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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Harlequin Books S.A. Todos os direitos reservados.

O PESO DAS APARÊNCIAS, N.º 1448 - Março 2013

Título original: The Sameless Playboy

publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2564-2

Editor responsável: Luis Pugni

Imagem cidade: RICHARDTBARNES/DREAMSTIME.COM

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Os Wolfe

 

Uma dinastia poderosa em que os segredos e o escândalo nunca dormem.

 

A dinastia

Oito irmãos muito ricos, mas sem a única coisa que desejam: o amor do seu pai. Uma família destruída pela sede de poder de um homem.

 

O segredo

Perseguidos pelo seu passado e obrigados a triunfar, os Wolfe espalharam-se por todos os cantos do planeta, mas os segredos acabam sempre por vir à superfície e o escândalo está a começar a despertar.

 

O poder

Os irmãos Wolfe tornaram-se mais fortes do que nunca, mas escondem corações duros como o granito. Diz-se que inclusive a mais negra das almas pode curar-se com o amor puro. No entanto, ainda ninguém sabe se a dinastia conseguirá ressurgir.

Capítulo 1

 

Grace Carter levantou o olhar do computador e franziu o sobrolho ao ver a figura que entrava no seu escritório, sem sequer bater à porta, situado no topo das ruas frias e húmidas do centro de Londres.

E, então, ficou muito quieta na cadeira. Algo parecido com uma chama atravessou-a por dentro, queimando tudo no seu caminho. Disse-se que era indignação porque não batera à porta, como qualquer pessoa educada. Mas sabia que não se tratava disso.

Era ele.

– Bom dia! – cumprimentou-a, no seu tom de gozo habitual.

– Entre, entre – respondeu Grace, com uma ironia subtil. – Em frente.

Vestia um fato italiano que se ajustava aos contornos duros do seu corpo e que era muito moderno para os corredores sóbrios da Hartington, uma das lojas de luxo mais antigas de Inglaterra e em que a palavra conservador era a chave. Tinha o cabelo escuro muito comprido e despenteado e caía-lhe sobre os seus olhos verdes incríveis. Um deles estava emoldurado por uma nódoa negra e o lábio magoado amortecia o impacto da boca sensual. Os cortes e as nódoas negras davam-lhe um ar de canalha que aumentava a beleza do seu aspeto.

E ele sabia muito bem.

– Obrigado – disse. Os seus olhos verdes famosos brilharam, divertidos, como se o convite de Grace tivesse sido sincero. – É um convite para entrar no seu escritório ou em algum lugar imensamente mais excitante?

Grace desejou não o ter reconhecido, mas não pôde evitá-lo. E não era a primeira vez que o via pessoalmente. Todos em Londres conseguiam identificá-lo, já que a sua cara aparecia pelo menos duas vezes por semana nas revistas do mundo. Mostrando precisamente comportamentos ousados como aquele.

– Lucas Wolfe – apresentou-se como gesto de boa educação, embora a sua voz parecesse aborrecida.

Era Lucas Wolfe, o segundo filho do falecido William Wolfe, o menino mimado dos paparazzi e amante de uma legião de mulheres igualmente ricas e avassaladoramente belas. Grace não conseguia pensar numa única razão para aquele homem estar no seu escritório a uma quinta-feira de manhã, a olhar para ela de uma forma que poderia qualificar-se de expectante.

– Receio que esteja ocupada. Quer que o encaminhe para alguém que possa ajudá-lo?

– Muito ocupada para o meu encanto e beleza? – perguntou ele, com um sorriso atrevido e contagiante. – Duvido. Para isso primeiro teria de congelar o inferno.

Grace não respondeu, levantou-se e recuperou o aprumo.

– Convidá-lo-ia a ficar à vontade – disse, com um sorriso forçado. – Mas isso seria uma redundância, não lhe parece?

O seu instinto gritava que dissesse a Wolfe o que pensava dos homens como ele. Mulherengos, inúteis, parasitas, como todos os que entravam e saíam da caravana da sua pobre mãe quando era pequena. Como o seu próprio pai, que nunca conhecera, e que era o mais irresponsável e canalha da longa lista.

Mas ao tratar-se de um Wolfe, Lucas era considerado quase como um membro da realeza na Hartington, porque a sua família fora dona da empresa. Talvez já não lhes pertencesse, mas os membros da direção adoravam a ligação. E como diretora de eventos, a cargo da celebração do centenário da Hartington daí a algumas semanas, devia estar sempre a pensar nos interesses da empresa.

– Eu estou sempre confortável – assegurou Lucas, com os seus olhos verdes brilhantes e atrevidos. – De facto, é a isso que dedico a minha vida, a estar confortável.

