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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Shirley Kawa-Jump

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O presente do amor, n.º 1247 - Maio 2016

Título original: Miracle on Christmas Eve

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicadacom a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estãoregistadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7991-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Jessica Patterson estava farta do Natal.

Não queria comprar uma árvore que deixaria cair as agulhas por toda a casa, não teria uma grinalda festiva na porta, nem bandejas de biscoitos natalícios ou bonecos de neve com nariz de cenoura.

Estava cansada do Natal. Para ela, acabara-se o Natal.

– Onde está o fato de Pai Natal? – Mindy Newcomb, a sua melhor amiga e empregada na loja de brinquedos de que era proprietária há dez anos, apoiou-se no balcão. – Hoje é dia dezanove de Dezembro e ainda não o tiraste. A festa da vila é dentro de três dias e ainda não puseste enfeites na montra. Pode saber-se o que se passa?

Jessica dedicou-se a pôr os ursinhos de peluche brancos na banca do Pai Natal.

– Já te disse que este ano não quero saber do Natal. Tenho um bilhete para Miami, um frasco de protector solar com factor de protecção quarenta e cinco e um fato-de-banho novo. Não vou vestir o fato de Mãe Natal porque não vou estar cá.

– Pensei que te tinha passado – a amiga suspirou.

– Porque pensas isso?

– Esse mau humor… – Mindy fez um gesto com a mão. – Vá lá, Jessica, tu adoras o Natal.

– Antes gostava do Natal, agora não.

Quando o relógio deu as nove horas, Jessica atravessou a loja para pôr o cartaz de «Aberto» na porta e depois foi à caixa registadora para verificar se tinha trocos suficientes. Sabia que devia ter muitos trocos, particularmente agora que as crianças estavam de férias. As crianças de Riverbend entrariam em breve para gastarem o dinheiro da semanada em livros, lápis de cores e brinquedos de um dólar.

Mindy sentou-se num banco atrás do balcão e, quando Jessica se sentou ao pé dela, pôs uma mão no braço da sua amiga.

– Sei que o Natal foi difícil para ti desde que Dennis morreu.

Ela assentiu com a cabeça, tentando conter a emoção. Dois anos e, no entanto, continuava a parecer que acontecera no dia anterior.

– O Natal não é o mesmo sem ele – suspirou, olhando para as fotografias da parede, uma colecção de imagens de tempos felizes com o senhor Pai Natal e a senhora Mãe Natal… Jessica e Dennis Patterson.

Tinham começado a fazê-lo depois de se casarem, há quinze anos. Ao princípio, tinham de pôr enchimento nos fatos, mas depois, quando Dennis começara a engordar, deixara de ser necessário. E ficava bonito mais gordinho, como um urso de peluche.

Mas esses quilos a mais a oprimir o seu coração tinham sido o problema. Dennis nunca lhe falara dos avisos do médico e decidira ignorar a bomba relógio que tinha no peito porque adorava ser o Pai Natal. Adorava a sua vida. Dennis era um homem feliz e as questões sérias não lhe interessavam.

E adorava isso no seu falecido marido… até se aperceber de que fora precisamente essa negligência que custara a vida ao homem que amava.

Todos os anos, vestiam-se de Pai e Mãe Natal, felizes por verem os sorrisos das crianças enquanto posavam para as fotografias e entregavam brinquedos e rebuçados, organizando um verdadeiro espectáculo na festa anual da vila de Riverbend. Até tinham construído um trenó e uma casinha para o Pai Natal… Bom, um barracão decorado no parque, onde as crianças pediam os presentes que queriam encontrar sob a árvore de Natal.

Quando Dennis morrera com quarenta e oito anos, deixando-a viúva com trinta e sete, Jessica seguira em frente com o espectáculo durante mais um ano, em memória do seu marido e em honra das crianças que tanto amava. Mas as crianças tinham crescido e as que vira durante os últimos anos não se pareciam nada com as dos postais de Natal.

Jessica desviou o olhar das fotografias.

