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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1997 Elizabeth Power

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A esposa rebelde, n.º 847 - Janeiro 2016

Título original: The Disobedient Wife

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7896-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– E agora vamos esclarecer isto!

Jarrad afastou-se da janela. A irritação brilhava no seu olhar e distorcia a surpresa dos seus traços belos e enérgicos. Um rosto pelo qual Kendal se tinha apaixonado perdidamente há quase três anos. Só que tinham acontecido muitas coisas, disse para si mesma com amargura, e ergueu a cabeça para o confrontar, mostrando umas feições delicadas e vulneráveis.

– Saíste da minha vida há quase um ano. Desapareceste durante seis meses, sem deixar rasto, sem que eu pudesse saber onde é que te tinhas metido nem o que andavas a fazer, e agora apareces aqui tão calma para dizer que te vais embora novamente, para fora do país, e que levas o meu filho! Muito bem, Kendal, lamento, mas a resposta é não. Um não definitivo e categórico!

A tensão apoderou-se das vísceras de Kendal, enquanto se voltava para a janela para contemplar o trânsito daquela ensolarada manhã de Junho, sete andares mais abaixo.

Do outro lado das práticas e eficazes janelas duplas, a cidade de Londres agitava-se no seu bulício diário. O homem que permanecia voltado de costas também era prático e eficaz. Era o homem a quem pertencia, não somente a Third Millennium Systems International, uma das principais empresas de software para computadores, mas também o edifício em que se situava a sede no qual ambos se encontravam agora. O mesmo homem que até há um ano atrás tinha julgado ser também o proprietário de Kendal Mitchell.

E ela continuava sem forças para se negar a usar o seu apelido. Proprietário dela e do filho de ambos, Matthew.

– Parece-me que te estás a esquecer de qualquer coisa, Jarrad. Quer queiras quer não queiras, Matthew é filho dos dois – disse Kendal, com voz calma, que ocultava os nervos que se apoderavam dela só por ter de enfrentar Jarrad. As feições sombrias dele, sempre severas, pareceram-lhe amedrontadoras quando voltou a olhar para ela. A testa firme e elevada, sob o cabelo preto e o aristocrático nariz, impregnaram-se da determinação férrea que parecia transmitir o seu queixo.

– Fico contente por me recordares isso – aquela voz profunda, que um dia tinha prendido Kendal mediante o poder da sua sedução, daquela vez só albergava sarcasmo. – Tinha a impressão de que pensavas que eu não tinha sequer direito de ver Matthew, já para não falar de ter algo que dizer sobre o seu futuro. O que andaste a fazer durante todo este tempo? Onde é que estiveste? – perguntou, dando a volta à sua secretária e indo apoiar-se na borda, em frente a Kendal.

Sem se atrever a respirar para que não houvesse nenhum toque acidental com o corpo de Jarrad, Kendal recusou pôr-se para trás no seu lugar, tal como o seu instinto lhe pedia para fazer.

– Precisava de uma pausa; tinha que ir embora – e, para si: «Raios partam! Por que é que deixas que te exija justificações?». – Fui para a Escócia.

– Em trabalho?

– Não.

Jarrad elevou as suas sobrancelhas espessas num gesto de cepticismo quase brincalhão.

– Então o mundo da decoração teve que passar sem ti durante uma temporada?

Kendal não respondeu: estava farta de saber o que ele pensava a respeito do seu trabalho. Não tinha sido esse o seu principal cavalo de batalha?

– E porquê a Escócia? – perguntou ele.

Com indiferença fingida, apesar de se sentir como uma adolescente no gabinete do director, Kendal encolheu os ombros.

– E por que não?

– Responda à minha pergunta!

Kendal perdeu a capacidade de respirar por uns instantes. O que podia dizer?: «Porque, se conseguisses descobrir onde estava, não me terias deixado descansada?» «Porque estou farta de saber que, se tivesses insistido, eu teria regressado, incapaz de resistir?» Era essa a única razão pela qual aceitara a oferta que lhe fizeram para trabalhar nos Estados Unidos: afastar-se dele, perante o temor de sucumbir face ao seu demolidor poder sexual.

