. Ela era uma rapariga do campo que fora para a cidade à procura de trabalho. Mandava parte do dinheiro que ganhava para casa para ajudar a família porque o seu pai tinha problemas de saúde e tinham sofrido uma inundação no ano anterior. Também o seu irmão deixara a universidade para trabalhar na fazenda. O mundo de Ryan estava a anos-luz do seu. Era multimilionário, um homem feito por si próprio, que se movia nos círculos internacionais. Costumava andar sempre com uma mulher bonita e famosa e gastava rios de dinheiro.

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Ao pensar nessa grande festa, organizada num clube de campo de Dallas por uma organização de beneficência, Ashley recordou como tinha chocado com um garçom com uma bandeja cheia de taças de champanhe. Uns fortes braços tinham-na retirado do percurso da bandeja e, ao levantar os olhos, Ashley encontrara-se com os encantadores olhos verdes de Ryan. A atração fora instantânea e intensa. Apresentaram-se um ao outro, namoriscaram e ela sentira-se encantada com ele. No final, dissera aos seus amigos que não se iria embora com eles porque Ryan a levaria a casa. Tinham ido para o seu apartamento e passara dos seus braços para a sua cama. Entregara-lhe o seu corpo, explorara o dele e partilhara a sua vida, até lhe tinha falado da desesperada situação da sua família e de como ela os ajudava. Por que tinha sido assim tão aberta com ele? Seduzira-a e ganhara a sua total confiança.

Aborrecida consigo mesma, tentou deixar de pensar nele focando-se nos seus extratos bancários e em comprovar os débitos e créditos do último mês. Passou o cheque mensal para o pai, que incluía, como sempre, até ao último cêntimo que podia. Quando terminou, passou outra noite sem dormir antes de ir trabalhar na segunda de manhã.

Procurou concentrar-se no trabalho, teve uma reunião com um cliente, agendou entrevistas, falou com restaurantes e floristas. Passou o dia a distrair-se constantemente. Perdia o fio dos pensamentos e dava por si a olhar para o infinito, pensando em Ryan.

Não sabia nada dele desde o casamento de sábado e decidiu que teria seguido com a sua vida e que fora a última vez em que o vira. Era melhor assim.

Como era quase hora de fechar, saiu do escritório e foi até à secretária de Carlotta, a rececionista, para confirmar uma reunião. Carlotta estava ao telefone e Ashley afastou-se para esperar que acabasse de falar. Quando olhou pela janela, viu um carro desportivo preto a estacionar. A porta abriu-se e saiu Ryan.

Ashley ficou paralisada. Com umas calças azul-marinho, uma camisa branca e gravata da cor das calças, estava tão bonito como sempre. O vento agitava-lhe umas madeixas de cabelo pela testa e o seu passo rápido revelava confiança e decisão.

Ashley não queria um confronto com Ryan em público, por isso saiu para a rua o mais rapidamente possível. Sem prestar atenção ao brilhante sol, ao doce aroma das árvores em flor, ao incitante som da água dos aspersores de rega da relva, concentrou-se no passo do homem que se dirigia para ela. Levantou os ombros e caminhou para ele sabendo que tinha que convencê-lo de que era verdade o que lhe dissera no casamento.

Tinha que livrar-se dele. Ia ser difícil! Cada centímetro quadrado da sua pele queria estar entre os seus braços. Desejava os seus beijos e enquanto o via caminhar na sua direção, procurava reprimir a sua inclinação para sair a correr para ele e fazer o que quer que ele lhe pedisse.

Mas sabia que não podia fazer semelhante coisa e, enquanto o observava, sentiu a sua vontade a estilhaçar-se. Um dia, sabia-o, teria que dizer-lhe a verdade, mas não nos próximos tempos. Agora, queria levar a vida que tinha e não queria que alguém como Ryan interviesse nas suas decisões.

Apertou os punhos lembrando-se que tinha que permanecer firme. Ele não podia saber a verdade tão cedo. Estava grávida desde aquele fim de semana e queria manter isso em segredo durante o maior tempo possível. Deu um passo em frente para encontrar-se com ele, cruzou os braços e separou as pernas, preparada para o confronto.

– Que fazes aqui?