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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Rochelle Alers

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Feridas de amor, n.º 758 - Janeiro 2016

Título original: Beyond Business

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7774-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Por favor, diga o seu nome – pediu uma voz através do altifalante.

Umas portas automáticas de ferro, coroadas por uma letra B e rodeadas de câmaras de segurança, compunham a entrada da lendária coudelaria Blackstone.

Renee pôs a cabeça pela janela do carro e olhou para a câmara.

– Renee Wilson – disse, e nesse momento abriram-se as portas e ela entrou com o seu carro.

Estava num lugar novo, com um emprego novo e tinha pela frente um novo começo, pensou, enquanto guiava entre as cercas brancas e os muros de pedra que delimitavam os campos verdejantes.

Renee retribuiu o cumprimento a um homem que estava num tractor e concentrou-se de novo no caminho. Abanou a cabeça, doíam-lhe o pescoço, os ombros e as costas da longa viagem. Tinha saído de Louisville, Kentucky, há mais de oito horas e só parara duas vezes: uma para pôr gasolina e outra para comer. E, por fim, tinha chegado ao seu destino em Staunton, Virginia.

«Sim», pensou. Tinha acertado ao aceitar o cargo de administrativa da coudelaria Blackstone. Viver e trabalhar numa coudelaria ia ser uma nova experiência para alguém como ela, habituada à energia frenética de Miami. Ela adorava a cidade, mas sabia que não poderia continuar a viver ali. Não queria arriscar-se a encontrar-se com o seu ex-namorado, o homem que a engravidara e que se tinha esquecido, muito convenientemente, de dizer-lhe que era casado.

Renee seguiu as indicações para a casa principal. Estava-se nos finais do mês de Outubro. As árvores ostentavam as suas cores mais belas e cheirava a terra molhada após uma semana de chuvadas.

Renee estacionou o carro ao lado de uma carrinha, em frente da casa de Sheldon Blackstone. Tinha sido o seu filho Jeremy a entrevistá-la e a contratá-la. Seria ele o seu chefe quando Sheldon Blackstone se reformasse, no final do ano.

Desligou o motor, agarrou a mala e abriu a porta do carro. Assim que pôs os pés no chão, uma figura alta surgiu à sua frente. Surpreendida, Renee calou um pequeno grito e olhou para cima.

Dois olhos cinzentos brilhavam num rosto cor de café. O sol da tarde fazia luzir clarões vermelhos e cinzentos naquele abundante cabelo preto. Renee ficou sem fôlego enquanto o coração lhe batia como louco. Aquele homem devia ser Sheldon. O seu filho Jeremy parecia-se muito com ele. Mas havia algo no olhar do pai que a perturbava.

Renee recompôs-se e estendeu a mão.

– Boa tarde, chamo-me Renee Wilson.

Sheldon Blackstone observou aquela mão pequenina e viu-a perder-se na sua ao apertá-la. Perguntou-se como reagiria aquela mulher de traços delicados e pele cor de chocolate, perfeitamente arranjada, quando soubesse que ia ter de viver com ele e não no bangaló que lhe tinha sido proposto. Forçou um sorriso.

– E eu, Sheldon Blackstone.

– É um prazer conhecê-lo, senhor Blackstone – respondeu ela, soltando-lhe a mão.

– Por favor, chama-me Sheldon. Aqui somos muito informais.

Renee sorriu, destacando ainda mais as covinhas das faces e a sua boca carnuda e suave.

– Assim farei, Sheldon, mas só se me chamares Renee.

Ele esboçou um sorriso. Aquela mulher era encantadora.

– Assim farei, Renee.

Segurou-lhe o cotovelo para conduzi-la para o enorme edifício de dois pisos que era a moradia principal.

– Tenho que dizer-te algo antes de te instalares – acrescentou ele, e ao ver o olhar desconcertado dela, especificou. – Algo sobre os teus aposentos.