– Deixou de ser divertido para mim há muito tempo. Além disso, perdi o espírito natalício quando Andrew Weston destruiu o meu boneco de neve.

– Era uma criança. Foi apenas uma partida infantil.

– Pintou-o de verde e pendurou-o num carvalho do parque. Disse que estava a devolvê-lo à natureza ou não sei o quê. E depois essa Sarah Hamilton… não gosto de falar mal das crianças, mas essa criança sabe como me tirar do sério.

– É um bocadinho…

– Malcriada – acabou Jessica. – E não é uma palavra que eu use com frequência.

– Sofre muito, Jess. Perdeu a sua mãe há dois meses.

Jessica suspirou, sentando-se no outro banco.

– Eu sei. E, além disso, parece-me que não tem mais família. Está a viver com a ama e não penso que seja muito agradável para ela.

Sarah costumava passar pela loja depois da escola e dedicava-se a fazer perguntas, procurando a sua atenção a todas as horas, sobretudo quando havia mais gente. E se não pudesse atendê-la, tinha um chilique.

– Se tivesse um pai… – Mindy cerrou os dentes, zangada. – Mas Kiki nunca disse quem era.

– Era uma pessoa estranha, não era?

Jessica pensou na mãe de Sarah, a empregada do único café da vila, que pintava o cabelo de uma cor diferente dependendo do seu estado de espírito. Dura e directa, Kiki chamava a atenção em Riverbend como um tubarão num tanque de peixes às cores.

Ter Kiki como mãe explicava muito sobre o comportamento da menina. E conhecera-a o suficiente para saber que as palavras «horário» e «disciplina» não faziam parte do seu vocabulário. Para uma mulher como Jessica, que passara três décadas a viver segundo um horário estabelecido, a vida de Kiki não era apenas fora do comum, era uma loucura.

– Sarah teve uma vida muito difícil – recordou-lhe Mindy. – Primeiro, uma mãe como Kiki e agora fica órfã de repente…

– E eu devia sentir mais compaixão por ela – Jessica suspirou, sentindo-se culpada. – Mas este ano não tenho paciência, não sei o que se passa. Cada vez que entra uma criança na loja, fico com os nervos em franja.

– Mas gostas de crianças.

– Sim, sim. Mas as crianças de agora não são as de antes, Mindy. Já não acreditam nas coisas em que nós acreditávamos. As crianças de hoje…

– Usam piercings e tatuagens – a sua amiga riu-se.

Jessica riu-se também, mas a sua gargalhada não estava cheia de humor. Era seca e agridoce, com o desejo de dias passados. Tinha saudades da paciência de Dennis, da sua compreensão, do seu amor pelo Natal. Ele fora o Natal para Jessica. E vestira-se de Mãe Natal no ano anterior para honrar a sua memória, mas ela não tinha a habilidade de transformar essa época do ano em algo mágico.

– Sim, Dennis e eu dizíamos sempre que, quando deixasse de ser divertido, seria o momento de guardar o fato vermelho.

Jessica pôs a mão atrás da caixa registadora e tirou o folheto que lhe tinham dado na agência de viagens naquela manhã. Até Olive, a dona, olhara para ela com cara de desilusão enquanto lhe dava o bilhete para Miami, mas Jessica estava totalmente decidida.

– É aqui que tenho de estar este Natal: areia branca, ondas suaves, empregados muito bonitos a servirem-me piña colada… – murmurou, apontando para a fotografia daquele paraíso. – E o melhor de tudo é que não aceitam crianças no hotel.

– Mas tu adoras as crianças e o Natal.

Jessica abanou a cabeça, recusando-se a deixar-se convencer. Não, ela não queria disfarçar-se de Mãe Natal e distribuir rebuçados naquele ano. Os adultos de Riverbend sentiriam a falta do entretenimento na festa, mas Jessica tinha a certeza de que as crianças não se importariam. A vila parecia ter perdido o seu espírito natalício… ou talvez fosse ela.

Em qualquer caso, fazer de Mãe Natal não estava na sua agenda naquele ano. Talvez nunca mais estivesse, especialmente sem o Pai Natal ao seu lado.

