Portada

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2010 Lynne Graham. Todos os direitos reservados.
SEGUNDO CASAMENTO, N.º 1290 - Março 2011
Título original: Virgin on Her Wedding Night
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.
® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-671-9572-9
Editor responsável: Luis Pugni

ePub X Publidisa

Logo colección

Segundo casamento

Lynne Graham

Logo editorial

CAPÍTULO 1

– É tudo teu, o negócio, a casa e os terrenos – confirmou-lhe o advogado.

Quando Valente Lorenzatto sorria, os seus inimigos protegiam-se. Até os seus empregados tinham aprendido a receá-lo. O seu sorriso era sempre premonitório de alguma ameaça. Enquanto contemplava os documentos que tinha diante de si, a sua boca generosa e sensual fez com que o seu rosto atraente parecesse arrepiante.

– Excelente trabalho, Umberto!

– Foi o teu próprio trabalho – respondeu-lhe o outro homem. – O teu plano foi um sucesso.

No entanto, Umberto teria dado tudo para saber porque é que o seu chefe, que já era imensamente rico, tinha dedicado tanto tempo e energia a planear a falência e posterior compra de uma empresa de transportes inglesa e de uma propriedade privada que não lhe parecia que tivessem valor financeiro suficiente, nem estratégico. Corria o rumor de que Valente tinha trabalhado lá antes de fazer o primeiro grande negócio dele. Fora depois disso que a família Barbieri tinha decidido reconhecê-lo finalmente como o neto ilegítimo do conde Ettore Barbieri.

Aquela revelação, aliada à sua forma peculiar de vida e ao seu sucesso espectacular graças à aquisição de várias empresas, tinha causado uma grande agitação pública. Valente era um homem muito inteligente, mas conheciam-no sobretudo pela sua crueldade. O clã dos Barbieri tivera muita sorte ao encontrar uma galinha dos ovos de ouro na família numa altura em que a sua fortuna tinha necessitado de um empurrão. No entanto, o sucesso de Valente nesse âmbito tinha servido de pouco consolo para esses familiares que acabava de recuperar, já que o velho conde Barbieri começara a idolatrá-lo e acabara por deserdar o resto dos descendentes para lhe deixar tudo.

Os jornais tinham escrito a esse respeito durante meses e tinham exigido a Valente que aceitasse o apelido Barbieri para poder herdar tudo. No en-tanto, Valente, um rebelde que não suportava que lhe dissessem o que tinha de fazer, tinha ido a julgamento, argumentando que estava muito orgulhoso do apelido da sua mãe, Lorenzatto, e que seria uma ofensa à memória dela e a tudo o que tinha feito por ele. Todas as mães de Itália tinham gabado a sua atitude, Valente vencera o caso e tornara-se um dos multimilionários mais famosos do país, a quem as pessoas mais influentes pediam a opinião e cujos comentários apareciam em todos os meios de comunicação. Como é claro, era um homem extremamente fotogénico e tinha grande habilidade para os media.

Valente dispensou Umberto e os outros membros da sua equipa, e saiu para apanhar ar numa das varandas esplêndidas de pedra que davam para o movimentado Grande Canal de Veneza. A família Barbieri ficara muito espantada quando Valente tinha decidido restaurar o palazzo Barbieri para instalar lá a sede da sua empresa. Só tinha acondicionado uma parte para sua residência. Valente tinha nascido e crescido em Veneza, e esperara que o seu falecido avô Ettore fizesse o que devia fazer para preservar o palazzo para futuras gerações e para momentos em que a situação económica deixasse de ser tão boa.

Valente bebeu um gole do seu café e saboreou aquele momento, para o qual tinha trabalhado durante cinco longos anos. A Hales Transport já era sua. Rendera-se aos seus pés graças ao efeito negativo da gestão incompetente e fraudulenta de Matthew Bailey. Valente também se tornara dono de uma casa antiga chamada Winterwood. Aquele era um momento de profunda satisfação para ele. Regra geral, não era um homem paciente, nem vingativo. Afinal, não tinha tentado vingar-se da sua própria família, que obrigara a sua mãe a trabalhar para o sustentar. De facto, se lhe tivessem perguntado, Va-lente, que gostava de viver o presente, teria dito que os actos de vingança eram uma perda de tempo e que era melhor continuar a viver e esquecer o passado, já que o futuro era um desafio muito mais emocionante.

