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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Susan Bova Crosby

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento por obrigação, n.º 737 - Outubro 2015

Título original: Forced to the Altar

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7493-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Capítulo Dezassete

Capítulo Dezoito

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Isto não fazia parte do plano – murmurou Julianne Johnson.

As suas palavras foram silenciadas pelo ruído do barco que navegava a toda velocidade em direcção a Promontory, uma das ilhas do arquipélago de San Juan, na costa de Washington. Segundo pesquisara na Internet, nas ilhas em redor havia portos turísticos, pequenas aldeias piscatórias, colónias de artistas e pistas para bicicleta. Mas não em Promontory, ou Prom, como lhe chamou o piloto do barco. Esta só era acessível por barco privado ou por helicóptero. Não havia sequer um ferryboat público.

Analisou atentamente a ilha. Como podia receber turistas sendo tão isolada? Ela tinha sido enviada para ali para permanecer escondida durante o julgamento do irmão e poderia ganhar o seu sustento trabalhando para o dono da pousada Spirit Inn, Zach Keller. Ora se havia uma pousada isso queria dizer que havia turistas. Ou não?

– Onde fica a aldeia? – gritou ao piloto, o senhor Moody, um sexagenário de cabelo grisalho e corpo musculoso.

Ele apontou para a frente. Julianne não viu mais nada senão árvores, penhascos e paredões rochosos. Era um promontório no meio do Oceano Pacífico.

Àquela rapariga de vinte e três anos, nascida no sul da Califórnia, terra de sol e centros comerciais, Purgatório parecia-lhe um nome mais apropriado para um lugar encurralado pela água como aquele. E ali estava ela, encurralada.

O barco reduziu a marcha de forma brusca e depois deslizou por entre outras embarcações, uma prova de que outros seres humanos habitavam a ilha. O senhor Moody prendeu o barco e depois estendeu-lhe uma mão para ajudá-la a descer para um ancoradouro flutuante que balançava enquanto avançavam para terra firme. O único sinal de vida era um jipe, estacionado ao lado do ancoradouro.

– Mas onde fica a aldeia? – voltou Julianne a perguntar.

– Longe – disse, abanando a cabeça enquanto carregava uma mala de senhora em cada mão.

– Que há lá?

– Uma loja, um posto de gasolina…

– E isso é tudo?

– Não precisamos de mais nada.

Circularam por uma estrada estreita. Passados alguns minutos, avistou ao longe um edifício. O temor de Julianne foi crescendo ao mesmo tempo que reconhecia os contornos do que aparecia na distância.

– É um castelo – murmurou.

– Trazido pedra a pedra desde a Escócia e depois reconstruído aqui.

– Pelo senhor Keller? – imaginou o seu novo chefe vestido de roupa xadrez e com uma farta cabeleira vermelha a ondular na brisa do mar.

– Não. Por outra pessoa, há muito tempo, Angus McMahon – disse o senhor Moody parando junto ao edifício.

Saíram do veículo e aproximaram-se de uma sólida porta de madeira que fechava um arco de pedra. A penumbra dos fins de Novembro acompanhou-os enquanto entravam no castelo. As paredes e muros de pedra cinzenta devolviam-lhes o som dos seus passos. Julianne seguiu o senhor Moody para dentro de um quarto com uma enorme lareira e uma cozinha moderna com móveis de aço inoxidável e bancadas de mármore.

Uma mulher alta e forte, de um brilhante cabelo vermelho, lavava alfaces numa pia. Nem sequer lhes sorriu.

– A minha esposa, Iris – disse o senhor Moody.

– Bem-vinda, menina Johnson.

– Julianne, por favor – disse para experimentar o seu novo nome.

Esperou que o casal lhe concedesse também a cortesia de chamá-los pelo seu nome próprio, mas nenhum dos dois mencionou tal. Perguntou-se se não poderia ter escolhido outro lugar para esconder-se, um lugar um pouco mais informal. Embora não lhe tivessem dado muito para escolher, desde que o seu suposto amigo James Paladin, Jamey, fizera todos os preparativos para que ela desaparecesse.

– Vou mostrar-lhe o seu quarto – disse a senhora Moody secando as mãos no avental e pegando numa das malas que o seu marido levava.

