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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2015 Sharon Kendrick

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Tesouro escondido , n.º 1725 - setembro 2017

Título original: The Ruthless Greek’s Return

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-232-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Alguma coisa estava diferente, sentiu Jessica assim que entrou no edifício. Um clima inconfundível de animação e expectativa, uma sensação de mudança. Sentiu um nó na garganta com sabor a medo. Porque ninguém gosta de mudanças. Apesar de serem a única coisa garantida na vida, ninguém gosta verdadeiramente de mudanças… E ela, definitivamente, fazia parte do grupo dos que odeiam mudanças na sua vida, não era?

Por fora, a sede da cadeia de joalharias de alto nível continuava a mesma. Sofás, velas perfumadas e lustres reluzentes. Cartazes de joias brilhantes colocadas displicentemente sobre veludo negro. Muitas imagens de mulheres a olharem sonhadoramente para anéis de noivado, acompanhadas pelos seus lindos noivos. Havia até um cartaz dela própria, inclinada de modo pensativo a uma muralha e a fitar o horizonte com um pesado relógio de platina no pulso. Jessica lançou um olhar breve ao cartaz. Qualquer um que olhasse para a cena pensaria que a mulher de camiseiro leve e cabelo brilhante preso num rabo-de-cavalo tinha uma vida tranquila e bem resolvida. Jessica sorriu com frieza. Quem dizia que a câmara nunca mentia, enganava-se redondamente.

Fitando as suas botas de couro claro que, por milagre, tinham sobrevivido à viagem da Cornualha sem ficarem sujas, encaminhou-se para a receção, onde estava a rececionista de blusa decotada. Jessica pestanejou várias vezes. Tinha a certeza de que sentia cheiro de limpador de móveis misturado com o aroma de gardénia das velas. Até o enorme arranjo de rosas sobre a mesa de tampo de vidro parecia diferente, uma novidade.

– Olá, Suzy – cumprimentou Jessica, inclinando-se para cheirar uma das rosas e descobrindo que não havia fragrância nenhuma. – Tenho uma reunião às 15h.

Suzy olhou para o ecrã do computador e sorriu.

– Isso mesmo. É bom ver-te, Jessica.

– É bom estar aqui – retorquiu Jessica, embora não fosse totalmente verdade. A sua vida no campo ocupava-lhe muito tempo e só vinha a Londres quando necessário. Hoje parecia ser uma dessas ocasiões… Fora chamada através de um enigmático email que lhe provocara mais perguntas que respostas e a deixara um pouco confusa.

Por isso, abandonara as suas calças de ganga e pulôveres, e ali estava com roupas da cidade e o sorriso sereno que esperavam dela. Embora, por dentro, sofresse por Hannah ter partido… Mas, bom, em breve, aprenderia a viver com isso. Já lidara com coisas piores.

Limpando gotas de chuva da capa, murmurou:

– Por acaso sabes o que está a acontecer? Por que fui chamada aqui de repente? Só devo começar a fazer o novo catálogo no início do verão.

Suzy olhou de um lado para o outro como se já tivesse visto muitos filmes de detetive.

– Na verdade, sei. – Pausa para causar impacto. – Temos um novo patrão.

Jessica continuou a sorrir.

– A sério? É a primeira vez que ouço isso.

– Oh, não poderias ter ouvido antes. Foi uma grande aquisição de controlo acionista… muito em surdina. O novo dono é grego. Muito grego. Um playboy – explicou Suzy em poucas palavras. – E muito perigoso.

Jessica sentiu o cabelo na nuca eriçar. Não deveria sentir-se abalada ao ouvir a palavra grego, porém sentiu-se. Não foi tão mau como antes, porém nunca conseguia reagir a uma menção da Grécia sem que o coração acelerasse. Era como um cão com reflexos condicionados que salivava sempre que tocavam um sino. Um cão idiota que esperava ser alimentado, mas que apenas recebia uma tigela vazia. E era muito triste. Fitou Suzy e disse com displicência:

– A sério? Perigoso tipo fanfarrão?

Suzy abanou a cabeça com o seu cabelo ruivo.

– Tipo muito sensual e que sabe disso. – Uma luz brilhou sobre a secretária e ela premiu o botão com a unha pintada. – E vais descobrir agora mesmo.

