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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Chantelle Shaw

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Filha do desejo, n.º 1111 - agosto 2017

Título original: The Frenchman’s Marriage Demand

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-260-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Zacharie Deverell avançou a passos largos pelo corredor do hospital, parou brevemente para olhar para o nome que havia sobre a porta e entrou, dirigindo-se directamente para a enfermeira que estava atrás do balcão.

– Venho ver Freya Addison. Acho que foi internada ontem – disse com impaciência.

A enfermeira olhou intensamente para ele, algo a que Zac já estava habituado. As mulheres sempre tinham olhado para ele assim, desde que era adolescente e nunca tinham deixado de o fazer. Agora, com trinta e cinco anos, a sua beleza unida à sua riqueza e ao seu poder tornavam-no alvo de todos os olhares.

Quando gostava, respondia com um dos seus sorrisos devastadores, contudo, naquele dia tinha outras coisas na cabeça. Só havia uma razão para estar ali e, quanto mais depressa encontrasse Freya para lhe dizer o que pensava do que fizera, melhor.

– Vamos ver… a menina Addison… – murmurou a enfermeira bloqueada perante a presença daquele homem francês de um metro e oitenta que segurava um bebé angelical. – Ah, sim, pelo corredor, é a terceira porta à esquerda, mas agora não pode vê-la porque está com o médico. Por favor, espere aqui, senhor…

Zac começara a andar pelo tal corredor e a enfermeira teve de sair do balcão e correr atrás dele.

– Deverell – murmurou Zac com frieza. – O meu nome é Zac Deverell e tenho de ver a menina Addison imediatamente.

 

 

Freya estava sentada na cama do hospital, a olhar para o pulso que tinha ligado. As últimas vinte e quatro horas tinham sido espantosas. Tinha esperança de estar a sonhar, de ser tudo um pesadelo. Porém, não era assim. Cada vez lhe doía mais o pulso e estava a começar a doer-lhe a cabeça também, resultado da força com que o seu carro embatera contra a árvore como consequência da tempestade.

O acidente acontecera quando voltava para casa do clube náutico onde trabalhava como recepcionista. Ainda bem que não levava a sua filha com ela, pois a menina estava na creche.

Aimee estava sã e salva e a sua mãe tinha sorte de estar viva. O carro, no entanto, ficara completamente destruído. Para cúmulo, ia ter de estar uns dias de baixa, o que não lhe dava muito jeito, pois a sua situação económica não era precisamente confortável.

Passara a noite no hospital e o médico explicara-lhe que magoara os ligamentos do pulso e que ia ter de usar uma ligadura durante umas semanas. Depois de lhe receitar uns analgésicos muito fortes, dissera-lhe que podia ir para casa.

Freya estava preocupada, pensando como ia conseguir levar Aimee e o carrinho, tendo em conta que viviam num apartamento situado no quarto andar de um edifício sem elevador e só tinha uma mão.

Não teria outro remédio senão pedir ajuda à sua avó, a mulher que a criara quando a sua mãe a abandonara quando era bebé. Joyce Addison assumira o papel de mãe, deixando-se levar mais pelo sentido de dever do que pelo afecto e Freya vira-se obrigada a suportar uma infância sem amor. Quando ficara grávida e, ao ver que o pai do bebé não queria responsabilizar-se, Joyce deixara muito claro que ela também não ia sustentá-las.

Freya pensava que a sua avó teria ficado zangada quando o hospital entrara em contacto com ela no dia anterior para lhe pedir para ir buscar Aimee à creche e até pensara que iria ao hospital à noite com a pequena, contudo, não soubera nada dela e estava a começar a ficar nervosa.

Ao ver que a porta se abria, Freya virou-se na expectativa, porém, era uma enfermeira.

– Sabem alguma coisa da minha avó? Telefonou? A minha filha está com ela, mas tem de ir a Nova Iorque.

– Pelo que sei, a sua avó não telefonou, mas a sua filha está aqui, no hospital – respondeu a enfermeira alegremente. – Está com o seu tio. Vou dizer-lhe que pode entrar.

– Com o seu tio? – Freya ficou nervosa, pois Aimee não tinha nenhum tio.

– Sim, pedi ao senhor Deverell para esperar no hall enquanto o médico a via. Parecia impaciente – explicou.

