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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Cathy Williams

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Por interesse, n.º 767 - Novembro 2014

Título original: His Convenient Mistress

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5924-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Volta

Capítulo 1

 

– Pareces cansado, James. Trabalhas demasiado. Quantas vezes é que já te disse que, se não relaxares um pouco, acabarás como uma dessas… dessas…?

– Estatísticas?

– Já começámos? A rires-te de novo de uma idosa suficientemente tonta para te querer mais do que à própria vida.

James sorriu divertido, esticou as suas longas pernas e cruzou-as na zona dos tornozelos. Na mão, tinha um uísque.

Perfeito. A hora perfeita da tarde num lugar perfeito. O sol de Verão adquirira uma tonalidade dourada ao entardecer, em que os tons verdes e amarelos da paisagem escocesa realçavam todo o seu esplendor. Através das grandes janelas do salão viam-se os jardins da mansão e ao fundo as montanhas, que se erguiam contra o céu como uma implacável matriarca que queria assegurar-se de que os seus inquilinos feudais se mantinham onde estavam.

Ah, sim, a perfeição. Como todas as coisas perfeitas, só podia ser saboreada em pequenas doses. Um pouco como as mulheres, pensou James. O excesso nunca era bom.

– Estás a ouvir o que te estou a dizer, James Dalgleish?

– Com toda a atenção, mamã – sorriu James. Tomou um pouco de uísque e fixou a sua atenção na atraente mulher que estava sentada junto da lareira decorada, naquela época do ano, com um grande ramo de flores vindas do jardim.

Apesar de se referir a si mesma como uma idosa, Maria Dalgleish era uma mulher jovem e tão indomável como as terras da Escócia que tanto adorava, mesmo depois de ali viver há quarenta anos. O sangue italiano que corria nas suas veias nunca a tinha abandonado e possuía uma vitalidade que o seu filho nunca vira em nenhuma outra mulher.

Talvez, pensou James despreocupadamente, aos trinta e seis anos continuasse a ser o menino da mamã, destinado a converter-se num velho resmungão e a viver sozinho naquela mansão. Mas um velho resmungão sábio, pensou enquanto tomava a sua bebida. Suficientemente sábio para saber, por experiência, que as mulheres se sentiam atraídas pelo dinheiro. Preferia não ter nenhuma mulher do que uma dessas. Embora o melhor mesmo fosse ter várias, por pouco tempo.

– Quanto tempo é que vais ficar desta vez, James? Espero que não te tenhas esquecido dos teus deveres aqui. O Trevor quer falar-te de algumas reparações que precisa de fazer no telhado e depois ainda há o assunto da festa de Verão. E não comeces já a protestar. Sabes muito bem que fazemos esta festa todos os anos.

– Disse alguma coisa a esse respeito, mamã?

– Não é preciso. Posso ver pela tua expressão.

– Creio que desta vez vou ficar uma semana a descansar, ou mais, antes de voar para Nova Iorque.

– Nova Iorque, Nova Iorque. Não te convêm tantos voos de negócio. Já não és um jovenzinho.

– Eu sei, mamã – James anuiu com a cabeça. – Envelheço a cada momento e do que eu preciso é de uma boa mulher com quem possa ter um monte de filhos e que trate de mim.

Maria sentiu-se tentada a iniciar uma daquelas conversas de que tanto gostava, mas já se fazia tarde e podia ver que a expressão do filho já estava demasiado relaxada para fazer outra coisa senão segui-la com o seu encanto natural.

– Sim, bem, estamos convidados para jantar amanhã em casa dos Campbell. A Lucy veio de Edimburgo.

– Ó, Santo Deus!

– Vai ser muito agradável e já sabes como toda a gente gosta de te ver, quando cá vens.

– Vim para descansar, mamã, não para fazer vida social.

– E como é que vais alguma vez conhecer uma rapariga agradável, se não fizeres vida social?

– Eu faço isso em Londres, demasiado até para o meu gosto.

– Mas com as raparigas erradas – murmurou Maria, sem se mostrar minimamente afectada com o brilho de impaciência que captou no olhar do filho.

– Deixemos esse assunto, de acordo, mamã? As raparigas com quem saio são precisamente as que a minha alma fatigada deseja.