Jessica ficou a remoer as palavras de Suzy enquanto subia de elevador até aos escritórios da cobertura. O novo patrão não teria efeito sobre ela… por mais sexy que fosse. Conhecera um homem que exalava sensualidade e dera-se mal. Olhou-se no espelho do elevador. Fora apenas um homem mas, ainda assim, queimara-a por inteiro. Coração e alma… Portanto, agora, ficava longe de homens perigosos e de todos os problemas que traziam.

O elevador parou e Jessica notou logo nas mudanças naquele andar também. Mais flores, e tudo estranhamente deserto e silencioso. Esperara ver um pequeno grupo de executivos para cumprimentar, mas até a assistente de sempre, com o seu olhar assustado, desaparecera. Olhou em volta. As portas para a sala dos executivos estavam abertas. Eram exatamente três horas. Deveria entrar e anunciar-se? Ou esperar ali até que alguém a visse? Estava parada, perante essa incerteza, quando uma voz com forte sotaque pareceu acariciar a sua pele como mel.

– Não fiques aí parada, Jess. Entra. Estava à tua espera.

De início, ela pensou que a sua mente estivesse a pregar-lhe uma partida. Disse a si mesma que todas as vozes do Mediterrâneo se pareciam e que não podia ser ele. Como reconhecer de imediato uma voz que não ouvia há anos?

Mas estava errada. Errada, errada, errada.

Entrou no escritório, seguindo a voz, parando no centro da enorme sala e, embora o seu cérebro estivesse confuso, não havia como negar a identidade do homem por trás da secretária.

Era ele.

Loukas Sarantos… Parecendo um rei. Grande, sombrio e no comando absoluto. Um sorriso irónico curvava os seus lábios. As pernas compridas estavam estendidas sob a secretária e as mãos encontravam-se espalmadas no tampo como se enfatizasse que tudo ali lhe pertencia. Chocada, Jessica reparou no seu fato cinzento e caro, ficando ainda mais confusa. Porque Loukas sempre fora um excelente guarda-costas, porém usava roupas que não o destacavam na multidão. O que fazia ali, vestido daquele modo?

Fora um homem proibido para ela desde o início e era fácil descobrir porquê. Intimidava as pessoas com um simples olhar. Era diferente de todos os que ela já conhecera. Ele fazia-a desejar coisas em que nunca pensara antes… e, quando ele lhas dera, Jessica desejara ainda mais. Loukas representava sarilhos. Era a noite e ela era o dia. Disso estava certa.

A sala pareceu desfocar-se e depois ficar tão clara que lhe feria os olhos. Queria ficar fria à frente dele, queria que ele fosse apenas uma recordação antiga de outra vida.

Ele recostava-se numa cadeira de cabedal tão negro como o cabelo que lhe roçava o pescoço. E o seu meio-sorriso não tinha nenhum traço de humor… Era gelado e atingia-a como um vento de inverno. Jessica pensou que fosse desmaiar e, em parte, achou que seria uma boa solução. Porque, se caísse no chão, não obteria uma desculpa para ir-se logo embora? Não o forçaria a pedir ajuda, acabando com a privacidade entre os dois? Entretanto, afastou esse pensamento, escondendo as emoções, e olhou em volta fingindo uma curiosidade distraída.

– Onde está a assistente que, normalmente, está aqui?

Ele pareceu levemente irritado e debruçou-se para a frente.

– Oito anos – murmurou. – Oito longos anos desde que nos vimos… e tudo o que me perguntas é sobre uma funcionária?

A confiança dele e a sua aparência enervaram-na: o homem rústico de antigamente desaparecera… assim como as calças de ganga velhas e o casaco de cabedal. Porém, mesmo com o seu exclusivo fato, ainda exalava uma sensualidade que não conseguia disfarçar. Seria por isso que a dor quase esquecida voltava a importuná-la? E talvez fosse por isso também que começava a recordar o calor dos seus lábios sobre os dela e as mãos impacientes a erguer a sua saia de jogar ténis e…

– O que fazes aqui? – perguntou, nervosa, receando que ele percebesse a sua agitação.

– Por que não tiras o casaco e te sentas, Jess? – sugeriu ele com voz aveludada. – Estás pálida.