Infelizmente, depois de cinco anos, ainda teria de conhecer uma mulher que o excitasse tanto como a que tinha estado prestes a tornar-se sua esposa, a inglesa Caroline Hales. Uma artista bonita, de cabelo e olhos claros, que chorava quando descobria que alguém tinha sido cruel com um animal, mas que o tinha deixado plantado no altar, sem hesitar, por um homem mais rico e com uma posição social melhor do que ele.

Cinco anos antes, Valente era um homem trabalhador comum, que conduzia um camião e trabalhava muitas horas para tentar criar o seu próprio negócio quando tinha algum tempo livre. A vida era difícil, mas boa, até que tinha cometido o erro de se apaixonar pela filha do dono da Hales Transport. E Caro, como lhe chamava a adorável família dela, rira-se dele desde o início. Gozara com os dois, com Matthew Bailey e com ele, mas, por fim, casara-se com Matthew.

Valente já não era um homem pobre sem poder. De facto, fora a raiva que lhe tinha causado imaginar a mulher que amava nua com outro homem que tinha feito com que lutasse tanto pelo sucesso. Pensara que assim voltaria a ter Caroline nua entre os seus braços. Sorriu com ironia. Esperava que a viúva que tinha visto fotografada de luto valesse a pena, depois de tantos esforços.

Pelo menos, certificar-se-ia de que, quando lhe tirasse a roupa preta, se vestisse finalmente a seu gosto. Tirou o telemóvel do bolso e telefonou para a loja de lingerie mais exclusiva de Itália. Encomendou um conjunto do número de Caroline, em tons claros, que lhe realçariam a pele pálida e as curvas delicadas. Excitou-se só de o imaginar e teve de reconhecer que estava demasiado necessitado de sexo para o seu gosto.

Teria de ir ver Agnese, a sua companheira de cama, antes de ir para Inglaterra para tomar posse da sua nova amante e de todos os seus bens.

Já estava na hora.

Valente marcou um número no seu telefone e fez a chamada para a qual tinha trabalhado durante cinco anos...

Vinte e quatro horas antes de Valente fazer aquela chamada, Caroline Bailey, anteriormente Hales, tinha tido uma conversa triste com os seus pais.

– Claro que sabia que a empresa tivera problemas no ano passado! Mas quando é que hipotecaram a casa?

– No Outono. A empresa precisava de capital e o único modo de conseguir um empréstimo era utilizando a casa como garantia – respondeu-lhe Joe Hales, apoiando-se pesadamente numa poltrona. – Já não se pode fazer nada a esse respeito, Caro. Perdemos tudo. Não conseguíamos pagar as mensalidades e a casa foi adquirida...

– Porque é que não mo contaram nessa altura? – perguntou Caroline, com incredulidade.

– Acabavas de enterrar o teu marido – recor dou-lhe o seu pai. – Já tinhas problemas suficientes.

– Só nos deram duas semanas para sair de casa! – exclamou Isabel Hales.

Era uma mulher bela e loira, de quase setenta anos, com o rosto inexpressivo, que denunciava várias operações plásticas. O seu aspecto era o oposto do do seu marido, alto e bem constituído.

– Não posso acreditar – acrescentou. – Sabia que tínhamos perdido o negócio, mas a casa também? Que pesadelo!

Caroline, que estava a reconfortar ao seu pai, resistiu ao impulso de dar um abraço à sua mãe. Ela era uma pessoa sensível, mas a sua mãe, não. Enquanto o seu pai tinha crescido sentindo-se seguro ao ser o filho de um dos principais empresários da zona, a sua mãe tinha sido criada por uns pais ambiciosos, mas sem dinheiro, nem posição social, e tinha herdado deles as mesmas aspirações e a mesma veneração pela riqueza.