Julianne agarrou na outra e seguiu-a. Subiram dois pisos por uma escada estreita que parecia cheia de teias de aranha, embora na verdade estivesse completamente limpa. No final da escadaria, havia apenas um pequeno patamar e uma porta. Uma porta. Nenhum hall que conduzisse a qualquer outro lugar.

– Este é um dos dois quartos da torre – disse a senhora Moody enquanto deixava a mala em cima de uma cómoda de madeira aos pés da cama, também esta de madeira, adornada por quatro colunas e coberta com uma colcha vermelha de lã e cheia de almofadas. – A roupa que mandou na semana passada está arrumada no guarda-fato e no closet.

Não lhe agradou a ideia de uma estranha a mexer na sua roupa.

– O castelo foi renovado há uns anos. Encontrará todas as comodidades de uma casa. Há mais mantas sob a bancada da janela. Depois de instalar-se, passe pela cozinha. O senhor Zach não jantará consigo, está a dormir.

A dormir? Devia ser muito velho para estar a dormir a sesta às seis da tarde, deduziu Julianne.

– Obrigada, senhora Moody.

A mulher fechou a porta ao sair, enquanto Julianne rodopiava sobre si mesma lentamente. Tapeçarias enormes decoravam as paredes. Uma janela alta e estreita chamou-lhe a atenção. Ajoelhou-se na bancada da janela, mas já era de noite e não conseguiu ver muito mais do que as silhuetas das árvores e das rochas.

Sempre vivera numa cidade, embora, algumas vezes, perto do mar. Gostava do odor marítimo do ar e da brisa. Porém, não lhe agradava estar isolada e esperava que o julgamento do irmão fosse rápido e estivesse concluído em breve. Esse dia de libertação seria muito bem-vindo. Tinha planos: terminar os estudos e viver a vida à sua maneira sem que ninguém lhe dissesse o que devia fazer. E não podia esperar muito mais.

De qualquer modo, estava agradecida a Jamey por ter-lhe encontrado um lugar seguro onde se proteger da tempestade… Então, por que não se sentia a salvo?

 

 

Julianne aproximou-se de uma grande mesa de madeira, em que facilmente caberiam doze pessoas, rodeada de ricas cadeiras, uma óbvia reminiscência de séculos anteriores. Havia apenas um lugar preparado num dos extremos, tornando desnecessário perguntar onde deveria sentar-se.

– Não sou uma hóspede – protestou junto da senhora Moody, que lhe mostrara o caminho para a sala de jantar com uma bandeja na mão. – Posso jantar consigo e com o senhor Moody.

– Nós já jantámos.

Julianne recapitulou a sua nova situação que, aparentemente, acarretava uma série de obstáculos surpreendentes: um chefe que parecia dormir muito, dois empregados protectores e pouco sociáveis e, particularmente, um isolamento muito superior ao prometido por Jamey.

– Não há nenhum hóspede? – perguntou Julianne.

– Esta não é a melhor época do ano para férias em Prom. Bom jantar.

Um saboroso guisado de peixe, salada verde e torradas serviram para saciar-lhe a fome de comida, mas não a fome de companhia. Até conseguia ouvir-se a si mesma a mastigar; além de uns estranhos sons vindos do piso de cima que cortaram o silêncio nocturno e a sobressaltaram. Terminou e voltou com a bandeja para a cozinha, onde encontrou o casal Moody a tomar chá.

– Estava tudo muito bom, obrigada, senhora Moody – disse Julianne deixando a bandeja na bancada e metendo depois os pratos numa pia cheia de água e espuma. – Não se levante, eu trato disto – disse, metendo as mãos na água quente. Olhando por cima do ombro perguntou: – Que fazem aqui para divertir-se?

– Encontrará uma televisão com um ecrã enorme na sala. Há televisão via satélite, leitor de DVD e uma boa colecção de filmes.

Julianne deitou uma olhadela ao seu relógio. Eram apenas sete e meia, demasiado cedo para retirar-se para o seu quarto, mesmo depois do longo dia de viagem.

– Poderia mostrar-me a casa depois? – perguntou.

