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Editado por Harlequin Ibérica.

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© 2007 Chantelle Shaw

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Lágrimas de amor, n.º 1079 - junho 2017

Título original: The Spanish Duke’s Virgin Bride

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9837-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

– Suponho que isto é uma brincadeira, não é?

O duque Javier Alejandro Diego Herrera afastou-se da janela do castelo, da qual se avistava a linda paisagem andaluza, para olhar para o idoso que tinha à frente dele.

– Garanto-lhe que não brincaria com algo tão importante – respondeu Ramón Aguilar friamente. – As condições do testamento do seu avô são muito claras: se não se casar antes de fazer trinta e seis anos, será o seu primo Lorenzo quem ficará com o controlo do Banco de Herrera.

Javier praguejou, franzindo o sobrolho.

– Meu Deus! – exclamou. – Como frequentemente o meu avô dizia, Lorenzo é como um menino pequeno. Não tem objectivos na vida, não tem ambições. Diga-me, o que tem ele para que Carlos achasse que ele seria um sucessor mais credível do que eu como presidente do banco? – perguntou, enquanto a incredulidade se transformava em aborrecimento.

– Ele está casado – murmurou o senhor Aguilar.

Javier, que deambulava pelo quarto como um tigre enjaulado, parou repentinamente. Olhou para o advogado que fora o homem de confiança de Carlos Herrera.

– Quando fiz dez anos, o meu avô começou a preparar-me para que ocupasse o lugar dele como cabeça da família Herrera e, mais importante ainda, como presidente do Banco de Herrera – disse entre dentes, tentando controlar o seu aborrecimento. – Porque haveria de mudar de opinião de repente?

O filho de Carlos, o pai de Javier, morrera de uma overdose algum tempo depois de ter sido expulso da família. Javier passara a ser o duque de Herrera depois de o seu avô ter morrido, mas o que mais lhe importava, o controlo do banco, a mina de ouro, ainda lhe fugia das mãos.

– Está a querer dizer que me é recusado o que me pertence por o meu primo estar casado e eu não? É essa a única razão? – exigiu saber. Os seus olhos cor de âmbar faiscavam.

– O último desejo do seu avô foi deixar o banco nas mãos de um homem no qual pudesse confiar e que garantisse a continuidade do seu sucesso.

– Eu sou esse homem – resmungou Javier, impaciente.

– Durante os últimos meses, houve muitas coisas que preocuparam e impressionaram o seu avô – disse o advogado.

Então tirou umas fotografias da sua secretária nas quais se via Javier na companhia de diferentes mulheres, mas todas loiras e com um enorme decote.

Javier olhou para as fotografias e encolheu os ombros para mostrar indiferença; nem sequer conseguia recordar o nome de muitas daquelas mulheres.

– Não me tinha apercebido de que o meu avô esperava que eu fizesse um voto de celibato – disse.

– Não esperava isso. Os termos do seu testamento estabelecem que deve encontrar uma esposa. E acho que faltam dois meses para poder fazê-lo… ou perderá o controlo do banco. O Banco de Herrera é um banco tradicional…

– Que eu pretendo trazer para o século XXI – afirmou Javier misteriosamente.

– Carlos apoiava as suas ideias inovadoras, e é verdade que o banco precisa de ser modernizado. Terá de introduzir ideias frescas, mas não poderá fazê-lo sem o apoio da sua equipa – avisou Ramón. – Os directores são cautelosos e não gostam de mudanças. Querem um presidente que partilhe os seus valores de decência e moralidade… que tenha uma família. Não gostam de ver fotografias suas com as suas últimas conquistas na imprensa sensacionalista.

Ramón fez uma pausa, mas continuou a falar:

– Carlos preocupava-se com o facto de a sua… rica vida social tivesse algum efeito sobre a sua capacidade decisória. Ouvi dizer que houve problemas com a filial britânica do banco. O administrador que nomeou, Angus Beresford, foi uma má escolha.

