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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Bronwyn Turner

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Viciada em ti, n.º 749 - Dezembro 2015

Título original: Addicted to Nick

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7505-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

Nick não sabia o que sentiria quando chegasse a casa mas imaginou que fosse algo parecido a nostalgia. Nada de espectacular mas talvez houvesse alguma boa recordação. Até alguma amargura teria sido melhor do que o vazio emocional que se apoderara dele durante o longo voo entre Nova Iorque e a Austrália.

Não gostava de não sentir nada. Lembrava-lhe demasiado a primeira vez em que estivera na mansão de Joe Corelli apesar de, naquela altura, ter oito anos e ter fechado o seu coração intencionalmente. Não quisera ter ilusões portanto, simplesmente olhara para a grande casa e perguntara a si próprio quanto tempo demoraria aquela gente até se dar conta que aquilo era um erro.

As crianças como Niccolo Corelli eram presas só por se aproximarem de casas como aquela. Mas o desconhecido que se apresentara como sendo um familiar da sua defunta mãe, pusera-lhe um braço nos ombros e sorrira-lhe.

– Esta é a tua casa, Niccolo – dissera-lhe. – Esquece aquilo que viveste até aqui. Agora fazes parte da minha família.

«Parte da minha família.»

Naquela altura Nick não compreendera nada e, apesar dos esforços de Joe, não conseguira esquecer as suas origens.

Ficou mais alguns minutos a olhar para a casa mas não sentia nada. Talvez fosse só uma questão de descansar umas dez horas seguidas. Bocejou, saiu do carro que alugara e espreguiçou-se. Quando se virou para a casa, reparou em movimento numa das janelas do piso superior. George, o «Grande Irmão» observava-o do cimo.

Tal como na primeira vez, pensou Nick, mas desta vez, levantou a mão num cumprimento informal. Catorze anos antes fizera-lhe um gesto obsceno com o dedo do meio. A cortina voltou a fechar-se e Nick riu-se. Perguntou a si próprio quem mais estaria a observá-lo.

Quantas das quatro mulheres que tinham crescido como suas irmãs estariam a observá-lo dentro daquelas grossas paredes? Sophie, sem a menor dúvida. Ao menor sinal de problemas, ela acudia imediatamente. Fora ela quem fizera queixa à sua mãe a primeira vez, quando ele dera um soco no nariz de George… e ao seu pai, na última vez. Sophie ouvira a discussão que houvera entre os seus pais antes de Joe decidir que Nick ia viver com eles, e fora ela própria que começara a tratá-lo por «o bastardo».

Sim, ele apostaria qualquer coisa que Sophie estava ali… caso George se tivesse dado ao trabalho de dizer às irmãs que Nick iria estar lá. O seu meio-irmão não era muito bom a comunicar com as pessoas.

Fechou a porta do carro e, enquanto avançava até à casa, reparou que tinha os maxilares e os músculos tensos. O problema não era o sono mas, sim, que não queria estar ali. Nem em Melbourne, nem na fazenda de cavalos que supostamente acabara de herdar. Supostamente.

Era típico de George manipular os factos e os advogados que administravam as propriedades de Joe em seu próprio benefício. Nick deu um suspiro de cansaço. Assim que soubesse o que se estava a passar e pusesse o anúncio a dizer «Vende-se» em Yarra Park, ir-se-ia embora dali. E desta vez, para sempre.

Capítulo Um

 

Se a noite não tivesse sido tão tranquila e o silêncio tão absoluto, interrompido apenas pelo suave sussurro da palha quando algum dos cavalos arrastava os cascos, inquieto, T.C. não teria ouvido o barulho do portão a abrir-se. Nem o rumor dos passos no caminho de gravilha que ia do pátio aos estábulos.

Talvez tivesse voltado para o seu quarto, no fundo do estábulo, e se tivesse voltado a meter na cama, em vez de ir apanhar o intruso.

Os passos pararam e ela sentiu um arrepio pelo corpo. «Por favor, que se vá embora por onde veio, por favor…» Fechou os olhos e contou até dez mas não aconteceu nada. Com o coração a bater com força, espreitou pela porta do estábulo.