A nota imperiosa que havia na voz de Jarrad apressou-a a responder:

– Era o sítio mais afastado de Londres que me ocorreu, no qual podia estar sozinha durante um tempo, e onde podia pensar.

– E, agora que já pensaste, decidiste que queres empregar o teu grande talento na terra das oportunidades e criares nome no Novo Mundo, sem renunciar a Matthew, não é isso, querida?

Sob o sorriso de Jarrad não havia mais a não ser pura e mal disfarçada ameaça.

– Não, eu… – ouvindo-o, qualquer um diria que a única coisa que contava para ela era o dinheiro.

– Vamos, não sejas modesta, querida. Se mal me recordo, os clientes faziam fila para que os atendesses. Julgo recordar que passavas o dia inteiro ao telefone.

– Eu não diria tanto – pronunciou ela em sua defesa e em defesa do modesto negócio que tinha tentado montar ao longo das últimas semanas, compridas e dolorosas, do seu casamento. – E não se trata somente do dinheiro – sentiu necessidade de acrescentar. – Se o dinheiro me fizesse falta, podia ter ido ter contigo.

– Sim – disse ele, e o seu peito amplo expandiu-se sob a camisa imaculada. Kendal deduziu que o suspiro do marido era um audível sinal da sua recriminação, já que ele sabia bem que aquilo era a última coisa no mundo que ela faria. – Porém, há mais alguma coisa, não é assim, Kendal? É também a tua obstinação por ser independente, por chegar ao topo a todo o custo.

– Não é a todo o custo. E, de qualquer forma, qual é o problema de eu ter ambições? – Kendal podia perceber de novo como as velhas discussões voltavam a aflorar. – Tu não as tens?

– Isso é diferente.

– Porquê? Porque eu era esposa e mãe?

– Que eu saiba, ainda o és! – replicou, zangado.

– Suponho que isso significa que o meu lugar é na cozinha e na tua cama.

– E o que isso tem de mau? Pelo menos, em metade do tempo!

– Deixa-me rir – foi o que pôde responder-lhe, para não lhe atirar à cara que ela tinha estado sempre lá, que tinha sido sempre sua, de corpo e alma, e que teria continuado perdidamente apaixonada por ele, mesmo sem o êxtase devastador a que Jarrad estava habituado a transportá-la. Sua para sempre, até Lauren aparecer.

Por um instante, reparou nos olhos de Jarrad, como se fossem dois pequenos raios laser que atravessassem a fina camada da sua compostura. Tinha-se-lhe soltado uma madeixa do cabelo, tão cuidadosamente penteado. Apressou-se a colocar a madeixa rebelde atrás da orelha, com os dedos trémulos, sem deixar de reparar naquele olhar de fera que seguia cada um dos seus movimentos, ao mesmo tempo que as altivas fossas nasais se dilatavam, como que a tentar reconhecer o seu perfume.

Um sorriso breve curvou a boca de Jarrad com uma sensualidade devastadora, enquanto que ela ficava com os nervos em franja ao recordar a frequência com que aquela expressão tinha precedido noites de êxtase sem fim, entre os seus braços.

– Apareces aqui, com o aspecto de uma modelo, ensopada desse perfume da Givenchy, vestida com a cor que sempre te disse que te ficava melhor. O que pretendes, querida? – o sorriso tinha desaparecido. – Amainar-me? Lembrares-me do que perdi durante todos estes meses e conseguir que aceda ao teu absurdo e, se me permites dizê-lo, tipicamente egoísta pedido?

Claro que não ia deixar que Matthew ficasse por cima dela.

Kendal levantou a cabeça, desafiante:

– Alguma vez tive o poder de te acalmar, Jarrad?