A enfermeira desapareceu antes que Freya tivesse tempo de lhe fazer mais perguntas. Quando ficou sozinha, passou a mão pelo cabelo enquanto se perguntava quem exactamente estaria a cuidar de Aimee porque era impossível que fosse o homem em quem pensara ao ouvir o apelido Deverell e que tentava esquecer há dois anos. A enfermeira devia ter-se enganado.

– Mamã!

Ao ouvir a voz da sua filha, Freya voltou a olhar para a porta. Imediatamente, sentiu um alívio enorme e um tremendo amor, no entanto, quase imediatamente, os seus olhos encontraram-se com os olhos de um homem que teria preferido não voltar a ver.

– Zac? – murmurou, espantada.

Zac Deverell. Homem de negócios multimilionário e famoso playboy além de presidente executivo da multinacional Deverell’s, proprietária de lojas em centros comerciais em todo o mundo.

Imediatamente, a sua presença dominou o quarto. Estava ainda mais bonito do que o recordava, porém, Freya não conseguia assimilar a sua presença. Como se quisesse apagá-la, fechou os olhos. Em vez de o esquecer, a imagem do seu peito bronzeado surgiu na sua mente.

Zac era a perfeição masculina em pessoa e, durante uns meses incríveis, Freya tivera livre acesso ao seu corpo.

De repente, recordou vividamente o que experimentara, sentindo-o sobre ela, as peles dos seus corpos juntas, as suas pernas entrelaçadas como se fossem um só…

Freya suspirou e abriu os olhos, observou a beleza de Zac, as suas maçãs do rosto salientes, o seu queixo quadrado e o seu cabelo preto. Aquele homem tinha uns olhos profundos e azuis como o mar… exactamente como os de Aimee.

Aquele pensamento devolveu-a à realidade e, ao ver como a sua filha parecia feliz nos braços de Zac, franziu o sobrolho. Sonhara muitas vezes com uma imagem parecida, contudo, nunca pensara que chegaria a vê-la.

– O que fazes aqui? Desde quando é que és o tio de Aimee? – perguntou com voz trémula.

Zac olhou para ela em silêncio, com o sobrolho franzido.

– Pensei que era mais fácil dizer às enfermeiras que sou um familiar. Achas que teria sido mais fácil convencê-las de que sou o homem que tentaste enganar, dizendo que era o pai da tua filha? – respondeu Zac sem levantar a voz para não assustar a menina.

– Que enganei? – Freya riu-se com amargura. – Aimee é tua filha.

– Nada disso! – negou Zac, deixando a menina sobre a cama e sorrindo, recordando-se que nada daquilo era culpa da pequena.

Aimee era uma menina de caracóis dourados e olhos tão azuis e enormes que parecia um anjo. A sua mãe, no entanto, era uma mentirosa e uma manipuladora e, se não tivesse mesmo aspecto de estar mal, Zac teria pensado que tudo aquilo não era mais do que outra das suas mentiras.

– Já falámos sobre isto há dois anos, Freya, quando me disseste que estavas grávida. Volto a dizer-te o mesmo que te disse então – disse Zac com frieza. – Talvez tenhas convencido a tua avó de que sou o pai da menina, mas ambos sabemos que isso não é verdade.

– Nunca te menti – replicou Freya.

Imediatamente recordou o desprezo que vira nos olhos de Zac quando lhe dissera que iam ter um filho. Zac olhara para ela com incredulidade e acusara-a imediatamente de o ter enganado com outro homem. Apesar de ter passado muito tempo, Freya voltou a sentir a mesma dor. De alguma forma, agora era pior. As feridas mentais que Zac lhe causara eram piores do que as feridas físicas sofridas no dia anterior. Vê-lo dava novamente vida à sua agonia. Freya queria que se fosse embora porque corria o risco de começar a chorar e não queria sofrer tal humilhação à frente dele.

– Não me interessa o que pensas – disse num fio de voz. – Acho que é melhor ires-te embora.

– Não vim por vontade própria – disse Zac. – Estava no meu escritório esta manhã, a preparar-me para dar uma conferência de imprensa, quando a tua avó apareceu com a menina. Suponho que tinha tudo planeado para que o impacto das suas palavras fosse certeiro. Os jornalistas e os empregados que estavam lá ouviram como a tua avó me dizia que Aimee é minha filha. Os rumores já chegaram ao conselho de administração.