Javier sabia que cometera um erro com Angus, que o traíra. Não precisava que lho recordassem.

– Tenho a situação controlada. Estou a tratar do problema e pode estar descansado, porque pedirei contas a Beresford – resmungou, furioso.

Aproximou-se novamente da janela para contemplar a enorme propriedade dos Herrera. Ele era o dono de tudo aquilo, mas sentia-se como um rei destronado. O Banco de Herrera era dele. Passara os últimos vinte e cinco anos à espera daquele momento e aperceber-se de que o seu avô não só duvidara da sua capacidade como também expressara as suas dúvidas a outras pessoas era difícil de digerir.

– Sou a pessoa ideal para o lugar – assinalou friamente. – Como podia o meu avô duvidar simplesmente por causa de umas fotografias que os malditos paparazzi me tiraram? E isso do casamento! Mãe de Deus, o que ganhou o meu pai por se ter casado? A minha mãe era uma dançarina de flamenco e uma prostituta que destruiu a vida dele com as suas aventuras amorosas. Acredite que nunca permitirei que nenhuma mulher tenha tal poder sobre mim. O que raio fez o meu avô pensar que eu queria casar-me?

– O seu avô esperava que escolhesse uma mulher da mesma classe social, uma mulher que entenda as responsabilidades de ser a esposa de um duque – murmurou o advogado. – De facto, pouco antes de morrer, Carlos confiou-me que esperava que se casasse com Luz Vázquez.

– Eu deixei-lhe claro que não tenho nenhuma intenção de me casar com uma menina de dezassete anos. Meu Deus, Luz ainda anda na escola! – explodiu Javier.

– Ela é jovem, isso é verdade, mas seria uma excelente duquesa. E, claro está, o casamento traria o benefício de fundir duas grandes famílias dedicadas aos bancos. Pense nisso.

A última conversa que Javier tivera com o seu avô fora parecida, e reconheceu, como tinha feito naquele momento, a atraente união de dois dos mais poderosos bancos espanhóis. Mas não era tolo e apercebera-se de que era uma forma de o seu avô continuar a controlá-lo… inclusive do túmulo. Miguel Vázquez, velho amigo de Carlos, ficaria muito satisfeito, e ele acabaria preso a uma menina mimada que nunca escondera a sua teimosia.

O seu avô, que fora muito ardiloso, saíra vencedor, mas só por enquanto, pois Javier estava decidido a ganhar aquela batalha e nada, nem o inconveniente de ter de encontrar uma esposa, o pararia.

– Portanto tenho dois meses para encontrar uma duquesa – murmurou serenamente. – Acha que conseguirei fazê-lo, Ramón? – perguntou, sorrindo abertamente e evidenciando a confiança que tinha em si mesmo.

– Sinceramente espero que sim – respondeu Ramón. – Se fala a sério quando diz que quer ser o próximo presidente do banco…

– É o que sempre desejei, e não há nada que não fizesse para o conseguir – disse Javier, apagando-se-lhe o sorriso da cara.

Ramón pôde ver nele a dureza, a obstinação e a inexorabilidade do seu avô. Sentiu pena por quem viesse a ser a sua esposa já que, durante anos, todos os casamentos Herrera tinham sido um inferno.

Javier estendeu a mão ao advogado do seu avô.

– Vemo-nos daqui a dois meses e apresentar-lhe-ei a minha noiva – disse, revendo mentalmente a lista de várias das suas namoradas, perguntando-se qual acederia a um casamento como aquele. Teria de oferecer um bom incentivo económico, que pagaria no dia do seu divórcio. Não queria mal-entendidos.

– Assim espero. E, no seu primeiro aniversário de casamento, adorarei passar todo o poder do Banco de Herrera para o seu nome. Até lá, caso encontre uma esposa antes do seu aniversário, continuará com o cargo de presidente do banco, mas todas as decisões que tenham de ser tomadas deverão ser aprovadas pela minha equipa legal e por mim.