O homem afundou as mãos nos bolsos. Aquilo conduziu o olhar dela para o seu firme abdómen e para a dureza das suas coxas, perceptível através das calças do fato caro que vestia.

– Tu deverias saber – disse ele e, por um instante, houve algo premente e opaco, que escureceu o habitual brilho vivaz do seu olhar. – Embora eu não falasse precisamente de «amainar» para descrever a minha resposta aos teus estímulos.

O coração de Kendal ganhou um ritmo enlouquecido ao mesmo tempo que a cor cobria a palidez das suas faces.

– Tinhas que dizer algo desse estilo, não era? – recriminou-o, pondo uma distância prudente entre a sua poderosa masculinidade e ela.

– E por que não? – perguntou com um tom brincalhão e desumano. – Acho que era a única coisa que funcionava entre nós.

– Não, enganas-te! – Kendal queria esquecer, negar, pelo menos a si mesma, que sempre apreciara fazer amor com aquele homem. – A única coisa que partilhamos é o Matthew.

– Ah, sim… o Matthew – Jarrad endireitou-se e afastou-se da mesa. Deixava-a louca. A sua compleição atlética e atitude convincente nunca tinham falhado na hora de a deixar sem fôlego, e também não iam falhar naquela vez. Por um momento, Kendal ficou indefesa.

– Tens que me deixar partir.

– Porquê?

O perigo reflectia-se naquele olhar frio e escrutinador; o pânico transpareceu atrás dos olhos de Kendal, de uma estranha tonalidade de verde.

– Não te estou a impedir.

– Sabes ao que me refiro – Kendal apercebeu-se que estava prestes a suplicar. – Refiro-me ao Matthew. Tens que me deixar levá-lo.

– Não! – a violência genuína daquela resposta fê-la encolher-se. – Não tenho que fazer nada – recordou-a, com uma cruel suavidade que a intimidava.

– Então terei que deixar passar a oportunidade do contrato que me oferecem, somente porque tu queres levar a tua avante?

Kendal olhou para ele enquanto voltava para secretária e se sentava, como se estivessem a discutir sobre um assunto banal.

– Eu não diria que desejar que o meu filho permaneça onde eu possa participar directamente na sua criação, seja levar a minha avante – disse, brincando com a esferográfica de ouro que usava sempre, que lhe oferecera há dois anos atrás, quando fez trinta e dois anos. – Podes partir sem ele.

Ela susteve a respiração.

– Sabes que não farei tal coisa – disse aproximando-se da secretária.

– Eu sei.

Por incrível que pudesse parecer, Jarrad baixara a cabeça escura, como se estivesse concentrado, e começou a escrever. Kendal disse para si que devia tratar-se, provavelmente, de algum recado para a secretária. Aquilo fê-la sentir-se transbordar de frustração, até ao ponto em que, sem poder controlar-se, arrebatou o papel a Jarrad, enrugou-o e atirou-lho à cara.

– Selvagem!

Kendal gemeu quando a agarrou pelo pulso e, retorcendo-a, obrigou-a a aproximar-se dele, por cima da mesa.

– Sim, mas nós os dois já sabíamos, não é verdade? Certamente foi essa a razão pela qual te casaste comigo!

Apesar das sensações turbulentas que a invadiam, do contacto com aqueles dedos duros com que a humilhava, Kendal desatou a rir.

– Ah, claro! A crueldade e a brutalidade fascinam-me! Não te estarás a enganar com a razão pela qual fui embora?

Kendal tentou libertar a mão, porém, só conseguiu que lhe soltasse o elástico do cabelo, deixando que muito ondas avermelhadas se derramassem sobre os seus ombros.

– Óptimo, é assim que eu gosto de ti – resmungou, com fria aprovação: – Despenteada, alterada e desprovida de todos esses ares que te dão! Talvez agora não te importes de me recordar por que é que me deixaste, Kendal. E não me tentes enganar: contigo fui sempre muito terno… salvo quando tu desejavas que me comportasse de outra forma.