– O meu marido irá mostrar-lha – disse a senhora Moody dando uma cotovelada a Julianne para afastá-la da pia. – De manhã, o café está preparado às seis mas, claro, pode tomá-lo quando quiser.

– Obrigada.

Estava habituada a levantar-se cedo. No seu último trabalho de empregada de mesa entrava às seis da manhã. O senhor Moody conduziu-a através da sala de jantar e, por um longo corredor, chegaram a um imponente salão com uma enorme lareira e um grande piano, que nem conseguia imaginar como o teriam trazido colina acima até ali, e móveis de estilo século XIX.

Logo a seguir, havia a sala da televisão, moderna tanto nos equipamentos como nos móveis, embora sem chegar a destoar do resto.

– Ali é o escritório do senhor Zach – disse o senhor Moody apontando para uma porta que havia no final do corredor. – Não deve entrar aí.

«Por que não?», perguntou-se Julianne.

Uma casa de banho para clientes e os quartos dos Moody completavam o piso de baixo. Julianne e o senhor Moody voltaram até à antessala da entrada onde havia uma grande escadaria para o segundo piso.

– Aqui, só há uma sala que lhe interessa – disse, ao mesmo tempo que chegavam ao patamar da escada e viravam à direita. – Esta. Será o seu local de trabalho.

– Posso ver o outro quarto da torre? – perguntou. – É parecido com o meu?

– Está fechado – disse, abrindo a porta do escritório e cedendo-lhe a passagem.

No quarto, havia um computador e vitrines cheias de pastas de arquivo. Pelo menos, parecia haver trabalho para fazer.

Uns minutos depois, o senhor Moody deixou-a na sala da televisão. Julianne percorreu mais de uma centena de canais do satélite e no fim passou aos DVD. Pôs uma comédia com a esperança de que, pelo menos, a fizesse rir-se.

O filme acabou por não ser muito divertido e uma hora depois já estava a pará-lo. Umas ténues luzes nas paredes guiaram-na até ao seu quarto, onde se sentou no banco da janela com as pernas cruzadas. Conseguia avistar algum movimento lá fora. A lua, em quarto crescente, não oferecia muita luz, mas mesmo assim era a suficiente para ver a silhueta de um homem a caminhar pela beira do precipício, o único sítio onde não cresciam árvores. Na sua imaginação, pareceu-lhe ver uma aura de escuridão a cobri-lo.

Visto que o castelo parecia ser a única construção de toda a ilha, desejou que a sombra fosse a do seu benfeitor, Zach Keller. Se era velho, estava visto que conservava um cabelo farto, que via a ondular ao vento junto com o seu longo casaco. A esperança cresceu dentro dela, uma esperança de que fosse um homem amável e honrado, que a fizesse rir. Precisava de rir.

O homem parou e voltou-se para o castelo. Julianne chegou-se para trás, mas com a luz do quarto acesa, mesmo a tanta distância, poderia ver que estava sentada à janela a olhar para ele. Uns minutos depois, desligou a luz e voltou para o banco. Sentia-se uma espia, mas precisava de divertir-se.

Dois cães enormes corriam ao lado do homem. Derraparam ao pararem, depois voltaram para onde o homem estava, chocando contra as suas pernas enquanto ele os recebia com carícias. O telemóvel de Julianne tocou e o seu coração deu um salto como se a tivessem apanhado a espiar em flagrante.

– Olá, Jamey – cumprimentou a única pessoa que sabia o número do seu telemóvel por satélite.

– Correu tudo bem?

– Cá estou – disse enquanto se sentava de novo à janela e olhava para o exterior, mas o homem e os cães já não se viam. – Não sei se mandares-me para aqui tenha sido um grande favor.

– Demasiado rústico para o teu gosto, Venus?

– Julianne – disse, lembrando-lhe o seu novo nome. – Disseste-me que aqui estaria segura, o que não me disseste foi que estaria perdida no fim do mundo. E, francamente, este lugar é um pouco horrível.

– Disseste que querias desaparecer. Como a tua mãe. Essas foram as tuas palavras exactas.

– E tu disseste que o tal Zach Keller precisava de mim. Espero que tenhas razão e que haja uma tonelada de trabalho para fazer, porque se não enlouqueço.