– Tomei uma decisão e já tenho a mala feita. Vou-me embora depois de amanhã.

Mindy revirou os olhos.

– E não posso convencer-te de maneira nenhuma a seres a Mãe Natal mais uma vez?

Jessica pôs uma mão na da sua amiga, olhando para ela nos olhos.

– Querida, não seria a Mãe Natal outra vez, mesmo que o próprio Pai Natal viesse do Pólo Norte e mo pedisse de joelhos.

 

 

C.J. Hamilton só tinha um propósito para a sua visita a Riverbend, no Indiana: dar à sua filha, Sarah, o melhor Natal da sua vida.

Mesmo que ela não quisesse.

Com esse fim, comprara um monte de presentes e estava firmemente decidido a passar umas festas que a menina nunca esqueceria.

Embora não soubesse o que estava a fazer, pois o Natal não era precisamente o seu forte. Ele tinha tanta experiência com o Natal como a maioria das pessoas com as corridas de camelos. Mas tinha uma menina que precisava de um milagre e era motivação suficiente.

O problema? Mal conhecia Sarah e ela não o conhecia. Da última vez que a vira tinha três dias de vida e, dadas as circunstâncias, C.J. pensara que a sua decisão de se ir embora era a melhor para todos.

Na verdade, fora a única decisão possível porque Kiki, na cama do hospital, lhe dissera que ele não era o pai da menina.

De modo que ficara perplexo quando o advogado o localizara na Costa Rica na semana anterior para lhe dizer que Kiki morrera num acidente de viação… e que lhe mentira sobre a paternidade da menina.

C.J. era o pai de Sarah e esperava-se que fosse buscar a sua filha, criasse uma família instantaneamente e tirasse um problema das mãos do advogado.

C.J. começara por telefonar a Sarah, pensando que fazer o papel de pai seria relativamente fácil. Mas a menina não quisera falar telefone. Telefonara-lhe duas vezes durante a sua viagem desde a Califórnia até ao Indiana e nas duas vezes ficara muda.

Depois, quando passara pelo apartamento de LuAnn para a ver, Sarah escondera-se, recusando-se a falar com ele.

– Talvez se lhe comprares um presente… – sugerira LuAnn, a ama, que estava a cuidar temporariamente de Sarah enquanto o advogado procurava os seus parentes. – É uma menina encantadora, mas tem de se habituar a ti.

Uma menina encantadora que já deixara bem claro que não queria tê-lo como pai.

C.J. parou a carrinha à frente da loja de brinquedos de Riverbend. Na montra havia um cartaz que dizia: Casa da Mãe Natal.

Perfeito.

Aquela loja, tinham-lhe dito, era onde era o Natal em Riverbend. E, pelos vistos, era um dos lugares favoritos de Sarah.

– Fala com Jessica Patterson – dissera-lhe LuAnn. – De certeza que ela pode ajudar-te.

C.J. contava com isso. A sua experiência com um Natal feliz era nula, de modo que precisava de um perito.

Quando abriu a porta da loja de brinquedos, o som de uma campainha anunciou a sua chegada…

E ficou pasmado. Aquela loja de brinquedos devia ser o sonho de qualquer criança. Repleta de todos os brinquedos imagináveis e decorada com as cores do arco-íris, tinha até um palco para o Pai Natal com duendes, alces de peluche, trenós… e até uma vila do Pólo Norte pintada numa das paredes. Era um lugar mágico.

Os seus olhos, treinados em Hollywood, repararam nos detalhes e na imaginação do desenho. Era lógico que Sarah adorasse aquela loja. Se ele tivesse menos vinte anos, também passaria o dia ali.

– Estamos prestes a fechar – declarou uma voz feminina.

C.J., que tinha um caleidoscópio na mão, virou-se.

– Não vim para comprar nada. Estou à procura de Jessica Patterson.

– Já a encontrou.

Ele levantou o olhar… e ficou perturbado.