Renee fechou os olhos por uns instantes e rezou para que os Blackstone não retirassem a sua oferta de alojá-la na fazenda e cuidar do seu filho.

– Que se passa? – perguntou por fim com cautela.

Sheldon cruzou os braços.

– O bangaló onde era suposto viveres não pode ser usado, por enquanto. Há poucos dias, ardeu o telhado por causa de um raio e, quando conseguimos apagar o fogo, começou a chover e inundou-se tudo. Ontem, esteve cá um perito a avaliar os danos e disse que é preciso retirar o interior todo e reconstruí-lo.

Renee abriu os olhos, angustiada, e sem poder acreditar.

– Estás a dizer-me que não posso viver na coudelaria?

– Falaremos melhor dentro de casa – disse Sheldon, pegando-lhe novamente no cotovelo.

Renee ficou imóvel. Se não podia viver na coudelaria Blackstone, só lhe restava uma saída: dar a volta ao carro e regressar a Kentucky. Como ia poder dizer a Sheldon Blackstone que era uma mulher solteira de trinta e cinco anos, sem residência fixa, e grávida de um homem que lhe mentira enquanto se casava com outra?

– Por favor, Renee, eu gostaria que ouvisses a minha proposta. Entremos em casa – pediu-lhe Sheldon calmamente.

Ela observou-o em silêncio por uns segundos e por fim assentiu.

– Está bem.

Sentia-se desconfortável. Por que não conseguia encontrar nenhum homem em quem pudesse confiar? Todos diziam uma coisa e faziam outra. Para começar, o seu pai, Errol Wilson, tinha sido um alcoólico mentiroso, jogador e mulherengo.

Ela saía com homens de vez em quando e, embora se tivesse enamorado, nunca tinha entregue o seu coração. Até ao dia em que conhecera Donald Rush e se oferecera a ele de corpo e alma. E, no final, também ele a enganara. Com os outros, ela conseguira sair sempre ilesa, com o seu orgulho e a sua dignidade intactos, mas com Donald não tivera a mesma sorte: dois meses depois de deixá-lo, descobrira que esperava um filho seu.

Renee seguiu Sheldon para dentro da casa. O grande vestíbulo estava decorado com vitrinas cheias de troféus, lembranças e fotografias de jóqueis negros desde meados do século XIX até ao presente. Sheldon conduziu-a até um salão com poltronas de cabedal e grandes janelas.

– Por favor, senta-te – disse ele, indicando-lhe uma das poltronas.

Esperou que ela se sentasse e só depois se sentou ele noutra poltrona. Não sabia porquê, mas tinha a impressão de que aquela mulher que Jeremy contratara para digitalizar a contabilidade da coudelaria não passaria do período de experiência de três meses. Ele tinha lido no seu curriculum que ela fora directora de administração de um dos escritórios de contabilidade mais importantes de Miami, mas isso não se comparava com viver e trabalhar numa coudelaria. Sheldon perguntou-se quanto tempo aguentaria ela até se cansar de cheirar a feno e a cavalos. Por ele, não teria contratado Renee, por muito boas referências e experiência que tivesse, mas a decisão fora tomada pelo seu filho Jeremy, que era quem ia passar a gerir a coudelaria quando ele se reformasse, após trinta anos a administrá-la.

O olhar de Sheldon percorreu o cabelo perfeitamente penteado dela, o seu casaco amarelo de seda, as suas calça pretas e os seus sapatos de design. Tudo em Renee Wilson mostrava a sofisticação da grande cidade.

– Como já te comentei, só dentro de alguns meses vais poder alojar-te no bangaló – começou Sheldon pausadamente. – Mas pensei que poderias ficar em minha casa até essa altura.

– Estás a dizer-me que vou viver contigo? – perguntou Renee, perplexa.

Ela jurara a si mesma que não voltaria a viver com nenhum homem, nem sequer por um período temporário. Por outro lado, Sheldon Blackstone ia ser seu chefe durante os dois meses seguintes, não seu amante.