– Há necessidades e necessidades, Julianne.

Ela ficou em silêncio uns segundos, depois prosseguiu:

– Que queres dizer? Nem sequer ainda o vi.

– Descobri-lo-ás por ti mesma, se assim tiver que ser. Relaxa-te e desfruta. Tens uma oportunidade única na vida.

– Nisso tens razão – disse, observando o seu quarto. – Graças a Deus.

– Deixa-te estar calma.

– Acredita-me, estarei muito calma.

Desligou o telemóvel e colocou-o no carregador. Estava demasiado nervosa para adormecer. Não tinha levado nenhum livro. As revistas que comprara no aeroporto já as tinha lido no avião. Pensava que os Moody ou o seu novo chefe não apreciariam muito que se pusesse a tocar piano tão tarde, sobretudo quando percebessem como estava destreinada. Não tocava há mais de um ano. A casa de banho só tinha polibã, portanto também não podia tomar um banho quente para relaxar. Por fim, decidiu que o melhor que tinha a fazer era deitar-se na cama, que encontrou acolhedora e quente. Fechou os olhos…

Julianne esticou-se enquanto acordava, surpreendida por ter dormido até quase às sete. Aproximou-se da janela para observar a paisagem à luz do dia e deparou-se com uma paisagem de uma aspereza formosa, rochosa mas salpicada por manchas verdes de árvores.

Para causar uma boa impressão ao seu novo chefe, esmerou-se a alisar o cabelo, embora tivesse a certeza que a humidade voltaria a encaracolá-lo em menos de duas horas. Vestiu umas calças pretas e uma camisola verde.

Desceu as escadas, tomou o pequeno-almoço sozinha na cozinha e depois esperou instruções. Como não apareceu ninguém, decidiu ir dar um passeio. Com as mãos nos bolsos do casaco, lutou contra o vento forte. Voltou para o castelo, a sua proposta de ajudar nos trabalhos da casa foi rejeitada e, por isso, foi dar outro passeio noutra direcção. Voltou para trás quando já quase não conseguia avistar o castelo.

Depois do almoço encontrou umas partituras no banquinho do piano e tocou um pouco. Mais tarde, da janela do seu quarto, voltou a ver o homem com os cães nas escarpas e perguntou-se por que não teria visto os cães durante os seus passeios.

Quatro dias depois, nada tinha mudado, excepto na noite anterior, em que um helicóptero tinha aterrado algures por ali perto. Da janela do seu quarto tinha procurado sinais da presença de gente, mas não apareceu ninguém, nem de carro nem a pé, embora um pouco mais tarde tenha ouvido alguém a gritar. Aquele som agudo gelou-a e depois o ruído desapareceu, subitamente.

Uma vez por dia perguntava à senhora Moody quando veria o senhor Keller e esta respondia-lhe sempre: «quando ele decidir», num tom bastante condescendente.

A paciência de Julianne esgotou-te rapidamente e ligou a Jamey.

– Morro de tédio – disse assim que ele atendeu o telefone. – Tenho saudades dos meus cafés com cacau. Tira-me daqui.

– Melhor morrer disso do que de outra coisa.

– Ora, Jamey. Não corro perigo de perder a vida, só a minha independência. Talvez me pressionem um pouco, mas será decerto mais suportável do que como me trata o senhor Keller, que já ultrapassou a má educação. Estaria melhor na prisão – explicou a Jamey.

– Que tal o trabalho que te dá?

– Não me deu nenhum tipo de tarefa para fazer e nem sequer o conheci. Podes fazer alguma coisa para que possa ir para algum lugar onde haja vida?

– Deixa-me ver o que posso fazer.

– Se não fizeres nada, encontrarei algo por mim mesma, juro-te.

Pelo menos tinha o bilhete de identidade com o seu novo nome, e assim podia encontrar trabalho facilmente.

Como ainda não lhe tinham dado autorização para usar o computador, assim que desligou o telemóvel escreveu à mão uma carta de demissão dirigida ao seu esquivo chefe. À hora do jantar levou o envelope para tentar entregá-lo ao senhor Moody.

– O jantar será servido na sala de jantar esta noite – disse a senhora Moody quando Julianne chegou à cozinha.