Se aquela era a mulher do Pai Natal, teria de voltar a ler algumas histórias de Natal. Jessica Patterson era alta, de cabelo loiro comprido e olhos verdes. Tinha uns lábios generosos e um corpo voluptuoso.

E não parecia ser alguém nascido na zona mais fria do planeta.

– É a mulher do Pai Natal?

– Só no Natal – disse ela, rindo-se, enquanto lhe oferecia a sua mão. – Mas já não.

C.J. apertou a mão feminina, tão suave, e decidiu que não havia nada frio naquela mulher.

– Já não?

– Oficialmente, pendurei o fato de Natal este ano. Mas se precisar de um urso de peluche ou de uma boneca…

– Não, preciso de si – interrompeu-a ele.

Não ia ganhar o coração de Sarah com um brinquedo, precisava de uma coisa muito maior. E, segundo LuAnn, não havia ninguém melhor para isso do que «a Mãe Natal», pelo menos em Riverbend.

Mas ela recuou, olhando para ele como se fosse um psicopata.

– Precisa de mim?

– Num sentido profissional.

– Lamento, mas não…

– Tem de o fazer. Encomendei uma rena e tudo… – C.J. ficou calado, pensando que devia parecer um demente. – Espere, deixe-me começar outra vez: o meu nome é Christopher Hamilton, também conhecido como C.J., o mago da construção de cenários – depois, virou-se para apontar para uma carrinha estacionada na rua, com um letreiro vermelho num dos lados.

– E porque é que um mago da construção de cenários precisa da Mãe Natal? Eu não faço filmes, se é a isso que se refere.

– Não, não vim por uma questão de trabalho. Vim por causa da minha filha. Tenho de organizar um Natal espectacular para ela.

– Leve-a a um centro comercial, sente-a nos joelhos do Pai Natal e depois compre-lhe todos os presentes que pedir – Jessica virou-se para pôr caixas de jogos numa estante.

Mas C.J. não podia esperar que separasse o Scrabble do Monopólio.

– Disseram-me que era a pessoa que tinha de ver para resolver o assunto do Natal. E garanto-lhe que preciso de si.

E, naquele mesmo instante, porque tinha uma filha para conquistar e uma mudança de vida enorme para fazer.

– Pode encontrar isso em qualquer outro lugar, senhor… Como disse que se chamava?

– Hamilton.

Jessica virou-se e olhou para ele com curiosidade.

– É o pai de Sarah? Mas eu pensei…

A maioria das pessoas que encontrara na vila, desde o supervisor da bomba de gasolina, que lhe dissera como chegar à casa de LuAnn, até ao porteiro do edifício de Kiki, olhara para ele de cima a baixo ao dizer quem era, pensando automaticamente que era uma figura paterna lamentável.

– Vim buscar Sarah e é isso que conta, não é?

– Sim, sim, claro.

– A única coisa que ela quer e o que merece mais do que qualquer outra coisa é um Natal inesquecível.

Não mencionou que ele não tinha nenhuma experiência, que a sua filha não falava com ele e, que, segundo LuAnn, a melancolia da menina aumentava cada dia ou que esperava que esse Natal o ajudasse a criar uma ponte entre a sua filha de seis anos e ele. Um milagre em todos os sentidos.

– Sarah nunca teve um Natal a sério e eu quero que tenha um. Pode ajudar-me?

A mulher hesitou, passando a mão pela tampa de um dos jogos para evitar o seu olhar.

Jessica Patterson tinha razão. Podia levar Sarah a um centro comercial, mas ele queria criar lembranças ali, na vila onde a sua filha crescera sem ter um Natal como as outras crianças. Queria dar a volta à situação, demonstrar-lhe que havia um arco-íris por trás de todas aquelas nuvens negras.

E se pudesse fazer um milagre, então, talvez houvesse alguma esperança de ser o pai de que a menina precisava.

Porque tinha muitos anos de ausência para compensar entre aquele dia e o dia vinte e cinco de Dezembro.

E para isso, suspeitava C.J., ia precisar de muito mais do que de uma loira com um fato vermelho.