Apesar de não parecerem um casal destinado a ser feliz, a única desilusão do casamento deles fora a infertilidade de Isabel. Os Hales já tinham mais de quarenta anos quando tinham decidido adoptar Caroline, que tinha três anos. Dado que fora filha única, tivera uma educação excelente e um lar estável, e nunca lhe teria ocorrido dizer em voz alta que se sentia muito mais próxima do seu pai bondoso do que da sua mãe azeda e prepotente. Na verdade, ela nunca tinha partilhado as aspirações nem os interesses da sua mãe adoptiva e tinha consciência de que as decisões que tomara na vida tinham decepcionado os seus pais.

– Como é possível que nos tenham dado só duas semanas para sair de casa? – perguntou Caroline, com incredulidade.

Joe abanou a cabeça.

– Temos sorte por nos terem dado tanto tempo. Na semana passada, veio cá um perito e depois voltou com uma oferta dos nossos credores. Não era muito alta, mas os administradores aceitaram-na, já que era necessário pagar as dívidas e tentar salvar os postos de trabalho. Ainda bem que encontraram um comprador para a Hales Transport.

– Mas foi demasiado tarde para nós! – replicou Isabel, zangada.

– Perdi o negócio do meu pai – respondeu-lhe o seu marido, com paixão. – Tens ideia de como me sinto envergonhado? Perdi tudo pelo qual o meu pai tanto trabalhou.

Caroline sentiu que os olhos se enchiam de lágrimas e mordeu o lábio para não voltar a dizer aos seus pais como lamentava que não tivessem confiado nela antes de terem hipotecado a casa. Questionou-se se a sua mãe, tão ligada à casa imponente e ao nível de vida desafogado, teria pressionado o seu pai para que salvasse o negócio a todo o custo. Infelizmente, o seu pai nunca se tinha destacado pela habilidade financeira.

Joe Hales tinha herdado o negócio do pai e nunca tivera de se preocupar com dinheiro. Incitado pela esposa, tinha deixado a gestão do negócio nas mãos de Giles Sweetman, um administrador excelente, e ele dedicara-se a jogar golfe e a pescar. Durante muitos anos, a empresa tinha obtido lucros excelentes, mas bastaram duas desgraças para chegarem ao ponto em que estavam.

Em primeiro lugar, Giles Sweetman tinha arranjado outro emprego e partira quase sem aviso prévio. Matthew, o falecido marido de Caroline, tinha ocupado o seu lugar. Embora ninguém lho tivesse dito na cara, Matthew tinha sido um desastre como gestor. O segundo golpe fora o aparecimento de uma empresa de transportes concorrente. Hales perdera todos os contratos.

– Duas semanas é um prazo ridiculamente curto! – protestou Caroline. – Quem é o comprador? Eu pedir-lhe-ei que nos dê mais algum tempo.

– Não estamos em condições de pedir nada. A casa já não é nossa – advertiu o seu pai, com amargura. – Só espero que não se desfaça dos empregados da Hales e venda os activos da empresa ao melhor licitador.

Caroline observou os seus pais, consciente de que a idade e a saúde delicada de ambos não lhes permitiriam suportar tanto stress e agitação. O seu pai adoptivo tinha angina de peito e a sua mãe, artrose, o que, nos piores dias, quase não lhe permitia andar. O que fariam sem a segurança financeira que os tinha protegido durante tanto tempo? Como sobreviveriam?

Winterwood era uma casa antiga, mas com muito encanto, construída no início do século XX para uma família numerosa e com serviço doméstico. Sempre tinha sido demasiado grande para os seus pais, mas Isabel quisera impressionar toda a gente, deixando claro o estatuto como esposa de um homem rico. O novo dono talvez quisesse destruir a casa e fazer outra coisa no terreno. Caroline sentiu uma pontada só de pensar nisso.

– Não devias ter deixado a casa de Matthew para vires viver para aqui – disse-lhe a sua mãe. – Agora, terás de ir connosco e só Deus sabe onde iremos parar!