Os olhos dele brilharam, divertidos. Era evidente que a sua sugestão tinha surpreendido Renee.

– Esta casa é muito grande, mal nos veremos. Umas quantas vezes por semana, vem uma mulher limpar a casa e lavar a roupa. Terás o teu próprio quarto com casa de banho independente, e preparei um escritório provisório no alpendre traseiro. Se não quiseres comer na sala de jantar ou se preferires pedir comida de fora, podes comer na cozinha. E se queres cozinhar tu, avisa-me do que precisares e eu pedirei ao chef que compre.

Apesar de estar muito preocupada, Renee sorriu timidamente.

– Parece que pensaste em tudo – disse, e viu que Sheldon sorria e assentia. – Garanto-te que o facto de eu viver aqui contigo não representará nenhum problema para a tua privacidade.

Renee não terminou a frase.

– Referes-te a haver alguma mulher na minha vida? – perguntou ele, vendo que tinha acertado pelos olhos de Renee. – Existem duas senhoras Blackstone mas são as esposas dos meus filhos, Kelly e Tricia. A minha mulher faleceu há vinte anos e eu nunca tive nada com nenhuma mulher que vivesse ou trabalhasse nesta coudelaria.

Renee suspirou aliviada.

– Muito bem, então aceito a tua oferta.

Sheldon não tinha mentido. Havia muitos meses que não havia nenhuma mulher na sua vida. Ele casara aos dezassete anos, fora pai aos dezoito, enviuvara com trinta e dois e, naquele momento, aos cinquenta e três anos, ia reformar-se no final de ano. Estava desejoso de poder pescar, viajar e mimar os seus netos. Não pretendia procurar uma companheira, mas se aparecesse alguma mulher que partilhasse os seus interesses, até poderia iniciar numa relação séria, mas sem chegar a casar-se. Ele já tinha falhado uma vez como esposo e não queria que isso voltasse a acontecer.

Não tinha sido um celibatário desde a morte da esposa, mas tinha conduzido as suas relações muito discretamente. E sempre fora da coudelaria. Ninguém, nem sequer os seus filhos, conhecera nenhuma das mulheres com que tinha partilhado a sua cama desde que era viúvo.

– Há um pequeno problema – começou Renee. – Encomendei uns móveis e deverão trazê-los hoje.

– Chegaram esta manhã – informou-a ele, colocando-se em pé. – Tomei a liberdade de armazená-los num armazém de Richmond.

Renee respirou aliviada e levantou-se.

– Obrigada.

Ela tinha vendido tudo o que havia no seu apartamento de Miami antes de se mudar para o luxuoso chalé de Donald. Depois, no dia em que se tinha separado dele, levara só a sua roupa e os seus objectos pessoais.

Sheldon sorriu para aquela pequena mulher, cuja cabeça mal lhe chegava ao ombro.

– Vou mostrar-te o teu quarto.

– Tenho que tirar a bagagem do carro – disse ela.

– Dá-me as chaves, eu trago-a – disse-lhe ele, estendendo a mão.

Renee tirou as chaves da mala e, ao dá-las a Sheldon, sentiu uma descarga eléctrica por todo o corpo. Olhou-o nos olhos para saber se lhe tinha acontecido o mesmo, mas a expressão dele era impenetrável.

Sheldon guardou as chaves e conduziu Renee pelas escadas até ao primeiro andar e ao final do corredor.

– Este será o teu quarto. Tem uma sala de estar e casa de banho completa.

Renee entrou naquele quarto cheio de luz e pareceu-lhe que tinha retrocedido no tempo. Era grande, estava pintado de branco e tinha um guarda-fatos e uma cama de madeira antigos. A casa de banho e a sala de estar partilhavam a mesma atmosfera nostálgica e de solidez.

Renee olhou para Sheldon, que se tinha apoiado na porta com os braços cruzados sobre o peito. Pareceu-lhe um felino a descansar.