– De momento vamos deixar este assunto, James, embora ainda sejas demasiado jovem para teres a alma fatigada… Além disso… – Maria deixou que a sua voz se apagasse até ficar em silêncio.

– Além disso… o quê?

– Há algo que talvez te interesse…

James olhou com expressão irónica para o relógio.

– Já são quase dez horas, mamã. É demasiado tarde para estarmos com adivinhas.

– Alguém se mudou para a Rectoría.

James ergueu-se do assento de imediato ao ouvir aquilo e a sua atitude indolente foi logo substituída por outra mais alerta.

– O quê?

– Alguém se mudou para a Rectoría – repetiu Maria.

– Quem?

– Ninguém daqui. De facto, ninguém tem a certeza de…

– Porque é que o Macintosh não me disse que o lugar tinha sido vendido? Maldito! – James levantou-se e começou a caminhar de um lado para o outro, com o sobrolho franzido enquanto pensava na incompetência do advogado. Andava há três anos atrás da Rectoría e usara todo o seu poder de persuasão para tentar convencer o Freddie de que não precisava de um lugar tão grande para viver e que ganharia muito dinheiro se o vendesse.

Freddie sempre se rira, enquanto ele lhe servia um uísque e lhe falava do seu plano de converter Dalgleish num hotel de primeira classe, com a mãe como supervisora.

– Tenho a intenção de chegar aos cem anos – dissera mais de uma vez, sorrindo perante a expressão de frustração de James. – Quando me decidir a ir embora podemos chegar a um acordo, embora não o faça por dinheiro, uma vez que não tenho família a quem o deixar. Mas não penses que me oponho a fazer um favor a um vizinho, especialmente um tão desesperado por gerar postos de trabalho nesta nossa terra.

– Não foi vendida – disse Maria.

– Depois da morte de Freddie, disse ao meu advogado que queria aquele lugar – James interrompeu-se, para olhar pela janela. Apesar de todas as suas brincadeiras, sabia que Freddie queria que ele ficasse com a Rectoría, mas morrera repentinamente há dois meses, sem deixar testamento, de maneira que não havia nenhum indício do que ele queria que se fizesse com a propriedade.

James limitara-se a informar o advogado de quais eram as suas intenções, convencido de que não teria nenhum problema em conseguir o que queria. Sabia que faria um serviço à comunidade, transformando aquela mansão num hotel e ao mesmo tempo ajudando a mãe, que ficaria melhor na comodidade da Rectoría.

Enfurecia-o saber que os seus planos tinham sido desfeitos. Estar ali devia servir-lhe para relaxar e não para se enervar.

– Quem é que a comprou? – perguntou, ao mesmo tempo que se voltava para a mãe. – Suponho que algum especulador, não?

– Não ouviste o que acabei de dizer, James.

– Claro que ouvi! Foi a única coisa que fiz desde que me deste a notícia!

– A Rectoría não foi vendida – repetiu Maria.

– O quê…? Mas acabas de dizer… – James respirou aliviado. Já tinha o Max, um dos seus melhores arquitectos, a trabalhar no projecto inicial para transformar a mansão num hotel. Por enquanto, estava a basear-se em fotografias. O passo seguinte seria ir até lá, para ver até que ponto é que as suas ideias eram viáveis. – Se o único problema é haver mais alguém a mostrar interesse na Rectoría, não importa. Tinha percebido que alguém a tinha ocupado – encolheu os ombros e meteu as mãos nos bolsos. – Posso livrar-me de qualquer adversário.

– O Freddie deixou a Rectoría a um parente – disse Maria.

– O Freddie fez… o quê?

– Deixou a Rectoría a um parente. Toda a gente se surpreendeu tanto como tu ao sabê-lo.

– Mas se não tinha nenhum parente vivo…

– Podes ir dizer isso à mulher que se mudou para lá há três dias.

– A mulher?

– Não sei qual é que seria a sua relação com ele. Nem sei qual seria o grau de parentesco. Como deves imaginar, sentimos todos uma grande curiosidade.

James perguntou-se por que é que uma mulher havia de querer mudar-se para aquele lugar da Escócia. Era uma zona encantadora, mas também dura e escarpada. A sua mãe habituara-se à região com o tempo e, sobretudo, contagiada pelo amor que Jack Dalgleish dedicava àquele lugar.