– Ainda não posso acreditar que Matthew só te tenha deixado dívidas – admitiu Joe, abanando a cabeça. – Pensava que valia mais. Um homem deve certificar-se sempre de que a sua mulher terá do que viver quando ele lhe faltar.

– Matthew não esperava morrer tão cedo – disse-lhes Caroline. Era o que dizia sempre que faziam aquele tipo de comentários.

Habituara-se a guardar para si mesma o segredo do seu casamento infeliz.

– Embora devesse ter comprado uma casa – admitiu, – pois assim, pelo menos, agora teríamos para onde ir.

– Os Bailey deviam ter-te ajudado mais do que fizeram – disse a sua mãe em tom amargo. – E tu também não tiveste a sensatez de lhes pedir ajuda.

– Não foi culpa deles que Matthew não tivesse seguro de vida, nem que tivesse dívidas... E não esqueçamos que eles também tinham uma participação na Hales e que também perderam muito dinheiro – recordou Caroline à sua mãe.

– O que importa isso agora? Nós perdemos tudo – replicou Isabel. – Eles ainda têm a sua casa e os seus empregados. Nós não temos nada! As minhas amigas deixaram de me telefonar. Já toda a gente sabe. Ninguém quer saber nada de nós quando se fica arruinado.

Caroline apertou os lábios e guardou silêncio. Era triste que as amigas da sua mãe só se importassem com o estatuto e o dinheiro. Os dias de entretenimentos luxuosos, roupa de marca e festas elegantes tinham acabado para sempre.

Nessa noite, Caroline voltou para o seu ateliê, para trabalhar. Tinha-o instalado num edifício anexo à casa dos seus pais. Ali moldava e soldava prata e pedras preciosas, com as quais fazia jóias que vendia pela Internet. Era um trabalho delicado, meticuloso, que requeria bom olho e concentração. Enquanto trabalhava, a sua elegante gata siamesa, Koko, estava sentada ao seu lado. Caroline reparou que franzia o sobrolho e soube que a esperava uma das suas enxaquecas frequentes, portanto, arrumou as ferramentas de trabalho e foi para a cama.

Apesar de ter tomado a medicação para suavizar a dor de cabeça, estava demasiado stressada para dormir. No dia seguinte, teria de começar à procura de uma casa. Não seria fácil fazê-lo, já que precisava de espaço para trabalhar. O seu negócio era naquele momento o único sustento da sua família, para além das baixas pensões que os seus pais recebiam do Estado.

– Caro? – perguntou a sua mãe na manhã seguinte, abordando-a na cozinha. – Achas que os pais de Matthew nos fariam um empréstimo em teu nome?

Caroline ficou pálida e tensa.

– Não creio. Pagaram as dívidas de Matthew por orgulho, mas não são dos que gastam dinheiro se não receberem alguma coisa em troca.

– Se, pelo menos, lhes tivesses dado um neto, seria tudo diferente – replicou a sua mãe em tom de recriminação.

– Eu sei – admitiu ela, com lágrimas nos olhos.

Os Bailey tinham-lhe dito o mesmo. Era evidente que a incapacidade de lhes dar um neto tinha sido o seu maior defeito como nora, embora os seus sogros também tivessem insinuado que Matthew teria passado mais tempo em casa se ela tivesse sido uma esposa melhor. Ela desejara contar-lhes a verdade, mas tinha-se contido. Não suportava sequer pensar nos anos que tinha perdido com o seu casamento infeliz, mas não faria nenhum bem a ninguém falar sobre uma coisa que escondera durante tanto tempo. Só serviria para arrasar os pais de Matthew e para surpreender os seus próprios.

– Suponho que não tenhas pensado no futuro – disse-lhe a sua mãe, suspirando. – Nunca foste muito prática.

Caroline observou a sua mãe, que lhe pareceu terrivelmente pequena e vulnerável. Os seus pais já estavam a dormir num quarto do rés-do-chão devido aos problemas de saúde. Joe estava em lista de espera para um bypass coronário. A verdade era que a casa já não era cómoda para eles. Embora tomarem a decisão de partir por motivos de saúde e de sensatez não fosse o mesmo que os obrigarem a fazê-lo depois de quarenta anos ali.

