Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2011 Barbara Wallace. Todos os direitos reservados.
PASSADO ESQUECIDO, N.º 1371 - Março 2013
Título original: Beauty and the Brooding Boss
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Publicado em português em 2013
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.
® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.
I.S.B.N.: 978-84-687-2569-7
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
www.mtcolor.es
Alex Markoff não era assim tão feio.
Não tinha cicatrizes, nem nada do que Kelsey imaginara, tendo em conta que vivia afastado do mundo. De facto, o único adjetivo que poderia descrevê-lo era «impressionante». Era muito mais alto do que ela, de constituição atlética, usava calças de ganga desgastadas e uma t-shirt preta que lhe marcava os ombros largos. Kelsey interrogou-se como teria conseguido vestir-se, com o braço direito engessado.
Os seus olhos eram cinzentos e tinha as maçãs do rosto bem marcadas.
Não, não era feio, mas não achara graça ao vê-la à porta da sua casa.
Recordou outras situações semelhantes e tentou não pensar nelas. Aquilo não era igual. Não se parecia em nada. Sorriu educadamente e hesitou por um instante antes de se apresentar.
– Olá, sou Kelsey Albertelli.
Ao ver que não lhe respondia, acrescentou:
– A sua nova secretária.
Ele continuou em silêncio.
– De Nova Iorque. O senhor Lefkowitz contratou-me para...
– Sei quem é.
A voz condizia com o seu físico imponente. Kelsey quase recuou.
Conduzira até ali com as janelas do carro abertas e tinham saído algumas madeixas castanhas do coque que fizera. Afastou-as para trás das orelhas.
– Muito bem, por um momento, pensei que não o tinham avisado do escritório do senhor Lefkowitz.
– Avisaram-me. Várias vezes.
Kelsey assentiu, enquanto se fazia um silêncio incómodo entre ambos. Várias madeixas de cabelo voltaram a cair sobre os seus olhos e afastou-as.
Markoff continuou sem dizer nada, apenas se virou e entrou em casa, deixando-a ali.
«Já te tinham avisado disso», pensou ela.
– Não me parece que as boas-vindas sejam calorosas – dissera o seu chefe. – Lembra-te de que não tiveste escolha. E que trabalhas para mim, não para ele.
– Não se preocupe – replicara ela. – Vai correr tudo bem, tenho a certeza.
Tinha conseguido aquele trabalho graças à avó Rosie e o senhor Lefkowitz pagava muito bem.
Visto que Markoff deixara a porta aberta, Kelsey presumiu que devia segui-lo. Teve de se apressar para o alcançar.
– Vive afastado de tudo – comentou, quando chegou junto dele. – Em Nova Iorque não nos guiamos pelas árvores. Tinha de virar à direita ao ver um pinheiro grande, mas penso que virei três vezes ao ver três pinheiros diferentes.
– É o que está na bifurcação – respondeu ele.
– Agora sei isso. E quase não se vê a sua caixa do correio, por detrás dos matagais. Embora suponha que foi feito precisamente com esse propósito...
Kelsey fechou a boca. Começara a divagar e odiava. Fazia-o quando ficava nervosa. Já o tinha odiado quando era criança, quando desejara poder gritar aos assistentes sociais que se calassem e fossem diretos à questão. E ela estava a fazer o mesmo. Estava a tentar quebrar o gelo, com um homem que era evidente que não queria tê-la ali.
No entanto, recusou-se a sentir-se intimidada.
– O senhor Lefkowitz disse-me que redigiria todos os seus rascunhos à mão. Suponho que isso será o que eu devo passar à máquina – comentou, olhando para o braço dele. – Espero que o facto de ter partido o braço não tenha impedido que avance.
Ele virou-se ao ouvir aquilo e olhou para ela fixamente.
– Stuart pediu-lhe para me perguntar isso?
– Eu...
Kelsey não soube o que responder.
– Diga a Stuart Lefkowitz que terá o manuscrito quando estiver acabado. Eu já tenho de aguentar o suficiente por me ter enviado uma maldita datilógrafa, não preciso de uma ama também.
– Não queria... Quer dizer, não quero...
Kelsey arrependeu-se de não ter feito mais perguntas quando lhe tinham feito a entrevista de trabalho. «Isso é o que acontece, quando te deixas motivar pelo dinheiro», pensou.
Quando descobrira que ia datilografar um manuscrito de Alex Markoff, parecera ser um trabalho muito original. Recordava-se de ter visto o livro Perseguindo a Lua na mesa dos seus professores do liceu e de ter lido excertos do mesmo na aula de literatura. Alex Markoff era o autor da década. O escritor que todos afirmavam ler.