– Um ano! – exclamou Javier, agarrando o testamento do seu avô.

– O seu avô achava que agia em benefício do Banco de Herrera – começou a explicar Ramón, mas calou-se ao observar o olhar frio de Javier.

– Não se iluda, Ramón – resmungou. – Terei o que por direito me pertence e nada, nem sequer os desejos de um fantasma, me vão parar.

Capítulo 2

 

O guia turístico indicava que o Palácio de los Leones era do século XII e de estilo mourisco, construído na Serra Nevada. A partir dele via-se toda a cidade de Granada. A estrada que ia dar ao palácio era muito íngreme, por isso Grace teve de pôr uma mudança mais lenta. Pensou que, se continuasse a subir, chegaria às nuvens.

Ao longe, conseguia ver as montanhas que se levantavam ainda mais. Ainda tinham neve nos topos, mas onde ela estava tudo era verde. Chovia, o que estava de acordo com o seu humor.

– Esteve a chover durante três dias – dissera-lhe um empregado do hotel quando chegara a Granada. – Não é muito comum, tendo em conta que a Primavera está a acabar… mas espere, amanhã fará sol e toda a gente ficará feliz.

Contudo Grace pensou que aquele homem não sabia que era preciso muito mais do que uma mudança climatérica para lhe levantar o espírito. Imaginou o seu pai, velho e com a barba por fazer, caído numa cadeira. O magnífico administrador de um banco enfraquecera à sua frente e no seu lugar ficara um homem completamente destruído.

– Não podes fazer nada, querida – dissera-lhe Angus, tentando sorrir.

Inclusive naquele momento o seu pai continuara a proteger a sua única filha, o que fizera com que ela estivesse decidida a agir de alguma forma.

O seu pai era o seu herói, o homem mais maravilhoso sobre a face da terra, porém a má administração de recursos no banco que aquele fizera deixara-a muito impressionada. Tinha compreendido as suas razões, certamente. Todos aqueles anos a ver como a sua mãe piorava devido à sua doença neurológica foram devastadores. Angus tentara encontrar um medicamento para algo incurável, o que fosse, desde ervas chinesas a dispendiosos tratamentos nos Estados Unidos. Ainda assim valera a pena ter tentado para aliviar a dor da sua adorada esposa.

Mas no fim tudo fora inútil, e Susan Beresford falecera há dois anos, poucas semanas antes do vigésimo primeiro aniversário de Grace. Até há poucas semanas, ela não sabia que o seu pai financiara os tratamentos da sua mãe apostando em jogos de azar nem que aquele vício o conduzira a «levar emprestado» dinheiro do Europa Bank, a filial britânica do Banco de Herrera, para pagar as suas dívidas.

– Sempre planeei devolvê-lo, juro – dissera Angus diante do espanto da sua filha. – Um golpe de sorte era tudo o que precisava. Se tivesse conseguido devolver o dinheiro, fechar as contas falsas, ninguém descobriria nada.

Todavia tinham descoberto. Um auditor vira irregularidades e tinham chegado até ao fundo da questão. E ela só pudera ver como o seu mundo e, mais importante ainda, o seu pai se desmoronavam.

Murmurando, angustiada, voltou a fixar a sua atenção na estrada, que continuava muito íngreme. Num dado momento, agarrou o volante com força ao ver um desfiladeiro, dando-se conta de que, se fizesse um movimento brusco com o volante, podia cair pela ravina. Odiava as alturas e começou a ficar maldisposta. Pensou em voltar para trás, mas a estrada era demasiado estreita para o fazer. E, além disso, tinha um trabalho a fazer.

O Palácio de los Leones era a residência da família Herrera há muitas gerações e desejou que o duque estivesse em casa. As cartas que lhe enviara não tinham obtido resposta, e todas as tentativas de o contactar por telefone foram evitadas pela sua eficiente equipa pessoal. Desesperada, viajara até aos escritórios centrais do banco, em Madrid, e de lá apanhara um avião até Granada, onde a tinham informado que o presidente estava na sua residência privada nas montanhas.