Koko enrolou-se nos seus tornozelos, pedindo-lhe atenção, e ela falou de maneira carinhosa com o seu animal de estimação, enquanto se servia do pequeno-almoço. Em vez de comer, começou a escrever uma lista de coisas urgentes que tinha na cabeça, mas essa primeira lista só a levou a fazer uma segunda. O tempo, os custos e a situação eram os factores cruciais. Os seus pais não quereriam mudar de zona de residência. E demorariam séculos a encontrar o lugar adequado e a poupar o dinheiro necessário para poderem dar um sinal.

Era uma sorte que Caroline adorasse os seus pais adoptivos. Apesar de a terem aconselhado mal a respeito de uma coisa muito importante, sempre tinham acreditado que era o melhor para ela. E, naquele momento, dependiam da sua ajuda económica e alegrava-a poder saldar a dívida que sentia que lhes devia.

O telefone tocou enquanto estava a lavar a loiça.

– Podes atender tu? – gritou ao seu pai, que estava a ler na sala do lado.

Atenderam o telefone e, um instante depois, Caroline ouviu os seus pais a sussurrar, pareciam chateados, portanto, secou as mãos e foi ver o que se passava.

– Caro... Podes vir aqui? – perguntou-lhe a sua mãe.

Estendeu-lhe o telefone quase como se fosse uma arma.

– Valente Lorenzatto – anunciou-lhe, com lábios trémulos.

Caroline ficou gelada, com o rosto inexpressivo. Não tinha ouvido aquele nome desde que ficara viúva, mas ainda tinha o poder de a fazer empalidecer e tremer. Valente, que amara, que tinha enganado de tal maneira que jamais poderia perdoar-lhe. Não sabia porque quereria falar com ela. Pegou no telefone e saiu para o corredor.

– Sim? – perguntou, num sussurro.

– Quero ver-te – disse-lhe Valente, com a sua voz profunda, fazendo com que estremecesse. – Como novo proprietário da Hales Transport e da casa dos teus pais, acho que devemos falar sobre os nossos interesses mútuos.

Custou-lhe a assimilar o que acabava de ouvir.

– Tu és o novo dono da Hales... e da casa? – perguntou, com incredulidade.

– Incrível, não é? Construí uma fortuna, tal como te disse – murmurou Valente, com frieza. – Infelizmente, apostaste no cavalo errado há cinco anos.

Caroline teve vontade de se rir. Ela tinha-se dado conta do seu erro da pior maneira, mas por motivos que Valente jamais poderia compreender. Voltou à realidade ao dar-se conta de que os seus pais a olhavam do outro lado do corredor, aparentemente tinham ouvido o que dissera. Os rostos deles reflectiam surpresa e consternação.

– Não pode ser verdade! – exclamou Isabel.

Era o que Caroline também achava, mas há algum tempo tinha lido num jornal sobre o sucesso de Valente. A descoberta saíra-lhe cara, já que Matthew descobrira que o tinha procurado na Internet. Nunca mais tinha voltado a sucumbir à curiosidade desde então, nem sequer depois de ficar viúva. Era melhor deixar o passado como estava.

– Não passava de um camionista... É impossível que tenha tanto dinheiro! – acrescentou o seu pai em voz alta.

– Deveria ser impossível – acrescentou a sua esposa.

Caroline manteve o telefone encostado à orelha para que Valente não ouvisse aqueles comentários vergonhosos. Na sua casa nunca se falava do facto de o pai do seu pai também ter sido camionista e ter montado o negócio à custa de trabalho. Os seus pais não se orgulhavam de proceder de famílias humildes e sempre tinham admirado os pais de Matthew, que tinham frequentado escolas privadas e tinham familiares afastados da nobreza. Joe e Isabel eram snobes, sempre tinham sido e, provavelmente, morreriam assim. E Valente nunca tinha estado ao seu nível. Tinha sido julgado pelo trabalho e pela origem dele, não por ser um homem inteligente e motivado.

Caroline foi para outra sala em busca de alguma privacidade.