– Ninguém sabe sequer como se chama – continuou Maria. – A Valerie Ross viu um camião de mudanças ao pé da Rectoría e quando falou com o Graeme ontem, já conheces o Graeme, ele disse-lhe que uma mulher se ia mudar para lá, mas não tinha tempo para falar mais. Ia a caminho do aeroporto e tenho a certeza que adorou deixar a Valerie curiosa – mãe e filho trocaram um olhar cúmplice, mas James voltou a ficar sério.

– Uma mulher – murmurou. – Ou está decidida a converter isto no seu refúgio, ou leva uma vida muito aborrecida, ou espera alguma coisa daqui ou está a fugir de alguma coisa.

– Não digas parvoíces.

– Um mau casamento, uma relação amorosa acabada ou um mau trabalho.

– E o que é que pensas fazer? – perguntou Maria, com carinhosa ironia. – Convencê-la de que o melhor que pode fazer é vendê-la?

– Porque não? – James sentiu-se mais animado perante a perspectiva de conseguir o que queria. Tratar com uma mulher seria diferente do que lidar com alguém que estivesse decidido a fazer um negócio rápido. Uma mulher podia ser manejada mais facilmente; até mesmo com justiça e generosidade. – Pode ser que vá amanhã visitá-la.

– Espero que não penses intimidá-la, para conseguires o que queres – disse a mãe num tom severo. Ele sorriu, com uma expressão travessa.

– Achas que eu faria uma coisa dessas?

Intimidação teria sido ir no seu carro desportivo preferido, que ficava guardado na garagem quando estava fora e que só tirava quando estava bom tempo. Mas o seu velho todo-o-terreno não assustaria uma solteirona ultrapassada. Era assim que ele imaginava o obstáculo que se colocara à sua frente de forma inesperada.

Às dez em ponto da manhã seguinte saiu para a Rectoría.

Sara ouviu o carro, antes mesmo de o ver. Percebeu que isso tinha a ver com a absoluta falta de ruídos daquele lugar.

Sim, a paz e o silêncio eram algo que já tinha previsto umas semanas antes, sentada na mesa de vidro da cozinha do seu esplêndido apartamento em Fullham, enquanto relia a carta do advogado, de quem nunca ouvira falar, a informá-la que um tio seu, de cuja existência sabia muito vagamente, lhe tinha deixado uma casa na Escócia. A paz e o silêncio tinham sido muito tentadores mas, depois daqueles dias passados ali, estavam a começar a tornar-se agonizantes.

Esperou, junto à janela da cozinha, que o carro aparecesse.

– Toda a gente vai querer conhecê-la – dissera-lhe o advogado de Freddie, em Londres. – Todos pensavam que o Freddie estava sozinho no mundo.

Seis semanas atrás, a perspectiva de viver num lugar afastado das pessoas que conhecia parecera-lhe uma ideia muito tentadora, em contraste com a vida agitada de Londres, onde se vivia a toda a velocidade e onde sorrir a alguém era considerado uma coisa de lunáticos.

Mas todas as suas ilusões tinham desaparecido, depois de passar ali três dias. Odiava a falta de ruído, a quietude, a paisagem e tinha evitado aproximar-se da povoação.

Naturalmente, antes ou depois, as pessoas da povoação acabariam por vê-la, uma a uma. E ali, a aproximar-se um veículo azul, chegava o habitante número um.

Grande erro que tinha cometido! Como é que ia sobreviver naquele lugar?

O carro avançava lentamente até à Rectoría e Sara pensou, durante um momento, em esconder-se.

Onde estava Simon? Ouviu atentamente e olhou para a salita que ficava ao lado da cozinha.

Não se afastou da janela, até o carro entrar no pátio circular da Rectoría. Suspirou, enquanto abria a porta da cozinha.

Sabia que não estava com muito bom aspecto. Em Londres andava sempre impecavelmente vestida. Não tinha outro remédio, para poder competir num mundo dominado por homens. Andava sempre com a sua cabeleira ruiva afastada da cara e presa na nuca, a maquilhagem adequada a uma importante mulher de negócios e vestia modelos caríssimos, elegantes mas não exuberantes.