– O quarto é perfeito – afirmou ela, sorrindo.

Ele também sorriu. Pensou que Renee acharia o quarto demasiado antiquado. Afinal, ela estava habituada a viver numa cidade moderna e cosmopolita.

– Vou buscar a tua bagagem – comentou ele, voltando-se para descer, mas parou. – Queres algo para comer ou beber? Só por esta noite, o jantar será servido uma hora mais tarde do que o habitual.

Renee olhou para o seu relógio. Passava um pouco das quatro da tarde e ela costumava jantar às seis. O seu obstetra recomendara-lhe que fizesse cinco refeições leves por dia em vez de três grandes. Ela acabava de iniciar o seu segundo trimestre e tinha ganho quase um quilo por mês.

– A que horas será o jantar, então?

– Às sete.

Renee soube que não seria capaz de aguentar três horas sem comer.

– Então pode ser uma salada de frutas e um copo de leite.

Sheldon olhou para ela, muito sério.

– És uma fanática da comida saudável?

Renee sorriu.

– Há um par de meses decidi comer saudavelmente. Nada de fast food, nem comidas com aditivos ou conservantes.

Ele analisou-a atenciosamente.

– Talvez a tua estada aqui me ajude a mudar alguns dos meus hábitos alimentares – disse ele.

A sua única fraqueza era os gelados, adorava-os.

– A mim, parece-me que estás com um físico óptimo – saiu-lhe, antes de ser consciente do que dizia.

Sheldon ficou a olhar para ela. O seu último exame médico concluíra que tinha uma saúde de ferro para um homem da sua idade. Media um metro e oitenta e pesava oitenta e seis quilos. E estava em perfeita forma porque caminhava bastante durante todo o dia.

Renee e Sheldon observaram-se uns minutos em silêncio. Renee sentiu-se desconfortável novamente, como se estivesse sob análise. Ela não conhecia o dono da coudelaria Blackstone e não queria conhecê-lo, pelo menos não para além da mera relação chefe-empregada.

Viveria na casa principal até puder mudar-se para o bangaló, arrumaria e digitalizaria os livros de contabilidade que até então tinham sido feitos à mão e, na Primavera, daria à luz o seu bebé. Renee não queria pensar em mais nada a não ser no bebé.

Sheldon pestanejou e pareceu estar a sair de um transe.

– Será melhor ir buscar a tua bagagem.

A sua voz grave e suave rompeu o silêncio entre eles. Renee assentiu. Pensava esperá-lo, mas teve que ir à casa de banho e quando voltou viu que ele tinha levado as três malas de uma só vez. Era evidente que estava em boa forma física. Era alto, de ombros largos e quadris estreitos. Ela teve que admitir que era a primeira vez que conhecia um homem cujo corpo condizia tão bem com o seu belo rosto. Sheldon Blackstone era um homem imponente em todos os sentidos.

Renee decidiu tomar um duche antes de jantar. Desde que estava grávida, costumava fazer uma sesta à tarde, mas desta vez teria que renunciar a ela. Felizmente, o cansaço era o único incómodo da sua gravidez.

O facto de tornar-se mãe tinha alterado a sua forma de ver as coisas. Tudo o que fazia desde então, girava à volta da pequena vida que estava a crescer dentro de si.

Houve um tempo em que se vira obrigada a renunciar ao seu sonho de estudar Direito. Após o seu pai falecer, por causa do alcoolismo, Renee tivera de começar a trabalhar para ajudar a mãe. Mas, uma década mais tarde, tinha cumprido o seu sonho: depois de seis anos a estudar no tempo que o trabalho lhe deixava livre, tinha conseguido um diploma em estudos legais.

Renee fechou os olhos e sorriu. «Vive o presente e deixa o futuro cuidar de si mesmo», pensou. Tinha sido a filosofia de vida da sua mãe e ela tornara-a também sua.