– Aimee esteve esta manhã em Londres? Não estou a entender nada – disse Freya, confusa. – Telefonaram ontem à minha avó para que tomasse conta de Aimee. Onde está Joyce?

– A atravessar o Atlântico no seu cruzeiro, suponho – respondeu Zac. – Disse-me que estava a poupar para aquela viagem há muitos anos e que nada, absolutamente nada, nem sequer o facto de estares no hospital, faria com que a perdesse.

Zac recordou a reunião que tivera com Joyce Addison.

– Estou até aos cabelos com os pais que não cuidam dos filhos – dissera ao entrar no seu escritório, empurrando a cadeirinha de Aimee e entregando-lhe uma mala enorme que tinha tudo o que uma menina de dezoito meses precisava. – Cuidei de Freya quando a sua mãe ficou grávida aos dezasseis anos depois de ter conhecido um safado numa feira. Quando Sadie se fartou de brincar às mamãs, desapareceu e deixou-me com uma menina que eu não queria. Avisei Freya desde o começo que os homens bonitos são muito perigosos e que a única coisa que querem é passar um bom bocado – acrescentara a avó de Freya, olhando para ele de cima a baixo como se fosse um garanhão. – Avisei-a quando lhe ofereceu trabalho no seu navio que a única coisa que queria era levá-la para a cama. Evidentemente, conseguiu, mas agora chegou o momento de se responsabilizar pelas suas acções. Não faço ideia de quanto tempo vai estar Freya no hospital e não vou ficar para descobrir. Se não quiser cuidar de Aimee, entregue-a aos serviços sociais porque eu não penso cuidar de outro bebé.

Aquele discurso despertara a curiosidade dos presentes, que se tinham apressado a disfarçar. A situação fora incrivelmente humilhante e só havia uma culpada.

– Não é preciso continuares a fingir, Freya – disse com frieza. – É óbvio que disseste à tua avó para levar Aimee e, depois de ter conhecido Joyce, garanto-te que não é de estranhar. A última coisa que faria no mundo seria entregar um menino àquela mulher, mas não tenho nada a ver com isto. Se planeaste tudo para me tirares dinheiro com a ideia de me pedir uma pensão de alimentos, esquece – disse, irritando-se consigo mesmo, pois o seu corpo estava a reagir.

Passara três meses com aquela bela mulher de rosto ovalado e cabelo loiro, contudo, dois anos depois, ainda era capaz de ver imagens das suas pernas magras e pálidas e dos seus seios pequenos e firmes. A paixão que tinham partilhado fora explosiva e Zac sentia o seu sexo a incomodá-lo. Desejara-a desde o primeiro dia, desde que passara a ser um membro da tripulação do seu luxuoso iate, o Isis, e a atracção fora mútua.

Freya, tímida e inocente, não conseguira disfarçar o que sentia por ele e Zac não andara com rodeios e convencera-a rapidamente de que estava melhor na sua cama. Claro que fora uma grande surpresa ao descobrir até onde chegava a sua inocência. Zac gostava de manter relações com mulheres seguras de si e experientes para que fossem suas parceiras no momento de dar prazer, sem vínculos emocionais.

No entanto, a tentação de sentir a sua pele quando Freya o agarrou pela cintura com as pernas e a excitação ao sentir o seu fôlego na orelha, rogando-lhe que fizesse amor com ela, fora impossível de resistir.

Freya demonstrara que era uma discípula desejosa de aprender e Zac adorara ensiná-la. A sua timidez e a sua falta de experiência tinham sido muito divertidas e, num ataque de loucura, dissera-lhe que fosse viver com ele.

Arrependera-se daquela decisão assim que descobrira que fora para a cama com outro homem, o que o levara a expulsá-la da sua casa sem contemplações.

A sua cama não permanecera muito tempo vazia, pois a sua fortuna garantia-lhe a afluência de candidatas. Mal tinha pensado em Freya desde que a mandara de volta para Inglaterra e irritava-o aperceber-se de que a química entre eles continuava a existir.

– Nunca disse à minha avó para te entregar Aimee – garantiu Freya. – Garanto-te que serias a última pessoa a quem pediria ajuda – acrescentou, olhando para ele com os seus olhos verdes cheios de fúria e de dor.

Freya recordou que, apesar de aquele homem ser incrivelmente bonito, tinha um carácter arrogante e frio que quase a destruíra. Mesmo assim, o seu corpo devia ter má memória porque estava a reagir.