Precisou de todas as suas forças, mas finalmente conseguiu soltar-se. Toda a feminilidade do seu ser vibrava ao recordar até que ponto aquele homem podia ser terno.

– Ser tua prisioneira e vítima da tua infidelidade, não achas suficiente? Tu pretendias que a tua mulherzita ficasse em casa, enquanto tu tinhas uma aventura com Lauren Westgate! Só que não foi tão discreta como tu desejavas, pois não? O Ralph descobriu e, por isso, teve que partir. Foi por isso que o despediste!

A cadeira ampla da secretária rangeu sob o peso de Jarrad quando este se chegou para trás.

– A minha relação com Lauren não teve nada a ver com o teu cunhado ter deixado a empresa – disse, com uma careta nos lábios.

– Tretas! – exclamou, com dor. Tinha sido como acrescentar a injúria à ofensa, quando Jarrad tirou da empresa o marido da sua irmã. O amável e tranquilo Ralph, a quem tanto custara a ceder aos seus pedidos para que lhe confirmasse o que ela já suspeitava que se passava entre Jarrad e a sua maravilhosa directora de vendas. E a injúria transformou-se numa ferida aberta, que nunca tinha sarado, e cujas cicatrizes nunca desapareceriam, ao transformar-se em testemunha dos desastres que a acção de Jarrad trouxe ao casamento da irmã, que perdera o bebé que esperava. Depois, chegaram os problemas económicos, Ralph acabou por perder a sua própria auto-estima, e o casamento acabou por se desmoronar.

– E, como Kendal Mitchell já formou uma opinião, nada que eu lhe pudesse dizer o faria mudar de ideias, não é assim? – perguntou Jarrad, com rudeza.

«Tenta! Dá-me alguma prova de que nunca houve nada entre ti e Lauren!», desejava gritar o seu coração ainda apaixonado, apesar de ele nunca se ter esforçado por mostrar alguma prova. Nem sequer o fizera quando a perseguira, nos primeiros seis meses depois de ter partido, exigindo-lhe que voltasse, pelo bem de Matthew. Embora Jarrad não tivesse dito, explicitamente, que era pelo bem do filho, sabia bem que era essa a única razão pela qual o tinha pedido.

– Tens razão! Nada me poderá fazer mudar de opinião – gritou. De seguida, virou-se para se afastar dali antes que as lágrimas de frustração, que sentia aflorar nos seus olhos, a humilhassem diante dele.

– Kendal!

O tom imperioso da sua voz fê-la virar a cabeça por cima do ombro.

– Falo a sério. Se aceitares esse trabalho nos Estados Unidos, partes sozinha.

– E se não o fizer? – perguntou, desafiante.

– Lutarei pela sua custódia.

Kendal mordeu o lábio inferior.

– Não serias tão insensível – murmurou.

– Põe-me à prova e verás.

– Não ta dariam.

– Por que não? – a boca torceu-se para um lado, num gesto duro e cruel. – Um marido que prende a mulher e infiel – disse, usando as mesmas palavras com que Kendal o tinha definido – não é um mau pai, segundo as leis inglesas.

Tinha razão. Empregaria todas as suas forças e influências para levar a sua avante. Ela sabia, por experiência própria, que Jarrad Mitchell conseguia sempre o que queria.

– Desaparece! – exclamou ela, voltando-se, enquanto combatia interiormente com a explosão de pânico.

– Não, querida. Isso é a tua prerrogativa – ouviu a voz brincalhona de Jarrad atrás dela. – Mas, não te esqueces de me dar algo?

Kendal parou sobre os seus passos e voltou-se para ele com o sobrolho franzido.

– A tua morada – completou, desprovido de emoção. Depois hesitou, para acabar por acrescentar. – A menos, claro está, que prefiras dá-la ao meu advogado.

Falava a sério!

Ao vê-lo levantar-se, o desejo de Kendal teria sido cravar as suas unhas bem arranjadas no seu rosto arrogante. Ele, claro, tinha acertado ao dizer que ela pretendia comovê-lo, porém, isso só revelava a sua própria ingenuidade. A única coisa que Jarrad Mitchell exercia era controlo.