Para seu alívio, a estrada tornou-se menos íngreme e, ao fazer uma curva, pôde ver o castelo.

Quando finalmente saiu do carro, tinha o coração acelerado. Doíam-lhe todos os músculos, embora não soubesse se era devido à difícil condução ou ao facto de finalmente poder falar com Javier Herrera.

O castelo era um exemplo muito impressionante da arquitectura mourisca, mas Grace não deixava de olhar para a porta, que estava ladeada por dois leões de pedra. Tremeu e pensou que não gostaria de estar ali às escuras. Na verdade, não gostava de estar ali, todavia o duque de Herrera era o único que podia salvar o seu pai e quanto mais depressa falasse com ele melhor.

Estava a ficar encharcada sob a chuva, por isso aproximou-se novamente do carro para ir buscar a pashmina que levara com ela.

Então seguiu em frente para bater à porta e, precisamente quando ia fazê-lo, esta abriu-se e duas figuras apareceram. Uma das pessoas era claramente um membro do pessoal do castelo e a outra era um homem maior e baixinho.

– Vim falar com o duque de Herrera – disse Grace com a voz entrecortada.

Graças às férias que passara durante anos com a sua tia Pam em Málaga, falava fluentemente espanhol.

– Se tem amor à sua vida, menina, não o recomendo – disse o idoso. – O duque não está de muito bom humor.

Mas Grace, esperançada, pensou que pelo menos estava no castelo. Javier Herrera estava ali e tudo o que ela tinha de fazer era convencer o mordomo que a deixasse vê-lo.

Vários minutos depois ainda estava nas escadas.

– Por favor – suplicou pela última vez.

– Sinto muito, mas é impossível. O duque nunca recebe visitas imprevistas – insistiu o mordomo, impaciente.

– Mas se lhe dissesse que eu estou aqui… garanto-lhe que só lhe roubarei cinco minutos.

Contudo o mordomo fechou a porta e ela, num impulso infantil, deu-lhe um pontapé.

– Maldito sejas, Javier Herrera – murmurou, pestanejando para conter as lágrimas.

Parecia que não tinha outra alternativa senão conduzir de volta a Granada, mas não conseguia suportar pensar que falhara. Não podia dar-se por vencida. O duque de Herrera estava ali, do outro lado daquelas paredes, e devia haver alguma maneira de se aproximar dele e fazer com que a ouvisse.

Recordou novamente o seu pai, como a morte da sua mãe o afectara muitíssimo e como estava imerso numa profunda depressão. Se Grace conseguisse fazer desaparecer o medo que o seu pai tinha de ir parar à prisão, uma possibilidade muito provável, segundo o senhor Wooding, o advogado da família, talvez pudesse sair da terrível situação em que se encontrava.

Parara de chover e, embora o céu ainda estivesse cinzento, ténues raios de sol surgiam através das nuvens. Então avistou uma grade que dava para o pátio. Disse para si que certamente estava fechada, porém, para seu espanto, ao empurrá-la, abriu-se e conseguiu entrar no pátio.

O jardim era lindo, como um pedaço de céu que conseguiu acalmar os seus nervos. Estava repleto de fontes e botões de rosas. Num impulso, arrancou uma flor e cheirou-a. Durante alguns segundos, sentiu que o peso das suas preocupações a abandonava. Podia ficar ali para sempre, a ouvir o doce cantar dos pássaros.

No entanto, enquanto observava, encantada, um dos lagos, teve a sensação de que alguém estava a observá-la. Virou-se devagar e ficou sem fôlego.

Havia um homem no extremo oposto do jardim, mas, apesar da distância, a sua altura era notável. Grace pôde sentir o poder e a força dele, contudo o dobermann que este tinha ao seu lado chamou a sua atenção. O medo apoderou-se dela. Aquele não era um animal de estimação amigável. Sem dúvida era um cão de defesa, e aquele homem devia ser um membro da segurança do castelo.