Ela queria responder que ficaria em pé, mas estava tão chocada que perdera o equilíbrio. Talvez desmaiar não fosse boa ideia, afinal. Ficaria na horizontal… e Loukas inclinar-se-ia sobre ela. Como se desejasse beijá-la… quando na realidade, agora, fitava-a como se ela fosse um inseto que rastejara de trás de uma pedra.

Deixou-se cair na cadeira que ele indicara, a sua mala deslizou para o chão, e declarou:

– Que… surpresa!

– Acredito… – Os olhos dele brilharam. – Diz-me… como te sentiste ao entrar aqui e veres-me?

Ela ergueu os ombros sem saber o que responder e acabou por dizer:

– Suponho que deve haver uma… explicação?

– Explicação para quê? Sê mais clara.

– Para estares aí sentado comportando-te como…

De novo o meio-sorriso.

– Como se fosse o dono do sítio?

Ela engoliu em seco face à sua arrogância.

– Sim, isso mesmo.

– Porque sou o dono – retorquiu ele com impaciência. – Comprei a empresa, Jess… Pensei que fosse óbvio. Agora possuo todas as lojas da Lulu em cidades, aeroportos e navios de cruzeiros por todo o mundo.

O choque voltou a dominá-la. Disse a si mesma para ficar calma. Fora treinada na arte de permanecer focada.

Disse com forçada tranquilidade:

– Não sabia…

– Que eu era tão rico?

– Bom, isso também, é claro. – Manter o sorriso estava a ser um sacrifício. – Ou que te interessavas por joias e relógios.

Loukas cruzou os dedos e fitou os olhos de Jessica, que eram cor de água-marinha. Como sempre, nem um fio do seu cabelo louro estava fora de lugar e ele recordou que, mesmo depois do ato sexual mais extenuante, o seu cabelo caía como uma cortina brilhante e arrumada. Fitou os lábios cor-de-rosa. Jessica Cartwright. A mulher que nunca conseguira esquecer.

Respirou fundo e passeou o olhar sobre o seu corpo… pois tinha esse direito, como faria com qualquer objeto bonito que tivesse comprado.

O seu estilo continuava clássico e sereno. Um corpo bem definido que revelava a atleta. Jessica nunca gostara de roupas provocantes ou de maquilhagem pesada… A sua aparência sempre fora natural. E ele sentira-se imediatamente atraído sem saber porquê. Observou a blusa branca, que realçava os seios pequenos, e os brincos de pérolas nas orelhas. O rabo-de-cavalo acentuava-lhe as maçãs do rosto. Como ela parecia distante e intocável. Mas era mentira. Porque por trás da imagem de dama de gelo havia uma mulher desfrutável e cínica como qualquer outra. Alguém que colhera o que quisera dele e depois o abandonara… ofegante como um peixe fora da água.

– Há muitas coisas que ignoras a meu respeito – disse ele, secamente. E muitas coisas que ela iria descobrir.

– Não compreendo… – Ela arregalou os olhos. – Da última vez que te vi, eras um guarda-costas. Trabalhavas para um milionário russo. – Jessica franziu a testa tentando lembrar-se. – Dimitri Makarov. Era esse o nome dele, não?

Neh… Sim. Era esse o nome – concordou Loukas. – E eu era o sujeito destemido com uma arma dentro do casaco, uma montanha de músculos que rachava madeira de um golpe só. – Lembrou-se de como ela deslizava os dedos pelos seus músculos. – Porém, certo dia, resolvi usar o cérebro em vez dos bíceps. Percebi que uma profissão dedicada a proteger os outros seria breve e que precisava de pensar no futuro. Além disso, algumas mulheres consideram os homens musculosos uns trogloditas não é, Jess?

Ela enrijeceu, apertando as mãos, e Loukas ficou satisfeito, porque desejava vê-la reagir. Assistir à sua calma a derreter.

– Sabes muito bem que eu nunca disse isso – retorquiu Jessica.

– É verdade, mas o teu pai disse e limitaste-te a ficar parada e muda. Foste cúmplice do seu silêncio. A princesinha a concordar com o papá. Posso lembrar-te de outras coisas que ele disse?