No entanto, tinham-lhe bastado poucos dias naquele lugar perdido para deixar a maquilhagem e conformar-se com umas calças de ganga, uma camisola e uns ténis desportivos. Era o que tinha vestido naquele momento. A única cor mais viva que trazia era o verde da camisola, muito parecido com o dos seus olhos. Além disso, tinha prendido o cabelo num prático rabo-de-cavalo, que quase lhe chegava à cintura.

Permaneceu no umbral da porta, ao sol, de tal forma que mal conseguia distinguir o condutor do veículo.

Quando ele desligou o motor e saiu, viu que se tratava de um homem alto. Muito alto e moreno, coisa surpreendente na Escócia. Nada do seu aspecto lhe fazia lembrar aquele lugar. Tanto a forma física como as linhas do seu rosto falavam de poder, segurança em si mesmo e experiência mundana.

Parecia um típico homem de negócios da cidade, pensou com desdém; do tipo prepotente, com quem passara anos a lidar. A sua prioridade número um nos negócios devia ser o dinheiro. Já tinha almoçado inúmeras vezes com homens como aquele, homens apaixonados por si mesmos e dispostos a passarem por cima de qualquer coisa que se colocasse no seu caminho. De facto, havia cometido o erro de ter algo mais do que negócios com aquele tipo de homens… e por isso estava onde estava.

Só ao fim de uns segundos se deu conta de que o homem a observava, enquanto ela fazia o mesmo.

– Sim? – perguntou, sem afastar da testa a mão que a protegia do sol. – Em que posso ajudá-lo?

– Essa é a pergunta certa – disse o homem, enquanto fechava a porta do carro.

Devia medir cerca de um metro e noventa. Com o seu metro e setenta e cinco, Sara estava acostumada a olhar de cima para muitos homens, mas naquele havia algo de inquietante. Seria a forma de se mover? Os seus olhos? De perto, percebeu que eram de um intenso azul-escuro.

– Quem é e o que quer? – perguntou rapidamente, ao reparar pela primeira vez em como a Rectoría estava desleixada.

«Nervosa», pensou James depois de superar o seu desconcerto inicial ao ver de perto a «solteirona». Não se parecia nada com o que esperava encontrar. O que é que fazia ali uma mulher como aquela?

Estava nervosa e na defensiva. Porquê? Não deveria ter-lhe dado as boas-vindas amigavelmente, oferecendo-lhe uma chávena de chá como uma boa vizinha?

– Então, você é que é a nova rapariga aqui da povoação – disse, quando se deteve em frente dela. – Escolheu o melhor mês para vir cá. Normalmente, em Junho está sol e o céu limpo.

– Ainda não me disse o seu nome – respondeu Sara secamente, com a intenção de deixar claro que o convite para entrar não seria automático.

– Chamo-me James Dalgleish.

Sara aceitou a mão que ele lhe ofereceu.

– Sara King – disse e teve de resistir ao impulso de dar uma massagem na mão depois do aperto de mão. Os dedos daquele homem eram compridos e fortes.

– A sobrinha do Freddie?

– Isso mesmo.

– É curioso, ele nunca mencionou que tinha parentes – disse James – e não me lembro de nenhum o vir visitar – sorriu, de um modo que não ocultou o que estava implícito no seu comentário.

Sara ruborizou-se e permaneceu em silêncio. Pensaria aquele homem que ela era uma espécie de oportunista? Seria essa a reacção generalizada dos habitantes daquela terra?

– Mamã!

Voltou a cabeça, ao ouvir o grito de Simon.

– O meu filho – explicou.

– É casada?

– Não – Sara ouviu os passos do menino, que se encaminhava da cozinha, e deixou escapar um pequeno suspiro de irritação. – Desculpe, mas neste momento estou muito ocupada.

– Estou certo disso. Mudar de casa é sempre trabalhoso – James observou Sara, enquanto esta afastava da cara uma madeixa de cabelo. – Precisa de se sentar e descansar. Posso preparar-lhe um café.

– Não é preciso…

– Mamã, tenho sede. Podes vir ver a minha garagem?

– Este é o Simon – disse Sara, quando o filho apareceu junto dela e olhou para o visitante sem pestanejar. – Já te disse para não andares descalço, Simon.

Em jeito de resposta, o menino introduziu o polegar na boca sem deixar de olhar para James.