Com o fresco da noite só se via o nevoeiro que subia do rio Yarra e envolvia a casa, numa antecipação do Inverno. T.C. voltou a entrar e suspirou. O ar cheirava a couro, a pêlo de cavalo, melaço e feno, cheiros familiares e que deram alguma estabilidade aos seus joelhos.

Havia alguém lá fora. Talvez o imbecil que andara a telefonar-lhe durante estas últimas semanas e a desligar, sempre sem dizer nada. Ou podia ser um ladrão que tivesse ouvido em algum bar da aldeia próxima de Riddells Crossing que ali só havia uma mulher e que era uma presa fácil.

T.C. agarrou com força a arma que segurava na mão direita. Era muito ligeira mas dava-lhe segurança levá-la, apesar da sua absoluta inutilidade. Passou-a para a mão esquerda e secou o suor da mão às calças… do pijama. Quase desatou a rir mas tapou a boca a tempo. Havia um degenerado qualquer que ia tentar entrar no seu estábulo e ela ia enfrentá-lo vestida com um pijama de flanela grande demais para ela e uma pistola de brinquedo.

Voltou a ouvir os passos mas desta vez aproximavam-se rapidamente. De repente, uma figura escura apareceu à porta do estábulo, a apenas um passo dela, tão perto que T.C. sentiu o seu suave cheiro a água-de-colónia. E perto o suficiente para lhe pôr o canhão da pistola de brinquedo nas costelas.

– Não te movas, espertalhão, e não terei que disparar – a frase saída de um qualquer filme, saíra dos seus lábios espontaneamente. Fechou os olhos na esperança que o tremor das pernas não passasse para a mão que segurava a pistola.

O desconhecido levantou as mãos lentamente.

– Calma, querida. Não faças nenhuma estupidez.

– Sou eu quem tem a arma portanto não faças tu nenhuma estupidez – T.C. notou que o homem se começava a mexer e enterrou-lhe o canhão da pistola nas costelas, com força.

– Percebido. Eu não me mexo, está bem? – o estranho falava com uma voz lenta e profunda. A mesma que ela usava quando queria acalmar um cavalo nervoso. De onde é que lhe vinha aquele tom de superioridade? Não fora ela quem o apanhara a meio da noite em propriedade alheia?

– Está bem. Não… não está bem – disse ela, irritada e confusa. Pôs-se atrás dele. – Quero que te movas. Quero que avances devagar e que ponhas as mãos na parede.

Ele obedeceu mas a sua posição era demasiado relaxada para o gosto de T.C.

– Também queres que separe as pernas? – perguntou num tom inocente.

– Isso não é necessário – respondeu ela, cada vez de pior humor.

Não estava a achar graça nenhuma à atitude daquele homem. Tinha que lhe impor algum respeito mas isso não ia ser fácil. Media, no mínimo, um metro e oitenta e cinco e parecia ser feito todo de músculo. A única vantagem que T.C. tinha sobre ele era uma pistola de plástico. E se ele tinha uma arma a sério? Sentiu um nó na garganta e engoliu em seco antes de voltar a falar.

– Estás armado? – perguntou, morta de medo.

– E sou perigoso? – disse ele, a gozar.

T.C. repreendeu-se por ter feito uma pergunta tão estúpida. Para o saber, ia ter que o revistar. Pôr-lhe as mãos em cima. Respirou fundo e voltou a sentir aquela fragrância sedutora. Até uma pessoa daquelas sabia usar um frasco de Calvin Klein.

Deu um passo à frente e apalpou um casaco de couro grosso e suave. Nos bolsos de fora tinha dois molhos de chaves. Bastante normal.

– Há um bolso no interior. E há também o da camisa – sugeriu ele.

T.C. voltou a encher os pulmões de Calvin Klein e meteu a mão dentro do casaco de couro. A camisa estava incrivelmente quente e era de um tecido tão suave que ela podia sentir os peitorais dele. Aquilo era como acariciar a pele de um bom cavalo, suave e lânguida, mas debaixo daqueles músculos batia um poderoso coração que transmitia um intenso calor à sua mão, ao seu sangue e ao seu ventre…

Estava a acariciá-lo? T.C. tirou a mão rapidamente e sentiu uma espécie de formigueiro nos dedos. Tinha que recuperar a calma.

– Agora vou revistar-te as calças – advertiu ela.

– Por mim, perfeito.