– Não! – Ela levou a mão ao pescoço como se estivesse a sufocar.

– O teu pai chamou-me bandido. Que eu iria arrastar-te para o esgoto de onde tinha vindo se ficasses comigo. Lembras-te, Jess?

Ela abanou a cabeça, murmurando:

– Por que… estamos sentados aqui a falar do passado? – Já não parecia tão calma. – Namorei contigo quando era adolescente e, sim, o meu pai não gostou quando descobriu que éramos…

– Amantes – completou ele com voz suave.

Jessica engoliu em seco.

– Amantes – repetiu como se lhe doesse. – Mas tudo aconteceu há muito tempo e já não tem importância. Eu… segui em frente e espero que tu também.

Loukas teria rido se não sentisse tanta raiva. Ela humilhara-o como nenhuma mulher fizera. Pisara os seus sonhos tolos… e achava que não tinha importância? Bom, ia mostrar-lhe que quando se traía alguém, pagava-se por isso.

Pegou numa caneta de ouro e rolou-a entre os dedos sem deixar de fixar Jessica.

– Talvez tenhas razão – disse. – Não devemos focar-nos no passado, mas no presente. E, é claro, no futuro. Mais especificamente… no teu futuro.

Viu como ela ficava novamente tensa. Teria adivinhado o que viria a seguir? Por certo, percebia que um homem na sua posição atual poderia romper o contrato com ela sem grandes consequências para a empresa.

– O que tem o meu futuro? – perguntou Jessica na defensiva, vendo-o rodar a caneta para o outro lado.

– Trabalhas para a empresa há… quanto tempo, Jess?

– Tenho a certeza que sabes.

– Sim, sei. O teu contrato está aqui à minha frente. Entraste para a Lulu logo depois de pores fim à tua carreira de tenista, não foi?

Jessica teve medo de concordar. Não queria fragilizar-se à frente de Loukas. Pôr fim à carreira de tenista? Ele referia-o como se fosse algo sem importância, como se o desporto que amava desde criança não tivesse sido arrancado da sua vida, deixando um vazio. E logo a seguir a terem terminado o namoro. Fora um duplo golpe difícil de superar. Entretanto, precisara de superar, senão afundaria, e precisava de tomar conta de Hannah. Mas agora estava também sem a companhia de Hannah.

– Isso mesmo – murmurou.

– Então por que não me contas como conseguiste o trabalho, facto que surpreendeu muita gente do setor, já que nunca foste modelo? – Loukas arqueou as sobrancelhas. – Dormiste com o patrão?

– Não sejas boçal – retorquiu ela sem pensar. – Ele tinha 60 anos.

– Senão fosse isso, ter-te-ias sentido tentada? – Ele voltou a recostar-se, satisfeito por tê-la tirado do sério. – Sei por experiência própria que as mulheres desportistas têm um apetite sexual voraz. Particularmente tu, Jessica, eras espetacular na cama. E fora da cama. Não conseguias saciar-te comigo, não era?

Jessica forçou-se a não cair na armadilha, embora fosse verdade. Loukas estava a brincar ao gato e ao rato com ela, antes de dominá-la. Mas, de momento, continuaria a fazer o seu jogo. Que outra opção teria, já que ele detinha o poder? Sair a correr não adiantaria… Não se tratava apenas de sobrevivência, mas de orgulho.

Podia ter conseguido o emprego de modelo na Lulu por pura sorte, mas crescera na nova e inesperada carreira que o destino lhe dera para compensar os seus sonhos destruídos. Tinha orgulho no que conseguira e não iria mandar tudo fora só porque estava à frente do homem que nunca esquecera.

– Queres uma resposta? Ou pretendes ficar aí a insultar-me?

Ele fez menção de sorrir, mas murmurou:

– Continua.

Jessica respirou fundo como quando ia começar um jogo de ténis.

– Sabes que rompi um ligamento e que isso acabou com a minha carreira?

Ele anuiu com um gesto de cabeça frio e Jessica pensou se saberia também da morte do seu pai.

– Ouvi dizer que te retiraste na véspera de um campeonato importante – esclareceu ele. – E que esperavas vencer, apesar da tenra idade.