Ela tinha um projeto importante com que se ocupar, o que significava que não dispunha de tempo para o perder com aquele homem inútil, embora incrivelmente atraente. Grace odiava perder tempo.

– Lamento – começou a dizer, com o seu habitual sorriso educado, embora soubesse que o seu olhar continuava fixo com frieza nele. – Receio que hoje esteja muito ocupada. Quer que...?

– De onde a conheço? – interrompeu-a Lucas.

Porque é óbvio, ele tinha todo o tempo do mundo. Grace sentiu-se horrorizada ao sentir como aquela voz lhe causava calafrios. Devia ser imune ao encanto artificial e cínico daquele homem, já que ela se gabava de ser imperturbável.

– Penso que não nos conhecemos – assegurou. Era mentira, mas pensava que Lucas Wolfe e ela nunca mais voltariam a falar.

Não entendia porque estavam a falar nesse momento e porque o aborrecimento cínico que tinha notado nele no bar elegante de um hotel na noite anterior se transformara em algo mais, em algo perigoso. Como se dentro dele houvesse uma fúria obscura, escondia sob a sua imagem polida e famosa.

– Sei que te conheço – Lucas semicerrou os olhos verdes e deslizou o olhar pela sua figura vestida de Carolina Herrera, uma estilista que, sem dúvida, seria de baixa qualidade para um homem como ele. – Tens uma boca linda. Mas onde te vi?

O calor apoderou-se dela e ardeu em cada canto por onde deslizava o seu olhar verde: os seios, a cintura, as ancas, as pernas... Grace teve de fazer um esforço para recordar que um homem como Lucas Wolfe, sem dúvida, olharia assim para todas as mulheres que encontrava. Que a promessa de sexo e aventura, que parecia aparecer na sua expressão, significava para ele tão pouco como um aperto de mãos para outros.

Grace ouviu um eco estranho no seu interior, um alarme profundo que a fazia pensar na jovem ingénua que fora e que jurara não voltar a ser. Não com um homem como aquele, que a faria sentir-se tão patética e desiludida como a sua pobre mãe. Que destruiria a sua vida se ela o permitisse. Sabia que não devia fazê-lo.

– Está muito bem, não é? – perguntara a encarregada de moda da Hartington a Grace na noite anterior. Tinham visto Lucas muito mais bêbado e com aspeto ainda menos respeitável no espetáculo sofisticado que Samantha Cartwright tinha organizado, uma das estilistas mais queridas e vanguardistas de Londres.

Mona suspirara com luxúria, observando Lucas do balcão, enquanto ele namoriscava com a própria Samantha Cartwright, indiferente aos olhares que os rodeavam, entre eles os de Grace.

– E é óbvio, temos de o tratar como um rei se se dignar a olhar para nós. Ordens do chefe.

Grace assentira, como se tivesse a certeza de que não ia ter de se relacionar em nenhum momento com o famoso playboy. Além disso, como era bem sabido, Lucas era alérgico a tudo o que tivesse a ver com trabalho, especialmente com a Hartington, que passara anos atrás dele a tentar fazer com que adquirisse uma posição proeminente na empresa, como fizera o seu pai no passado.

Grace sentira uma mistura potente de desgosto e de crítica ao observá-lo. Como é que um homem como Lucas podia namoriscar descaradamente com Samantha Cartwright, que era muito mais velha do que ele e casada, à frente de metade da cidade, e fazer com que parecesse que eram os outros que estavam enganados? No entanto, o seu encanto não evitara que o marido de Samantha expressasse o seu descontentamento na cara do próprio Lucas quando o encontrara fechado com a sua mulher um pouco mais tarde.

O facto de Grace ter tido um momento estranho, algo próximo da empatia com aquele homem, não significava nada. Sem dúvida, Lucas não o recordaria e quanto a ela... Bom e se o seu sono tivesse sido interrompido de noite? Podia dever-se ao café que bebera depois do jantar. Certamente, era por isso.

– Penso que o vi ontem à noite na apresentação Cartwright – disse ela, satisfeita ao ver que ele pestanejava como se não esperasse a resposta. Grace sorriu com frieza e deixou que todo o seu desprezo por Lucas e pelos homens como ele a invadisse. – Embora duvide que o recorde.

– Tenho uma memória excelente – replicou Lucas, num tom sedoso.

Grace teve de admitir que a perturbara. Não deveria permitir que a afetasse como uma carícia pecadora, mas fora assim. Aquele homem era perigoso e não queria saber nada dele.