Freya sentia-se humilhada, pois aquele homem tratara-a de uma forma diabólica.

Quando mais precisara dele, abandonara-a, acusando-a de ter mantido duas relações ao mesmo tempo. Deixara muito claro que não significava absolutamente nada para ele. Então, porque é que o seu coração acelerara ao vê-lo? E porque é que o seu cérebro insistia em recordar os seus beijos e as suas carícias?

– Admito que contei a Joyce que eras pai de Aimee porque insistiu tanto que, por fim, não tive outro remédio senão contar a verdade… e é a verdade, por muito que tu não queiras acreditar – disse com dignidade. – Tu foste o primeiro homem com quem fui para a cama e o único, mas tu lá sabes que razões te levaram a não acreditar em mim – acrescentou com tristeza.

– Ah, sim? – respondeu Zac sem se alterar. – E que razões achas que foram?

– Evidentemente, antes de te ter dito que estava grávida, querias acabar a nossa relação. Estávamos juntos há três meses, mas estavas farto de mim. Não negues – acusou-o. – Percebi tudo. Durante as últimas semanas que estivemos juntos estavas distante… mesmo na cama.

– Não tão distante – gozou Zac. – O teu apetite sexual voraz não permitia que houvesse distância entre nós, Freya. A verdade é que não entendo como tinhas energias para ir para a cama com outro.

A crueldade de Zac fez com que os olhos de Freya se enchessem de lágrimas.

– Como te atreves? – perguntou, indignada. – Não me culpes quando sabes perfeitamente que querias acabar comigo porque já tinhas reparado em Annalise Dubois. Querias que fosse a tua próxima conquista, mas uma ex-namorada grávida não teria ficado muito bem naquela história, teria acabado com o teu estilo.

Freya estava tão excitada que se levantou da cama e sentiu a cabeça à roda. Empalideceu e teve de se apressar a sentar-se.

– Já chega – anunciou Zac dando um passo em frente e voltando a segurar em Aimee para que não caísse da cama. – Não quero que a menina sofra – acrescentou, olhando para ela.

– E eu não quero absolutamente nada de ti – respondeu Freya, olhando para ele com fúria. – Certamente, não quero o teu dinheiro – acrescentou com desprezo. – A única coisa que quero é que admitas que estou a dizer a verdade.

Era verdade que Freya não tinha nenhuma intenção de o levar a tribunal para lhe tirar dinheiro, tal como a sua avó lhe dissera que fizesse. Zac não queria ter nada a ver com elas e não fazia mal, podiam viver sem ele, contudo, precisava que admitisse que nunca lhe mentira.

Sacré bleuvoyeur

Falara com tanta fúria que Freya sentiu um arrepio, no entanto, defendeu-se, pois aquela podia ser a sua última oportunidade.

– Michel não me viu – insistiu, desesperada. – Pensou ver-me, mas não era eu. Tinha ido à praia com Simon e com o seu grupo de amigos. Entre eles, estava a sua namorada, Kirsten. A uma certa altura, disse-me que tinha frio e dei-lhe o meu casaco. Era loira, como eu, e suponho que Michel a confundiu comigo… – explicou, vendo que Zac estava a olhar para ela, mas que não acreditava. – Não estive na carrinha de Simon naquele dia, nunca te fui infiel, Zac. Por favor, acredita em mim.

Zac olhou para ela em silêncio e riu-se.

– Tiveste dois anos para inventar uma história. Não te ocorreu nenhuma melhor? – gozou, passeando-se pelo quarto como um leão enjaulado. – Não penso deixar que me manipules. Vou pedir um teste de paternidade – anunciou. – Quando ficar provado que és uma mentirosa, não quero voltar a ver-te. Entendeste?

– Como podes ter tanta certeza de que estou a mentir-te? – murmurou Freya.

Estava surpreendida por lhe custar tanto que Zac pensasse mal dela. O desprezo do seu tom de voz fazia com que quisesse sair dali a correr, contudo, o orgulho levou-a a levantar o olhar. O silêncio que se instalou entre eles vibrava de tensão.

Zac virou-se e ficou a olhar para ela. Freya não desviou o olhar.

– Sei que estás a mentir porque me fizeram uma vasectomia há muitos anos – respondeu, muito calmo. – É impossível que Aimee seja minha filha.