– É verdade – murmurou Jessica, sem esconder a emoção. Não importava dizer a si mesma que outras pessoas enfrentavam reveses muito piores… Privar-se da sua carreira ainda a magoava. Pensou em como suara pela sua carreira e nos amigos e relações que perdera pelo caminho.

Lembrou-se do início dos seus dias como tenista e em como o seu pai insistira até ela não aguentar mais. Os infindáveis sacrifícios e o sentimento de que jamais seria suficientemente boa. E tudo terminara com o ligamento roto enquanto corria atrás de uma bola que nunca alcançaria.

Engoliu em seco.

– Os jornais publicaram a minha foto a deixar a conferência de imprensa e a sair do hospital.

Tornara-se uma foto emblemática que correra todos os jornais. O seu rosto pálido e contraído. A sua trança loura que fora a sua marca registrada, caída sobre o ombro frágil onde as esperanças desportistas do país tinham outrora repousado.

– E?

A pergunta breve fê-la voltar ao momento presente e fitar o seu rosto moreno. Desejou tocar os seus traços fortes. Será que Loukas conseguiria apagar com um beijo todo o seu sofrimento? Viu que ele lhe lia os pensamentos. Fora um erro. Desde criança, ela aprendera a não mostrar fraqueza perante ninguém… Especialmente com Loukas. Porque ele explorava as fraquezas alheias.

– Os diretores da Lulu repararam que eu usava um relógio de plástico na foto – continuou. – Acontece que a empresa estava a lançar um novo relógio desportivo, direcionado a adolescentes, e pensou que eu tinha a imagem ideal para a campanha publicitária.

– Porém, tu não és nenhuma grande beleza.

Ela fixou-o, determinada a não demonstrar a sua mágoa, porém não podia culpá-lo por dizer a verdade, podia?

– Sei disso, mas sou fotogénica. Tenho as maçãs do rosto elevadas e os olhos bem separados, o que agrada à câmara… Pelo menos foi o que o fotógrafo me disse. Fico melhor em fotografia do que pessoalmente. Por isso contrataram-me. Creio que contaram com a publicidade por causa do final da minha carreira de tenista e a campanha foi um sucesso. – Fez uma pausa e entristeceu. – Depois, quando o meu pai e a minha madrasta morreram na avalanche, acho que a empresa ficou com pena de mim… e, é claro, houve mais publicidade, o que era bom para a marca.

– Lamento pelo teu pai e pela tua madrasta, mas essas coisas acontecem.

– Sem dúvida. – Jessica ficou na defensiva. – Porém, a Lulu não me manteria na folha de pagamentos todos estes anos se eu não ajudasse a vender relógios, por isso continuam a renovar o meu contrato.

– Mas já não és uma adolescente e já não representas tão bem esse nicho de mercado – murmurou ele.

Jessica sentiu uma pontada de alarme. Procurou esquecer que tinham sido amantes e que a relação terminara tão mal. Teria de tratá-lo como qualquer executivo… Homem ou mulher. Ser gentil. Ele era o seu patrocinador. Usa o teu charme.

– Tenho 26 anos, Loukas. Não estou velha. – Esforçou-se para sorrir o tipo de sorriso que uma rapariga lança para o mecânico quando o seu carro avaria no meio da estrada. – Mesmo nesta época de obsessão pela juventude.

Percebeu que ele desaprovava a técnica de usar charme. Jessica perguntou-se se estaria a ser manipuladora, mas não se importou, porque estava a lutar pelo seu emprego, e por Hannah também.

enquanto ele satisfazia os seus desejos sexuais…

O que estaria disposta a fazer para manter o contrato? Se ele mandasse que ela gatinhasse por baixo da secretária, lhe abrisse o fecho das calças e lhe desse prazer… ela obedeceria? Sentiu-se excitado com a ideia. Não. Não queria que Jess agisse como uma prostituta.

O que queria… na verdade… era que fosse dócil e generosa. Queria vê-la sob o seu corpo, de preferência nua. Ouvi-la gemer de prazer enquanto a penetrava. Satisfazer a sua fome até que ela se tornasse dependente dele.

E então ir-se-ia embora como ela fizera.

Viraria a mesa.

Os dois´ estariam empatados.

Fitou os seus olhos cor de água-marinha.

– Vais ter de mudar – declarou.