– Eu também, senhor Wolfe – respondeu, irritada. – Por isso sei que não tínhamos combinado nada para hoje. Talvez possa... – não acabou a frase, mas abanou a mão para as portas dos escritórios que havia por trás.

Mas Lucas Wolfe não se mexeu. Limitou-se a ficar a olhar para ela durante um instante e curvou ligeiramente os seus lábios sensuais.

– Sabia quem eu era desde que me viu entrar – parecia contente, triunfante.

– Suponho que todos os habitantes de Inglaterra sabem quem é – respondeu, elevando as sobrancelhas com desdém. – Presumo que essa é a sua intenção, dado os escândalos que a imprensa apresenta pontualmente.

– Mas não é inglesa – afirmou Lucas e mexeu-se um pouco.

Grace alegrou-se por a secretária estar entre eles. De repente, sabia como ele era robusto, como o seu corpo era musculado, embora ele preferisse destacar na sua imagem o sorriso indolente e a roupa sofisticada.

– É americana, não é? – inclinou ligeiramente a cabeça, embora não desviasse o olhar do dela. – Do sul, se não me engano.

– Não entendo que importância pode ter, mas sim, sou do Texas – assegurou Grace. Nunca falava do seu passado. Não falava da sua vida privada, nem no trabalho, nem muito menos com desconhecidos. A origem do sotaque que tanto se esforçara para esconder era a única coisa que Lucas ia tirar daquela conversa. – Se me disser a razão da sua visita, talvez possa encontrar alguém mais adequado para...

– O que me viu a fazer ontem à noite? – perguntou ele, interrompendo-a novamente com um sorriso. – Fiz-lhe alguma coisa? – o seu olhar suavizou-se e tornou-se mais sugestivo. – Teria gostado que fizesse?

– Duvido que tivesse tempo – Grace deu uma breve gargalhada, mas então os olhos de Lucas brilharam e ela conteve-se.

Não trabalhara tão arduamente nem chegara tão longe para estragar tudo por alguém assim. Não entendia porque é que Lucas Wolfe entrara na sua cabeça, para começar. Trabalhava na organização de eventos desde a universidade e encontrara muitas personalidades, pessoas ricas e famosas. Porque é que aquele homem era o primeiro a pôr em perigo a sua célebre tranquilidade?

Lucas limitou-se a olhar para ela fixamente com os seus olhos verdes. Grace não soube o que viu no seu olhar, mas teve a sensação de que se tratava de uma máscara, de que a sua beleza masculina e o seu aspeto de canalha escondiam algo muito mais matreiro. De onde saíra semelhante ideia? Desprezou-a com impaciência.

– Se me desculpar – disse, num tom perfeitamente calmo, que não deixava entrever a sua luta interior, – tenho de voltar para o trabalho.

– É por isso que estou aqui – disse Lucas, com um brilho atrevido nos seus olhos verdes maravilhosos.

Fez uma careta e voltou a mexer-se como se estivesse a preparar-se para receber um golpe. Um golpe que estava perfeitamente preparado para receber, como mostrou a sua linguagem corporal.

Um calafrio percorreu Grace e sentiu vontade de levar as mãos ao coque formal para se assegurar de que o seu cabelo loiro e abundante continuava preso, de acordo com a imagem que requeria a sua posição na empresa.

– O que quer dizer? – perguntou, com a esperança de parecer fria e não ansiosa.

Estava disposta a despedir o membro da sua equipa que permitira que aquele homem a inquietasse daquele modo quando ela devia estar completamente concentrada no lançamento. Ao pensar nisso apercebeu-se de que nenhum trabalhador da Hartington poderia negar alguma coisa àquele homem. Era um Wolfe. Mais ainda, era Lucas Wolfe, o membro mais irresistível da sua família colorida e atraente. Até ela conseguia sentir aquela atração. Ela, que se considerava completamente alérgica a homens daquele tipo.

– Sou a nova imagem da Hartington, como o meu pai querido e falecido pai foi antes de mim – os seus olhos verdes observaram-na, como se soubesse exatamente o que ela estava a pensar. – Cheguei mesmo a tempo para o lançamento do centenário.

Então, sorriu com aquele sorriso famoso e devastador que tanto alterava Grace, embora pensasse que devia praticá-lo à frente do espelho.

– Como? – perguntou, desesperada.

Não conseguia acreditar, não podia aceitá-lo e sentiu um nó no estômago em sinal de protesto.

– Penso que vamos trabalhar juntos – confirmou Lucas, sorrindo. – Espero que seja uma companheira ativa – continuou, num tom de voz que devia tê-la enfurecido, mas que a fez sentir-se fraca. – Eu sou.