«Pois muito bem», pensou ela enquanto procurava na sua pequena mala verde uma pequena caderneta. «Muito bem: vou aceitar o teu desafio e, desta vez, vou ganhar!». Mesmo assim, aquele estado de espírito encerrava sérias dúvidas e não pouco temor. Arrancou uma folha da caderneta e atirou-a em direcção ao marido, sem ter consciência da fria diversão deste ao contemplar como a folha voava até debaixo da secretária, impulsionada pela súbita corrente de ar que Kendal produziu ao sair do escritório.

 

 

– Então, o que te disse? – perguntou Chrissie Langdon, a sua irmã, enquanto a observava a beber uns goles do chá que lhe tinha preparado.

– Não acreditarias.

Kendal tinha mais cinco anos que a irmã, Chrissie, e não estava habituada a concentrar os seus problemas sobre ela, em especial desde que, há coisa de um ano, Chrissie começara a ter muito com que se preocupar.

– Claro que sim. Acredita em mim: tratando-se de Jarrad Mitchell, sim – disse Chrissie, fazendo um gesto muito expressivo com os seus grandes olhos castanhos, que sobressaíam numa cara pequena com cabelo curto e castanho. De seguida, lançou uma olhadela a Matthew, o seu sobrinho de ano e meio, que estivera a cuidar naquela manhã, e que acabava de descobrir que, atirar um livro para o outro extremo do tapete, era mais divertido que virar as páginas. – Vá lá, conta.

– Vai pedir a custódia do Matthew.

– O quê? No caso de ires embora ou de qualquer forma? – ao ouvi-la, Kendal gemeu, apercebendo-se de que a coisa ainda podia ser pior do que ela pensava.

– Acho que se referia a aceitar o trabalho nos Estados Unidos.

– E o que vais fazer? Deixá-lo escapar?

– Chrissie! – a irmã olhou para ela, indignada. – Irei com Matthew e lutarei com Jarrad!

– Talvez te arrependas, Kendal – disse Chrissie, tomando a sua chávena de chá. – Esse homem é um lutador e de que tipo! Não é dos que param facilmente. Pode engolir-te inteira e ter-te a seus pés, mesmo antes de chegarem aos tribunais.

– Falas dele como se fosse um guerreiro lendário. Até parece que o admiras – disse Kendal, sem poder acreditar, embora soubesse que isso não andava longe da verdade.

Desde que Chrissie o conhecera há três anos atrás, no seu próprio casamento, Jarrad tinha-lhe inspirado essa espécie de ingénua adoração para um homem mundano, que se esperava numa adolescente. E, surpreendentemente, ainda guardava uma certa admiração, apesar do modo como Jarrad se comportara como seu marido.

– O que admiro é a determinação – respondeu Chrissie. – Essa determinação feroz em não deixar que, nada nem ninguém, se interpusesse no seu caminho, que o faz ser respeitado por todos – e depois acrescentou com menos entusiasmo. – Tomara que Ralph tivesse uma quarta parte dessa determinação. Se assim fosse, se calhar ainda estaríamos…

E encolheu os ombros, como se já tivesse aprendido a não dar atenção aos pensamentos que começavam por «Oxalá».

– Bom, em qualquer caso, é um homem muito decidido – Kendal demorou um momento a aperceber-se de que voltava a falar de Jarrad. – Forte, decidido e com mais capacidade do que tu para aguentar a pressão psicológica que enfrentarias ao enfrentá-lo. Por amor de Deus, Kendal, não chegues ao confronto! Pensa na possibilidade de um acordo. Faz alguma concessão.

– Referes-te a renunciar ao meu trabalho?

– Sem contar com alguns meses quando tiveste Matthew, sempre trabalhaste – disse Chrissie. Aquilo parecia uma recriminação.

– Tive que o fazer – respondeu Kendal.