Voltou a estudar o seu novo chefe. Talvez devesse ter dado uma olhadela ao livro, antes de ir. Assim, o aspeto não a teria apanhado desprevenida. Não tinha uma beleza estereotipada, de perfil, talvez tivesse o nariz muito comprido e o queixo muito quadrado, mas as feições marcadas ficavam-lhe bem. Era difícil de acreditar que o imaginara desfigurado, mas como poderia imaginá-lo, se tinha deixado de ser um êxito de vendas para se transformar num eremita?
Soube, mais uma vez, que devia ter feito mais perguntas durante a entrevista.
Olhou à sua volta para encontrar respostas, mas Nuttingwood era uma casa tão escura e masculina como o dono. Fê-la pensar numa cabana inglesa de um velho filme a preto e branco, toda de pedra e coberta de hera. O salão era pequeno, com móveis antigos e estava decorado em tons de verde.
Viraram uma esquina e Kelsey deu por si num espaço mais amplo, onde preponderavam janelas e portas de vidro. Lá fora, havia um grande jardim em que as cores eram tão vívidas que faziam empalidecer a madeira escura do interior da casa e as montanhas verdes de Berkshire. Havia pássaros a voar entre as flores, muitos deles de espécies que desconhecia.
– Ena! – exclamou. Era como estar no Jardim Botânico de Nova Iorque.
Ouviu passos e saiu da sua abstração. Markoff atravessara o espaço aberto e dirigia-se para uma porta que havia do outro lado. Kelsey seguiu-o e entrou numa sala semelhante à anterior, mas mais pequena e com menos janelas. No entanto, era igualmente espetacular, graças às portas de vidro que davam para um roseiral. Havia várias cadeiras de madeira que convidavam a sair, enquanto no interior, duas cadeiras de baloiço a tentavam a ficar ali. As mesas e as prateleiras estavam cheias de revistas, livros e papéis. Havia algumas páginas amarrotadas no chão que, por algum motivo estranho, davam mais a sensação de serem decorativas do que de desordem.
– Bonito escritório – comentou, imaginando-o a trabalhar junto da janela.
Markoff limitou-se a apontar para uma secretária muito grande que havia num canto.
– Pode ficar ali.
– Não tem computador?
– Pode usar o seu e guardar os documentos numa USB.
– Está bem – respondeu, alegrando-se por ter levado o seu portátil e perguntando-se de que mais iria precisar. – Tem internet, nesta zona da montanha?
– Porquê? – perguntou, estudando-a novamente com o olhar, como se lhe tivesse pedido uma informação secreta. – Para que precisa de ter acesso à internet?
– Para estar em contacto com Nova Iorque. O senhor Lefkowitz quererá que o mantenha informado.
Ele fez um ruído gutural com a garganta, uma espécie de gemido, e Kelsey recordou o comentário que fizera a respeito de não precisar de uma ama.
– Se não tiver, certamente, encontrarei um lugar na vila...
– Há internet.
– Fantástico.
Teria de lhe pedir para a deixar ligar-se, quando estivesse de melhor humor. Se chegasse a estar.
Kelsey viu um monte de papéis amarelos em cima da secretária.
– Suponho que é isto que tenho de datilografar.
– Copie exatamente o que está escrito – respondeu ele. – Não mude nada. Nem uma palavra. Se não entender alguma coisa, deixe um espaço em branco. Eu preenchê-lo-ei com a palavra certa.
Kelsey pegou num caderno que havia em cima do monte e viu uma letra masculina, cinzenta. Fantástico, escrevia a lápis. E mudava muito a sua opinião. Havia setas e riscos por toda a parte. Segundo parecia, ia ter de deixar muitos espaços em branco.
– Algo mais? – perguntou.
Kelsey aprendera a pedir aos chefes para ditarem as regras desde o princípio.
– Não gosto de barulho – respondeu ele. – Nem de música, nem de vozes. Se tiver de telefonar ao seu namorado ou a qualquer outra pessoa...
– Não vou telefonar a ninguém – respondeu imediatamente, segundo parecia, apanhando-o de surpresa porque o viu a pestanejar. – Não tenho namorado, nem família.
Não soube porque lhe dera tanta informação.
O rosto de Markoff toldou-se de repente. Kelsey pôs uma madeixa de cabelo atrás da orelha, perturbada, e baixou o olhar para o chão.
– Bom, se tiver de fazer uma chamada, por favor, saia – continuou ele. – Ou, ainda melhor, espere que acabe o dia de trabalho. Na verdade, a que horas prefere trabalhar, para que eu não a incomode?
– É-me indiferente.
– Bom, se não se importar, eu gosto de começar cedo.
– Está bem.