Foi nesse momento que se deu conta de que entrara numa propriedade privada sem autorização. O mais sensato seria aproximar-se do homem e desculpar-se, porém a expressão da sua cara parecia-lhe aterradora. O instinto apoderou-se dela e saiu a correr, mas, ao olhar para trás, por cima do ombro, viu que o homem soltara o cão, que corria atrás dela.

Aterrorizada, Grace tentou encontrar uma saída, contudo o jardim estava entre quatro paredes, três das quais eram muito altas, ainda que a quarta fosse velha e mais baixa.

O cão estava quase sobre ela e, então, conseguiu imaginar os afiados dentes do animal a cravarem-se na sua carne. Desesperada, começou a subir pela parede velha e, utilizando toda a sua força, conseguiu chegar ao topo. Acalmou-se, dizendo a si mesma que já estava em segurança. O cão estava debaixo dela, a ladrar furioso, mas com sorte ela conseguiria passar para o outro lado. Ao tentar descer a parede para a rua, apercebeu-se de que era demasiado alta e que se tentasse certamente morreria na queda. A sua única alternativa era voltar a descer para o jardim… onde o cão a esperava.

Todavia ficou paralisada pelo medo e observou, enquanto o homem se aproximava.

– Calma, Luca – disse Javier, aproximando-se sem pressa do seu cão.

Não sentiu nenhuma pena por aquela mulher e pensou que podia ficar ali em cima todo o dia. Estava mais do que farto dos paparazzi que o perseguiam constantemente. Já os aguentara o suficiente na cidade, por isso ver uma jornalista no seu castelo pareceu-lhe demasiado.

– Como conseguiu entrar? – exigiu saber impacientemente. – E o que quer?

Não conseguia ver nenhuma máquina fotográfica, mas, enquanto prendia o cão, pensou que talvez tivesse caído quando fugia dele.

– Desça daí. O cão já está preso e não lhe fará nada.

Mas Grace não se moveu, e Javier franziu o sobrolho. Não estava de bom humor e tudo o que queria era que aquela mulher saísse da sua propriedade. Ao olhar para ela com atenção, apercebeu-se de que não era espanhola, por isso repetiu o que dissera em inglês, já que costumava ser uma forma de comunicação universal.

– Não consigo descer – disse finalmente Grace, sussurrando. Estava paralisada pelo medo, devido à altura da parede, e tinha a cabeça às voltas.

– Menina, tem de descer daí – disse ele, num tom irritado.

Mas então percebeu que ela estava aterrorizada e prestes a desmaiar.

– Não tem de ter medo – disse num tom mais suave. – Não lhe farei mal, nem o cão. Solte-se que eu agarro-a.

Ela continuou ali paralisada, e Javier assustou-se ao ver como ela empalidecia e fechava os olhos. Por mais que odiasse jornalistas, não queria que aquela rapariga caísse, pois morreria.

– Menina, salte para os meus braços. Comigo estará segura. Como se chama? – exigiu saber.

– O meu nome é… Grace… Beresford – disse ela enquanto se deixava cair, mesmo antes de desmaiar.

 

 

Quando Grace abriu os olhos, o terror apoderou-se dela ao ver que ele a levava ao colo.

– Para onde me leva? – exigiu saber. – Ponha-me no chão.

Não conseguia ver claramente a cara daquele homem, já que o gorro lhe escurecia o rosto, porém o seu queixo quadrado indicava força. Ele parou e pô-la no chão, o que fez com que ela cambaleasse e caísse de joelhos.

O homem não fez nenhuma tentativa de a ajudar. Em vez disso ficou a observá-la, com o cão preso ao seu lado.

– Não posso acreditar que soltou o cão para me atacar – disse de forma acusadora, incapaz de controlar o tremor da sua voz.