Ela não conseguia acreditar na insolência daquele tipo. T.C. enterrou-lhe a pistola nas costelas com mais força e ele encolheu-se levemente. Ele assim aprenderia. Ele usava umas calças de ganga justas e num dos bolsos de trás tinha uma carteira fina. No outro tinha apenas o seu músculo. Deu um passo atrás e esfregou a mão nas calças do pijama. O que é que lhe acontecia quando tocava naquele homem?

– Não pares agora, mãozinhas de lã – disse ele, arrastando as palavras. – Há mais bolsos à frente.

– Tenho uma ideia melhor – disse ela, francamente aborrecida. – Porque é que não me dizes onde é que tens a arma?

Ele deu uma gargalhada profunda que a fez vibrar.

– Porque é que não passas a tua mão suave e delicada por aqui e descobres por ti própria?

Ela sentiu um violento rubor nas faces. Como é que ele se atrevia…? Passou a pistola da mão esquerda para a direita e esticou os tendões dos dedos, um a um. Ela podia ser pequena mas já nem se lembrava quando é que deixara de ser delicada.

– Não cometas o erro de associar o tamanho com a suavidade – disse com uma voz gelada como o ar da noite.

E, com a força que aquelas palavras lhe deram, fez exactamente aquilo que ele lhe pedira. Esticou a mão e apalpou-lhe os bolsos laterais das calças. Muito depressa. Depois deslizou a mão para cima até à cintura. As calças de ganga ajustavam-se-lhe na perfeição. Ali não era possível esconder nada. Notou que ele inspirava de repente pela repentina contracção dos seus abdominais mas não percebeu para quê até ter sido demasiado tarde.

Ele deu meia volta rapidamente, tal como a mão que fez voar a pistola. Antes de esta ter batido na parede de madeira e caído ao chão, o desconhecido tinha-lhe agarrado no pulso e torcido o braço por trás das costas.

– Gostaria de pensar que me tocavas por prazer mas receio que não fosse esse o caso. Porque é que não me dizes o que se passa aqui?

Aquele desgraçado estava colado às costas dela. T.C. sentia-lhe o hálito quente na nuca e abanou a cabeça para fazer com que aquela sensação desaparecesse. Ele torceu-lhe um pouco mais o braço.

– Estás a magoar-me – disse ela, entre dentes.

– E achas que aquele bocado de plástico que me enterravas nas costelas não me estava a magoar? – o estranho afrouxou um pouco a pressão mas não a soltou. Os seus dedos compridos agarravam o pulso com firmeza. – Então?

T.C. franziu o sobrolho. Se sabia que a arma era falsa, porque não reagira antes? E porque é que agora lhe pedia explicações?

– Advirto-te, mãozinhas de lã, se não me disseres o que fazias aí escondida a meio da noite, eu é que vou ter que começar a revistar-te.

A mão dele deslizou pela anca de T.C., que deu um pequeno grito e se tentou soltar, mas ele segurou-a com mais força, passando-lhe um braço pelo peito. Agora sentia as costas contra o peito daquele homem e, quando ele se começou a rir, notou que a coluna vertebral dele vibrava como um diapasão.

Ou talvez fosse a sua reacção ante a mão que descia por uma das suas coxas e voltava a subir com uma lentidão exasperante. Santo Deus, agora tinha-a metido dentro da camisa do pijama e tocava-lhe na barriga. T.C. tentou escapar mas a única coisa que conseguiu foi juntar as suas nádegas às do desconhecido. Os seus pulmões pareceram ficar sem ar.

– O que foi, querida? Não estás habituada a ser tocada por um desconhecido? Não é agradável, pois não?

– Não me chames querida! – T.C. deu um coice e surpreendeu o seu captor. Na confusão de pernas e botas, soltou-se do braço que a prendia mas o desconhecido tentou agarrá-la com o outro e a mão fechou-se… no seio esquerdo dela.

Ficaram os dois petrificados durante alguns instantes. T.C. voltou a dar um coice e desta vez acertou-lhe na canela do intruso. Ele praguejou. Ela continuou a coicear e ele virou-se para se desviar e agarrou-a com o outro braço.

– És meio mula? Pára de coicear, mulher!

– Então, solta-me de uma vez por todas!

– Solto-te quando souber o que se está a passar aqui! Onde é que há uma luz?