Voltou a reinar o silêncio e Kelsey sentiu-se incomodada.
– Bom, já falámos de tudo a respeito do trabalho – comentou, – só me resta saber onde vou dormir. O senhor Lefkowitz disse que não se importava que eu ficasse aqui.
– Os quartos são no andar de cima – respondeu ele.
– Corresponde-me algum, em particular?
– É-me indiferente.
– Desde que não roube o seu, certo?
A sua tentativa de dar uma nota de humor fracassou e Markoff ficou ainda mais sério.
– Agradeço que me dê alojamento, porque esta zona é muito turística e escasseiam os quartos. O senhor Lefkowitz fez com que telefonassem para todos os hotéis.
– Tenho a certeza de que é verdade.
Kelsey duvidou se tinha ouvido ceticismo na voz dele. Pensaria que tinha decidido ficar ali com ele, no meio do nada? Respirou fundo e afastou o cabelo.
– Olhe, senhor Markoff, sei que isto não foi ideia sua – disse, num tom tranquilo. – E sou a primeira a admitir que não é o ideal...
– Nem é necessário.
– Em qualquer caso, vou passar aqui o verão. Prometo que tentarei manter-me o máximo possível afastada de si.
– Ainda bem.
Aquela resposta magoou Kelsey.
– Talvez seja boa ideia estabelecer uma série de regras desde o princípio. Por exemplo, a respeito das refeições...
– A cozinha é na parte de trás. Pode cozinhar o que quiser.
A resposta não a surpreendeu.
– E as casas de banho?
– A principal é no andar de cima, em frente ao quarto de hóspedes. Lá, encontrará toalhas e uma banheira. A água quente é limitada.
– O que significa que terei de tentar tomar banho primeiro.
Aquilo não pareceu diverti-lo e a reação dele voltou a magoar Kelsey. «É só um verão», pensou. Só tinha de manter as distâncias.
– Não se preocupe – retificou. – Não sou das que ficam uma hora debaixo do jorro de água.
Ele assentiu, portanto, a resposta devia ter-lhe parecido bem.
Markoff estava desejoso de resolver aqueles assuntos, portanto, ela acrescentou:
– Tenho o computador portátil no carro. Vou buscá-lo e começarei a trabalhar. Depois, imprimirei aquilo que escrever e entrego-lhe para que reveja.
Enquanto falavam, Kelsey dirigiu-se para a porta mas, infelizmente, Markoff mexeu-se ao mesmo tempo em direção à secretária e invadiram o espaço vital do outro. Kelsey inalou o cheiro a madeira e desejou fechar os olhos e respirar fundo. Em vez disso, olhou para ele nos olhos, que pareciam estar mais atormentados do que nunca.
Sentiu-se atraída por ele.
– Lamento, não me tinha apercebido.
Passou ao lado dele, indo para a porta.
– Vou buscar o meu computador – acrescentou.
Alex não respondeu. Melhor, porque Kelsey só conseguiu tranquilizar-se depois de chegar ao carro e respirar fundo várias vezes.
– Leva isto com calma – disse, num murmúrio. – Vais ficar aqui durante todo o verão.
Estava a voltar para o escritório, quando ouviu Markoff a falar.
– Deus santo, não podes esperar alguns meses? Três, no máximo. Não podes esperar mais noventa dias?
Quem não podia esperar? A voz de Markoff era muito aguda.
– E também não parti o braço de propósito – continuou. – Porque enviaste uma ama? Para te assegurares de que não volto a cair?
Uma ama. Referia-se a ela. O que queria dizer que estava a falar com Stuart Lefkowitz. Estaria a tentar livrar-se dela?
Kelsey dirigiu-se para a porta e espreitou pela fresta. Markoff estava de costas e parecia tenso. Virou-se e no rosto também havia tensão.
– Pensaste que não ia conseguir escrever, se não tivesse alguém atrás de mim vinte e quatro horas por dia?
Alex cerrou os dentes e escutou. De repente, fez um ar de incredulidade.
– Claro que sei o que é incumprimento de um contrato. Não pensarás...
Fez-se silêncio. Alex respirou fundo e estava zangado.
– Está bem. Terás o teu maldito livro.
Kelsey assustou-se, ao ouvir que atirava o telefone contra a secretária.
Alex gemeu, frustrado, e Kelsey ouviu passos. Teve medo de que a descobrisse, portanto, recuou e tentou arranjar uma desculpa, para o caso de a acusar de ter estado a espiar. Um segundo depois, ouviu uma portada a bater e soube que estava segura. Markoff saíra para o jardim.
Deixou escapar o suspiro que estivera a conter desde a sua chegada.
Aquele ia ser um verão muito longo.