Como já tinha deixado de perguntar por que razão as coisas se faziam como se faziam, limitou-se a ir para a sala de jantar sem perguntar nada e surpreendeu-se ao ver preparados dois lugares, um na cabeceira da mesa e outro de lado.

Finalmente teria companhia. Dobrou a carta e estava a escondê-la atrás de um bibelô quando ouviu passos. Um ritmo firme pelo corredor do segundo piso, por cima dela, que prosseguiu escadas abaixo e depois pelo corredor que conduzia à sala de jantar. Um homem entrou pela porta. Não podia ser Zach Keller, era muito jovem, teria uns trinta anos. Além disso não era o homem que tinha visto a passear pelo campo porque este tinha o cabelo loiro e os olhos azuis. Estendeu a mão a Julianne.

– Sou Zach Keller. Bem-vinda a Spirit Inn.

Capítulo Dois

 

Zach viu como a expressão de Julianne passava da surpresa à… raiva? E os braços cruzados apontavam mais para o segundo sentimento. O doce e cítrico perfume dela distraiu-o, recordou-lhe algo ou alguém.

– Lamento não me ter apresentado até agora – disse Zach.

– A sério?

Não estava acostumado a ter alguém a questionar os seus actos. Normalmente, evitava responder às perguntas, mas sempre que respondia só dizia a verdade. Quase sempre calculava mentalmente o que ia dizer.

– Foi muito mal-educado da minha parte – disse, de um modo superficial.

Julianne nem sequer pestanejava. Estava tão quieta que os seus caracóis loiros não se moviam, descansados sobre os seus ombros. Fechou a boca.

Zach decidiu esperar que ela dissesse alguma coisa, o que lhe dava algum tempo para não pensar tanto no seu perfume. Na semana anterior, depois da senhora Moody ter desempacotado as caixas que Julianne enviara antes, fora inspeccionar o que ela tinha enviado para tentar fazer uma ideia de como seria aquela pessoa tão importante para Jamey. Tinha passado os dedos pelas roupas no guarda-fato e pelas que estavam cuidadosamente dobradas nas gavetas, com a fragrância a limão a persistir subtilmente nos tecidos e um pouco menos subtilmente na sua mente.

Imaginara o corpo dela a encher aquelas roupas de cores tão brilhantes, as t-shirts incrivelmente curtas, as saias e calções, o biquini verde e a roupa interior que percorria todas as cores do arco-íris e que não resistira a tocar. Na sua mente, formara-se a imagem de uma Julianne bem proporcionada e feminina. Apetitosa.

Zach suportava longos períodos de celibato por escolha própria e na última ocasião chegara aos sete meses de solidão. Nem sempre tinha sido capaz de negar os seus desejos, e não esperava que desta vez ocorresse algo muito diferente, especialmente quando Julianne lhe parecia tão tentadora e o seu corpo muito mais atraente do que tinha imaginado.

– É evidente que foi um telefonema de Jamey que o fez sentir-se obrigado a vir ver-me – disse Julianne por fim, rompendo aquele silêncio cada vez mais incómodo. – Sinto-me tão bem recebida…

Ele não se importava que ela não se sentisse bem-vinda. Não a desejara receber na ilha e só a aceitara porque havia treze anos que devia um favor a Jamey e ele só agora o cobrara.

– Não tenho falado com ele – disse com sinceridade.

Julianne franziu a testa.

– Então, por que está aqui?

– Porque era o momento certo.

Julianne olhou-o de alto a baixo.

– Esperava um homem de mais idade.

– Lamento desiludir-te.

– Não me desilude. Quero dizer, imaginava que era mais velho porque dorme a sesta à tarde.

– Por vezes fico acordado toda a noite, quando isso acontece, durmo durante o dia.

– Que faz?

– Não comento o meu trabalho.

A julgar pela expressão dela, acabava de perder muitos pontos. Apesar disso, manteria a sua palavra e proporcionar-lhe-ia um lugar seguro até que o processo do seu irmão terminasse, mesmo que isso significasse fechá-la à chave na torre.

– Não fala da sua pousada? – perguntou num tom provocador, como se Spirit Inn na verdade não se dedicasse a receber turistas. – Então como vou trabalhar para si?