– Ali à frente… a porta… a da esquerda – grunhiu T.C. Aquele braço estava a esmagar-lhe o diafragma.

O desconhecido avançou, arrastando-a como podia, abriu a porta da casa de T.C. e ligou o interruptor. Foi tudo inundado por uma luz brilhante e ela fechou os olhos. Ouviu o roçar nervoso das patas de Bi no pavimento de cimento. A sua pequena cadela aproximara-se para cumprimentar e andava às voltas entre o emaranhado de pernas.

«Belo cão de guarda. Primeiro nem o ouve chegar e agora cumprimenta-o como se fosse um amigo de toda a vida.»

– Senta – disse o estranho e falava com tanta autoridade que T.C. sentiu o impulso de se sentar. E não é que a cadela obedeceu?

Ele afrouxou o braço e, segurando-a pelos ombros, virou-a. O nariz dela quase tocava a camisa dele. Ela levantou os olhos mas estava demasiado perto e só conseguia ver um queixo com uma barba de dois dias e uma covinha vagamente familiar.

«Oh, não. Não pode ser…» Retrocedeu e viu uns lábios carnudos e um nariz comprido e recto no seu campo de visão. Fechou os olhos. «Sim, está claro que sim.»

– Então, dei um coice na canela do Nick Corelli – disse após um grunhido. «Além de o ter tocado por todo o lado», pensou, e voltou a sentir um formigueiro nas palmas das mãos.

Abriu os olhos e viu que ele a olhava fixamente. Os olhos dele não eram pretos, como os dos demais Corelli que ela conhecia, mas sim do azul de uma luminosa manhã de Verão. Inesperada e maravilhosamente perfeitos.

– Conheces-me? – ele parecia surpreendido mas havia algo mais nos seus olhos. Interesse? Ou simples curiosidade?

Ela abanou a cabeça. Não sabia muito bem se em resposta à pergunta ou para não pensar mais naquilo.

– Não, mas reconheci-te pelas fotos. O teu pai mostrou-me fotografias.

– Reconheceste-me imediatamente por causa de algumas fotografias?

Mais do que algumas. T.C. sentiu-se a corar ao recordar a quantidade de vezes que as vira. O que achava estranho era que não o tivesse reconhecido «Nick, o magnífico» mesmo na escuridão.

– Imagino que não sejas uma ladra. Trabalhas aqui? – olhou para Bi, que continuava deitada aos seus pés. E sorriu. – Já sei. És da segurança e este é o teu cão de guarda.

O coração de T.C. deu um salto ao ouvir aquela voz lânguida e ao ver aquele sorriso. Mas porque é que ela não era capaz de lhe sorrir?

– Eu sou a treinadora. Treino os cavalos do Joe.

De um momento para o outro, a expressão de Nick passou de curiosidade à surpresa.

– Tu és a Tamara Cole?

– A própria.

Nick inspeccionou-a com um pormenor enervante. Começou pelas botas e foi subindo lentamente pelas pernas e pelo corpo. Quando chegou ao rosto, T.C. notou que a irritação crescia no sei interior.

– O que fazes aqui, Nick?

– Além de sobreviver ao ataque de uma treinadora de cavalos louca e em pijama e botas? – perguntou ele com um sorriso.

– Estava à espera de ter notícias de alguém em algum momento mas não as esperava de ti. Daquilo que sabia, estavas perdido nas montanhas do Alasca.

O sorriso desapareceu.

– Quem é que te disse isso?

– O George. Depois do funeral – T.C. tentou afastar do pensamento aquele breve e desagradável encontro. – Devias ter-me dito que vinhas.

– Foi o que tentei fazer nas últimas seis horas – em segundos o olhar de Nick encontrou o telefone. Aproximou-se do auricular fora do gancho e levantou-o. – Talvez isto tenha algo a ver com isso.

– Devo tê-lo pousado mal.

Ele observou-a durante alguns momentos e fez um gesto com o auricular que tinha na mão.

– É a mesma linha de casa?

– Sim – respondeu ela. – Só há uma linha.

– Então, se não te importas, preferia que estivesse disponível.

T.C. compreendeu o significado das suas palavras. Se ele precisava de linha era porque tencionava ficar.

– Porque é que vieste, Nick? – perguntou directamente. – Eu estava à espera do George ou do advogado com os olhos de rã.